ESTADO DO CEARÁ PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Transcrição

1 Porque atendidos os pressupostos de admissibilidade recursal, conheço da Apelação. Cumpre, desde logo, anotar que E. 2ª Câmara Cível desta Corte já apreciou e julgou recurso interposto na Ação Revisional de Contrato n. n.º , demanda que é conexa ao presente feito. Eis, abaixo, a ementa de acórdão proferida naqueles autos: "EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO - DECLARAÇÃO DE INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO - INOBSERVADA A REGRA DO ART. 112 DO CPC - OCORRÊNCIA DA PRECLUSÃO E CONSEQUENTE PRORROGAÇÃO DA COMPETÊNCIA - NÃO PRODUÇÃO DE PERÍCIA CONTÁBIL - ALEGAÇÃO DE COBRANÇA ENCARGOS EXCESSIVOS E DE PRÁTICA DE ANATOCISMO - FALTA DE PROVA IMPRESCINDÍVEL À AFERIÇÃO DOS FATOS CONTROVERTIDOS - NULIDADE DA SENTENÇA - RETORNO DOS AUTOS À ORIGEM COM DETERMINAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE PROVA PERICIAL. 1. Expressa é a norma 112 do Código de Processo Civil, no sentido de que a incompetência relativa há de ser argüida por meio de exceção. Não tendo o Apelante excepcionado no momento e sob a forma adequada, operou-se a preclusão, cuja conseqüência é a prorrogação da competência, mesmo porque, não poderia dela a MMa. Juíza declinar de ofício. 2. A prova técnica se faz necessária, sempre que a verificação de um determinado fato, controvertido nos autos, a depender de conhecimento especial, que refoge ao campo especificamente jurídico. 3. Sendo os elementos presentes nos autos insuficientes para desvendar a verdade dos fatos, ainda que as partes não tivessem postulado, deveria a Magistrada de primeiro grau ter ordenado a confecção da prova pericial. É que o Juiz é o destinatário real da prova, por isso pode determinar, até

2 mesmo de ofício, quer seja em primeiro ou segundo grau de jurisdição, a produção de provas que sejam necessárias ao julgamento seguro e justo, conforme prevê o art. 130 do estatuto processual civil. 4. Apelação conhecida para cassar a sentença recorrida". Ora, como se observa, a sentença proferida nos autos da mencionada ação revisional restou desconstituída por esta Colenda Segunda Câmara, por ocasião do julgamento da Apelação ali interposta. Deve-se ressaltar que a Ação de Revisional de Contrato, ajuizada pela parte apelada junto à 20ª Vara Cível da Comarca de Fortaleza, e a Ação de Cobrança, manejada pela parte apelante e distribuída inicialmente à 1ª Vara da Comarca de Maranguape, foram ambas sentenciadas pelo órgão julgador da capital, tendo em vista a prevenção gerada pela primeira citação, critério decorrente do art. 219, caput, do CPC. Tais demandas, é certo, possuem a mesma causa de pedir remota (contrato de abertura de crédito rotativo - CDC automático), circunstância suficiente para a existência, entre elas, do vínculo de conexão, nos termos do art. 103 do CPC, da jurisprudência do STJ (cf MC 6.358/SP; CC /SP), e deste Egrégio Tribunal de Justiça (Cf., por todos, Apelação Cível /1, Relator Francisco de Assis Filgueira Mendes). Como é sabido, a causa de pedir são os fundamentos de fato e de direito do pedido. É a razão pela qual se pede. Registre-se que o direito brasileiro adotou a teoria da substanciação do pedido, segundo a qual se exige, para a identificação do pedido, a dedução dos fundamentos de fato e de direito da pretensão. A causa de pedir divide-se em: a) próxima e b)

3 remota. A causa de pedir próxima caracteriza-se pelo inadimplemento do negócio jurídico ou pela lesão ou ameaça de lesão ao direito. Já a remota é representada pelo direito que embasa o pedido do autor ou pelo título jurídico que fundamenta o seu pedido. De acordo com o magistério dos juristas Nery e Nery, "Para se configurar a conexão, basta que a causa de pedir em apenas uma de suas manifestações seja igual nas duas ou mais ações". Nesse contexto, sendo inequívoca a existência de conexão entre os feitos, cumpre aferir acerca da obrigatoriedade da reunião dos processos para julgamento simultâneo. Sobre o tema, calha trazer à baila lição preciosa do ilustre processualista ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, abaixo transcrita: A mais polêmica entre as questões que envolvem a conexão diz respeito ao seguinte: a reunião dos processos por força de conexão é obrigatória? A divergência surge em razão da redação do art. 105 do CPC, segundo o qual a reunião das demandas conexas "pode" ser ordenada, a fim de que as mesmas sejam apreciadas em sentença única. Há, assim, autores que entendem ser obrigatória a reunião, e autores para os quais tal reunião é mera faculdade do juiz. A nosso sentir, a reunião de processos em que haja conexão de demandas não é sempre obrigatória. Como regra geral, parece-nos que o juiz pode reunir tais processos, mas a reunião se torna obrigatória quando houver risco de decisões contraditórias. Isso porque a razão de ser da reunião é precisamente esta: evitar decisões contraditórias. Assim sendo, apenas quando esse risco for real (por exemplo, se dois acionistas de uma sociedade anônima pleiteam, em

4 demandas distintas, a anulação de uma mesma assembléia geral de acionistas, não se pode admitir que um juiz considere a assembléia válida e outro a anule) é que se deve fazer obrigatoriamente tal reunião de processos. Nos demais casos, cabe ao juiz, analisando a conveniência da reunião, determiná-la ou não (podendo fazê-lo, por exemplo, por uma questão de economia processual, para que as provas sejam colhidas apenas uma vez, quando o conjunto probatório for comum às demandas conexas. (grifo nosso) In casu, a reunião dos processos pertinentes às ações revisional e de cobrança faz-se imprescindível, sob pena de serem proferidas decisões de mérito contraditórias no que diz respeito à legitimidade/validade do contrato que serve de lastro à presente ação de cobrança. Eis porque merece ser anulada a r. sentença recorrida, devendo o presente feito ser julgado conjuntamente com a Ação Revisional de contrato n.º /0, em virtude do disposto no art. 105 do CPC, verbis: "Art Havendo conexão ou continência, o juiz de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, pode ordenar a reunião das ações propostas em separado, a fim de que sejam decididas simultaneamente. Parece-nos, com efeito, que a reunião de processos, no caso de conexão, é medida obrigatória, diante da necessidade de evitar decisões conflitantes sobre lides originadas de um mesmo fato, como sucede na espécie. Neste sentido, é a lição de Patrícia Miranda Pizzol (In Código de Processo Civil Interpretado - Coordenador

5 Antonio Carlos Marcato. 3ª Ed. São Paulo: Atlas, 2008, p. 306), com o apoio da doutrina de Moacyr Amaral Santos, Celso Agrícola Barbi, entre outros. Em face de tais considerações, conheço da Apelação, recurso a que dou provimento para o fim de se desconstituir a sentença impugnada, determinando-se o envio dos autos ao Juízo da 20ª Vara Cível da Comarca de Fortaleza, para julgamento simultâneo com a Ação Revisional de Contrato (Processo de nº /0). É o meu voto que submeto à apreciação dos meus ilustres pares. Fortaleza, 10 de abril de MARIA NAILDE PINHEIRO NOGUEIRA Desembargadora-Relatora