ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO INTRODUÇÃO
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- João Henrique Escobar Lombardi
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1 ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO INTRODUÇÃO As agressões e os castigos físicos que se praticavam contra os trabalhadores praticamente desapareceram no final do século XX. Como forma de atingir o trabalhador, eis que surge a humilhação que se pratica por meio do assédio moral. A violência moral no trabalho constitui um fenômeno internacional, segundo levantamento recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em diversos países desenvolvidos. A pesquisa aponta para distúrbios da saúde mental relacionados com as condições de trabalho, em países como Finlândia, Alemanha, Reino Unido, Polônia e Estados Unidos. As perspectivas são sombrias para as duas próximas décadas. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), estas serão as décadas do mal estar na globalização, onde predominará depressões, angústias e outros danos psíquicos, relacionados com as novas políticas de gestão na organização de trabalho. DEFINIÇÃO DE ASSÉDIO MORAL O assédio moral pode ser definido como toda a conduta abusiva, repetitiva, prolongada e sistematizada, quando trabalhadores são expostos a situações humilhantes e constrangedoras, durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, manifestando-se por atitudes desumanas e aéticas,
2 especialmente por comportamentos, palavras e gestos, configurando perversidade no local de trabalho e que podem provocar danos à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, ameaça de perda do emprego e degradação do ambiente de trabalho. O Ministério do Trabalho e Emprego, em seu sítio oficial, traz a seguinte definição: Assédio moral é toda e qualquer conduta abusiva (gesto, palavra, escritos, comportamento, atitude, etc.), que, intencional e frequentemente, fira a dignidade e a integridade física ou psíquica de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho. CLAUDIO A.C. DE MENEZES ensina que o assédio moral é um processo, conjunto de regras, procedimentos destinados a expor a vítima a situações incômodas e humilhantes e que, na sutileza do cotidiano, aparece no estilo pé-de-ouvido, significando que a agressão não é aberta nem exposta a diálogo. Seus sinais não aparecem em momentos de crise ou explosão dos protagonistas, mas no dia a dia, mascarados, invisíveis. Para MARGARIDA M.S. BARRETO, o assédio moral pode ser definido como violência moral ou tortura psicológica, compreendendo um conjunto de sinais que visam a cercar e dominar o outro, presumindo-se perseguir sem tréguas com o objetivo de impor sujeição, podendo ser revelado por atos e comportamentos agressivos, realizados, frequentemente, por um superior hierárquico, contra uma ou mais pessoas, visando a desqualificá-las e desmoralizá-las profissionalmente, desestabilizá-
3 las emocional e moralmente, tornando o ambiente de trabalho desagradável, insuportável e hostil, forçando-as a desistir do emprego. MÁRCIA NOVAES GUEDES conceitua o assédio moral da seguinte forma: No mundo do trabalho, assédio moral significa todos aqueles atos comissivos ou omissivos, atitudes, gestos e comportamentos do patrão, da direção da empresa, de gerente, chefe, superior hierárquico ou dos colegas, que traduzem uma atitude de contínua e ostensiva perseguição que possa acarretar danos relevantes às condições físicas, psíquicas, morais e existenciais da vítima. BARRETO arremata afirmando que assediar moralmente é uma exposição prolongada e repetitiva a condições de trabalho que, deliberadamente, vão sendo degradadas. São condutas e atitudes cruéis de um (a) contra o (a) subordinado (a) ou, mais raramente, entre colegas. Podemos ilustrar as definições acima, citando o acórdão publicado no TRTSC/DOE de 19/01/2012, nos seguintes termos: INDENIZAÇÃO POR ASSÉDIO MORAL. O assédio moral caracteriza-se pela repetição das condutas que expõem o trabalhador a situações constrangedoras ou humilhantes. A violência psicológica sofrida implica lesão de um interesse extrapatrimonial, juridicamente protegido, gerando direito à reparação do dano moral. Se não houver a referida
