Aula 01 MANDADO DE SEGURANÇA 1

Transcrição

1 Turma e Ano: Práxis Como impetrar um MS (2016) Matéria/Data: Petição Inicial Mínima (18/01/16) Professor: Luis Alberto Souza Andrade Monitora: Márcia Beatriz Aula 01 MANDADO DE SEGURANÇA 1 O mandado de segurança é um remédio constitucional que visa garantir, em caráter residual, a proteção de um direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus nem habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. São órgãos de detém a competência para julgamento do mandado de segurança: STF, Tribunais Superiores, Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, Juízes Federais, do Trabalho e de Direito. O endereçamento da peça processual será definido conforme a autoridade responsável pelo ato. Qualquer pessoa é dotada de legitimidade ativa para propor um mandado de segurança. Apesar de qualquer um poder ser impetrante em um MS individual, é indispensável capacidade postulatória para executar o ato é imprescindível a constituição pela parte de um advogado. Por ter diferente interesse de agir, a legitimidade ativa do MS coletivo restringe-se a algumas pessoas jurídicas: partido político com representação no Congresso Nacional, organização sindical, entidade de classe e associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano. A legitimidade passiva do writ é composta, sendo impetrado tanto a autoridade coatora como também a pessoa jurídica a que ela se vincula. Encontra-se o fundamento legal da ação na Constituição Federal, art. 5º, LXIX (MS individual) ou art. 5º, LXX (MS coletivo) e ainda na Lei n /09. 1 Este curso se destina ao estudo da elaboração da peça processual do mandado de segurança. Para maior aprofundamento sobre este remédio constitucional, deve-se buscar o curso específico ministrado pelo Prof. Mauro Lopes, disponível em:

2 Entre os pedidos a serem requeridos na ação de mandado de segurança estão: Concessão de medida liminar (art. 7º, III da Lei n /09); Notificação da autoridade coatora a fim de que no prazo de 10 dias preste informações que julgue necessárias (art. 7º, I da Lei n /09); Dar ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, para querendo, ingresse no feito (art. 7º, II da Lei n /09); Intimação do Ministério Público para atuar como custos legis (art. 12 da Lei n /09); Juntada da prova pré-constituída, a comprovar o direito líquido e certo do impetrante; Aplicação da astreinte ou prisão por desobediência em caso de descumprimento de decisão (art. 26 da Lei n /09). Entre outras particularidades do mandado de segurança, destacam-se a impossibilidade de dilação probatória (provas pré-constituídas) e a obrigatoriedade de atribuição do valor à causa. PETIÇÃO INICIAL MÍNIMA A redação jurídica é composta por um conjunto de regras que regulam a expressão do raciocínio e do discurso. Uma peça processual deve ser pautada em quatro pilares: Linguagem técnica conjugada com a correta aplicação da linguagem comum; Observância dos elementos essenciais que deve conter a peça; Fatos impertinentes devem ser evitados; Redação clara, objetiva e lógica. Não se deve confundir técnica com estilo de redação. Enquanto a primeira segue uma determinação legal que deve ser observada necessariamente pelo candidato; o estilo é expressão da regra técnica de acordo com as preferências de cada profissional. Assim, cada um possui seu estilo próprio de escrever, no entanto, a técnica de petição deve seguir um mesmo padrão, qual seja: 1. Endereçamento A definição da competência para julgamento do mandado de segurança, bem como do endereçamento da peça serão conforme a autoridade responsável pelo ato coator.

