TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de Mogi das Cruzes, em que é apelante BRADESCO SAÚDE S/A, é apelado DONIZETI BENEDITO CARDOSO. ACORDAM, em 10ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOÃO CARLOS SALETTI (Presidente sem voto), CARLOS ALBERTO GARBI E J.B. PAULA LIMA., 25 de abril de 2017 CESAR CIAMPOLINI RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação nº Comarca: Mogi das Cruzes 1ª Vara Cível MM. Juíza de Direito Dra. Alessandra Laskowski Apelante: Bradesco Saúde S/A Apelado: Donizeti Benedito Cardoso VOTO Nº Plano de saúde. Ação de condenação em obrigação de fazer. Pretensão de manutenção de beneficiário em plano coletivo de sua exempregadora. Acolhimento. Preliminares de ilegitimidade passiva e denunciação da lide à ex-empregadora afastadas. Incidência do Código de Defesa do Consumidor e da Lei 9.656/98 (Lei dos Planos de Saúde). O exempregado demitido sem justa causa e o aposentado têm o direito de manterem-se assegurados com as mesmas condições e garantias de que desfrutavam quando na ativa, desde que arquem com a parcela do prêmio que suportavam anteriormente, pagando, também, em acréscimo, aquela que era subsidiada pela ex-empregadora (arts. 30 e 31 da Lei 9.656/98). Sentença de parcial procedência confirmada (art. 252 do RITJSP). Apelação desprovida. RELATÓRIO. lançado nos seguintes termos: Adoto o relatório da r. sentença de fls. 192/195, Apelação nº Mogi das Cruzes - VOTO Nº M - 2/8

3 Vistos. DONIZETI BENEDITO CARDOSO ajuizou ação de obrigação de fazer com pedido de concessão de tutela antecipada contra BRADESCO SAÚDE S.A., alegando que em 2011 foi contratado pela empresa Aços Villares S.A. / Gerdau S.A. e laborou por mais de quinze anos ininterruptos na referida empresa, vindo a ser dispensado sem justa causa em 1º de fevereiro de 2016; que entrou em contato com o réu com o objetivo de se manter assegurado no plano de saúde, porém as tentativas restaram infrutíferas; que os aposentados podem se manter no plano pelo tempo que desejarem, caso assumam o valor despendido pelo empregador. Requer, liminarmente, a determinação para que o réu restabeleça o plano de saúde ao autor e seus dependentes. Requer, ao final, o reconhecimento do direito à manutenção do plano de assistência médico hospitalar Bradesco Saúde Top Enfermaria Assistência Pessoal Rede Nacional de forma vitalícia ao autor e sua esposa dependente, assumindo a parcela que lhe cabia e a parcela anteriormente de responsabilidade patronal, vedando a cobrança de qualquer valor superior à cobrança conjunta da cota patronal e da cota destinada ao empregado. Com a petição inicial foram juntados os documentos de fls. 12/45. Foi deferida a tutela antecipada para a manutenção do autor no plano de saúde mediante pagamento integral do valor pago pela empregadora (fls. 46). O réu foi citado (fls. 54) e apresentou contestação (fls. 55/177), alegando, preliminarmente, ilegitimidade passiva, pois o autor deveria ter ajuizado a ação contra seu empregador, uma vez ser ele o responsável pela indicação do cancelamento dos planos de saúde, conforme a Resolução Normativa nº 279 do CONSU. Quanto ao mérito, alega que o Apelação nº Mogi das Cruzes - VOTO Nº M - 3/8

4 autor apenas contribuiu como coparticipante do plano de saúde, não tendo direito à manutenção do serviço nos termos do art. 30 da lei 9.656/98; que não possui competência para excluir ou incluir beneficiários de planos de saúde, cabendo tal escolha à empresa contratante dos seus serviços. Requer a denunciação da lide da GERDAU S/A. O autor apresentou réplica (fls. 181/191). (...) (fls. 192/193). A r. sentença julgou parcialmente procedente o pedido formulado na inicial, confirmando a liminar deferida (fl. 46), para condenar a ré ao cumprimento da obrigação de fazer consistente na manutenção do autor e de seus dependentes como beneficiários no plano de saúde coletivo prestado pela ré, nos moldes do contrato celebrado entre ela e a empresa Aços Villares S.A./Gerdau S.A., por tempo indeterminado, devendo o autor arcar com o pagamento integral das mensalidades, conforme o disposto no art. 31 da Lei 9.656/98. Estabeleceu-se sucumbência recíproca, rateadas igualmente as custas e despesas processuais entre as partes, devendo o autor arcar com o pagamento de honorários advocatícios fixados em 10% do valor da causa e devendo a ré suportar o pagamento de verba honorária de 10% do valor da condenação. Embargos de declaração do autor (fls. 197/202) foram acolhidos, para determinar a manutenção do autor no plano de saúde por tempo indeterminado, mediante contribuição integral, considerando-se o preenchimento dos requisitos para a aplicação do art. 31 da Lei 9.656/98 (fl. 223). Apelação nº Mogi das Cruzes - VOTO Nº M - 4/8