4 reprodução de situações que oprimam o empregado, não se cogita de indenização por assédio moral. A ocorrência do assédio moral está intimamente ligada com o elemento poder nas relações de trabalho. O superior pode centralizar ao seu redor uma parte do coletivo para propiciar um ambiente hostil e desestabilizador para o trabalhador hostilizado, externando uma violência psicológica extrema, de forma sistemática, durante um longo período de tempo. Sobre esse ponto, ANA M. DE O. ROSA destaca que o assédio moral se faz presente nos relacionamentos onde existe a hierarquia de poder, ou melhor, em qualquer relacionamento em que não há respeito pelos direitos dos outros em geral, do subordinado. Nas empresas, algumas situações peculiares colaboram para o surgimento do assédio moral, tais como: cultura e clima permissivo, desconfiança e competição muito intensa, supervalorização das estruturas hierárquicas, processos de reestruturação organizacional sem transparência e com ameaças propagadas e admissão de trabalhadores com qualificação superior ao da chefia. Caracteriza-se pela degradação deliberada das condições de trabalho, em que prevalecem atitudes e condutas negativas dos chefes em relação a seus subordinados, constituindo uma experiência subjetiva que acarreta prejuízos práticos e emocionais para o trabalhador e a organização. A vítima escolhida é isolada do grupo sem explicações, passando a ser hostilizada, ridicularizada, inferiorizada e desacreditada diante dos pares. Estes, por medo do desemprego e da vergonha de também ser humilhados, associado
5 ao estímulo constante à competitividade, rompem os laços afetivos com a vítima e, frequentemente, reproduzem e reatualizam ações e atos do agressor no ambiente de trabalho, instaurando o pacto da tolerância e do silêncio no coletivo, enquanto a vitima vai gradativamente se desestabilizando e fragilizando, perdendo sua autoestima. O DEVER DE INDENIZAR A Carta Magna e o Código Civil asseguram o direito do trabalhador a indenização por dano moral, pelo desrespeito do princípio de igualdade na relação trabalhista, podendo pleitear, em juízo, a compensação pecuniária pelos sofrimentos, humilhações e maus-tratos ocorridos durante a execução do contrato de trabalho. Dispõe a Constituição de 1988: Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: Inciso X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; Sobre esse mesmo ponto, reza o Código Civil Brasileiro: Art Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
6 Dessas disposições legais, surge o dever legal de indenizar. A Justiça do Trabalho tem sido rigorosa quando caracterizado o assédio moral no exercício do trabalho. Sobre o direito à indenização, citamos o acórdão relativo ao processo RO , publicado no TRTSC/DOE de 07/02/2012: ASSÉDIO MORAL. INDENIZAÇÃO. A conduta abusiva da empresa violadora dos direitos da personalidade que atenta, por sua repetição ou sistematização, contra a dignidade, a integridade física ou psíquica do trabalhador, ameaçando o seu emprego ou degradando o meio ambiente do trabalho, configura assédio moral e enseja o pagamento de indenização a título de danos morais, nos termos dos artigos. 5º, X, da CF/88 e 186 do Código Civil. Na mesma direção, o acórdão relativo ao processo RO , publicado no TRTSC/DOE de 02/02/2012: ASSÉDIO MORAL. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR. Comprovado que o tratamento dispensado ao trabalhador por parte do seu superior hierárquico representava abuso do poder diretivo, deve ser reconhecida a prática de assédio moral, causadora de danos ao patrimônio imaterial do empregado, o que determina o reconhecimento da obrigação de indenizar do empregador. A caracterização da existência do assédio moral depende de comprovação. Meras alegações são insuficientes à condenação do empregador. Nesse sentido, o acórdão relativo ao processo RO
7 , publicado no TRTSC/DOE de 31/01/2012: ASSÉDIO MORAL NÃO CARACTERIZADO. A caracterização do dano moral indenizável decorre da coexistência de um dano efetivo, nexo causal entre o ato praticado e o dano e a ilicitude do ato que o causou. A ausência de sua demonstração inequívoca, ônus que compete à vítima, torna indevida a pretensão de reparação civil. Com o intuito de clarificar a compreensão da matéria, transcrevemos o acórdão referente ao processo , publicado no TRTSC/DOE de 31/03/2011: DANOS MORAIS. A caracterização do dano moral indenizável decorre da coexistência das seguintes condições: a ocorrência de um dano efetivo, o nexo causal entre o ato praticado e o dano e a ilicitude do ato causador do dano. O dano moral, segundo Cláudio Antônio Soares Levada, "é a ofensa injusta a todo e qualquer atributo da pessoa física como indivíduo integrado à sociedade ou que cerceie sua liberdade, fira sua imagem ou intimidade". Existindo prova nos autos de que a atitude precipitada praticada pelo empregador causou constrangimento e humilhação ao empregado, faz ele jus ao pagamento de indenização por danos morais. O valor da indenização deve possibilitar a diminuição do sofrimento do empregado e alcançar o intuito pedagógico, evitando que a empresa volte a causar prejuízo aos seus empregados.
