Prefácio. benefícios que as empresas obtêm quando se localizam próximas entre si. Isto está
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- Daniela Cordeiro Sá
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1 Prefácio Nos últimos dois séculos, em particular nas últimas décadas, a humanidade presenciou a drástica mudança de população de áreas rurais para urbanas. Entre 1950 e 1995, a população urbana na Ásia, África, América Latina e Caribe cresceu mais de cinco vezes, passando de 346 milhões para 1,8 bilhões de pessoas. Projeções das Nações Unidas sugerem que as populações urbanas estão crescendo de forma tão rápida, que 80% do crescimento da população mundial entre 1990 e 2010 ocorrerá em áreas urbanas, sobretudo na África, Ásia e América Latina (United Nations, 1998). Dois aspectos correlatos deste rápido crescimento da população urbana foram o aumento do número de grandes cidades e a dimensão sem precedentes históricos adquirida por tais cidades de grande porte. Há apenas dois séculos, havia apenas duas mega-cidades no mundo (cidades comportando um milhão de habitantes ou mais) Londres e Pequim. Em 1950, havia 80, e em 1990, já se somavam 293 megacidades. Uma grande (e crescente) proporção destas mega-cidades encontram-se na África, Ásia e América Latina, e muitas possuem populações que cresceram mais de dez vezes entre 1950 e 1990 (Hardoy et al. 2001). A grande parte das mega-cidades latino-americanas encontra-se em território brasileiro, muitas das quais constituem regiões metropolitanas. As estratégias de desenvolvimento adotadas no Brasil, assim como em muitos países latino-americanos, estiveram orientadas para mercados externos, objetivando eficiência econômica e crescente competitividade. Isto implicou o progressivo aparecimento de economias externas de aglomeração 1, levando a um padrão espacial de desenvolvimento altamente concentrado (Fernandes et al. 1977). 1 O termo economias de aglomeração é usado em economia urbana para descrever os benefícios que as empresas obtêm quando se localizam próximas entre si. Isto está
2 Entretanto, esta estrutura de desenvolvimento multi-centralizada baseada em economias de aglomeração apresentava sérias limitações. Após um período inicial de bom desempenho econômico, as regiões metropolitanas começaram a se comportar como deseconomias de aglomeração, devido a problemas que incluem o crescente aumento do preço da terra; a possibilidade de colapso dos sistemas de transporte, telecomunicações e/ou abastecimento de água; maior tempo e custos despendidos para deslocamentos diários; maiores custos de mão de obra e conseqüente encarecimento da produção; problemas ambientais; exclusão social e criminalidade. As regiões metropolitanas e as grandes cidades brasileiras concentram hoje a atenção das autoridades de gestão territorial em nível local, regional e nacional. O conhecimento da complexa realidade dessas áreas em suas múltiplas dimensões e de modo dinâmico torna-se imprescindível para geri-las de forma eficiente. Não se trata apenas do levantamento de dados brutos, mas da proficiente manipulação e interpretação dos mesmos a partir de processamentos quantitativos (matemáticos e lógicos) sobre uma base espacial, de forma a revelar características e processos intrínsecos aos fenômenos em análise. Dito de outra forma, não basta somente a confecção de mapas digitais coloridos ilustrando, por exemplo, a exclusão social de uma determinada cidade por quantis, mas é fundamental que, com o auxílio de técnicas apropriadas de análise espacial, se possa extrair tendências do padrão de manifestação da exclusão social de forma contínua no espaço. Ou ainda, não é suficiente apenas mapear a ocorrência de crimes em um sistema georreferenciado, mas sim estudá-los de forma dinâmica, entendendo a sua proliferação no espaço e no tempo em articulação com inúmeras variáveis socioeconômicas e biofísicas, e como as estradas podem atuar como vetores de expansão da relacionado com a idéia de economias de escala e efeitos em cadeia, segundo a qual, quanto mais empresas aproximarem-se umas das outras, menor o custo de produção e maior o mercado consumidor a ser atingido.
