HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA: OS DESAFIOS PARA A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ETNICO-RACIAIS *

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1 HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA: OS DESAFIOS PARA A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ETNICO-RACIAIS * SANTOS, Ana Carolina Bezerra dos 1 ; SILVA, Bruna Yara Moreira da 2 ; COSTA, Carla Siéldi Souza da 3 ; MARQUES, Crislayne Bezerra 4 ; LOPES, Daniel Henrique 5 Palavras-chave: Relações Etnicorraciais; História e Cultura Afrobrasileira; Educação; Formação de Professores. Introdução O presente Curso, oferecido inicialmente em 2011 e novamente proposto para 2012, teve por objetivo estimular o debate acerca das relações etnicorraciais e os desafios do processo ensino-aprendizagem da história e cultura afrobrasileira e africana, junto a professores da Educação Básica de Naviraí/MS e Região e a alunos dos Cursos de Ciências Sociais e Pedagogia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Naviraí. A problemática das relações etnicorraciais tem como referência uma visão da sociedade dividida em grupos distintos e se baseia na proposição de que essa classificação é passível de ser realizada a partir de características fenotípicas. Desta forma, passa ignorado que ela é histórica e socialmente determinada e que se (re)constrói nas experiências e práticas dos sujeitos, com o intuito de manter no âmbito social as diferentes dimensões de desigualdades e hierarquias de valores (VERÍSSIMO, 2010). Nos últimos anos, observa-se um avanço significativo das discussões sobre a história e cultura afrobrasileira e africana, bem como das diversas formas de discriminação que atingem a população negra. Em tal contexto, uma tentativa de solucionar as problemáticas relativas às questões etnicorracias, buscando que fossem pensadas a partir do princípio da igualdade, foi a promulgação das Leis Nº * Resumo revisado por Daniel Henrique Lopes, Coordenador da Ação de Extensão História e Cultura Afro- Brasileira: os Desafios para a Educação das Relações Étnico-Raciais, aprovada pelos Editais UFMS / PAEXT/2011 e UFMS / PAEXT/2012, código SIGProj N : e N : Discente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul aninha_karollina@hotmail.com 2 Discente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul brunyara@hotmail.com 3 Discente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul sieldi-navs@hotmail.com 4 Discente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul cbmarqs@hotmail.com 5 Docente da Universidade Federal de Maro Grosso do Sul daniel.lopes@ufms.br

2 10.639, de 09 de janeiro de 2003, e Nº , de 10 de março de 2008, que incluíram no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática 'História e Cultura Afrobrasileira'. Assim, enquanto resposta às questões enfrentadas pelos alunos e professores, negros, brancos e outros, nas diversas relações cotidianas estabelecidas no ambiente escolar, a Ação de Extensão almejou uma outra história, pautada na existência de sujeitos comprometidos com a vivência em uma sociedade multicultural e pluriétnica, capazes de construir uma Nação justa, igualitária e democrática. Metodologia A Proposta foi desenvolvida por meio de palestras expositivas e dialogadas, nas quais os participantes foram chamados ao debate das idéias e conceitos relacionados à temática em tela. As atividades foram dividas em palestras, dinâmicas de grupo, oficinas, análise de material didático e políticas públicas, pesquisa em escolas, para identificar casos para subsidiar as reflexões ao longo dos encontros, dentre outras. O conteúdo proposto foi distribuído em oito encontros quinzenais sobre os eixos temáticos: Formação de Professores e o processo de ensino e aprendizagem: identidades e relações dos sujeitos no ambiente escolar; Construção do racismo e definição de conceitos; Classificação etnicorracial no Brasil: construção da identidade social; Discriminação etnicorracial na escola; Tópicos de Religiões Afrobrasileiras; Formas, possibilidades e ações educativas de combate ao racismo e discriminações; A importância da inserção da história e cultura afrobrasileira e africana no currículo escolar: fortalecimento de identidades e direitos; Análise das representações construídas acerca da população afrodescendente nos materiais didáticos, grande mídia e material publicitário em geral. A realização dos encontros englobou, ainda, atividades individuais, seminários e o exercício da pesquisa em diferentes fontes, estimulando as reflexões a partir dos marcos legais e publicações decorrentes das políticas públicas implementadas pelo MEC e pela UNESCO, bem como das proposições de alguns autores na área em questão, dentre os quais destacamos: Abramovay e Castro (2006); Cavalleiro (2001); Dias (2004, 2006); Dayrell (1996); Mattos (2007); Munanga (1996, 2005); Palú (2010); Schwarcz (2001); Veríssimo (2010).

