Supremo Tribunal Federal

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1 RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO MINAS GERAIS RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA RECTE.(S) :ESTADO DE MINAS GERAIS PROC.(A/S)(ES) :ADVOGADO-GERAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS RECDO.(A/S) :CÁSSIO APARECIDO DA SILVA ADV.(A/S) :FRANCISCO EMILIANO PIMENTA NOMINATO DECISÃO AGRAVO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. EXAME PSICOLÓGICO. PERÍCIA JUDICIAL. REEXAME DE PROVAS. SÚMULA N. 279 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO. Relatório 1. Agravo nos autos principais contra decisão que não admitiu recurso extraordinário interposto com base na alínea a do inc. III do art. 102 da Constituição da República. O recurso extraordinário foi interposto contra o seguinte julgado do Tribunal de Justiça de Minas Gerais: ADMINISTRATIVO CONCURSO PÚBLICO PMMG TESTE PSICOLÓGICO LAUDO DE PERÍCIA JUDICIAL CONCLUSIVO QUANTO À APTIDÃO PSICOLÓGICA DOS CANDIDATOS NULIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO 0 EMBARGOS INFRINGENTES ACOLHIDOS. - Constitui exigência legal, para matrícula no Curso Técnico de Segurança

2 Pública da PMMG, a aprovação no exame psicológico. - Contudo, diante das conclusões da perícia judicial, realizada com a observância do contraditório e ampla defesa, no sentido de que não foram identificados elementos para a contra-indicação dos autores no teste psicológico, forçoso confirmar a anulação dos atos administrativos combatidos, determinando-se a permanência dos autores nas fileiras da PMMG. - Embargos infringentes acolhidos (fl. 550). Os embargos de declaração opostos foram rejeitados. 2. O Recorrente alega que teriam sido contrariados os arts. 1º e 5º, caput, e inc. XXXVI, da Constituição da República. Afirma que não poderia o v. acórdão ter mantido a r. decisão de primeira instância, vez que não há como reconhecer aos recorridos que ingressaram, participaram e fizeram as provas do Curso Técnico em Segurança Pública o direito a permanecerem na Corporação Militar, amparados em decisão precária (que foi revogada r, portanto, não mais existe no mundo jurídico), ainda mais quando existe decisão judicial definitiva contrária a seus interesses (fl. 581). Assevera que, tendo sido reconhecida, através de decisão judicial, a legalidade do teste psicológico ao qual foram submetidos os ora recorridos, inconcebível que o Estado de Minas Gerais seja obrigado a continuar a pagar os vencimentos aos recorridos, causando danos ao erário. ( ) a decisão ( ) que denegou a segurança, com apreciação do mérito do pedido, ao entender legal a exigência do exame psicológico aplicado aos presentes Autores no CTSP/2002 e revogou a liminar anteriormente concedida, faz coisa julgada e não pode ser rediscutida em ação ordinária (fl. 582). Sustenta a constitucionalidade dos exames psicológicos realizados como etapas de concursos públicos e a existência de legislação específica no caso vertente: no Estado de Minas Gerais há a Lei nº 5.301/69, que determina, para ingresso no PMMG, a satisfação de determinadas exigências, entre elas, ter sanidade física e mental, comprovada por meio do exame 2

3 psicológico e outros (fl. 584). Argumenta, ainda, que suspendendo-se a eficácia do exame impugnado, terão os autores deixado de se submeterem a uma fase do concurso ultrapassada pelos demais candidatos. Aí sim, comprometendo o Princípio da Isonomia (fl. 584). 3. A decisão agravada teve como fundamentos para a inadmissibilidade do recurso extraordinário: a) a ausência de prequestionamento; b) a circunstância de que a ofensa constitucional seria indireta; e c) a incidência das Súmula n. 279, 283 e 284 do Supremo Tribunal Federal (fls ). 4. No agravo interposto, o Agravante reitera as razões do recurso extraordinário. Apreciada a matéria trazida na espécie, DECIDO. 5. O art. 544 do Código de Processo Civil, com as alterações da Lei n /2010, estabeleceu que o agravo contra decisão que inadmite recurso extraordinário processa-se nos autos, ou seja, sem a necessidade da formação de instrumento, sendo este o caso. Analisam-se, portanto, os argumentos postos no agravo, de cuja decisão se terá, na sequência, se for o caso, exame do recurso extraordinário. 6. Razão jurídica não assiste ao Agravante. 7. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais decidiu a controvérsia quanto à existência de coisa julgada nos termos seguintes : De fato este Tribunal reformou a sentença que anulou o ato de eliminação no exame psicológico ( ) Vale dizer que a matéria 3