3 criminalidade. Nessa linha de pensamento, elaborar mapas estáticos de uso do solo urbano não mais atende às necessidades atuais dos gestores locais, mas é necessário que se permitam simulações de diferentes cenários futuros de expansão urbana e dinâmica de uso do solo em ambiente computacional. Aí reside o desafio da Geoinformação em gestão urbana e regional, que pode ser entendida como um paradigma emergente na pesquisa multi e inter-disciplinar que se dedica a explorar a extrema complexidade de problemas socioambientais em um ambiente de Sistemas de Informações Geográficas - SIG. Openshaw (2000) argumenta que a Geoinformação não se reduz ao uso de técnicas computacionais para solucionar problemas espaciais, mas se refere, ao contrário, a uma forma totalmente nova de se fazer ciência em um contexto geográfico. A Geoinformação (também conhecida como Geomática, Ciências da Informação Espacial, Geocomputação ou Engenharia da Geoinformação) deve necessariamente se apoiar em estruturas de percepção ambiental que proporcionem o máximo de eficiência em seu objetivo último, que se traduz na fundamentação de abordagens científicas subjacentes à transformação de dados geograficamente referenciados em conhecimento. Em um futuro muito próximo, devido à desenfreada velocidade de mudanças conjunturais e de circulação da informação em um mundo cada vez mais globalizado, os métodos analógicos convencionais de planejamento tornar-se-ão rapidamente inadequados a gerar respostas rápidas às crescentes demandas, fazendo com que órgãos governamentais de gestão e planejamento não mais possam prescindir do uso da Geoinformação em seu dia-a-dia. Este livro se propõe a tratar das inúmeras possibilidades oferecidas pela Geoinformação para lidar com os problemas urbanos e regionais atuais. O livro compreende cinco grandes temas, organizados em seções. A primeira delas, introdutória, expõe teorias e conceitos
4 fundamentais para a representação computacional do espaço urbano, revelando os requisitos básicos para a apreensão da complexidade inerente à esfera urbana em meio digital. A segunda seção aborda as dimensões humanas em estudos urbanos, tratando de tópicos relativos à mensuração das desigualdades socioterritoriais, como a exclusão/inclusão social e a segregação socioespacial de áreas residenciais. A seção seguinte trata da aplicação de geotecnologias e do uso de dados de sensores orbitais e aerotransportados aos mais diversos temas, como desenvolvimento de políticas públicas, mapeamento e cadastro urbano. Na quarta seção, apresentam-se estudos do uso da Geoinformação para a gestão de desastres naturais em centros urbanos em face da perspectiva contemporânea de mudanças ambientais globais. E, por fim, a quinta e última seção dedica-se a explorar um âmbito recente da Geoinformação a modelagem dinâmica espacial lidando com exemplos de simulações de uso do solo em escala intra-urbana, urbana e regional. A importância em se dirigir especial atenção e se conduzir investigações aprofundadas sobre áreas urbanas, isoladamente ou em contexto regional, pode ser explicada pelo fato de que essas áreas não apenas irão abrigar a maior parte da população do planeta, conforme já exposto, como também pelo fato de que as mesmas detêm o controle da economia mundial na presente era da globalização, gerenciando os fluxos de capital financeiro, recursos naturais e industrializados, capital humano, informação, conhecimento tecnológico e científico e poder de decisão. De uma sábia e prudente administração de seus aparatos financeiros e institucionais, bem como de uma hábil gestão de sua estrutura física e ambiental, dependerá o sucesso da maior parte dos empreendimentos humanos. Os editores
5 Referências Bibliográficas Fernandes, C. L. L.; Medeiros, C. M.; Mendes, A. G. O elemento regional no processo de planejamento do Brasil - Notas preliminares. In: Cintra, A. O.; Haddad, P. R. ed. Dilemas do planejamento urbano e regional no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar Editores, Cap. II, p Hardoy, J. E.; Mitlin, D.; Satterthwaite, D. Environmental problems in an urbanizing world: finding solutions for cities in Africa, Asia and Latin America. London: Earthscan Publications Ltd, p. Openshaw, S. GeoComputation. In: Openshaw, S.; Abrahart, R. J. ed. Geocomputation. New York: Taylor & Francis, Cap. 1, p United Nations. World urbanization prospects: the 1998 revision database. New York: United Nations Population Division, p.
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