AS PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS (PCH S) NA ESTRADA REAL (MG): CONSIDERAÇÕES SOBRE O LICENCIAMENTO AMBIENTAL

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1 AS PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS (PCH S) NA ESTRADA REAL (MG): CONSIDERAÇÕES SOBRE O LICENCIAMENTO AMBIENTAL Igára de Castro 1 Luiz Eduardo Panisset Travassos 2 As Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH s) são usinas hidrelétricas de pequeno porte. Em comparação com a Usina Hidrelétrica de Itaipú com potência instalada de MW, as PCH s possuem capacidade de 1 MW até no máximo 30 MW. Convenciona-se também que a área do reservatório seja inferior a 3 km² (IDER, 2008). Ainda assim, são consideradas empreendimentos de infra-estrutura de energia potencialmente poluidoras do meio ambiente em diferentes graus de intensidade. São, portanto, sujeitas ao processo de licenciamento ambiental. A elaboração deste breve texto sobre as etapas de licenciamento ambiental de PCH s objetiva explicar suas diferentes fases. Além disso, vem complementar as informações contidas no mapa de localização das Pequenas Centrais Hidrelétricas ao longo Estrada Real. Sendo assim, é importante saber que o mapa elaborado para o Atlas Digital nos mostra diferentes situações de licenciamento: Licença Prévia (LP); Licença de Instalação (LI); Licença de Operação (LO) e; Licença de Operação Corretiva (LOC). As informações organizadas no texto refletem o estado da arte dos trabalhos e da Política Ambiental no âmbito Federal e Mineiro. Destaque deve ser dado ao trabalho de Ruas (2005), que apresenta um claro panorama da situação atual especificamente sobre o licenciamento de PCH s. Além disso, utilizou-se as informações dos portais do Estado na Internet. O Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM), através da Deliberação Normativa n o 74 de 27 de setembro de 2004 estabelece critérios para a classificação, segundo o porte e potencial Poluidor, de empreendimentos e atividades modificadoras do meio ambiente passíveis de autorização ou de licenciamento ambiental no nível estadual, determina normas para indenização dos custos de análise de pedidos de autorização e de licenciamento ambiental, e dá outras providências. Embora esta deliberação seja de 2004, o Licenciamento Ambiental como ferramenta do poder de política do Estado, teve início em meados da década de 70, sendo incorporado à esfera federal como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente PNMA. A limitação do direito individual em beneficio da coletividade pela legislação ambiental, embora considerada recente possui raízes em 1934, com o Código Florestal (SANCHEZ, 2006). O Licenciamento Ambiental é previsto pela Lei nº de 31 de agosto de 1981 e regulamentado pela Resolução CONAMA nº 237 de 19 de dezembro de 1997 quanto a procedimentos e critérios para sua efetiva utilização. Cabe ressaltar que o processo de licenciamento junto ao IBAMA deve ser feito em sintonia com os Órgãos Estaduais de Meio Ambiente. Dessa forma, o processo surge como um procedimento administrativo do órgão ambiental utilizado para licenciar a localização, a instalação, a ampliação e a operação de empreendimentos 1 Bióloga, Especialista Amenagement Integre des Territoires pelo Institut National Agronomique (Paris), Especialista em Liminologia e Manejo de Represas pela USP (São Carlos),Mestranda em Geografia Tratamento da Informação Espacial 2 Geógrafo, Mestre em Geografia Tratamento da Informação Espacial pela PUC Minas. Pesquisador Associado Júnior (Doutorando) do Laboratório de Estudos Ambientais do Programa de Pós-Graduação em Geografia da PUC Minas. Professor da disciplina de Avaliação e Controle de Impactos Ambientais do curso de Administração da Faculdade Promove

