BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A TUTELA ANTECIPADA NO CPC

Transcrição

1 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A TUTELA ANTECIPADA NO CPC Natália Cavalcanti Alem. Especialista em Direito Processual. Defensora Pública Federal em Recife -PE Palavras-chave: Tutela antecipada. Estabilização. Novo CPC. Resumo: O presente artigo busca trazer um breve panorama acerca do instituto da tutela antecipada trazido pelo Novo Código de Processo Civil de 2015, abordado especialmente o aspecto da estabilização da referida tutela no novel diploma legal. 1 Este material foi desenvolvido a partir das discussões durante o evento: XXV Jornadas Iberoamericanas de Direito Processual e XI Jornadas Brasileiras de Direito Processual, realizado no período de 14 e 16 de setembro de 2016, em Porto de Galinhas PE

2 O Novo Código definiu como gênero as Tutelas Provisórias, subdivido-as em duas espécies: Tutela de Urgência e Tutela de Evidência. Por sua vez, a Tutela de Urgência pode ser Antecipada ou Cautelar. No CPC anterior, havia providências urgentes com traços comuns, quais sejam, ser medidas provisórias e instrumentais à decisão final, e existia uma contraposição entre as medidas Cautelar e Antecipada e as medidas Provisionais e Monitórias (estas, sim, aptas a serem suficientes em si mesmas, a se estabilizarem, não sendo medidas instrumentais). O NCPC prometia unificar e simplificar o regime, e para tanto previu que as medidas cautelares e antecipadas podem ser pleiteadas da mesma forma, além de ter eliminado a necessidade de duplicidade de processos, de modo que, mesmo no caso de a medida pleiteada e concedida ser anterior ao processo principal, é possível seguir-se aproveitando o mesmo feito. Houve a dispensa do antigo processo cautelar autônomo, autorizando o pedido e a concessão das medidas de forma incidental, no bojo do processo principal e permitindo, ainda, que o pedido principal seja formulado nos mesmos autos em que anteriormente pedida a tutela de urgência. O Novo Código, assim, acaba estabelecendo os mesmos requisitos para a concessão da tutela cautelar e da tutela antecipada, fixando pressupostos idênticos para a concessão de qualquer uma destas duas espécies de tutela de urgência. Ademais, a nova estrutura do CPC 2015 afasta as medidas cautelares típicas e fixa requisitos que, uma vez preenchidos, permitem à parte pedir a medida cautelar atípica que entender necessária à salvaguarda do bem da vida. Foi extinto o procedimento cautelar próprio, as cautelares nominadas e inominadas e o rol taxativo de cautelares. O poder geral de cautela é agora a regra das cautelares. Para tanto, o NCPC não detalha as medidas cautelares, mas traz um rol de medidas típicas, que devem ser interpretadas e compreendidas com base no CPC anterior, num claro intento de buscar, de forma mais eficaz, a realização do direito material. No tocante à tutela antecipada, importa lembrar que este instituto sempre teve por objetivo a antecipação do mérito da demanda, sem a necessidade de se aguardar o encerramento do processo judicial. Desde 1994 já havia uma tutela antecipada instável no sistema jurídico brasileiro. O processo judicial brasileiro, em si, é lento e sujeito a falhas, e estes motivos, dentre outros, resultam em que a tutela demandada, o bem da vida almejado, não seja entregue à parte vencedora de maneira eficaz.