3 Quanto à avaliação do Curso, esta foi construída por meio de um processo contínuo, através da participação nas práticas propostas e elaboração de trabalhos escritos. Além disso, manteve-se aberto o espaço para a socialização das experiências e aprendizagens vivenciadas, críticas e sugestões, e também, ao final do Projeto, foi aplicado um questionário aos participantes através do qual foi possível obter retorno acerca da eficácia e produtividade das atividades, bem como o apontamento de falhas e lacunas durante a sua realização. Resultados e discussão Em que pesem os avanços das Leis na tentativa de solucionar as problemáticas relativas às relações etnicorracias, há aspectos que são passíveis de problematizações. Segundo vários autores, podemos apontar algumas questões: Será que a implementação de uma lei é suficiente para propor um novo modelo de currículo que leve em consideração as especificidades culturais, etnicorraciais de uma população que por muito tempo foi deixada de lado? (FREITAS, 2010, p. 18). A educação formal é suficiente para a superação da exclusão sócio-racial? O ensino favorece aos alunos negros? Os professores estão preparados para o cumprimento da Lei? Têm formação suficiente acerca do tema? E como isso está sendo repassado para os alunos? (REIS, 2008 apud FREITAS, 2010). Frente às situações enfrentadas pelos alunos negros nas diversas relações cotidianas estabelecidas no ambiente escolar, segundo Palú (2010, p. 04), surgem vários questionamentos: qual foi a formação que o professor recebeu para trabalhar com o tema da diversidade racial em suas aulas? Qual a influência do mito da democracia racial na identidade docente? Por que é necessário formar o professor para a prática do ensino da temática racial? Desta forma, torna-se evidente que para a construção de relações etnicorraciais saudáveis é urgente pensar na formação de professores para que possam trabalhar adequadamente tais questões na escola, bem como resgatar o ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana nos diversos níveis do processo educacional. Assim, emerge a importância da implementação de políticas de formação docente que vislumbrem a educação das relações etnicorraciais, uma vez que o texto das Leis /2003 e /2008 não é garantia efetiva de sua realização,

4 e as reivindicações dos movimentos sociais e as situações adversas a que as populações minoritárias são submetidas não são garantias do seu atendimento. Diante dessas conjunturas, foi oferecido curso de formação continuada a professores da Educação Básica de Naviraí/MS e Região e de formação inicial a alunos dos Cursos de Ciências Sociais e Pedagogia da UFMS/CPNV, que, ao analisar as relações sociais da sociedade brasileira, em uma perspectiva histórica, evidenciou como os papéis sociais, status e representações são culturalmente construídos, definindo as identidades de homens e mulheres como instrumentos de hierarquização, poder e exclusão. Portanto, ao debater em que condições as relações etnicorraciais são tratadas em sala de aula pelos docentes e estudantes de Graduação, foi possível rever práticas pedagógicas de modo à desnaturalizar as concepções de distinção fundamentada em diferenças que produzem valores, comportamentos e hábitos, mantendo as desigualdades e a segregação na sociedade. Conclusões O Curso possibilitou o debate das diferentes formas de racismo, das percepções dos alunos acerca dessa problemática, bem como a preparação dos educadores e futuros educadores para abordar as questões relativas às relações etnicorraciais no ambiente escolar. Assim, mediou aos cursistas a apropriação de referencial teóricometodológico específico enquanto uma ferramenta fundamental para a compreensão da realidade social, como possibilidade de construção de novas formas de sociabilidades entre os sujeitos, no sentido do respeito e da correção de posturas e atitudes. Enquanto um subsídio à implementação dos dispositivos legais que versam sobre a temática aludida, o Projeto ainda estimulou que os cursistas atuassem como multiplicadores do conhecimento entre seus pares. Portanto, por considerar que a Ação pôde conscientizar e sensibilizar o público-alvo, no sentido de viabilizar novas posturas, atitudes e relações entre as pessoas, em 2012 será realizada outra edição do Curso, pois, assim, as mais de 100 pessoas inscritas na lista de espera remanescente de 2011, bem como outros interessados, terão a oportunidade de participar da Ação ao longo do corrente ano.

5 Referências Bibliográficas ABRAMOVAY, Miriam; CASTRO Mary Garcia (Coord). Relações raciais na escola: reprodução de Desigualdades em nome da igualdade. Brasília: UNESCO INEP, CAVALLEIRO, Eliane dos Santos. Racismo e anti-racismo na educação: repensando nossa escola. São Paulo: Summus, DAYRELL, Juarez. Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: UFMG, DIAS, Lucimar Rosa. Questões sobre a educação na África e a educação antiracista brasileira: reflexões. Revista Espaço Acadêmico. São Paulo: USP, Quantos passos já foram dados? A questão de raça nas leis educacionais. Da LDB de 1961 à Lei10.639/03. Revista Espaço Acadêmico. São Paulo: USP, FREITAS, Patrícia de. A Lei , o ensino de história e a cultura afro-brasileira. OPSIS, Catalão, v. 10, n. 1, p , jan-jun Disponível em: Acesso em: 03 mar MATTOS, Regiane Augusto de. História e cultura afro-brasileira. São Paulo: Contexo; UNESCO, MUNANGA, Kabengele (org.). Superando o racismo na escola. Brasília: MEC/SECAD, (org.) Estratégias e políticas de combate à discriminação racial. São Paulo: EDUSP, PALÚ, Valéria Pavão de Souza. Formação de professores e processo de ensino aprendizagem. In: VERÍSSIMO, Maria Valéria B. (org.). Relações etnicorraciais e o processo de ensino e aprendizagem. Marília/SP: UNESP; Secretaria Municipal da Educação, REIS, Fátima. A implementação da Lei /03. OPSIS, Catalão, v. 10, n. 1, p , jan-jun 2010 Disponível em: < pagina1.htm>. Acesso em: 15 out SCHWARCZ, Lilia Moritz. Racismo no Brasil. São Paulo: Publifolha, VERÍSSIMO, Maria V. B. (org). Relações etnicorraciais e o processo de ensino e aprendizagem. Marília/SP: UNESP; Secretaria Municipal da Educação, 2010.