Cararu Lugar onde pulsa um Coração da Terra

Transcrição

1 Coleção 9 Diversidade Histórico-Cultural na Escola Fabiana Guimarães Cararu Lugar onde pulsa um Coração da Terra Ilustrações Klauber Rocha FORTALEZA - CE 2015

2 Copyright 2015 by Fabiana Guimarães Ilustrador: Klauber Rocha Editora Ana Cristina Miranda da Costa Editora Assistente Patrícia Ferreira Projeto Gráfico Adriano Rodriguês Editoração e Diagramação Adriano Rodriguês e Mikael Holanda Ilustrações Klauber Rocha Imagens Imagem Copyright, Usada sob a licença da Shutterstock.com, autorizada pelos modelos. Revisão Conceitual Patrícia Matos Colaboração de Originais Ana Cristina Miranda da Costa, Bruno Mota Pinheiro, Fernanda Ramos e Patrícia Ferreira Revisão Ortográfica Bruno Mota Pinheiro e Patrícia Ferreira Catalogação Gabriela Alves Gomes Impressão Tecnograf Guimarães, Fabiana Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Cararu Lugar onde pulsa o Coração da Terra Coleção A Cor da Gente Livro 9 / Fabiana Guimarães; ilustrações de Klauber Rocha Fortaleza: Aprender Editora, p. Il.: (Coleção A Cor da Gente Livro 9). 1. Educação 1. I. Título ISBN: Educação. I.Título CDD Índice para Catálogo Sistemático: 1. Ensino Fundamental I: ISBN: ISBN: Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9610 de 19 de fevereiro de Todos os direitos reservados. APRENDER EDITORA CEARENSE DE MATERIAL DE ENSINO LTDA. Rua Marvin, 104 Parque Manibura CEP: Fortaleza - Ceará - Fone/Fax: (85) aprendereditora@aprendereditora.com.br

3 Apresentação Querido aluno, querida aluna A Coleção A COR DA GENTE nasceu de um sonho, plasmado no Orum, pelos ancestrais, guias e orixás. Eles juntaram as inspirações, circunstâncias e pessoas certas na exata hora, para sua revelação. Para realizá-lo, fui apenas instrumento. Com ele [o sonho] desvelei parte da minha origem. Encantada com a grandiosidade desta mistura de raças e culturas na qual fui gerada, pude amar ainda mais esses povos excluídos e massacrados ao longo da história. Compreendi que só será possível retornar à harmonia do nosso Planeta, se resgatarmos, em nós, a sabedoria advinda desses nossos ancestrais. Parte do sonho está aqui, realizado através desta Obra. Porém, para que ele se concretize em sua plenitude, é necessário que as vivências que esta Coleção propõe, instigue em você o mesmo amor fortalecido em mim, capaz de enxergar e valorizar a grandeza desses povos e retomar à sua redentora sabedoria. Um forte abraço, Autora

4 Autora Sou Fabiana Guimarães. Nasci em Mangabeira, pertinho da Pedreira do Cararu, onde habitava o povo que deu o nome a essa pedreira, num pedacinho do Eusébio-Ceará. Escrevo desde os 15 anos. Tenho vários livros publicados em diversas Editoras: Paulus, Paulinas, Cortez, Littere, Armazém da Cultura, entre outras. Participei por três vezes da Coleção Prosa e Poesia do PAIC. Tenho características e saberes do Índio, do Negro e do Branco, o que muito me embelezam e enriquecem. Daí o orgulho desta miscigenação. Ilustrador Klauber Rocha. Artista Plástico, Ilustrador, Professor de Yoga, Quiroprático, Mestre em Reike (3b), Fisioterapeuta, Teólogo, Especialista em Educação Biocêntrica, Terapeuta Holístico. Profissional que para cada atuação tem um ponto em comum: o amor. Esta é a essência de tudo o que faz em sua vida! Consultora Conceitual Patrícia Pereira de Matos atua na Área Pedagógica e Cultural e, também, na Formação Contínua de Professores e Gestores. Tem experiência como Professora, Coordenadora, Técnica em Educação e Formadora na Rede Pública Municipal de Fortaleza. Há 10 anos pesquisa sobre a História e a Cultura Africana e Afro-brasileira, assessorando Escolas e Secretarias de Educação na implementação da Lei /2003.

