Monteiro Rocha PRESIDENTE E RELATOR

Transcrição

1 Apelação Cível n , de Joinville Relator: Des. Monteiro Rocha DIREITO CIVIL - OBRIGAÇÕES - SEGURO DE DANOS - ACIDENTE DE TRÂNSITO - IMPROCEDÊNCIA EM 1º GRAU - INCONFORMISMO DO SEGURADO - PRESCRIÇÃO - PRAZO QUINQUENAL - INAPLICABILIDADE - PRAZO ÂNUO - INAPLICABILIDADE DO ART. 27 DO CDC - APLICAÇÃO DO ART. 178, 6º, II, DO CÓDIGO CIVIL DE PRETENSÃO AUTORAL PRESCRITA - SENTENÇA MANTIDA. É ânuo o prazo da pretensão do segurado contra a seguradora para cobrança da importância relativa ao contrato de seguro. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n , da comarca de Joinville (4ª Vara Cível), em que é apelante Vanderlei Cardoso, sendo apelada Itaú Previdência e Seguros S/A: A Quinta Câmara de Direito Civil decidiu, por votação unânime, conhecer do recurso e negar-lhe provimento. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, realizado nesta data, os Exmos. Srs. Desembargadores Henry Petry Junior e Odson Cardodo Filho. Florianópolis, 27 de setembro de Monteiro Rocha PRESIDENTE E RELATOR

2 RELATÓRIO Ocupam-se os autos de ação ordinária de cobrança aforada por Vanderlei Cardoso contra Itaú Previdência e Seguros S/A, objetivando a condenação da requerida ao pagamento de importância proveniente de contrato de seguro mantido entre ambos. Obtemperou o autor que foi admitido como funcionário da empresa Amei Assistência Manutenção Eletromecânica Ind. Ltda - ME em , onde laborou até , quando, em razão de acidente automobilístico, teve de se aposentar por conta de sua incapacidade laborativa. Afirmou que passou a receber do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, em , aposentadoria por invalidez. Relatou que na qualidade de funcionário da empresa em que trabalhava, estava inserido na qualidade de segurado do benefício em grupo por ela contratado junto à requerida, o qual possuía cobertura para casos de invalidez permanente e total por doença. Relatou que em decorrência do acidente sofrido, remeteu à requerida solicitação para pagamento da importância segurada, tendo a mesma, em junho de 2005, informado que a pretensão do autor estaria prescrita. Assim discorrendo, pugnou o autor pela procedência do pedido inicial com a condenação da requerida ao pagamento da importância relativa à garantia por invalidez decorrente de doença, além dos consectários de sucumbência. Devidamente citada, a empresa requerida aportou no feito apresentando contestação ao pedido inicial, pugnando pela improcedência do pedido. Réplica à contestação às fls Sentenciando antecipadamente o feito, o magistrado a quo reconheceu a prescrição ânua incidente sobre a pretensão do autor, com fundamento no art. 269, IV, do CPC, condenando-o ao pagamento de custas, despesas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em R$ 1.000,00. Inconformado com a prestação jurisdicional ofertada, o autor interpôs recurso de apelação objetivando a reforma integral da sentença, asseverando que sua pretensão não está prescrita, uma vez que, conforme alega, é absolutamente incapaz e, como tal, não correrá a prescrição em seu desfavor. Ademais, ponderou que aos contratos de seguro, por se tratarem de relação consumerista, aplica-se o prazo quinquenal capitulado no art. 27 do CDC. Intimada, a requerida apresentou contrarrazões ao recurso, pleiteando a manutenção da sentença. Preparados e tempestivos, os autos aportaram nesta e. Casa de Justiça. É o relatório.

3 VOTO Conheço do recurso, porquanto preenchidos seus reclames legais de admissibilidade. Trata-se de recurso de apelação objetivando a reforma da sentença que reconheceu a prescrição ânua incidente sobre a pretensão do autor. Contrapondo os argumentos lançados na sentença, inova o autor afirmando que se encontra totalmente incapaz em decorrência do acidente sofrido, de modo que contra si não correria a prescrição. Analisando os fatos narrados, pode-se inferir que a aposentadoria por invalidez do autor fora concedida em , conforme carta de concessão de aposentadoria oficial (fl. 25-verso) - início do prazo prescricional. Referente ao marco inicial da prescrição, tem-se o enunciado 278 do Superior Tribunal de Justiça que preceitua: "O termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral" (Súmula 278). Nesse sentido, aliás, é o entendimento deste Tribunal: "AÇÃO DE COBRANÇA. CONTRATO DE SEGURO DE VIDA. COBERTURA PARA INVALIDEZ PERMANENTE. PRESCRIÇÃO ÂNUA. TERMO INICIAL DO PRAZO PRESCRICIONAL A CONTAR DA APOSENTADORIA POR INVALIDEZ CONCEDIDA PELO INSS, DATA EM QUE A SEGURADA TEVE CIÊNCIA INEQUÍVOCA ACERCA DA INVALIDEZ PERMANENTE. PRECEDENTES DO STJ E DESTE TRIBUNAL. LAPSO TEMPORAL TRANSCORRIDO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO" (TJSC, 6ª Cam. Dir. Civil, Relª. Desª. Des. Cinthia Beatriz da Silva Bittencourt Schaefer, Ap. Cível n , de Araranguá). Referente aos marcos suspensivos, a Súmula 229 do Superior Tribunal de Justiça esclarece a quaestio: "O pedido do pagamento de indenização à-seguradora suspende o prazo de prescrição até que o segurado tenha ciência da decisão". Então, na presente hipótese, o prazo teve início com a aposentadoria por invalidez do segurado, sendo suspenso quando do protocolo do pedido de pagamento junto à seguradora ( fl. 31), retornando com a negativa por ela formulada. Operando-se os prazos acima elencados, tem-se que entre a aposentadoria oficial e o protocolo do pedido administrativo junto à seguradora, transcorreu o lapso de 3 anos, 2 meses e 9 dias. Já entre a negativa de pagamento e o ingresso da presente ação, decorreu o prazo de 1 mês e 20 dias. Somando-se os prazos mencionados, verifica-se que transcorreu o prazo (computando-se os períodos de suspensão) de 3 anos, 3 meses e 29 dias. Referente ao prazo prescricional, sabe-se que o art. 206, 1º, b, do Código Civil de 2002, em dispositivo legal paralelo ao art. 178, 6º, II, do Código Civil

