TERCEIRA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO Nº 10985/ CLASSE CNJ COMARCA DE POXORÉO

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1 APELANTE: APELADO: FERTIPAR BANDEIRANTES LTDA. OFICIAL DO SERVIÇO DE REGISTRO DE IMÓVEIS, TÍTULOS E DOCUMENTOS DA COMARCA DE POXORÉO Número do Protocolo: 10985/2009 Data de Julgamento: EMENTA APELAÇÃO CÍVEL - SUSCITAÇÃO DE DÚVIDA - PENHORA DE BEM HIPOTECADO EM FAVOR DO BANCO BRADESCO S/A PARA GARANTIA DE CÉDULA RURAL - IMPOSSIBILIDADE - DECRETO-LEI N. 167/67, ART RECURSO IMPROVIDO - SENTENÇA MANTIDA. O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento pacífico no sentido da impossibilidade de penhora de bem já hipotecado por força de cédula de crédito rural, ex vi da vedação contida no art. 69 do Decreto-Lei n. 167/67. Precedente contido no Recurso Especial n /MT. Fl. 1 de 6

2 APELANTE: FERTIPAR BANDEIRANTES LTDA. APELADO: OFICIAL DO SERVIÇO DE REGISTRO DE IMÓVEIS, TÍTULOS E DOCUMENTOS DA COMARCA DE POXORÉO RELATÓRIO EXMO. SR. DR. ANTONIO HORÁCIO DA SILVA NETO Egrégia Câmara: Apelação Cível interposta por Fertipar Bandeirantes Ltda de sentença proferida pelo Juízo da Diretoria do Foro da Comarca de Poxoréu/MT, que nos termos do art. 69, do Decreto-Lei n. 167/67, julgou improcedente o pedido contido nos autos de suscitação de dúvida n. 07/2006, proposta em desfavor do Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos da Comarca de Poxoréu/MT. (fls. 78/80-TJ). Discorda a apelante da nota de devolução n , ao argumento de que se trata de ato que deverá ter efeito erga omnes, pois caso não procedida a prenotação, a matrícula do imóvel objeto da penhora estará livre para ser transferida sem qualquer ressalva acerca da existência de uma ação promovida contra os proprietários. Sustenta que no tocante à alegação da Oficiala Registradora de que existe hipoteca impedindo o registro da penhora, este argumento não pode prevalecer, até porque a apelada procedeu ao registro da penhora de outros credores sobre a mesma matrícula, mesmo diante dos gravames hipotecários existentes. Dessa forma, entende a apelante que se os registros anteriores foram deferidos não há porque se negar o registro determinado em seu nome e objeto da presente nota devolutiva. Pede o provimento do recurso para que se retifique a sentença e julgue procedente a dúvida suscitada para ser determinado à apelada que proceda ao registro de penhora nas matrículas indicadas. (fls.83/90-tj). Devidamente intimada, a apelada não apresentou resposta ao recurso. (fl. 97-TJ). Fl. 2 de 6

3 (fls.117/119-tj). Parecer da Procuradoria Geral de Justiça pelo improvimento do recurso. É o relatório. PARECER (ORAL) O SR. DR. JOSÉ ZUQUETI Ratifico o parecer escrito. VOTO EXMO. SR. DR. ANTONIO HORÁCIO DA SILVA NETO (RELATOR) Egrégia Câmara: O cerne da questão posta a exame consiste em saber se possível, ou não, penhora sobre imóvel objeto de garantia hipotecária decorrente da emissão de cédula de crédito rural, por conta do disposto no art. 69, do Decreto-Lei n. 167/67, que disciplina a emissão deste tipo de título de crédito. Ressai dos autos que foram apresentadas 2 (duas) certidões para registro de penhora, referentes aos imóveis objeto das matrículas n e n , sendo que a matrícula n se encontra gravada com hipotecas cedulares de 1º, 2º, 3º e 4º graus em favor do Banco Bradesco S/A, e a matrícula n se encontra gravada com hipotecas cedulares em 1º, 2º, 3º e 4º graus em favor do Banco do Brasil S/A, a fim de garantir cédulas rurais pignoratícias. Como se observa dos autos, os documentos de fls. 23/27 revelam que o imóvel penhorado, objeto da matricula n , já estava gravado, bem antes da constrição, por hipotecas constituídas em favor do Banco Bradesco S/A, para garantia de várias cédulas rurais. Nesse caso, tem-se que não poderá subsistir a constrição efetivada. E Fl. 3 de 6