5 Apela a ré (fls. 204/219). Preliminarmente, alega (i) sua ilegitimidade passiva, denunciando a lide à ex-empregadora do autor, Aços Villares S.A./Gerdau S.A., estipulante da apólice. No mérito, repisando as alegações deduzidas em sede de contestação, aduz (ii) a inexistência de contribuição do beneficiário para o pagamento dos prêmios mensais da apólice coletiva, em razão do sistema de coparticipação, não fazendo ele jus ao benefício de manutenção concedido pelos arts. 30 e 31 da Lei 8.656/98; (iii) a expressa exclusão legal de salário indireto ou prestação in natura como formas de contribuição para serviços de assistência médica, hospitalar e odontológica; e (iv) a regularidade de sua atuação, em conformidade com a Resolução 279/2011 da ANS, incumbindo à empresa estipulante a providência de inclusão ou exclusão de beneficiários no plano de saúde e cabendo à operadora de saúde, apenas, acatar tais determinações. Pleiteia, assim, (a) a extinção do feito sem resolução do mérito; ou, subsidiariamente, (b) a total improcedência do pedido e a imposição dos ônus sucumbenciais ao autor. Contrarrazões a fls. 228/241. É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO. Adoto, consoante autoriza o art. 252 do Apelação nº Mogi das Cruzes - VOTO Nº M - 5/8

6 Regimento Interno desta Corte, a fundamentação da r. sentença, da lavra do MM. Juiz de Direito Dr. MANOEL BARBOSA DE OLIVEIRA, que bem dirimiu a lide posta em Juízo, devendo ser mantida por suas próprias e jurídicas razões de decidir. Com efeito, para julgar a ação parcialmente procedente, expendeu S. Exa. a seguinte motivação: (...) Trata-se de ação de obrigação de fazer para que o autor seja mantido no plano de saúde fornecido pela ré. Inicialmente, afasto a preliminar de ilegitimidade passiva arguida pela ré, uma vez que a pretensão do autor é a manutenção de serviços oferecidos por ela. No mérito, a ação é procedente. Para a manutenção do benefício do plano de saúde em favor do autor nos moldes do quanto contratado pelo seu empregador à época em que laborava, é necessário o preenchimento dos requisitos elencados no art. 30 da Lei 9.656/98, ou seja, a contribuição para o plano de saúde em decorrência do vínculo empregatício e a rescisão do contrato de trabalho sem justa causa. A presente demanda comporta a aplicação do art. 30 da Lei 9.656/98, uma vez que a rescisão do contrato de trabalho ocorreu por dispensa sem justa causa, devendo-se ser observado o prazo legal de manutenção do serviço prestado pela ré do 1º do art. 30 da Lei 9.656/98. Os documentos atestam o vínculo empregatício do autor com a exempregadora GERDAU pelo período de catorze anos, bem como as Apelação nº Mogi das Cruzes - VOTO Nº M - 6/8

7 contribuições realizadas para a manutenção do plano de saúde e a contratação dos serviços da ré pela GERDAU, devendo o plano de saúde ser mantido em benefício do autor, nos mesmos termos e condições contratadas por seu ex-empregador, desde que o autor assuma seu pagamento integral, conforme o art. 30 da Lei 9.656/98. Ademais, em caso de não existir contribuição direta do empregado, o entendimento jurisprudencial é no sentido que o benefício do plano de saúde deve ser considerado como parcela salarial indireta e que neste caso deve o empregado arcar com o custeio integral do plano de saúde. (...) (fls. 193/194). Desse modo, nos termos do disposto nos arts. 30 e 31 da Lei 9.656/98, é assegurado ao beneficiário do plano de saúde coletivo (empregado demitido sem justa causa ou aposentado) o direito de manter-se nas mesmas condições de cobertura assistencial de que desfrutava quando na ativa, desde que arque com a parcela do prêmio que suportava anteriormente, pagando, também, aquela que era subsidiada por sua ex-empregadora. Nada mais tendo a acrescentar à bem lançada sentença antes transcrita, cuja fundamentação, com a devida e respeitosa permissão, passa a ser a deste voto, de rigor, efetivamente, sua confirmação. Deixo de aplicar o disposto no 11 do art. 85 do NCPC (sob cuja égide foi proferida a r. sentença), diante da sucumbência recíproca estabelecida entre as partes. Apelação nº Mogi das Cruzes - VOTO Nº M - 7/8

8 DISPOSITIVO. Nego provimento à apelação. Os recursos que deste se originarem estarão sujeitos a julgamento virtual, a não ser que se manifeste impugnação à forma, nos respectivos prazos de interposição. CESAR CIAMPOLINI Relator Apelação nº Mogi das Cruzes - VOTO Nº M - 8/8