2 que extraem com proveito econômico recursos naturais de uma área (explotam) e são considerados potencialmente poluidores ou causadores de degradação ambiental. O LICENCIAMENTO EM MINAS GERAIS Em Minas Gerais, o licenciamento é feito pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM) com o apóio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) e seus órgãos vinculados. As atribuições de cada órgão são específicas e identificadas em agendas : A Fundação Estadual do Meio Ambiente (Agenda Marrom) analisa os pedidos de licenciamento das diferentes atividades antrópicas, principalmente, da atividade industrial, as minerações, obras de saneamento, projetos urbanísticos, rodovias e projetos de geração de energia. O Instituto Estadual de Florestas (Agenda Verde) é responsável pela análise de concessão de desmatamento e de licenciamento das atividades agrícolas, pastoris e de silvicultura. Já o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Agenda Azul) concede a outorga para o direito de uso das águas, monitora a qualidade das águas do Estado e participa do processo de implantação dos Comitês de Bacia Hidrográficas (SEMAD, 2008). Cada uma dessas agendas participa do processo de licenciamento conforme suas atribuições. Assim, o processo de Licenciamento Ambiental passa por várias etapas desde sua formalização no órgão ambiental até o julgamento pelo COPAM das licenças existentes: Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e licença de operação (LO). Sánchez (2006) destaca a seqüência lógica do processo de concessão das licenças. A Licença Prévia (LP) Para sua concessão é necessário que o empreendedor apresente estudos ambientais, conhecidos como Estudo de Impacto Ambiental EIA e o Relatório de Impacto Ambiental RIMA. Nestes documentos são apresentados, entre vários itens, a localização do empreendimento, sua concepção, viabilidade ambiental, impactos ambientais positivos e negativos, medidas mitigadoras e/ou compensatórias. É importante ressaltar que a linguagem utilizada em cada um dos documentos destina-se a públicos diferentes: o EIA aos técnicos e o RIMA ao público em geral. Nesta etapa, Sánchez (2006) afirma que a localização do empreendimento, bem como as alternativas tecnológicas ainda podem ser modificadas. Os estudos, portanto, devem apresentar uma análise integrada dos meios bióticos, abióticos e antrópicos em escala espacial e temporal apropriada. Para Monteiro (2001) e Kohler (2002) a abordagem dos estudos de impactos ambientais deve possuir um enfoque geossistêmico, englobando a análise integrada dos elementos da geosfera, litosfera, atmosfera e biosfera em relação a uma realidade sócio-econômica. Assim, as audiências públicas surgem como parte deste processo, sendo obrigatória e aberta à discussão para toda a comunidade atingida pela construção e/ou aos interessados a acompanhar as características da atividade impactante. Sua finalidade é a participação popular, fundamental no processo de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) estabelecido nas Resoluções CONAMA 01/86 e 009/87. Sua realização se dá após a execução do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) e à apresentação dos mesmos ao órgão ambiental. Conforme disposto em lei, a finalidade principal das audiências é a de expor aos interessados o conteúdo do produto em análise e do seu referido RIMA, minimizando as dúvidas e recolhendo dos presentes as críticas e sugestões a respeito.

3 FORMALIZAÇÃO DO PROCESSO DE LICENCIAMENTO ANÁLISE TÉCNICA DOS ETUDOS VISTORIA NA ÁREA PÓS-AUDIÊNCIA PÚBLICA AUDIÊNCIA PÚBLICA ELABORAÇÃO DE PARECERES TÉCNICO E JURÍDICO JULGAMENTO DO PROCESSO PELO COPAM ACOMPANHAMENTO DAS CONDICIONANTES Figura 1 Etapas da Licença Prévia (RUAS, 2005). A Licença de Instalação (LI) De acordo com a Resolução CONAMA nº 237 de 1997, essa licença autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante. Somente pode ser solicitada após a concessão da LP. Aqui o projeto técnico é detalhado atendendo às condições estipuladas na Licença Prévia. A Licença de Operação (LO) Esta licença autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação (Resolução CONAMA nº 237/1997). Nesta fase o empreendimento é vistoriado e somente é liberado quando da constatação de que o projeto foi instalado em pleno acordo com as condições estabelecidas na LI (SÁNCHEZ, 2006). Aqui, são avaliados a adequabilidade dos projetos de controle ambiental, verificando se estão de acordo com a legislação ambiental vigente e condicionantes estabelecidas. É importante ressaltar que a Licença de Operação deve ser revalidada e o processo é um requisito legal feito a partir da análise do Relatório de Avaliação de Desempenho Ambiental