3 A antecipação de tutela veio trazer a possibilidade de garantir a tutela por meio de uma cognição horizontal e verticalmente sumária. Seus pilares são a instrumentalidade, a provisoriedade e a precariedade. A instrumentalidade se refere a ter caráter instrumental em relação à tutela futura, esta sim realizada com base em cognição exauriente, servindo a antecipada para garantir os seus efeitos práticos. O aspecto da provisoriedade significa que a tutela antecipada se encerra com a sua substituição por uma decisão definitiva, que a confirma ou a afasta. Já a precariedade decorre do fato de, em surgindo novas provas com o aprofundamento da cognição, a tutela poder ser revista a qualquer tempo para se adequar à realidade apreendida naquele momento processual de cognição. A instabilidade da tutela antecipada está ligada a estes três elementos, cuja superação é requisito para a sua estabilidade. Assim, apesar de se usar a expressão estabilização, a tutela antecipada não é realmente estável, porque não possui nenhuma autonomia, de modo que eventual ajuizamento posterior de ação ou extinção sem mérito do feito extinguem, também, a tutela antecipadamente concedida. Por outro lado, se a tutela antecipada é concedida e o réu a ela não se opõe, a decisão se estabiliza e autoriza desde logo a extinção do processo, mais uma vez homenageando a efetividade da atuação judicial, especialmente diante da inércia da parte demandada. No fenômeno da estabilização se podem identificar dois requisitos, quais sejam, a urgência contemporânea e a não interposição de recurso. A estabilização da tutela é apresentada como um procedimento satisfativo autônomo sumário. Não busca certificar direitos, mas sim, a efetividade jurisdicional. É, portanto, uma medida prática e, a princípio, não faz coisa julgada. A ideia é permitir que o processo se limite à tutela provisória, oportunizando-se aos envolvidos que a causa se encerre nessa fase, pois o réu, como num reconhecimento tácito do direito pleiteado pelo autor, opta por não dar continuidade à discussão. O sistema de Justiça deixa de se ocupar com uma demanda, o autor obtém o bem da vida com inédita celeridade e o réu deixa de enfrentar uma longa batalha judicial que ele mesmo considerou, desde o início, perdida. Assim, a tutela antecipada antecedente estabilizar-se-á e continuará produzindo os seus efeitos por prazo indeterminado. Estabilizada a tutela, o réu só poderá rever, reformar ou invalidar a decisão estabilizada através de um novo processo, mediante a propositura de ação autônoma dentro do prazo de dois anos. Esse prazo de dois anos previsto no NCPC para o

4 ajuizamento de ação é um prazo de decadência processual e, portanto, corresponde à preclusão. Configura-se, assim, como uma preclusão qualificada, mas não chega a ser uma coisa julgada. Trata-se da perda da possibilidade de uma conduta processual para afastar a tutela antecipada estabilizada. Por outro lado, mesmo após o prazo de dois anos, e enquanto não prescrever o direito de fundo material, entende parcela da doutrina que a parte poderá ingressar em Juízo para discutir o direito, sem afastar a tutela antecipadamente concedida e estabilizada. O que se estabiliza, assim, é a medida prática destinada a garantir o efeito da tutela, mas não o fundo de direito em sim. E, então, discutido exaustivamente e certificado o direito, ele poderá atingir a medida prática que havia sido estabilizada para lhe retirar a efetividade. Desta forma, o instituto da estabilização da tutela antecipada não traz qualquer violação ao modelo constitucional de processo. Em realidade, positiva e regulamenta a possibilidade de se imprimir maior eficácia ao processo, convertendo uma decisão provisória em definitiva em razão da aceitação, ainda que tácita, dos interessados, dispensando um desnecessário seguimento do feito após ter sido garantida ao demandado a oportunidade de impugnação na pendência do procedimento preparatório e de revisão, invalidação ou reforma da decisão estabilizada durante todo o prazo decadencial, sem excluir a possibilidade de exame exaustivo do direito discutido.

5 REFERÊNCIAS BUENO. Cassio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil anotado / Cassio Scarpinella Bueno. São Paulo: Saraiva PINTO, Rodrigo Tegani Junqueira. Tutela Antecipada no Novo Código de Processo Civil. Disponível em < o_id=16214&revista_caderno=21> Acesso em: 22 nov TALAMINI, Eduardo. Tutela provisória no novo CPC: panorama geral. Disponível em: < Tutela+provisoria+no+novo+CPC+panorama+geral> Acesso em: 22 nov