SARA CARDOSO. Escolho Ser Feliz. Um guia para uma autoestima mais forte e uma vida mais positiva. Pergaminho

Transcrição

1 Escolho Ser Feliz

2 SARA CARDOSO Escolho Ser Feliz Um guia para uma autoestima mais forte e uma vida mais positiva Pergaminho

3 Aceitação em vez de negação A aceitação é o oposto da negação, ou da resistência -revolta. Muitas vezes temos dificuldade em lidar com as situações menos positivas, ou com as pessoas mais «difíceis» que aparecem na nossa vida e dedicamos tempos infinitos a pensar como as coisas poderiam ser melhores se as pessoas (os outros) fossem diferentes ou se certas situações mudassem. Entramos numa espécie de negação interior e tentamos controlar o que na realidade está completamente além do nosso controlo, como, por exemplo, o comportamento dos outros, as suas reações, ou até acontecimentos que «já aconteceram» e por isso mesmo não podem ser alterados. Damos por nós a pensar «E se as coisas tivessem sido de outra maneira?»; «E se ela me tivesse dito isto, em vez de aquilo»; «Porque é que isto tinha de acontecer?» Este tipo de deambulações são geralmente uma perda de tempo e de energia, sobretudo quando estamos a lidar com factos: o que já aconteceu não pode ser alterado, pois não? Para quê desperdiçar energia mental ou emocional

4 14. SARA CARDOSO com algo que não pode ser mudado? Isso só vai fazer com que nos sintamos pior e mais confusos. Mas porque é que isto nos acontece? O grande problema é a nossa tendência interna para nos identificarmos com os nossos pensamentos, emoções, ou experiências. Se nos sentimos tristes por algum motivo, concluímos logo que a nossa vida é uma tristeza, ou que somos pessoas tristes. Se passamos por uma experiência de fracasso, ficamos a pensar que somos uns falhados e nunca vamos conseguir realizar nada de bom Mas a verdade é que você é muito mais do que as suas emoções, experiências ou pensamentos! Tudo o que tem a fazer é deixar de se fundir com eles e de se avaliar através deles, e vê -los como aquilo que realmente são: meros pensamentos, emoções e experiências. O truque é observar e aceitar. Se quisermos ver a questão da maneira mais simples possível, podemos pensar nas emoções como uma espécie de resposta mental/emocional a estímulos internos ou externos (que podem ser acontecimentos, comportamentos de outras pessoas...). Nesta linha de raciocínio, partindo do princípio que estamos a funcionar de forma equilibrada, acontecimentos positivos vão gerar emoções positivas,

5 ESCOLHO SER FELIZ. 15 enquanto acontecimentos negativos vão desencadear emoções negativas. Vamos apresentar alguns exemplos, para ser mais fácil de entender esta lógica: participar numa festa (acontecimento positivo) poderá desencadear Alegria (emoção positiva). assistir a uma comédia (acontecimento positivo) poderá desencadear Alegria (emoção positiva). meditar (acontecimento positivo) poderá desencadear Calma (emoção positiva). receber um presente (acontecimento positivo) poderá desencadear Gratidão (emoção positiva). ser enganado por alguém (acontecimento negativo) poderá desencadear Raiva (emoção negativa). ver um carro a alta velocidade a vir na sua direção (acontecimento negativo) poderá desencadear Medo (emoção negativa). não saber os resultados dos exames médicos (acontecimento negativo) poderá desencadear Ansiedade (emoção negativa). perder uma pessoa querida (acontecimento negativo) poderá desencadear Tristeza (emoção negativa).

6 16. SARA CARDOSO Claro que se pudéssemos escolher, todos nós optaríamos por vivenciar apenas sentimentos positivos, mas na realidade em que nos encontramos isso não é possível. Faz parte da experiência humana viver acontecimentos positivos e outros que não o são e, em consequência, experienciar emoções de vários tipos, algumas mais positivas e outras menos e nem que fugíssemos para uma gruta no meio do monte poderíamos evitá -lo. Por isso, o melhor que podemos fazer e a atitude mais saudável é habituarmo -nos a conviver com todo o género de emoções, e aceitá -las como parte inevitável da nossa existência. Aceitar é um sinal de sentido prático e de inteligência e é realmente muito importante a aceitação, até porque enquanto estamos presos na negação estamos em conflito e quando aceitamos encontramos a paz. Todos nós passamos por momentos de tristeza, de ansiedade, de raiva Não há mal nenhum em sentir medo quando nos parece que estamos em perigo, ou em sentir tristeza por perder um amigo. Não há nada de errado connosco por nos sentirmos assim, pelo contrário. Sentir medo perante o perigo é um mecanismo de defesa natural, que nos permite reagir, colocando -nos em fuga, ou tomando outra medida no sentido de nos defendermos

