Tomás Antônio Gonzaga
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- Jonathan Raminhos
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1 ARCADISMO O pintor francês Watteau é o grande intérprete do refinamento das elites francesas do século XVIII, antes da Revolução. Festas galantes, cenas campestres e referências pastoris constituem o seu universo temático, a exemplo dos textos do Arcadismo
2 Tomás Antônio Gonzaga Marília de Dirceu Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado; De tosco trato, d expressões grosseiro, Dos frios gelos, e dos sóis queimado. Tenho próprio casal, e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela! Eu vi o meu semblantenuma fonte, Dos anos inda não está cortado: Os pastores, que habitam este monte, respeitam o poder do meu cajado. Com tal destreza toco a sanfoninha, Que inveja até metem o próprio Alceste: Ao som dela concerto a voz celeste; Nemcanto letra, que não seja minha, Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela!
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4 Vou retratar a Marília, A Marília, meus amores; Porém como? Se eu não vejo Quem me empreste as finas cores: Dar-mas a terra não pode; Não, que a sua cor mimosa Vence o lírio, vence a rosa, O jasmim, e as outras flores. Ah! Socorre, Amor, socorre Ao mais grato empenho meu! Voa sobre os Astros, voa, Traze-me as tintas do Céu. Só no Céu achar-se podem Tais belezas, como aquelas, Que Marília tem nos olhos, E que tem nas faces belas. Mas às faces graciosas, Aos negros olhos, que matam, Não imitam, não retratam Nem Auroras, nem Estrelas. Ah! Socorre, Amor, socorre Ao mais grato empenho meu! Voa sobre os Astros, voa, Traze-me as tintas do Céu.
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6 Verás em cima da espaçosa mesa Altos volumes de enredados feitos; Ver-me-ás folhear os grande livros, E decidir os pleitos. Enquanto revolver os meus consultos. Tu me farás gostosa companhia, Lendo os fatos da sábia mestra história, E os cantos da poesia. Lerás em alta voz a imagem bela, Eu vendo que lhe dás o justo apreço, Gostoso tornarei a ler de novo O cansado processo.
7 Minha bela Marília, tudo passa; A sorte deste mundo é mal segura; Se vem depois dos males a ventura, Vem depois dos prazeres a desgraça. Estão os mesmos Deuses Sujeitos ao poder do impio Fado: Apolo já fugiu do Céu brilhante, Já foi Pastor de gado. Ah! enquanto os Destinos impiedosos Não voltam contra nós a face irada, Façamos, sim façamos, doce amada, Os nossos breves dias mais ditosos. Um coração, que frouxo A grata posse de seu bem difere, A si, Marília, a si próprio rouba, E a si próprio fere. Ornemos nossas testas com as flores. E façamos de feno um brando leito, Prendamo-nos, Marília, em laço estreito, Gozemos do prazer de sãos Amores. Sobre as nossas cabeças, Sem que o possam deter, o tempo corre; E para nós o tempo, que se passa, Também, Marília, morre.
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9 CLÁUDIO MANUEL DA COSTA Destes penhascos fez a natureza O berço em que nasci! Oh, quem cuidara Que entre penhas tão duras se criara Uma alma terna, um peito sem dureza!
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11 Soneto Já rompe, Nise, a matutina Aurora O negro manto, com que a noite escura, Sufocando o sol a face pura, Tinha escondido a chama brilhadora. Aquela alegre, que suave, que sonora, Aquela fontezinha aqui murmura! E nestes campos cheios de verdura Que avultado o prazer tanto melhora? Só minha alma em fatal melancolia, Por te não poder ver, Nise Adorada, Não sabe ainda que coisa é alegria; E a suavidade do prazer trocada, Tanto mais aborrece a luz do dia, Quanto a sombra da noite mais lhe agrada.
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13 SILVA ALVARENGA Glaura Carinhosa e doce, ó Glaura, Vem esta aura lisonjeira, E a mangueira já florida Nos convida a respirar. Sobre a relva o sol doirado Bebe as lágrimas da Aurora, E suave os dons de Flora Neste prado vê brotar.
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15 Basílio da Gama Canto IV de O Uraguai Trecho em que é contada a morte da índia Lindoia, encontrada por seu irmão Caitutu adormecida e com uma serpente enrolada ao corpo.
16 "(...) Mais perto Descobrem que se enrola no seu corpo Verde serpente, e lhe passeia, e cinge Pescoço e braços, e lhe lambe o seio. Fogem de a ver assim, sobressaltados, E param cheios de temor ao longe; E nem se atrevem a chamá-la, e temem Que desperte assustada, e irrite o monstro, E fuja, e apresse no fugir a morte. Porém o destro Caitutu, que teme Do perigo da irmã, sem mais demora Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes Soltar o tiro, e vacilou três vezes Entre a ira e o temor. Enfim sacode O arco e faz voar a aguda seta, Que toca o peito de Lindoia, e fere A serpente na testa, e a boca e os dentes Deixou cravados no vizinho tronco. Açouta o campo coa ligeira cauda O irado monstro, e em tortuosos giros Se enrosca no cipreste, e verte envolto Em negro sangue o lívido veneno.
17 Leva nos braços a infeliz Lindoia O desgraçado irmão, que ao despertá-la Conhece, com que dor! no frio rosto Os sinais do veneno, e vê ferido Pelo dente sutil o brando peito. Os olhos, em que Amor reinava, um dia, Cheios de morte; e muda aquela língua Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes Contou a larga história de seus males. Nos olhos Caitutu não sofre o prento, E rompe em profundíssimos suspiros, Lendo na testa da fronteira gruta De sua mão já trêmula gravado O alheio crime e a voluntária morte. E por todas as partes repetido O suspiro nome de Cacambo. Inda conserva o pálido semblante Um não sei quê de magoado e triste, Que os corações mais duros enternece. Tanto era bela no seu rosto a morte."
18 SANTA RITA DURÃO Caramuru A Morte de Moema Perde o lume dos olhos, pasma e treme, Pálida a cor, o aspecto moribundo, Com a mão já sem vigor, soltando o leme, Entre as salsas escumas desce ao fundo: Mas na onda do mar, que irado freme, Tornando a aparecer desde o profundo: "Ah! Diogo cruel!" disse com mágoa E sem mais vista ser, sorveu-se n'água.
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