UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA JULIA RHAUANY FARIA ALVES LUISA DE ALMEIDA ANDRADE !!!!! CONFLITO DE COMPETÊNCIA

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1 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA JULIA RHAUANY FARIA ALVES LUISA DE ALMEIDA ANDRADE CONFLITO DE COMPETÊNCIA Competência relativa Brasília 2014 Comentário a acórdão apresentado como Avaliação Parcial em Teoria Geral do Processo 2. Prof. Dr. Vallisney Oliveira.

2 CC /SC CONFLITO DE COMPETÊNCIA 2010/ Relatora: Ministra NANCY ANDRIGHI Data do julgamento: 09/04/2014 EMENTA PROCESSO CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO ANULATÓRIA. ESCRITURA PÚBLICA DE CESSÃO E TRANSFERÊNCIA DE DIREITOS POSSESSÓRIOS. DIREITO PESSOAL. DIREITO REAL IMOBILIÁRIO. COMPETÊNCIA DO FORO DO DOMICÍLIO DO RÉU. ARTIGOS ANALISADOS: ART. 95 E 100 DO CPC. 1. Ação declaratória de nulidade de escritura pública de cessão e transferência de direitos possessórios, ajuizada em agosto de 2009, da qual foi extraído o presente conflito de competência, concluso ao Gabinete em Discute-se a competência para julgamento de ação declaratória de cessão de direitos possessórios, considerando o disposto no art. 95 do CPC e a existência de outras duas ações, em que se discute a posse do bem, e que tramitam no foro da situação deste. 3. A partir da exegese da norma do art. 95 do CPC, na hipótese do litígio versar sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova, a ação correspondente deverá necessariamente ser proposta na comarca em que situado o bem imóvel, porque a competência é absoluta. 4. Por outro lado, a ação, ainda que se refira a um direito real sobre imóvel, poderá ser ajuizada pelo autor no foro do domicílio do réu ou, se o caso, no foro eleito pelas partes, se não disser respeito a nenhum daqueles direitos especificados na segunda parte do art. 95 do CPC, haja vista se tratar de competência relativa. 5. Na hipótese, conforme apontado pelo juízo suscitante, o litígio analisado não versa sobre nenhum direito real imobiliário, mas sobre a eventual nulidade da escritura de cessão de posse de imóvel, por razões formais. Aliás, é importante mencionar, nesse contexto, que nem mesmo a posse do imóvel é objeto da presente ação.

3 6. Não há competência absoluta do foro da situação do bem para o julgamento da presente ação, sendo inaplicável o art. 95 do CPC. A competência é relativa, devendo ser fixada de acordo com as regras do art. 100 do CPC. 7. Nem mesmo poder-se-ia pensar em conexão entre a ação declaratória e as ações de reintegração de posse e embargos de terceiro porque não se vislumbra identidade de pedidos ou de causa de pedir, conforme prevê o art. 103 do CPC, para autorizar a reunião dos processos. 8. Conflito conhecido, para declarar a competência do JUÍZO DE DIREITO DE SÃO JOSÉ DO OURO - RS. COMENTÁRIOS O acórdão apresentado versa sobre conflito negativo de competência em ação que tem como pedido o reconhecimento judicial de nulidade de escritura pública de cessão e transferência de direitos possessórios, na qual o juízo suscitante afirma a impossibilidade de aplicação do art. 95 do Código de Processo Civil pois a pretensão apresenta natureza pessoal. O termo competência se refere à distribuição da função jurisdicional no processo entre os diferentes órgãos do Poder Judiciário. As regras de competência, responsáveis pela indicação do foro competente, são dividas em absolutas e relativas. Como principais consequências dessa divisão: Somente as de competência relativa estão sujeitas à modificação pelas partes. As de competência absoluta não podem ser modificadas. Entre as principais causas de modificação podem ser citadas a prorrogação, a derrogação pela eleição de foro, a conexão e a continência, que só se aplicarão em casos de competência relativa.somente a incompetência absoluta pode ser reconhecida pelo juiz de ofício. A relativa não (Súmula 33, do Superior Tribunal de Justiça). A primeira constitui objeção processual,matéria de ordem pública, que pode ser reconhecida pelo juiz ou alegada pela parte, a qualquer tempo. 1 1 GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios; LENZA, Pedro (coord.). Direito Processual Civil Esquematizado. São Paulo. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 99.