3 Posição do STJ: A competência para o processamento e julgamento do mandado de segurança é estabelecida de acordo com a sede funcional da autoridade apontada como coatora e a sua categoria profissional, o que evidencia a natureza absoluta e a improrrogabilidade da competência. Havendo incongruência entre a sede funcional da autoridade coatora e o foro em que se impetrou o mandado de segurança, há de se reconhecer a incompetência absoluta do juízo. Por consequência, por força do art. 113, 2º do CPC, deve-se ainda, cassar os atos decisórios e determinar a remessa do feito ao juízo competente. Observação: Ao contrário do habeas corpus contra ato de tribunal que é julgado por instância superior a ele; o mandado de segurança contra ato e omissão de tribunal é julgado pelo próprio órgão coator. Ademais, não há competência originária para julgamento de MS de tribunais inferiores pelo STF nem pelo STJ apenas mandado de segurança em grau de recurso ordinário 2. COMPETÊNCIA TRF Juiz Federal Juiz de Direito e TJ Atos do próprio tribunal e juiz federal Autoridade Federal, salvo competênc ia do TRF Caráter Residual A competência do STF em MS se dará nos casos de atos contra: Presidente da República, Mesas da Câmara dos Deputados e Senado Federal, Tribunal de Contas da União, Procurador-geral da República e do próprio STF. Já ao STJ compete o julgamento do MS contra atos de Ministro de Estado, Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica e do próprio STJ. Importante: A Lei n /09 (art. 1º, 1º) equipara alguns particulares a autoridades por estares exercendo função delegada do Poder Público. São eles: a) dirigentes de pessoas jurídicas ou pessoas naturais no exercício de atribuições do Poder Público, apenas no que concerne a essas atribuições; b) administradores de entidades autárquicas; c) representantes de órgãos de partidos políticos. 2 Súmula 624 do STF: Não compete ao STF conhecer originariamente de MS contra atos de outros tribunais. Súmula 41 do STJ: O STJ não tem competência para processar e julgar, originariamente, MS contra ato de outros tribunais ou dos respectivos órgãos.

4 Já é pacífico o entendimento de que a competência para julgamento de ato de dirigente de instituição privada de ensino superior é julgado pela Justiça Federal porque há neste caso uma delegação federal pelo MEC do dever de educação. Neste sentido o REsp /RS, 09/05/2005. ENDEREÇAMENTOS Primeira Instância Segunda Instância Superior Justiça Estadual Justiça Estadual Justiça Estadual Justiça Federal STF e STJ a) Juiz de Direito b) Juiz Federal c) Desembargador d) Desembargador e) Ministro Presidente do TJ Federal Presidente Presidente a) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA (VARA CÍVEL/VARA DA FAZENDA PÚBLICA) DA COMARCA DE. b) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA VARA CÍVEL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE. c) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE. d) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR FEDERAL PRESIDENTE DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA REGIÃO. e) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA/ SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 2. Preâmbulo Após o espaçamento de 10 linhas deve ser preenchido o preâmbulo com o seguinte conteúdo: a) Dados do impetrante: poderá ser qualquer pessoa (física ou jurídica) que comprove violação a direito líquido e certo não amparado por habeas corpus e habeas data. Observação: Neste momento deve-se fazer a referencia ao advogado que esteja patrocinando a causa, caso o impetrante não tenha capacidade postulatória. b) Artigos de embasamento: art. 5º, LXIX da CRFB c/c arts. 1º e ss da Lei n /09 para MS individual ou art. 5º, LXX da CRFB c/c arts. 1º e ss da Lei n /09 se MS coletivo. c) Nome jurídico da peça: ordem de mandado de segurança ou mandado de segurança com pedido de liminar. Pode-se pular uma linha para escrever o nome da peça ou se preferir economizar espaço, escrever o nome da peça no corpo do preâmbulo, mas em caixa alta.

