A Iniciativa Stent for Life em Portugal
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- Regina Tuschinski de Abreu
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1 N.º36 Abr-Jun 2015 Pág Sofia Mello 1 Hélder Pereira 2 Pedro Coelho dos Santos 3 João Ferreira 4 1 Project Manager Stent for Life; 2 Champion Stent for Life 3 Consultor de comunicação Stent for Life 4 Secretário Executivo da Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC) A Iniciativa Stent for Life em Portugal Introdução A iniciativa Stent for Life ( é um projeto Europeu lançado pela European Association of Percutaneous Cardiovascular Interventions (EAPCI) da Sociedade Europeia de Cardiologia, e implementado em Portugal pela Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC). Esta iniciativa visa assegurar que os doentes com enfarte agudo do miocárdio com supra ST têm acesso ao tratamento indicado, a angioplastia primária, reduzindo as assimetrias regionais e melhorando o prognóstico destes doentes. A angioplastia primária coronária é um procedimento tecnicamente especializado que só pode ser realizado em hospitais com cardiologia de intervenção e deve ser efectuado nas duas horas seguintes ao início dos sintomas. Em Portugal, em 2011, apesar de uma rede de angioplastia primária razoavelmente bem estabelecida verifica- 1. O número de angioplastias primárias, antes do início desta iniciativa, era claramente mais baixo do que nos Países da Europa do Norte, estando abaixo das 300 angioplastias primárias por milhão de habitantes; 2 agudo do miocárdio com supra ST reperfundido¹. O baixo número de angioplastias primárias em Portugal justifica-se sobretudo dequada dos meios de socorro por parte da população e atrasos na gestão da doença a nível da globalidade dos serviços de saúde. Atraso no pedido de ajuda médica pelo doente e atrasos no sistema de saúde A fase inicial da iniciativa Stent for Life em Portugal caracterizou-se por um diagnóstico minucioso, para retratar e quantificar a realidade nacional de forma a identificar as barreiras existentes. Procurou-se igualmente identificar parcerias e sinergias entre os diferentes atores intervenientes no percurso do doente, desde o início dos sintomas até à realização do tratamento na sala de hemodinâmica. No que respeita ao doente, dois estudos feitos no âmbito do Stent for Life revelavam ligava o Número Europeu de Emergência para pedir ajuda médica² e que corretamente os sintomas de enfarte, sendo que os restantes confundiam os sintomas conhecia. 58
2 Figura 1 Campo de intervenção da iniciativa Stent for Life Relativamente ao atraso do sistema, tes eram conduzidos para hospitais sem cardiologia de intervenção. Além disso, a mediana de tempo de transporte até ao tratamento num hospital com unidade de hemodinâmica era superior a duas horas³. A partir deste diagnóstico inicial foram estabelecidos vetores de atuação a sensibilização e educação do doente; a redução do tempo de transporte pré-hospitalar e a colaboração inter e intra-hospitalar o que resultou na conceção de um conjunto de programas e iniciativas (Figura 1). de pedir rapidamente ajuda, ligando o Número Europeu de Emergência, o 112. Assim, foi lançada a Campanha Pública NÃO PERCA TEMPO. SALVE UMA VIDA Tornava-se fulcral sensibilizar a população para os sinais e sintomas do enfarte 59
3 N.º36 Abr-Jun 2015 Pág de sensibilização «NÃO PERCA TEMPO. SALVE UMA VIDA - o enfarte não pode esperar» (Figura 2). As mensagens têm-se focado essencialmente na descrição dos sintomas - dor no peito, associada a suores e náuseas podem ser sinais de enfarte do miocárdio; e na necessidade de ação imediata ligando 112, para que o doente seja encaminhado, pelo INEM, para um hospital com capacidade para a realização da angioplastia primária. Com esta Campanha pretende-se, por um lado aumentar o número de doentes que optam por ligar o 112 e, por outro lado, que o façam com rapidez, sem adiar o pedido de ajuda, nem tentar ir pelos meios próprios ou de familiares. A Campanha tem contado com parcerias de várias empresas de indústrias - farmacêutica, dispositivos médicos, energia - cadeia de supermercados, telecomunica- cêuticos e algumas Câmaras Municipais. Desde Dezembro de 2011 várias atividades foram concretizadas, como a distribuição de cartazes e folhetos educacionais nos centros de saúde, hospitais e escolas; filmes de sensibilização em salas de cinema, farmácias e internet; uma página numa rede social dedicada à Campanha* com cular e sensibilização para o enfarte em CONHEÇA OS SINTOMAS os sintomas mais comuns do enfarte são dor no peito, por vezes com propagação para o braço esquerdo, e pode ser acompanhada de suores, náuseas, vómitos, falta de ar e ansiedade NÃO PERCA TEMPO a cada minuto que passa o risco de morte aumenta. A rapidez é fundamental para o sucesso do tratamento LIGUE 112 O 112 através do INEM, tem um serviço de atendimento que lhe permite identificar os sintomas e garantir o melhor tratamento da situação. Em caso de enfarte não deve tentar chegar a um hospital pelos seus próprios meios. RECEBA O TRATAMENTO ADEQUADO receber o tratamento adequado o mais depressa possível vai aumentar o sucesso do tratamento e prevenir os problemas a longo prazo. Figura 2 As mensagens da Campanha NÃO PERCA TEMPO. SALVE UMA VIDA o enfarte não pode esperar. locais públicos como centros comerciais, - tido à Campanha «NÃO PERCA TEMPO. SALVE UMA VIDA» ter uma cobertura nos meios de comunicação social como imprensa escrita, televisão e rádio. São várias as figuras públicas que se associaram enquanto embaixadores do projeto: Comendador Rui Nabeiro, José Carlos 60