4 de 1916, estabele que "prescreve: em um ano: a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo: quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão". Por ser mais amplo o prazo prescricional previsto no Código de Defesa do Consumidor e por este proteger as relações de consumo, dentre elas as relações securitárias, já se defendeu a aplicação do prazo de cinco anos previsto no art. 27 do CDC. Entretanto, não se pode apresentar falsas expectativas aos litigantes e, em atenção às diretrizes traçadas pelos tribunais superiores, adota-se, atualmente, o prazo prescricional ânuo para as ações securitárias. A propósito do assunto, transcreve-se julgamentos do Superior Tribunal de Justiça sobre a matéria: - "A ação de cobrança de indenização fundada em contrato de seguro sujeita-se ao prazo prescricional ânuo previsto no Código Civil e não ao de cinco anos, preconizado pelo art. 27 do Código de Defesa do Consumidor" (STJ, 3ª T., rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, AgRg no Ag n /RS, j ). - "Para a pretensão de cobrança do seguro, é inaplicável o prazo prescricional de 5 (cinco) anos previsto no CDC, pois não se trata de vício ou defeito do serviço e sim de inadimplemento contratual. "(...) O art. 178, 6º, II, do Código Civil (atual art. 206, 1º, II, do CC/02) não faz qualquer distinção quanto às ações sujeitas à prescrição, importando apenas, na melhor exegese da norma, que a demanda tenha por fundamento o contrato de seguro" (STJ, 3ª T., rel.ª Min.ª Nancy Andrighi, REsp n /MG, j ). Aliás, especificamente sobre ação de cobrança promovida por segurado em grupo, o STJ editou a Súmula 101, cujo teor é o seguinte "a ação do segurado em grupo contra a seguradora prescreve em um ano". Ressalte-se, aliás, que não se aplica à presente hipótese o prazo de prescrição vintenário previsto no sucedido Código Civil de 1916, porquanto, como é consabido, o prazo geral de 20 anos só tinha lugar na hipótese de inexistir prazo específico à situação debatida nos autos, o que, in casu, inocorre, porquanto à época da situação fática que deflagrou a pretensão do autor, o art. 178, 6º, II, do Código Civil regulava especificamente a matéria. Referente à alegação do autor de que é absolutamente incapaz e, assim, a prescrição não fluiria em seu desfavor, tal alegação não encontra amparo em qualquer prova dos autos. Pelo contrário, os elementos e alegações do próprio autor dão conta de que ele, embora possa ter algum problema psiquiátrico, não está totalmente incapacitado para a vida civil. Ressurte dos autos que o autor não restou absolutamente incapaz para os autos da vida civil, uma vez que, conforme se verifica, ele: a) outorgou procuração em favor de seu patrono, assinando de próprio punho a mesma (fl.12); b) assinou, de próprio punho, declaração de hipossuficiência (fl. 13); c) em (após o acidente sofrido), renovou sua Carteira Nacional de Habilitação, sem que nela constasse qualquer ressalva acerca de sua condição mental (fl. 14); d) assinou pessoalmente o Aviso de Sinistro encaminhado à seguradora solicitando o pagamento

5 da importância segurada; e) à fl. 71 a magistrada a quo intimou o autor para esclarecer se havia processo de interdição em trâmite, a fim de declará-lo incapaz, tendo o autor afirmado que "não existe processo de interdição em trâmite" (fl. 72). Portanto, por esses elementos elencados conclui-se, sem qualquer dúvida, que o autor não é absolutamente incapaz, de modo que contra si flui normalmente a prescrição. Destarte, vê-se que no presente caso a pretensão securitária encontra-se prescrita, porquanto ultrapassado o prazo legalmente previsto. Pelo exposto, conheço do recurso e nego-lhe provimento, mantendo a sentença a quo. É o voto.