PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Ribeirão Preto, em que é agravante IDALINA BARBOSA DE MAGALHÃES GALVÃO, é agravado PASSAREDO TRANSPORTES AÉREOS S/A (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL). ACORDAM, em 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MAURÍCIO PESSOA (Presidente) e RICARDO NEGRÃO. São Paulo, 19 de fevereiro de Araldo Telles RELATOR Assinatura Eletrônica

2 COMARCA DE RIBEIRÃO PRETO JUÍZA DE DIREITO: CARINA ROSELINO BIAGI AGRAVANTE: IDALINA BARBOSA DE MAGALHÃES GALVÃO AGRAVADA: PASSAREDO TRANSPORTES AÉREOS S/A (em recuperação judicial) VOTO N.º EMENTA: Gratuidade. Declaração da pessoa natural que retrata presunção juris tantum de pobreza ( 3º do art. 99 do Código de Processo Civil). Ausência de elementos capazes de elidi-la, ressalvada impugnação da parte contrária. Benefício concedido. Recuperação Judicial. Habilitação de crédito julgada improcedente. Crédito com origem em ação julgada procedente para condenar a recuperanda no pagamento de indenização material e moral. Fato gerador do dano (extravio de bagagem) posterior à impetração do procedimento. Crédito não sujeito ao processo recuperatório. Inteligência do art. 49, caput, da Lei /05. Improcedência da habilitação mantida. Recurso parcialmente provido. Trata-se de agravo de instrumento tirado contra a r. decisão de fls. 34/35, que, nos autos da recuperação judicial da agravada, julgou improcedente habilitação de crédito da agravante sob o fundamento que não se sujeita ao processo recuperatório. Inconformada, recorre a insistir na pertinência da sua habilitação, sobretudo porque a própria recuperanda admitiu, nos autos do cumprimento de sentença da ação indenizatória, que deveria habilitar o seu crédito na recuperação. Agravo de Instrumento nº Voto

3 Requer, em acréscimo, a majoração dos honorários advocatícios e a concessão da gratuidade judiciária. Processado sem efeito suspensivo, manifestou-se a Procuradoria Geral de Justiça pelo desprovimento do recurso. É o relatório. No tocante à gratuidade, respeitado o convencimento do d. Procurador de Justiça oficiante, a ausência de decisão a respeito na origem não impede o requerimento da benesse nesta sede recursal (art. 99, caput, do Código de Processo Civil). Constitui regra admitir-se como verdadeira a declaração de pobreza firmada pela pessoa natural ( 3º do art. 99 do Código de Processo Civil), cabendo à parte contrária, no momento oportuno, deduzir a impugnação cabível, inclusive com provas. Na hipótese, não há elementos concretos indicativos de que a agravante não tenha direito ao benefício, razão por que, diante da declaração de fls. 7, concedo-lhe os benefícios da assistência judiciária, ressalvada a possibilidade de impugnação da parte contrária. De resto, vê-se que pretende a habilitação do crédito que tem origem em condenação judicial na ação de indenização por danos materiais e morais que moveu em face da recuperanda e com causa no extravio de bagagem ocorrido em julho de Como se extrai da sentença e do respectivo acórdão (fls. 15/18 e 19/22), a recuperanda foi condenada no pagamento de danos materiais no importe de R$9.615,00 e morais de R$3.000,00, além de honorários de sucumbência de 15% sobre o valor da condenação. A habilitação, contudo, não é mesmo possível. Agravo de Instrumento nº Voto

4 Esclarece o Des. Francisco Loureiro, integrante da C. 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial desta Corte, que o que define a sujeição do crédito à moratória é a existência ou não ao tempo de sua impetração 1. Esse, inclusive, o teor do caput do art. 49 da Lei nº /2005: Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos. Vê-se, no caso concreto, que o requerimento da benesse deu-se no mês de outubro de O crédito de titularidade da agravante, porém, de origem judicial, tem como fato gerador o extravio da sua bagagem na ocasião em que viajou de Brasília a Ribeirão Preto, em julho de Se o período de aquisição do crédito é posterior à impetração da recuperação judicial, não está sujeito à recuperação, mostrando-se, por isso, acertado o julgamento de improcedência da habilitação. E não importa que, como sustenta a agravante às fls. 67, não visualize bens disponíveis, se possível, inclusive, penhora de dinheiro em caixa ou recebíveis. Por tais razões, dou parcial provimento ao recurso apenas para conceder a gratuidade judiciária à recorrente, mantida a improcedência da habilitação de crédito. É como voto. 1 AI Agravo de Instrumento nº Voto

5 JOSÉ ARALDO DA COSTA TELLES RELATOR Agravo de Instrumento nº Voto