4 RADA. Este documento deve conter uma auto-avaliação dos sistemas de controle ambiental, da implementação de medidas mitigadoras dos impactos ambientais e da evolução do gerenciamento ambiental do empreendimento. Faz-se necessário ainda que, em algumas situações, aplica-se o Licenciamento Ambiental Corretivo aos empreendimentos que se encontram na etapa de instalação ou de funcionamento. Existem ainda aqueles instalados anteriormente à legislação ambiental vigente (Decreto nº de 1981) que devem ser motivo de avaliação dos impactos. Esse processo pode ser feito em duas etapas: Licença de Instalação Corretiva LIC e Licença de Operação Corretiva LOC FORMALIZAÇÃO DO PROCESSO DE LICENCIAMENTO ANÁLISE TÉCNICA DOS ETUDOS VISTORIA NA ÁREA JULGAMENTO DO PROCESSO PELO COPAM ELABORAÇÃO DE PARECERES TÉCNICO E JURÍDICO ACOMPANHAMENTO DAS CONDICIONANTES Figura 2 Fluxograma das Licenças de Instalação e Operação (RUAS, 2005). CONSIDERAÇÕES FINAIS O texto expõe brevemente como é realizado o processo de licenciamento ambiental no Brasil. Nos últimos anos foram surgindo muitas críticas em relação à sua validade ou à forma trifásica pela qual é realizado. Os que questionam esse processo afirmam que o licenciamento tal como é implementado, torna-se muito burocratizado, vítima de um processo histórico complexo. Os defensores de uma simplificação do licenciamento apontam que existem outros instrumentos que podem ser usados alternativamente ao licenciamento. São eles os zoneamentos ecológico-econômicos, o cadastro das atividades poluidoras, os registros e os alvarás de funcionamento, entre outros. Já os defensores da manutenção do sistema trifásico de licenciamento ambiental afirmam que hoje, marginalizar o sistema de licenciamento ambiental é fácil, mas ele é reflexo de uma longa história, constituindo-se no melhor sistema surgido em sua época. Entretanto, muitos afirmam ser necessária sua revisão sem, contudo, ser utilizada como mera plataforma eleitoral.

5 Referências COPAM - CONSELHO ESTADUAL DE POLÍTICA AMBIENTAL. Resolução nº 74, de 27 de setembro de Disponível em: < CONAMA - CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução nº 001, de 23 de janeiro de Disponível em < CONAMA - CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução nº 009, de 03 de dezembro de Disponível em < CONAMA - CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução nº 237, de 19 de dezembro de Disponível em < FEITOSA, I.R.; LIMA, L.S.; LINS, R. Manual de Licenciamento ambiental: guia de procedimento passo a passo. Rio de Janeiro: GMA, p. IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Sistema Informatizado de Licenciamento Ambiental Federal, Disponível em < IDER Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Energias Renováveis. Pequenas Centrais Hidrelétricas, Disponível em < Acesso em 30 Abr KHOLER, H.C. A Escala na Análise Geomorfológica. Revista Brasileira de Geomorfologia, v.3, n.18. p.21-31, 2002 MONTEIRO, C. A. F. Geossistemas: a história de uma procura. São Paulo: Contexto, RUAS, A.L. Licenciamento Ambiental de PCH s. Palestra proferida na Conferência PCH - Mercado e Meio Ambiente do CERPCH em 24/05/2005. Disponível em: < Aceso em: 30 Abr SÁNCHEZ, L.E. Avaliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: Oficina de Textos, SEMAD - Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Portal meio ambiente.mg - Efetividade, Eficácia e Eficiência são o foco do Planejamento Estratégico do Sisema, Disponível em: < &task=view&id=409> Acesso em: 30 Abr 2008.