4 analisada pelo referido acórdão versou apenas sobre a legalidade do exame psicológico realizado pelos autores e não propriamente sobre sua saúde mental. ( ) Não mais se discute esse tema em face da coisa julgada. ( ) Portanto, quanto ao mérito da presente ação, verifica-se que o mesmo se restringe à capacidade psicológica dos apelados, que, segundo sua tese, ensejaria impedimento para demissão e desligamento de Corporação (fls. 462 e 464). E quanto à capacidade psicológica dos Recorridos, assentou: Quanto ao mérito propriamente dito, data venia do entendimento contrário, entendo que a sentença recorrida deve ser confirmada, no reexame necessário. ( ) É de se destacar que a verificação de atendimento, por parte do candidato, de perfil profissiográfico exigido para o cargo junto à Polícia Militar, o qual compreende exercícios de forte pressão externa e emocional, porte de arma de fogo, conscientização a respeito dos riscos da profissão (risco de vida, de invalidez, de contágio por doenças, de degeneração do estado de saúde mental, de lesão corporal, de responsabilidade civil, penal e/ou administrativa, etc.), é medida pertinente com os princípios que regem a Administração Pública. Não obstante isso, no caso específico destes autos, o reconhecimento da nulidade do ato de eliminação dos candidatos embargantes, em razão do resultado de exame psicotécnico aplicado com base no edital do certame, não contraria o disposto nos arts. 5º, caput, 37, I, 142 e 169, da Constituição Federal. Isso porque, nestes autos, foi realizada perícia judicial, nos termos do comando do douto magistrado a quo, de f. 227, visando a averiguação acerca de estarem os autores psicologicamente aptos para exercerem as atividades da PMMG. O Estado de Minas Gerais, por sua vez, teve oportunidade de se manifestar sobre a realização da perícia e, além de não ter se insurgido contra a realização dessa prova, a tempo e modo, indicou assistente técnico e formulou quesitos (fls ), realizando-se a perícia judicial com observância aos princípios do devido processo legal. In casu, o laudo da perícia judicial, de fs , foi conclusivo, atestando a expert aptidão dos autores para a função de Militar. Desse modo, 4

5 diante das conclusões da perícia judicial, realizada sem objeção do Estado de Minas Gerais e com a observância do contraditório e ampla defesa, no sentido de que não foram identificados elementos para a contra-indicação dos suplicantes no teste psicotécnico, forçoso confirmar a anulação dos atos administrativos combatidos, determinando-se a permanência dos autores, ora embargantes, nas fileiras da PMMG (fls grifos nossos). Tem-se, portanto, que o Tribunal a quo analisou o conjunto probatório e decidiu que o tema objeto da ação que deu origem a este recurso seria distinto daquele do mandado de segurança impetrado pelos Agravados, razão pela qual o trânsito em julgado da decisão denegatória de segurança não impediria o ajuizamento do extraordinário, e, ainda, com base na perícia judicial, decidiu estarem os Agravados aptos ao exercício da função policial. Concluir de forma diversa demandaria o reexame de provas. Incide na espécie a Súmula n. 279 do Supremo Tribunal Federal. Nesse sentido: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. EXAME PSICOTÉCNICO. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO LOCAL, DO REEXAME DE PROVAS E DE CLÁUSULAS EDITALÍCIAS. SÚMULAS N. 279, 280 E 454 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO (ARE AgR, de minha relatoria, Primeira Turma, DJe ). AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO. CONCURSO PÚBLICO. EXAME PSICOTÉCNICO. CONTROVÉRSIA DECIDIDA CENTRALMENTE À LUZ DA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL E DO ACERVO FÁTICO- 5

6 PROBATÓRIO DOS AUTOS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 279 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 1. A análise da legislação infraconstitucional bem como o reexame dos fatos e provas constantes dos autos são providências incompatíveis com a via recursal extraordinária. 2. Agravo regimental desprovido (ARE AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Plenário, DJe grifos nossos). Não há, pois, o que prover quanto às alegações do Agravante. 8. Pelo exposto, nego seguimento ao agravo (art. 544, 4º, inc. II, alínea a, do Código de Processo Civil e art. 21, 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal). Publique-se. Brasília, 20 de setembro de Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora 6