O letramento a partir da oralidade e do uso de gêneros textuais no Ensino Fundamental
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- Marco Cerveira Galvão
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1 O letramento a partir da oralidade e do uso de gêneros textuais no Ensino Fundamental Rosangela Balmant; Universidade do Sagrado Coração de Jesus- Bauru-SP. rosangelabalmant@hotmail.com Gislaine Rossler Rodrigues Gobbo; Usc-Unesp (Marília). gislainerrgobbo@gmail.com Comunicação oral - Pesquisa em andamento Eixo 2 - Formação de professores, políticas educacionais e práticas educativas Palavras-chave: Letramento; Oralidade; Formação de professores; Gêneros textuais. Introdução O objetivo deste trabalho é discutir porque as escolas não têm contemplado efetivamente a oralidade das crianças nos primeiros anos do ensino fundamental. O desenvolvimento da oralidade contempla a inserção da criança no mundo social e a capacitação para que organize seus pensamentos, experiências e se insira nas práticas sociais. Para tanto, nosso estudo intui investigar se a escola, na atualidade, oferta uma diversidade textual no processo de alfabetização, pois a utilização de diferentes tipos literários no ambiente escolar promove essa tipologia em seu uso social e o contato com os gêneros discursivos em suas variedades como: jornais, bulas de remédios, cartazes nas ruas, bilhetes, receitas, romances, etc. Segundo Bajard (2010), o contato da criança com diferentes gêneros textuais tem como característica produzir e reproduzir diferentes modos de representar a realidade, estabelecer relações sociais e criar, reforçar ou reconstruir identidades. As hipóteses mais prováveis para a não utilização das variedades de gêneros textuais seriam o fato da escola se prender apenas na utilização de narrativas, ou, então, a prisão, o apego aos modismos. Já as hipóteses para o 1
2 não desenvolvimento da oralidade abarcam a ideia de que os alunos podem atrapalhar o andamento da aula, a escrita é que deve ser aquilatada e a oralidade deve-se restringir à necessidade temporal da repreensão do aluno pelo professor. Com essa limitação no diálogo, fatalmente a criança terá um vocabulário restrito. Segundo Bakhtin (1988), as palavras só terão valor a partir da troca com o outro e essa troca acontece mediante a fala. Essa relação dialógica permite a troca e interação com o outro, através do interdiscurso que é o ponto principal a ser observado. O Referencial Nacional para a Educação Infantil também contribui com essa defesa ao afirma que: A aprendizagem oral possibilita comunicar ideias, pensamentos e intenções de diversas naturezas, influenciar o outro e estabelecer relações interpessoais. Seu aprendizado acontece dentro de um contexto. Quanto mais as crianças puderem falar em situações diferentes, mais poderão desenvolver suas capacidades comunicativas de maneira significativa (1998, vol. 3, p. 120). A necessidade de divulgar práticas orais diversificadas fez com que surgisse este trabalho, expondo a necessidade do acesso às histórias, às imagens e à mediação de alguém mais experiente para promover tais práticas. Mediante a importância do desenvolvimento da oralidade e da utilização de diferentes gêneros literários, será indagado: O letramento na escola pode ser promovido pela oralidade e pelo uso dos gêneros textuais? Para esclarecer tal pergunta a metodologia utilizada para desenvolver esse artigo foi de cunho bibliográfico, com o uso de entrevista como instrumento de coleta de dados para comprovação de nossa hipótese inicial. As perguntas das entrevistas semi-estruturadas foram feitas com professoras de crianças em classes iniciais de alfabetização (1º e 2º anos) do ensino fundamental. Metodologia Ao iniciarmos a disciplina de estudos linguísticos, no primeiro ano de pedagogia em uma Universidade do interior de São Paulo, tínhamos como proposta curricular, os estudos linguísticos focalizados nos conceitos básicos defendidos por Ferdinand Saussure (1984). 2