8 TIPOS DISCRIMINATÓRIOS Na obra Mal-estar no trabalho: redefinindo o assédio moral, MARIA-FRANCE HIRIGOYEN aduz os seguintes tipos discriminatórios: assédio moral por motivos raciais ou religiosos; assédio moral em função de deficiência física ou doença; assédio moral em função de orientações sexuais; assédio moral discriminatório de funcionários e representantes sindicais. Esses tipos discriminatórios de assédio moral podem ser explicitados por uma liderança autoritária, o rigor excessivo, a falta de bom trato, o gesto, a conduta abusiva e constrangedora; humilhar repetidamente, inferiorizar, amedrontar, menosprezar ou desprezar, ironizar, difamar, ridicularizar, risinhos, suspiros; piadas jocosas relacionadas ao sexo, ser indiferente à presença do outro, estigmatizar os adoecidos pelo e para o trabalho, colocá-los em situações vexatórias, falar baixinho acerca da pessoa, olhar e não ver ou ignorar sua presença, rir daquele que apresenta dificuldades, não cumprimentar, sugerir que peçam demissão, dar tarefas sem sentido ou que jamais serão utilizadas ou mesmo irão para o lixo, dar tarefas através de terceiros ou colocar em sua mesa sem avisar, controlar o tempo de idas ao banheiro, tornar público algo íntimo do subordinado, não explicar a causa da perseguição, difamar e ridicularizar. A doutrinadora menciona também as pessoas excessivamente competentes ou que ocupem espaço demais ; pessoas resistentes à padronização ; pessoas aliadas a grupos divergentes da administração; pessoas com proteção das leis trabalhistas; pessoas
9 improdutivas e pessoas temporariamente fragilizadas por licenças de saúde, como alvo das perseguições dos superiores hierárquicos. O assédio moral no trabalho envolve fenômenos denominados de fenômeno vertical e fenômeno horizontal. O fenômeno vertical se caracteriza por relações autoritárias, desumanas e aéticas, onde predominam os desmandos, a manipulação do medo, a competitividade, os programas de qualidade total associado à produtividade. Com a reestruturação e reorganização do trabalho, novas características foram incorporadas à função: qualificação, polifuncionalidade, visão sistêmica do processo produtivo, rotação das tarefas, autonomia e flexibilização. Exige-se dos trabalhadores maior escolaridade, competência, eficiência, espírito competitivo, criatividade, qualificação, responsabilidade pela manutenção do seu próprio emprego (empregabilidade) visando produzir mais a baixo custo. O fenômeno horizontal está relacionado à pressão para produzir com qualidade e baixo custo. O medo de perder o emprego e não voltar ao mercado formal favorece a submissão e fortalecimento da tirania. O enraizamento e disseminação do medo no ambiente de trabalho reforçam atos individualistas, tolerância aos desmandos e práticas autoritárias no interior das empresas que sustentam a cultura do contentamento geral. Enquanto os adoecidos ocultam a doença e trabalham com dores e sofrimentos, os sadios que não apresentam dificuldades produtivas, mas que carregam a incerteza de vir a tê-las, mimetizam o discurso das chefias e passam a discriminar os improdutivos, humilhando-os.
10 No mesmo sentido, HIRIGOYEN apresenta a seguinte classificação de assédio moral nas organizações: o assédio vertical descendente, proveniente do comando hierárquico como abuso de poder; o assédio horizontal, aquele que surge entre colegas da mesma hierarquia funcional; o assédio horizontal e vertical descendente o chamado misto, que ocorre em função da omissão do superior hierárquico diante de uma agressão; o assedio ascendente, caso raro, presente quando o poder, por alguma razão, não está com o comando superior. CONCLUSÃO O desabrochar do individualismo reafirma o perfil do novo trabalhador: autônomo, flexível, capaz, competitivo, criativo, agressivo, qualificado e empregável. Estas habilidades o qualificam para a demanda do mercado que procura a excelência e saúde perfeita. Estar apto significa responsabilizar os trabalhadores pela formação/qualificação e culpabilizá-los pelo desemprego, aumento da pobreza urbana e miséria, desfocando a realidade e impondo aos trabalhadores um sofrimento perverso. A humilhação repetitiva e de longa duração interfere na vida do trabalhador de modo direto, comprometendo sua identidade, dignidade e relações afetivas e sociais, ocasionando graves danos à saúde física e mental, que podem evoluir para a incapacidade laborativa, desemprego ou mesmo a morte, constituindo um risco invisível, porém concreto, nas relações e condições de trabalho. Entendemos que as empresas devem ficar atentas. Os estudiosos já reconhecem que o fenômeno assédio moral no
11 trabalho é fator de redução da produtividade, favorece o absenteísmo e a rotatividade, geradores de maior custo de reposição de pessoal. A redução também ocorre em função do baixo moral que o indivíduo passa a ter perante o seu grupo e pela perda e/ou danos em equipamentos, acontecimentos estes que podem ser considerados como lógicos, diante da desconcentração que se provoca a um trabalhador pressionado. As cautelas são necessárias, diante as indenizações que estão sendo fixadas, inclusive custas judiciais e honorárias advocatícios. Devemos também salientar a deterioração do custo do potencial produtivo. A conta do trabalhador afastado e/ou a redução do seu potencial para o trabalho é suportada por toda a sociedade, pois todas as despesas decorrentes são agregadas ao custo dos produtos, que podem ser evitados com a mitigação do assédio moral no ambiente de trabalho. É conveniente que as empresas implantem uma política de reeducação dos valores, com incentivo à prática do diálogo constante e permanente e à adoção de um código de ética e conduta, baseado no respeito mútuo entre todos os trabalhadores e os ocupantes do cargo de chefia. Trabalho elaborado por IVALDO KUCZKOWSKI, advogado especialista em Direito Administrativo e Conselheiro de Tributos da empresa AUDICONT Contabilidade, Marcas & Patentes e Inteligência Fiscal
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