Turma e Ano: Turma Regular Master A. Matéria / Aula: Direito Civil Aula 16. Professor: Rafael da Mota Mendonça

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1 Turma e Ano: Turma Regular Master A Matéria / Aula: Direito Civil Aula 16 Professor: Rafael da Mota Mendonça Monitora: Fernanda Manso de Carvalho Silva DIREITO DAS COISAS (continuação) (II) Posse (3) Detenção: A detenção é um fato. Os efeitos da posse, em regra, não recaem na detenção. A depender da teoria da posse utilizada (vide final da aula anterior), o conceito de detentor variará. Como o CC/02 adota a teoria de Inhering, o conceito de detenção adotado é o dele. Entretanto, o CC/02 também usa de maneira inconsciente a teoria de Saleilles. (3.1) Savigny De acordo com a teoria de Savigny, a detenção é o corpus sem animus, isto é, o contato efetivo com a coisa sem a intenção de ser proprietário dela. Para Savigny, o locatário, o usufrutuário e o comodatário seriam detentores. (3.2) Ihering Para Inhering, a detenção deve ter as suas hipóteses definidas por lei. O Código Civil Brasileiro adotou a teoria de Inhering. As hipóteses de detenção têm previsão nos artigos 1198 e 1208, 1ª parte, do CC. Art Considera se detentor aquele que, achando se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. Parágrafo único. Aquele que começou a comportar se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume se detentor, até que prove o contrário. Art Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância (estes atos induzem detenção) assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. Conforme art do CC, detentor é aquele que conserva a coisa em nome de outrem em razão de uma relação de subordinação. O detentor é chamado de serviçal da posse ou fâmulo da posse. Ex: caseiro, porteiro, carteiro, empregada doméstica, o motorista quanto ao veículo, o policial em relação à sua arma funcional. De acordo com o art. 1208, 1ª parte, do CC, não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância. Nessas hipóteses, haverá detenção. Ex: convidado para passar um final de semana na casa de praia do amigo (não á possuidor da casa, mas mero detentor). OBS1: O detentor pode se tornar possuidor? Sim, por conta da expressão até que prove o contrário, prevista no art. 1198, parágrafo único, do Código Civil. Isso ocorre quando a pessoa deixa de conservar a coisa em nome de outrem e passa a conservá la em nome próprio. Nisso se aproxima da Teoria de Saleilles. Então de alguma 1

2 forma esta teoria está incorporada ao nosso ordenamento jurídico, ainda que o legislador não o tenha feito de forma consciente. Vide Enunciado 301 do CJF. Enunciado 301 do CJF Art , c/c o art.1.204: É possível a conversão da detenção em posse, desde que rompida a subordinação, na hipótese de exercício em nome próprio dos atos possessórios. Aquele que antes era detentor passaria a ter uma independência na destinação econômica que será dada à coisa. Conforme a Teoria de Saleilles, para se ter posse é necessário, além da possibilidade de se estabelecer a destinação econômica que será dada a coisa, que esta independência seja reconhecida por terceiros. Por conta disso, o detentor tem ação possessória e pode usucapir. O momento em que isso vai acontecer é o Poder Judiciário que determina. OBS2: Qual é a intervenção de terceiros a que o detentor faz jus quando é demandado em razão de um direito que o demandante tem contra o possuidor? Nomeação à autoria (art. 62 do CPC/73). Art. 62. Aquele que detiver a coisa em nome alheio, sendo lhe demandada em nome próprio, deverá nomear à autoria o proprietário ou o possuidor. OBS3: Qual é o único efeito da posse que recai também sobre a detenção? Trata se da autotutela da posse, o chamado desforço imediato (art. 1210, 1º, do CC), que deve ser exercida sempre com proporcionalidade (o excesso gera responsabilidade civil). O detentor fará uso do desforço imediato contra terceiros, mas nunca contra o possuidor. Art O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter se ou restituir se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. [...] OBS4: Posse de bem público Qual é a relação jurídica (com a coisa) que se estabelece quando um particular ocupa uma área pública? Maria Sylvia Zanella Di Pietro, em seu livro Uso Privado de Bem Público, rechaça qualquer tipo de relação jurídica entre o particular e a coisa. A posição majoritária no STJ é no sentido de que ocupação irregular de bem público não gera posse, e sim detenção, com base no art. 1208, 1ª parte, do CC. Portanto, é negada a essa pessoa inclusive a indenização por benfeitorias necessárias ou úteis. Art Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. Para o professor, pode o ocupante até começar com detenção, mas com o passar dos anos, haveria independência na destinação econômica da coisa. Sendo assim, seria possível sustentar que a detenção transformou se em posse (art do CC e Enunciado 301 do CJF). (4) Composse: Composse é a posse de duas ou mais pessoas sobre um bem indivisível. Vide artigo 1199 do Código Civil. 2