4 não pode pelo óbice estabelecido pelo art. 69, do Decreto-Lei n. 167/67, que assim dispõe: Art. 69. Os bens objetos de penhor ou de hipoteca constituídos pela cédula de crédito rural não são penhorados, arrestados ou seqüestrados por outras dívidas do emitente ou do terceiro empenhador ou hipotecante, cumprindo ao emitente ou ao terceiro empenhador ou hipotecante denunciar a existência da cédula às autoridades incumbidas da diligência ou a quem a determinou, sob pena de responderem por prejuízos resultantes de sua omissão. Sobre o tema o Supremo Tribunal Federal já teve oportunidade de apreciar hipótese similar a esta, quando do julgamento do REsp. n DF, cuja ementa acha-se assim orientada: CÉDULA RURAL HIPOTECÁRIA E PIGNORATÍCIA. DECRETO- LEI Nº 167/67, ARTIGO 69. O artigo 69 do Decreto-Lei nº 167/67 é taxativo no sentido de que não são penhoráveis os bens já onerados com penhor ou hipoteca constituídos por cédula rural. A impenhorabilidade não pode ser contornada, mesmo no caso em que o credor hipotecário admite a penhora desses bens. Recurso extraordinário conhecido e provido. (RTJ 114/1.212) Nesse sentido, é pacífica e iterativa a jurisprudência dos tribunais brasileiros, notadamente a do Superior Tribunal de Justiça, como exemplifica o seguinte julgado: EMENTA: PROCESSUAL CIVIL - EXECUÇÃO - EMBARGOS DE TERCEIRO - PENHORA INCIDENTE SOBRE BEM HIPOTECADO COM BASE EM CÉDULA DE CRÉDITO RURAL - INEXISTÊNCIA DE CONCORDÂNCIA DO CREDOR PRIVILEGIADO - INTERESSE PROCESSUAL - EXISTÊNCIA - NULIDADE DA CONSTRIÇÃO - DECRETO-LEI N. 167/67, ART VERBA HONORÁRIA - MANUTENÇÃO. I. O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento pacífico no sentido da impossibilidade de penhora de bem já hipotecado por força de cédula de crédito rural, ex vi da vedação contida no art. 69 do Decreto-lei n. 167/67. II. Fl. 4 de 6

5 Hipótese em que não foi demonstrado ter havido anuência do credor hipotecário, ainda que intimado o credor para manifestar-se na execução, circunstância que possibilitaria a atenuação da regra (REsp n /SP, 4' Turma, Rel. Min. Barros Monteiro, unânime, DJU de ). III. Recurso especial conhecido e desprovido. (STJ - Quarta Turma - REsp /MT - Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR - Julgado em 18/02/ DJ , p. 231). Igualmente, esta egrégia Câmara Cível a esse respeito assim se manifestou, consoante a ementa que transcrevo: EXECUÇÃO - PENHORA - IMÓVEL HIPOTECADO EM CÉDULA RURAL - IMPENHORABILIDADE - INTELIGÊNCIA DO ART. 69 DO DECRETO-LEI 167/67 - NULIDADE DECLARADA - ADMISSIBILIDADE - AGRAVO IMPROVIDO - DECISÃO UNÂNIME. Os bens onerados com hipoteca rural são impenhoráveis nos termos do artigo 69 do Decreto-Lei 167/67. (3ª Câmara Cível, Rel. Des. José Jurandir de Lima, Agravo de Instrumento nº 43344/2003, julgamento em 24/03/2004). Daí por que, como se trata de registro de penhora, o que não é juridicamente possível nos termos do Decreto-Lei n. 167/67, concluo que está correta a negativa do Oficial do Registro Público ao negar o registro pretendido pela apelante, o que me leva a entender que o recurso interposto não merece acolhida. Posto isso, nego provimento ao recurso. É como voto. Fl. 5 de 6

6 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a TERCEIRA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. JOSÉ TADEU CURY, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo DR. ANTONIO HORÁCIO DA SILVA NETO (Relator), DES. EVANDRO STÁBILE (Revisor) e DES. JOSÉ TADEU CURY (Vogal), proferiu a seguinte decisão: À UNANIMIDADE, IMPROVERAM O RECURSO. Cuiabá, 29 de junho de DESEMBARGADOR JOSÉ TADEU CURY - PRESIDENTE DA TERCEIRA CÂMARA CÍVEL DOUTOR ANTONIO HORÁCIO DA SILVA NETO - RELATOR PROCURADOR DE JUSTIÇA GEACOR Fl. 6 de 6