4 Segundo Chiovenda (citado por Gonçalves) 2 estabelece ainda critérios para a fixação de competência, sendo eles: o critério objetivo (matéria, valor e pessoa), o critério funcional e o critério territorial. O critério objetivo é regido pelas normas de organização judiciária e, o funcional, pelas normas da Constituição da República e de organização judiciária. Já o territorial possui regras mais específicas. Se a ação for fundada em direito pessoal ou direito real sobre bens móveis deve ser proposta, em regra, no foro do domicílio do réu. Já nas ações fundadas em direito real sobre bens imóveis, o foro da situação da coisa é o competente. O CPC regula essa matéria nos arts. 94 e seguintes, impondo regras pela matéria das ações, pela situação das partes ou pelo lugar do fato ou ato. É interesse reparar que o legislador brasileiro dividiu os critérios de competência usando a mesma ordem de Chiovenda; basta observar as Seções I, II e III, do Capítulo III, do Livro I. Já o conflito de competência é definido pelo CPC, no art. 115, ilustrado por três hipóteses: quando dois ou mais juízes se declaram competentes; quando dois ou mais juízes se consideram incompetentes ou; quando entre dois ou mais juízes existe controvérsia acerca da reunião ou separação de processos. Vale lembrar que a suscitação de conflito de competência possui previsão legal no art. 118 do CPC, segundo o qual o conflito será suscitado ao presidente do tribunal de ofício, pelo juiz ou, por petição, pela parte e pelo Ministério Público; sendo que o ofício e a petição devem ser intuídos com os documentos necessários à prova do conflito. O art. 120 complementa especificando que o relator poderá determinar quando o conflito for positivo que seja sobrestado o processo mas, neste caso, bem como no de conflito negativo, designará um dos juízes para resolver as medidas urgentes em caráter provisório. 2 GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios; LENZA, Pedro (coord.). Direito Processual Civil Esquematizado. São Paulo. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 101.

5 No acórdão apresentado, a ministra relatora retoma o critério territorial 3 e também de competência objetiva em razão da matéria 4 presente no art. 95 do CPC; para afirmar que: 10. A conclusão a que se chega,a partir da exegese da norma do art. 95 do CPC, portanto, é de que, na hipótese do litígio versar sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras enunciação de obra nova, a ação correspondente deverá necessariamente ser proposta na comarca em que situado o bem imóvel, porque a competência é absoluta. 11. Por outro lado, a ação, ainda que se refira a um direito real sobre imóvel, poderá ser ajuizada pelo autor no foro do domicílio do réu ou, se o caso, no foro eleito pelas partes, se não disser respeito a nenhum daqueles direitos especificados na segunda parte do art. 95 do CPC, haja vista se tratar de competência relativa. Nesse sentido: REsp PB, 3ª Turma, Rel. Min. MASSAMI UYEDA, DJe Na ação, não há discussão relativa à posse ou propriedade do imóvel em questão, apenas menção a estas o litígio analisado versa sobre a nulidade da escritura do imóvel. Determina a relatora então que não há competência absoluta do foro da situação do bem para o seu julgamento, sendo inaplicável o art. 95 do CPC. A competência é relativa, devendo ser fixada de acordo com as regras do art. 100 do CPC. Segundo o supracitado: Art É competente o foro: I - da residência da mulher, para a ação de separação dos cônjuges e a conversão desta em divórcio, e para a anulação de casamento; II - do domicílio ou da residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos; III - do domicílio do devedor, para a ação de anulação de títulos extraviados ou destruídos; IV - do lugar: a) onde está a sede, para a ação em que for ré a pessoa jurídica; b) onde se acha a agência ou sucursal, quanto às obrigações que ela contraiu; c) onde exerce a sua atividade principal, para a ação em que for ré a sociedade, que carece de personalidade jurídica; d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se Ihe exigir o cumprimento; V - do lugar do ato ou fato: a) para a ação de reparação do dano; b) para a ação em que for réu o administrador ou gestor de negócios alheios. 3 Leva em conta a localização territorial, seja do domicílio dos litigantes, seja da situação do imóvel que é disputado por eles (GONÇALVES; LENZA, 2013, p. 90). 4 A matéria é utilizada pela Constituição Federal para apurar se uma demanda deve correr perante a justiça comum ou pelas especiais (trabalhista, militar ou eleitoral) (GONÇALVES; LENZA, 2013, p. 89).

6 Parágrafo único. Nas ações de reparação do dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, será competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato. Interessante relembrar aqui as conseqüências práticas da diferença entre incompetência relativa e absoluta: enquanto, a primeira argúi-se por meio de exceção; a segunda deve ser declarada de ofício e pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição, indecentemente de exceção. A magistrada decide então pela competência do foro de domicílio do réu para julgamento da ação, pois se trata de ação fundada em direito real imobiliário e que não diz respeito a nenhum dos direitos especificados na segunda parte do art. 95 do CPC.