3 Para Saussure (1984), a Linguística estuda a linguagem humana articulada, que são desmembradas em partes menores. Há a dupla articulação sonora, isto é, existem relações entre fonemas (unidades sonoras) e morfemas (unidades mínimas com significados). A língua é conceituada por ele como um sistema de signos (um conjunto de unidades que estão organizadas formando um todo). Define-se o signo como a associação entre significante (imagem acústica) e significado (conceito). Tanto o significante como o significado são arbitrários, convencionais e imotivados, sendo a língua um sistema formado de unidades abstratas e convencionais. Saussure é estruturalista e defende a língua como um sistema gramatical. Na fala ou parole não há interesse pela produção individual ou social, mas sim pelas variações linguísticas, que exercerão influências na linguística diacrônica ou histórica, pois provocarão alterações e mudanças na comunidade linguística. Entretanto, na atualidade há pesquisas que demonstram o ensino da língua em um contexto social com sentido e significado em sua produção. Pesquisas do círculo de Mikhail Bakhtin (1988, 2010) defendem a linguagem em suas relações sociais e produções dialógicas com o outro. Esta vertente se ocupa da teoria da enunciação, ou seja, considera tudo o que é dito, em um momento com troca e alternância com o falante. Há conclusividade e emotividade produzida no momento do diálogo. Diante do desejo de saber se a oralidade e os diferentes gêneros textuais estão presentes no processo de alfabetização, foram realizadas entrevistas com professores do Ensino Fundamental, do primeiro e segundo anos. Para a coleta desses dados foram entrevistados 61 professores alfabetizadores e as respostas foram captadas com gravador de áudio, conduzindo os entrevistados a darem depoimentos espontâneos e realistas. Ressalta-se, ainda, que as entrevistas foram desenvolvidas no ambiente escolar. A metodologia utilizada foi qualitativa e descritiva e demandou o envolvimento do pesquisador e a sua dedução para uma análise sistemática dos dados. Para a realização da entrevista foram feitas duas perguntas aos professores. A primeira foi: Você poderia contar quais os tipos de suporte ou 3
4 materiais didáticos faz uso para ensinar? A segunda pergunta foi: Diga-me como você ensina as crianças a ler? A análise da primeira questão foi elaborada inicialmente constando 35 tipos de suportes e materiais usados para o ensino da leitura e escrita. Desse modo obtivemos 25 categorias mencionadas pelos entrevistados como materiais usados no momento de ensino da leitura e escrita. Apresentamos a geração de dados da questão e suas categorias com os materiais mencionados nas respostas durante a entrevista. Dos 61 entrevistados, 69% utilizam a Linguagem sistemática, cercada de um regramento vinculante. A leitura das palavras é feita pelo método fonético, com o treino de vogais, da escrita, da separação de sílabas, ditado e a utilização da linearidade. Desse modo, o letramento se torna um sistema abstrato distante da realidade da criança e monológico em que apenas um transmite o sistema da língua. Já a Interação e a Dialogia verbal foram empregadas por 18% dos entrevistados, no qual a leitura é realizada pelo professor diariamente. Foi observado que os professores que utilizam a dialogia na perspectiva históricocultural inserem a oralidade na vida dos seus alunos. Esses professores utilizam diferentes gêneros textuais em sala de aula como recurso para o letramento e inserção dos alunos na oralidade de práticas sociais. Observa-se que 13% dos entrevistados não foram pontuados, pois suas respostas foram vagas, impossibilitando o uso dessas respostas nesse estudo. Embora 49 (19,76%) dos 61 entrevistados, digam que façam uso de diferentes gêneros textuais, mesmo na linguagem como sistema, é possível conjecturar que essa utilização seja feita apenas como forma de entretenimento e não como uma ferramenta para o letramento e instrumento de comunicação que será utilizada na prática social. Considerações finais É possível depreender do que foi dito que a ação do professor é importante na constituição do letramento a partir da oralidade e do uso de gêneros textuais. O trabalho docente é imperativo na transformação da sociedade e da escola. 4
5 Ressalta-se que os professores podem trilhar um caminho contrário à alienação existente no meio escolar, por meio da não conformidade com o sistema vigente e a busca pela implantação do pensamento crítico. A utilização de diferentes gêneros textuais na escola possibilita ao aluno o ingresso na vida coletiva e o domínio de diferentes formas de comunicação, à medida que a oralidade dá a esse aluno condições de ingressar no mundo, desenvolver a argumentação, dar opiniões e preparar-se para a vida profissional. Referências BAJARD, Élie. Da escuta de textos à leitura. Questões da nossa época. E.d. São Paulo: Editora Cortez, BAKHTIN, M.&VOLOCHÍNOV, V.N. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, Estética da criação verbal. São Paulo:Martins Fontes,2003. BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, SAUSSURE, Ferdinand. O curso de linguística geral. São Paulo: Editora Cultrix,
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