5 Observação: Se for mandado de segurança preventivo deverá ser indicado no nome da peça. d) Indicação da autoridade coatora: sempre indicar também a pessoa jurídica a que a autoridade coatora está vinculada. Observação: Não é qualquer particular que poderá ser legitimado passivo em MS, mas somente aqueles que exercem função de Estado (concessão, permissão e autorização). Nestes casos, a autoridade coatora a ser indicada é o próprio particular 3. Impetrante, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da cédula de identidade RG nº..., devidamente inscrito no CPF nº..., residente e domiciliado na..., bairro., cidade..., estado..., por seu advogado, com escritório situado na..., vem, respeitosamente a presença de Vossa Excelência, com fulcro no art. 5º, LXIX da Constituição Federal e na Lei n /09, impetrar a presente ORDEM DE MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO DE LIMINAR contra ato praticado por..., autoridade vinculada a pessoa jurídica..., com sede e domiciliada na..., pelos motivos de mato e de direito que passa a expor. 3. Dos Fatos Antes de iniciar a narração dos fatos, pode-se abrir um item para demonstrar a tempestividade do remédio constitucional, visto que o MS repressivo deve ser impetrado no prazo de 120 dias da lesão (art. 23 da Lei n /09) não há prazo para MS preventivo! II Do prazo Consoante se depreende dos autos, o impetrante tomou ciência do ato impugnado no dia 26 de julho de 2015, portanto, dentro do prazo de 120 dias previsto na Lei n /09. (Doc. 02) Depois da comprovação da tempestividade, quando necessária, inicia-se a narrativa fática com o parafraseamento do caso apresentado. Para isso, deve-se atribuir um novo tipo de explicação, tornando mais perceptivo o texto, sem alterar suas ideias originais apontar datas, locais e demais pontos relevantes. 3 Súmula 510 do STF: Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança.

6 4. Do Direito Deverão ser indicadas as teses jurídicas do MS (artigos da CRFB, princípios, súmulas, doutrina e jurisprudência), com referência ao caso concreto, desenvolvendo um raciocínio jurídico na forma de silogismo 4, com premissa maior (norma jurídica), premissa menor (fatos) e conclusão (aplicação da norma ao caso concreto). Modelo Premissa Maior: O mandado de segurança, previsto no art. 5º, LXIX da CRFB, com procedimento regulado pela Lei /09, é remédio constitucional e ação de natureza sumária,... Modelo Premissa Maior: In casu, restou demonstrado que a impetrante foi aprovada em 72ª colocação, em um certame realizado para preenchimento de 60 vagas de professor. Da mesma forma,... Modelo Conclusão: Dessa forma, resta evidente o direito líquido e certo da impetrante em ver-se nomeada par ao cargo em que aprovada, na medida em que existem as vagas. 5. Do Pedido Liminar em Mandado de Segurança Neste momento faz-se a comprovação do fumus boni iuris (fumaça do bom direito) e periculum in mora (perigo da demora da decisão é de difícil reparação) O pedido liminar no presente mandado de segurança é medida de justiça, uma vez que presente os seus requisitos autorizadores: fumus boni iuris (demonstrar que a violação a direito líquido e certo tem plausibilidade jurídica) periculum in mora (demonstrar que o risco da demora do provimento jurisdicional apenas ao final do julgamento, importará na continuidade da violação ao direito líquido e certo do impetrante). 4 Silogismo é uma prerrogativa da matemática, na qual se utiliza uma premissa maior, uma premissa menor e uma conclusão, como por exemplo: Todos os homens são mortais. Luis Alberto é homem. Logo, ele é mortal.

7 Importante: A Lei n /09 (art. 7º, 2º) lista algumas hipóteses nas quais não poderá ser concedida liminar em mandado de segurança. São elas: a) Compensação de créditos tributários; b) Entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior; c) Reclassificação ou equiparação de servidores públicos; d) Concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza. 6. Do Pedido ou Requerimento O pedido deve atender a forma geral proposta para a redação de peças processuais, com as características específicas do mandado de segurança. Aconselha-se a construir o pedido de forma setorizada (por itens), com o objetivo de se fazer uma indicação individual de cada um deles. Ante o exposto, requer a Vossa Excelência que se digne: a) que seja notificada a autoridade coatora do conteúdo da presente petição inicial; b) que seja dada ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada; c) que seja ouvido o representante do Ministério Público; d) reiterar o pedido liminar nos termos formulados 7. Fecho Após serem listados os pedidos, deve-se pular uma linha e indicar o valor da causa e finalizar a peça com o trecho autenticativo. Dá-se a causa o valor de R$..., Termos em que, pede deferimento Local..., dia..., mês..., ano... Advogado..., OAB nº...

8 Check-list da petição inicial de MS: 1. Endereçamento (10 linhas) 2. Preâmbulo 3. Tempestividade 4. Dos Fatos 5. Do Direito 6. Do Pedido Liminar 7. Do Pedido 8. Valor da causa 9. Parte autenticativa