7 ESCOLHO SER FELIZ. 17 daquilo que nos ameaça. Então, esse tipo de emoções são reações naturais e até certo ponto saudáveis a determinado tipo de acontecimentos. Assim sendo, o melhor que podemos fazer é aprender a aceitar estas e outras emoções à medida que elas surgirem, em vez de tentar lutar contra elas, pois isto só faz com que nos sintamos pior. Imagine que dá por si a pensar algo do género «hoje estou um pouco ansioso». Não comece a questionar ou analisar, a tentar perceber porquê, ou porque não, pois isso não o vai ajudar em nada. Não deixe a sua mente tomar conta da situação. O que pode acrescentar é algo como: «Ok, não há problema em sentir -me ansioso, eu aceito esta sensação.» Depois de aceitar o que quer que seja, de menos positivo, que se esteja a passar consigo, poderá pensar naquilo que realmente deseja sentir e encaminhar -se para isso. Pegando no exemplo anterior, poderá pensar que gostaria de se sentir menos ansioso e o que poderia fazer para que isso aconteça. Vamos imaginar que se apercebeu de que quando faz uma boa caminhada se sente menos ansioso; então o que pode fazer para sentir menos ansiedade é caminhar. Cada pessoa irá por certo aperceber -se de algumas estratégias que pode usar

8 18. SARA CARDOSO para diminuir as sensações ou emoções menos agradáveis. Como somos todos pessoas diferentes, iremos encontrar estratégias diferentes, mas o que temos em comum é o primeiro passo; reconhecer e aceitar as emoções e sensações menos positivas que estamos a vivenciar. Conclusão: a partir da aceitação de algo que não está bem, podemos fazer algo para mudar para melhor! Aceitar a vida tal como ela é Todas as pessoas passam na sua vida por momentos difíceis. Se repararmos, a variedade de problemas que há no mundo é tão grande que algum nos há de calhar de certeza, e mesmo que não tenhamos de passar por um grande trauma (ou vários), temos todos de enfrentar algumas mudanças de vida, como as que decorrem do casamento, da entrada no mundo do trabalho, da perda de familiares queridos, do desemprego, eventualmente de um divórcio e possivelmente de problemas de saúde, nossos ou de familiares. Para além destas mudanças, temos ainda que contar com os incidentes habituais do

9 ESCOLHO SER FELIZ. 19 dia -a -dia. Qualquer uma destas mudanças pode ser mais ou menos problemática, dependendo do modo como lidamos com ela, ou seja, dependendo de a aceitarmos, ou não. Vamos dar um exemplo simples: Imagine que teve um acidente, ou que reprovou num exame. Pense comigo, o que é que adianta chorar sobre leite derramado e recriminar -se ou revoltar -se, lutando contra algo que já aconteceu? Não podemos fazer com que o tempo volte para trás, para mudarmos o passado, pois isso não é possível, por isso o melhor é pensarmos que o que está feito está feito, que o que não tem remédio remediado está, e que não adianta perder mais tempo a pensar nesse assunto, pois só estará a depositar mais energia numa situação que não queremos na verdade alimentar. Seja qual for a situação difícil por que passamos, ou estamos a passar, mesmo que esteja totalmente fora do nosso controlo, nós temos pelo menos uma escolha: Podemos aceitar ou resistir. A solução mais prática e que nos traz maior conforto e paz interior é aceitar que as coisas são como são, sem resistir e tentar perceber qual a lição que podemos retirar daquilo que nos aconteceu, ou está a acontecer.

10 20. SARA CARDOSO Todas as situações têm um lado bom e um lado menos bom, e nós podemos escolher a qual deles vamos dar atenção, sendo que dar muita atenção aos problemas é alimentá -los com energia, o que só faz com que eles cresçam. Mesmo quando acontece algo que nos parece muito mau, há sempre uma aprendizagem, uma lição de vida a tirar desse acontecimento e a longo prazo, até podemos concluir que o que parecia um grande drama, nem foi assim tão mau como isso, pois permitiu, por exemplo, uma mudança de vida que era necessária. Claro que também podemos entrar em negação, revoltar -nos e descarregar a nossa raiva em tudo e em todos, mas isso só irá trazer ainda mais sofrimento, a nós e aos que cruzam o nosso caminho. Estaremos a causar sofrimento a nós mesmos e às outras pessoas e o pior é que não vamos resolver absolutamente nada com essa atitude! Por vezes, quando as pessoas entram neste estado de revolta, nem se ajudam a si próprias, nem se deixam ajudar, pois, tal como um cão com um ataque de raiva, mordem qualquer mão que lhes apareça à frente. Há que ter consciência de que, quando enfrentamos situações difíceis, podemos ter tendência a colocarmo -nos num papel de vítima, que no imediato é a postura mais fácil. É possível constatar-

11 ESCOLHO SER FELIZ. 21 mos que nos estamos a colocar nesta posição quando dizemos frases como: «Só a mim é que me acontecem destas coisas»; «Eu não merecia uma coisa destas»; «Ninguém sabe aquilo que eu sofro»; «Ninguém me compreende»; «Nasci para sofrer» De certa forma, é mais confortável ser uma vítima das circunstâncias e ficar à espera de que alguém nos venha salvar do que assumir a responsabilidade pelo controlo das coisas, só que há aqui um pequeno problema que convém ter em mente ninguém nos vem salvar! Aceitar -se a si mesmo Por vezes é-nos difícil aceitar os nossos problemas, dificuldades ou limitações pessoais. Sentimos uma resistência interna à autoaceitação, quase como se o facto de aceitarmos as nossas limitações nos transformasse nas próprias limitações. Mas nós não somos os nossos problemas ou as nossas limitações, somos muito mais do que isso, somos pessoas fantásticas, destinadas à felicidade, que podem ter um ou outro problema (que se calhar até é temporário), tal como acontece com todas as outras pessoas.