3 Art Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores. OBS1: Um compossuidor pode fazer uso das ações possessórias em face de outro compossuidor? Sim. OBS2: Um compossuidor pode usucapir o percentual dos outros compossuidores? Sim, desde que todos os requisitos da usucapião estejam presentes. (5) Posse de bens incorpóreos: Bem incorpóreo é aquele que não pode ser tocado. O principal exemplo é um direito. É possível a posse de bens incorpóreos? Sim, é possível a posse de direitos pessoais. Ex: um direito autoral, um direito de exercer uma atividade laborativa. Embora até seja possível, nem sempre a defesa desses direitos se dá através de ações possessórias, eis que nesses casos há meios mais adequados (ações específicas). Vide Súmulas 193 e 228 do STJ. O direito de uso de linha telefônica pode ser adquirido por usucapião (Súmula 193 do STJ) É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral. (Súmula 228 do STJ) (6) Classificação da posse: (6.1) Posse Direta e Indireta O desdobramento da posse pode se dar em virtude de um direito real ou de um direito pessoal. Vide artigo 1197 do CC/02. Art A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. Exemplo de direito pessoal: locação. O locador é o possuidor indireto e o locatário é o possuidor direto. Exemplos de direito real: usufruto e penhor. O que o possuidor indireto pode fazer para retomar a posse direta? Depende do direito que desdobrou a posse. As ações possessórias têm aplicação residual; só incidem quando não houver ação específica para aquela determinada situação. Ex1: contrato de locação: Ação de despejo do locador contra o locatário; Ações possessórias do locatário contra o locador. Ex2: contrato de depósito Ação de depósito do depositante contra o depositário. Ex3: alienação fiduciária em garantia Depende se o bem for móvel ou imóvel. Sendo bem móvel busca e apreensão Sendo o bem imóvel ação de reintegração de posse 3

4 OBS1: Enunciado 76 do CJF: o possuidor indireto tem direito de defender a sua posse em relação ao direto. Enunciado 76 do CJF Art : O possuidor direto tem direito de defender a sua posse contra o indireto, e este, contra aquele (art , in fine, do novo Código Civil). OBS2: Qual é a intervenção de terceiros a que o possuidor direto faz jus quando é demandado em razão de um direito que o demandante tem contra o possuidor indireto? Denunciação da lide (art. 70 do CPC/73 e art. 125 do CPC/15). Art. 70. A denunciação da lide é obrigatória: I ao alienante, na ação em que terceiro reivindica a coisa, cujo domínio foi transferido à parte, a fim de que esta possa exercer o direito que da evicção Ihe resulta; II ao proprietário ou ao possuidor indireto quando, por força de obrigação ou direito, em casos como o do usufrutuário, do credor pignoratício, do locatário, o réu, citado em nome próprio, exerça a posse direta da coisa demandada; III àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda. Art É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes: I ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que possa exercer os direitos que da evicção lhe resultam; II àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo. (6.2) Posse Justa e Injusta A posse é injusta quando apresenta algum dos vícios objetivos: violência, clandestinidade ou precariedade (art do CC). Art É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária. Posse clandestina é aquela adquirida na obscuridade, na calada da noite, ou seja, à revelia do proprietário ou do verdadeiro possuidor. Posse precária é a posse adquirida com abuso de confiança. A consequência de estarmos diante de uma posse injusta está no artigo 1208, 2ª parte, do Código Civil: diante dos vícios objetivos, os efeitos da posse não são produzidos. Por isso, este possuidor não pode usucapir o bem, fazer uso das ações possessórias ou ter direito a indenização por benfeitorias. Art Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. Diante da omissão do legislador, essa mesma consequência se dá em relação à posse precária? Nesse caso, há duas correntes: 1ª) Sim, pois se estende à precariedade a lógica do artigo 1208, 2ª parte, do CC, já que essa foi a intenção do legislador. Esta é a opção a ser assinalada em provas objetivas. 2ª) A resposta é negativa, pois normas proibitivas, ou seja, aquelas que limitam direitos, não podem ser interpretadas extensivamente. 4

5 (6.3) Posse de boa fé e de má fé Art É de boa fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção. A boa fé que temos aqui é subjetiva, de conhecimento. Se eu conheço o vício/obstáculo para a aquisição da posse e mesmo assim o firo, a posse será de má fé; se eu desconheço o vício/obstáculo para a aquisição da posse e o firo, a posse será de boa fé. Ex: contrato de locação já terminado; o locador notifica o locatário para sair do imóvel, já que não quer renovar o contrato. Nesse caso, o locatário tem conhecimento do obstáculo para a sua permanência no bem. Se, ainda assim, ele permanecer, a sua posse será de má fé. O possuidor de má fé é tão possuidor quanto o de boa fé, podendo inclusive fazer uso das ações possessórias. Ocorre que o possuidor de boa fé possui uma série de vantagens em relação ao possuidor de má fé. Veremos isso na próxima aula. 5