Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Quinta Câmara Criminal
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- Ângelo Cipriano Vieira
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1 Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Quinta Câmara Criminal Agravo em Execução nº Relator: Desembargador Paulo de Oliveira Lanzellotti Baldez Agravante: Marcos Paulo Rodrigues Agravado: Ministério Público AGRAVO EM EXECUÇÃO. COMUTAÇÃO DA PENA. RECURSO DEFENSIVO OBJETIVANDO A INCLUSÃO, NO CÁLCULO DA PENA PARA FINS DE COMUTAÇÃO, DO PERÍODO DE PROVA REFERENTE A LIVRAMENTO CONDICIONAL POSTERIORMENTE REVOGADO. 1. Os Decretos Presidenciais nº 6.294/2007 e 6.706/2008 estabelecem como requisitos para a comutação o cumprimento do lapso temporal de 1/3 (um terço) da pena, em se tratando de apenado reincidente, e não cometimento de falta grave nos 12 (doze) meses anteriores à publicação do referido decreto, nada dispondo sobre a exclusão do período de prova referente a livramento condicional eventualmente revogado. 2. O cometimento de novo crime durante o período de prova do livramento condicional enseja a revogação do próprio benefício (artigos 86 e 87 da LEP), mas não interfere na aferição dos requisitos para a comutação, salvo expressa previsão no decreto presidencial, o que não ocorre na hipótese dos autos. 3. Impossibilidade de interpretação extensiva da norma do artigo 88 do Código Penal para fins de interrupção de lapsos temporais relativos a outros benefícios, sob pena de violação do princípio da legalidade. 4. A exigência de requisito além daqueles estabelecidos pelos decretos presidenciais supracitados configura invasão da atribuição discricionária e privativa do Presidente da República, insculpida no artigo 84, XII, da Carta Magna. Des. Paulo de Oliveira Lanzellotti Baldez 1
2 5. Assim, restando cumpridos os requisitos estabelecidos nos decretos nº 6294/07 e 6706/08, tanto o requisito objetivo cumprimento de 1/3 da pena (para réus reincidentes) em 15/04/2005 bem como também o requisito subjetivo ostentar comportamento adequado que se depreende do teor da TFP a fls. 33/35, no qual consta avaliação excepcional a partir de 07/10/2007 e do parecer favorável do Conselho penitenciário às fls. 28, impende-se a concessão do benefício e a consequente elaboração de novo cálculo de pena. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo em Execução de nº , em que figura como agravante MARCOS PAULO RODRIGUES e agravado o MINISTÉRIO PÚBLICO, ACORDAM os Desembargadores que compõem a Quinta Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por UNANIMIDADE de votos, em CONHECER E DAR PROVIMENTO AO RECURSO para comutar 1/5 (um quinto) de pena do recorrente, na forma do disposto no artigo 2º do Decreto 6294/07 e artigo 2º do Decreto 6706/08, conforme cálculo de pena a ser elaborado pelo Juízo de execução, nos termos do voto do Desembargador Relator. Sessão de Julgamento: 16 de janeiro de Rio de Janeiro, 14 de abril de Paulo de Oliveira Lanzellotti Baldez Desembargador Relator Des. Paulo de Oliveira Lanzellotti Baldez 2
3 Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Quinta Câmara Criminal Agravo em Execução nº Relator: Desembargador Paulo de Oliveira Lanzellotti Baldez Agravante: Marcos Paulo Rodrigues Agravado: Ministério Público RELATÓRIO Trata-se de recurso de Agravo em Execução interposto por Marcos Paulo Rodrigues contra a decisão exarada pelo r. Juízo da Vara de Execuções Penais, que indeferiu a comutação de sua pena ao apenado, ao fundamento de que o cálculo deveria ser elaborado desprezando-se o tempo de livramento condicional revogado, com base no artigo 88 do Código Penal. Sustenta a Defesa, em suas razões recursais de fls. 11/16, que o cálculo de 1/3 (um terço) para aferição do preenchimento dos requisitos objetivos deve incidir sobre o total da pena cumprida, bem como que o art. 88 do Código Penal somente se aplica ao livramento condicional, não podendo a norma penal gravosa ser estendida a outros benefícios. O Ministério Público apresentou contrarrazões prestigiando a r. decisão guerreada (fls. 58/60). Em sede de retratação, às fls. 61, a decisão foi mantida pelos seus próprios fundamentos. Parecer da Procuradoria de Justiça, da lavra da ilustre procuradora Maria Teresa de Andrade Ramos Ferraz, opinando pelo provimento do recurso. É o relatório. Des. Paulo de Oliveira Lanzellotti Baldez 3