4 Passados quatro anos todos os centros de hemodinâmica com enfarte agudo do miocárdio com supra ST é submetido a angioplastia primária nas primeiras 12 horas Malato, Mafalda Arnauth, Rita Blanco, Miguel Guilherme, Isabel Angelino e Cláudio Ramos. * Parceria com o INEM O envolvimento do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) como parceiro foi crucial para a redução do tempo de transporte pré-hospitalar. O acesso rápido e direto a hospitais com centros de cardiologia de intervenção para realização de angioplastia primária dependeu de tecnologia adequada implementada em 2012, para uma melhor comunicação entre as viaturas do INEM e os hospitais com semana, para validação do diagnóstico de enfarte agudo do miocárdio e encaminhamento rápido do doente para as unidades de hemodinâmica. O último estudo realizado em 2014 Momento 3 - revela que o tempo de transporte pré-hospitalar é menor nos doentes que contactam o 112 em relação aos doentes que vão por outros meios para a urgência de um hospital com angioplastia primária vs 102 min, p<0.001). Os veículos do INEM estão equipados com telemetria e um médico ou enfermeiro monitoriza o doente durante o transporte, enquanto o INEM contacta telefonicamente a unidade de hemodinâmica hospitalar. Desta forma a sala de hemodinâmica é preparada para a chegada do doente, que não necessita assim de passar pela Urgência. Têm decorrido a de formação designadas por STEMINEM Day sobre a gestão do enfarte agudo do miocárdio. Foram realizados cinco cursos envolvendo 200 profissionais do INEM e Equipas de Urgência Hospitalar (Figura 3). Envolvimento das redes hospitalares locais de referenciação Para otimização das redes locais de referenciação do enfarte foi realizado um Figura 3 STEMINEM Day 61
5 N.º36 Abr-Jun 2015 Pág Figura 4 STENT NETWORK MEETINGS - regional que incluem todos os atores envolvidos na gestão do enfarte na respetiva região (Cuidados Saúde Primários, INEM, Hospitais com e sem cardiologia de intervenção) (Figura 4). A reunião é organizada em plenário sobre a abordagem inicial das Síndromes Coronárias Agudas, no pré-hospitalar e na Urgência, seguindo-se workshops interdisciplinares para análise definição de um plano e atribuição de tarefas. O Pós-enfarte Mais recentemente foi assinado um protocolo de colaboração entre a APIC no âmbito do Stent for Life e o Grupo de Estudo de Fisiopatologia do Esforço e de Reabilitação Cardíaca (GEFERC). Uma das primeiras iniciativas desta parceria ainda em desenvolvimento, é o Rehab4Life - um programa educativo para os doentes no pós-enfarte. Tendo em consideração que o período de internamento deste doentes é cada vez mais curto, há que garantir que todos os doentes recebem informação educativa adequada, orientadora da sua nova fase de vida após o episódio clínico. 62
6 Figura 5 Assinatura do Protocolo APIC/GEFERC Resultados e Conclusão Passados quatro anos, vários avanços foram alcançados passíveis de ser atribuídos não somente à iniciativa Stent for Life mas também a outros fatores favoráveis. Todos os centros de hemodinâmica traba- dos doentes com enfarte agudo do miocárdio com supra ST é submetido a angioplas- dos doentes liga 112, menos de metade dos doentes com enfarte vai para os hospitais sem cardiologia de intervenção (Momento 3). Há no entanto, ainda um longo caminho a percorrer para a concretização dos objetivos da iniciativa Stent for Life permitir que todos os doentes com enfarte agudo do Miocárdio tenham acesso atempado à angioplastia primária, independentemente da região ou local em que se encontrem. Portugal está atualmente ao nível dos países da Europa no que respeita ao número médio de angioplastias por milhão de habitantes) 4, mas as assimetrias regionais são ainda uma realidade 4 e importa continuar a procurar trabalhar em parceria com os vários atores envolvidos no percurso do doente. É caso para dizer que o todo (trabalho conjunto) vale sempre mais do que a Bibliografia 1. vation acute myocardial infarction in Europe: description of the current situation in 30 countries. European Heart Journal, 31(8), 2. Pereira, H. (2012). Primary angioplasty in Portugal: door-to- -balloon time is not a good performance index. EuroIntervention, 8 3. Pereira, H., Pinto, F. J., Calé, R., Pereira, E., Marques, J., Al- Dias Martins, L. (2014). Stent for Life in Portugal: This initiative is here to stay. Rev Port Cardiol., 33 doi: /j.repc Direcção Geral de Saúde. (2014). Doenças Cérebro-Cardiovasculares em números Retrieved from 63
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