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7 Ao Erlyson Ferreira, por me revelar parte do Segredo.

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9 - Z uleide, mais um! -Agora é assim, Chico, todo dia essa violência. - O mundo virou de cabeça pra baixo. Tempo bom era o nosso. Nada disso acontecia. - Dormia-se de portas abertas. Lembra-se das noites de lua cheia? A meninada no terreiro brincava até tarde da noite e escutava histórias contadas por seu Antônio. Viva alma não incomodava! Do quarto, Aram escuta a conversa dos avós que, na sala, assistem ao jornal na TV. Todos os dias, na mesma hora, a mesma cena onde eles trocam as mesmas palavras. O garoto de catorze anos se questiona a respeito desse tempo tão maravilhoso. Queria ter nascido nele. Estava cansado de escutar notícias de morte e massacre envolvendo pessoas e animais; de desrespeito à natureza; de escassez d água e tantas outras mazelas. Queria saber de outras notícias. Notícias de vida; de nascimento; de água jorrando com abundância para todos e de paz no mundo inteiro. - Será que as coisas boas só aconteciam no tempo dos meus avós ou será porque só noticiam as ruins? - Refletiu o menino, lembrando-se das coisas boas que vivencia. Confuso, sai para a escola. No caminho: barulho, engarrafamento e poluição. Moradores de rua pedindo esmola. Gente estressada em pleno amanhecer. Em uma das avenidas, um acidente; na esquina da escola, um assalto. Tiroteio! Sente a vida escorrendo entre os dedos. Procura ar, não encontra! Exausto, mãos geladas, coração batendo forte, senta na carteira ao lado da janela. - Ufa! Que batalha! Onde nos perdemos? Precisamos encontrar um novo rumo pra esse mundo. Concluiu. 9

10 S eu olhar sai pela janela. Voa nas asas do vento. Alcança árvores, flores, jardins e pássaros alegrando a manhã. Enfiada no azul do céu, uma pipa puxa um longo fio que alcança seu coração e o enternece. Ali está algo bom e belo do tempo presente. O Garoto mergulha nas nuvens. Olha de cima e enxerga suaves horizontes. Traz para perto de si lembranças do campo. Encontra rumos de paz! Uma nebulosa imagem invade sua mente. Aos poucos a névoa se dissipa. Ele a decifra. Uma Montanha de Pedra se revela. Ahhh! Já sei! A Pedreira do Cararu! Fica perto do sítio da vó Nenzinha. Lembra-se do avô Lauro contando aquela comovente história: - Havia muitos indígenas aqui, filho. A aldeia ficava aqui no pé dessa Pedreira. Meu pai os conheceu de pertinho. Era amigo do Cacique e chegou a participar de muitos dos rituais deles. Ainda bem menino, algumas vezes eu acompanhava meu pai. O Pajé contava muitas histórias para os curumins. Sentávamos em volta dele para escutá-las. Eram tantas...porém, uma delas jamais esquecerei. A que fala dos Corações da Terra. No centro dessa Pedreira mora um deles. Os outros estão espalhados mundão afora em santuários próximos a aldeias de povos indígenas ou a quilombos. Suas danças circulares e o toque dos tambores revive a força que os faz bater. Se indígenas e negros desaparecerem da Terra, esses Corações pararão. As nascentes de água secarão; o fogo apagará e o ar que respiramos murchará o seu grande pulmão verde. Aí, virão os longos dias de escuridão, porque é essa energia que também acende o sol e as estrelas. 10