4 VOTO Assiste razão ao agravante. Insurge-se a Defesa contra a decisão do Juízo da Vara de Execuções Penais que determinou a elaboração de cálculo da pena para fins de comutação de acordo com o art. 88 do Código Penal, ou seja, desprezando-se o período de pena cumprido em livramento condicional quando este é revogado pela prática superveniente de outro delito cuja condenação transitou em julgado. Os requisitos objetivos e subjetivos para a concessão da comutação pretendida foram estabelecidos pelos Decretos nº /2007 e 6.706/2008 da forma seguinte: Decreto nº /2007 Art. 2o O condenado a pena privativa de liberdade, não substituída por restritivas de direitos ou multa e não beneficiado com a suspensão condicional da pena, que, até 25 de dezembro de 2007, tenha cumprido um quarto da pena, se não reincidente, ou um terço, se reincidente, e não preencha os requisitos deste Decreto para receber indulto, terá comutada a pena remanescente de um quarto, se não reincidente, e de um quinto, se reincidente, aferida na data acima mencionada. Parágrafo único. O agraciado por anterior comutação terá seu benefício calculado sobre o remanescente da pena em 25 de dezembro de 2007, observado o desconto efetivado, sem necessidade de novo requisito temporal e sem prejuízo da remição prevista no art. 126 da Lei nº 7.210, de Art. 3o Na concessão do indulto ou da comutação deverá, para efeitos da integralização do requisito temporal, ser computada a detração de que trata o art. 42 do Código Penal e, quando for o caso, o art. 67 do Código Penal Militar, sem prejuízo da remição prevista no art. 126 da Lei nº 7.210, de Art. 4º A concessão dos benefícios deste Decreto fica condicionada à inexistência de falta disciplinar de natureza grave cometida nos últimos doze meses de cumprimento da pena, e, no caso de crime militar, da inexistência de falta disciplinar prevista nos respectivos regulamentos disciplinares, verificada nos últimos doze meses de cumprimento da pena, contados, em ambos os casos, retroativamente à publicação deste Decreto. Des. Paulo de Oliveira Lanzellotti Baldez 4
5 Decreto nº 6.706/2008 Art. 2o O condenado a pena privativa de liberdade, não beneficiado com a suspensão condicional da pena, que, até 25 de dezembro de 2008, tenha cumprido um quarto da pena, se não reincidente, ou um terço, se reincidente, e não preencha os requisitos deste Decreto para receber indulto, terá comutada a pena remanescente de um quarto, se não reincidente, e de um quinto, se reincidente, aferida na data acima mencionada. Parágrafo único. O agraciado por anterior comutação terá seu benefício calculado sobre o remanescente da pena em 25 de dezembro de 2008, observado o desconto efetivado, sem necessidade de novo requisito temporal e sem prejuízo da remição prevista no art. 126 da Lei nº 7.210, de Art. 3o Na concessão do indulto ou da comutação deverá, para efeitos da integralização do requisito temporal, ser computada a detração de que trata o art. 42 do Código Penal e, quando for o caso, o art. 67 do Código Penal Militar, sem prejuízo da remição prevista no art. 126 da Lei nº 7.210, de Art. 4o A concessão dos benefícios deste Decreto fica condicionada à inexistência de aplicação de sanção por falta disciplinar de natureza grave cometida nos últimos doze meses de cumprimento da pena, e, no caso de crime militar, da inexistência de aplicação de sanção por falta disciplinar prevista nos respectivos regulamentos disciplinares, verificada nos últimos doze meses de cumprimento da pena, contados, em ambos os casos, retroativamente à publicação deste Decreto. Como se vê, o Presidente da República, no exercício legítimo da discricionariedade que lhe foi assegurada, no ponto, pela Constituição, nada dispôs sobre a desconsideração do período de prova de livramento constitucional eventualmente revogado em razão da prática de novo delito. Logo, o Juiz deve se limitar, em matéria de comutação de penas, a verificar o preenchimento dos requisitos estabelecidos no Decreto Presidencial, bem como a sua compatibilidade com a Carta Magna, sendo-lhe defeso efetuar interpretação de outros dispositivos a fim de impor exigências não previstas no decreto. Des. Paulo de Oliveira Lanzellotti Baldez 5
6 O Juiz da Execução ressaltou, em sua decisão, que o período de prova do livramento condicional não poderia ser considerado, sob pena de violação ao segundo efeito prescrito no artigo 88 do Código Penal. No entanto o art. 88 do Código Penal é regra específica para o livramento condicional, não podendo seus efeitos ser estendidos para outros benefícios da execução penal em verdadeira analogia em desfavor do apenado, e muito menos em se tratando de comutação de penas, cujos limites são dados pelo Presidente da República, de acordo com a sua discricionariedade, estando vinculado tão somente às normas constitucionais que disciplinam a individualização da pena. Neste sentido é a jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de Justiça: HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. FALTA GRAVE. INTERRUPÇÃO DO PRAZO PARA OBTENÇÃO DE BENEFÍCIOS PELO CONDENADO. PROGRESSÃO DE REGIME. CABIMENTO. LIVRAMENTO CONDICIONAL. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. ILEGALIDADE. COMUTAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE, SALVO PREVISÃO LEGAL. DETRAÇÃO DA PENA EM PERÍODO ANTERIOR AOS FATOS. INADMISSIBILIDADE. 1. O cometimento de falta grave, embora interrompa o prazo para a obtenção do benefício da progressão de regime, não o faz para fins de concessão de livramento condicional, por constituir requisito objetivo não contemplado no art. 83 do Código Penal. Precedentes. 2. Só poderá ser interrompido o prazo para a aquisição dos benefícios do indulto e da comutação de penas se houver expressa previsão a respeito no decreto concessivo da benesse. Precedentes. 3. É pacífico o entendimento jurisprudencial neste Superior Tribunal de Justiça no sentido de que o tempo de prisão provisória ocorrida em processo diverso daquele cujo delito ensejou a condenação criminal somente pode ser considerado para fins de detração da pena se a data do cometimento do crime a que se refere a execução seja anterior ao período requerido, o que não se verifica na espécie. Precedentes. 4. Ordem parcialmente concedida para restringir a interrupção da contagem do prazo de cumprimento da pena somente para fins de progressão de regime. Des. Paulo de Oliveira Lanzellotti Baldez 6
7 (HC /RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 14/04/2011, DJe 04/05/2011) CRIMINAL. HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO. COMUTAÇÃO. DECRETO PRESIDENCIAL N.º 6.249/2007. RÉU REINCIDENTE. 1/3 DA PENA CUMPRIDO. FALTA DISCIPLINAR GRAVE PRATICADA HÁ MAIS DE DOZE MESES. REINÍCIO DA CONTAGEM DO LAPSO TEMPORAL. IMPOSSIBILIDADE. SUBMISSÃO DO RÉU A EXAME CRIMINOLÓGICO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. ORDEM CONCEDIDA. I. A comutação de 1/5 da pena remanescente, nos termos do Decreto Presidencial n.º 6.249/2007, foi condicionada, no caso de réu reincidente - hipótese dos autos -, ao cumprimento de 1/3 da pena imposta, bem como à inexistência de falta disciplinar de natureza grave nos últimos doze meses, contados de 12/12/2007, data da publicação do Decreto. II. A falta grave cometida pelo acusado em 10/01/2005 não é causa impeditiva para a obtenção da comutação de pena, nem como óbice ao preenchimento do requisito objetivo, nem do subjetivo, por estar fora do período definido no Decreto Presidencial n.º 6.249/2007. III. Nos termos da jurisprudência pacificada no âmbito desta Corte, a prática de falta grave acarreta a interrupção do prazo para a obtenção de progressão de regime prisional, regra que não se estende ao livramento condicional, nos termos da Súmula n.º 441/STJ, ao indulto e à comutação da pena, salvo se houver expressa previsão no Decreto Presidencial que concede o benefício. IV. Se o Decreto Presidencial condicionou a obtenção pelo réu da comutação de parte de sua pena ao preenchimento apenas do lapso temporal de pena cumprido, bem como à inexistência de falta disciplinar de natureza grave nos últimos doze meses, não pode o julgador criar condição não prevista em lei, tal como determinar a realização de criminológico. Precedentes. V. Deve ser cassado o acórdão recorrido, para que seja restabelecida a decisão do Juízo da 1ª Vara de Execuções Criminais de Presidente Prudente/SP, que concedeu ao paciente a comutação de 1/5 do remanescente de sua pena, nos termos do Decreto n.º 6.249/2007. VI. Ordem concedida, nos termos do voto do Relator. Des. Paulo de Oliveira Lanzellotti Baldez 7
8 (HC /SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 04/08/2011, DJe 17/08/2011) Desse modo, o cálculo para fins de comutação da pena deve ser efetuado levando-se em conta o tempo de pena cumprido, inclusive o tempo do período de prova que tenha sido efetivamente cumprido, ainda que o livramento condicional tenha sido posteriormente revogado em razão de condenação pela prática de delito cometido no curso do período de provas. Portanto, restando cumpridos os requisitos estabelecidos nos decretos nº 6294/07 e 6706/08, tanto o requisito objetivo cumprimento de 1/3 da pena (para réus reincidentes) em 15/04/2005 bem como também o requisito subjetivo ostentar comportamento adequado que se depreende do teor da TFP a fls. 33/35, no qual consta avaliação excepcional a partir de 07/10/2007 e dos parecer favorável do Conselho penitenciário às fls. 28, impende-se a concessão do benefício e a consequente elaboração de novo cálculo de pena. Pelo exposto, VOTO pelo CONHECIMENTO E PROVIMENTO do agravo de execução, a fim de que o cálculo para fins de comutação seja efetuado considerando-se o tempo de pena cumprido, incluindo-se aquele referente ao período de prova do livramento condicional revogado. Rio de Janeiro, 14 de abril de PAULO DE OLIVEIRA LANZELLOTTI BALDEZ Desembargador Relator Des. Paulo de Oliveira Lanzellotti Baldez 8
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