TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: XXXX ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº XXXXXX- XX , da Comarca de Santos, em que são apelantes KIRRA INVESTIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA e TECNISA SA, é apelado SONIA (Omitido). ACORDAM, em 2ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Deram parcial provimento ao recurso da parte ré e Negaram provimento ao recurso adesivo. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ALVARO PASSOS (Presidente sem voto), JOSÉ CARLOS FERREIRA ALVES E NEVES AMORIM., 18 de novembro de GIFFONI FERREIRA RELATOR Assinatura Eletrônica

2 APELAÇÃO nº XXXXXX-XX TRIBUNAL DE JUSTIÇA APELANTES: KIRRA INVESTIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA E TECNISA SA APELADO: SONIA (Omitido) COMARCA: SANTOS AÇÃO: PROMESSA DE COMPRA E VENDA VOTO Nº XXXX COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA IMÓVEL EM CONSTRUÇÃO ATRASO NA ENTREGA DE UNIDADE - CLÁUSULA DE TOLERÂNCIA DE 180 DIAS VALIDADE LOCATIVOS DE 0,5% CALCULADOS SOBRE O VALOR DA UNIDADE A CONTAR DO TÉRMINO DESTE PRAZO E ATÉ A ENTREGA DAS CHAVES JUROS DURANTE A CONSTRUÇÃO AFASTADOS DEVOLUÇÃO DETERMINADA - MULTA CONTRATUAL INEXISTENTE E QUE NÃO PODE SER CRIADA PELO JUDICIÁRIO PACTO QUE NÃO É DE ADESÃO PACTA SUNT SERVANDA DANO MORAL ASTRONÔMICO INEXISTENTE - SENTENÇA REFORMADA EM SUA MÓR PARTE - APELO DE PROVIMENTO PARCIAL RECURSO ADESIVO REPELIDO. Cuida-se de Apelação Cível vituperando a R. sentença de fls., que deu pela parcial procedência de feito Ordinário e condenou as rés a pagar dano material de 0,7% sobre o preço atualizado do negócio até a entrega das chaves, e com acréscimos, mais dano moral de 10% sobre valor atualizado do contrato, também acrescido de juros e correção, mais multa por inadimplemento no patamar de 2% sobre a importância atualizada do tratado; suspendida a exigibilidade das parcelas relacionadas com a entrega das chaves até sua efetiva concessão, afastada a incidência de quaisquer encargos, deferida ainda compensação do saldo devedor do contrato. No apelo de fls. relata o vencido Pessoa Jurídica da impossibilidade de suspensão das parcelas do saldo devedor, tudo com vencimento fixo e não atrelado APELAÇÃO Nº XXXXXX-XX SANTOS 2/6

3 às chaves, inadimplente a apelada antes de aspirado o prazo de tolerância, legais os juros que antecederam a entrega efetiva do bem, pois que se cuida de pagamento financiado, nem havendo como indenizar danos materiais, já que não comprovados, inviável a multa pois que não pactuada, expedido o habite-se, e ausente mora da parte ré; válida a atualização monetária sobre as parcelas do contrato, descabidos os danos morais, exorbitante a quantia deferida, e equivocada a sucumbência. Recurso Adesivo da autora postulando pelo indébito em dobro, tendo em vista a malícia na exigência, pretendendo ainda modificação da sucumbência. Petição da autora às fls. 403/404. Recursos bem processados. Esse o breve relato. Por exórdio, é manifesto o erro verificado no processamento do Recurso Adesivo de fls.; olvidou-se o insigne Magistrado de propiciar oportunidade para contrarrazões, e mesmo alertado através da petição de fls. 403, quedou-se inerte o Juízo; irrefragável nulidade, que apenasmente está superada ante a decisão que será realizada a seguir; mas o registro da eiva fica. Tocantemente ao mérito, a sentença não deu ao feito a melhor solução; pelo contrário, a visão emprestada no decisório fere de morte o Princípio insculpido no Artigo 884 do Código Civil; o que se afirma ante a astronômica indenização encontrada pelo Dr. Juiz de Direito para a figura do maltratado dano moral, que de proêmio fica afastado; esse critério diverge de todas as ensinanças do Magnífico Superior Tribunal de Justiça, e não pode subsistir, já que além desse abusivo quantum, não se há de falar em dano moral quando ocorre, tal como aqui, mero problema havido em contrato; afastadas também as artificiosas construções brandidas para a sua criação, na sentença. No que se refere ao pedido de multa, da mesma sorte convincentes as razões de recurso: não pode o Judiciário criar cláusula contratual onde as partes a não erigiram e se o autor firmou o pacto, deve assumir os ônus de sua conduta. Aplica-se aqui o PACTA SUNT SERVANDA, e nem a invocação do Código de Defesa do Consumidor pode sustentar a imposição encontrada pelo decisum além do que nem se alegou vício da vontade, quando do ajuste. Fica, dessarte, repelida a multa criada pelo decisório. APELAÇÃO Nº XXXXXX-XX SANTOS 3/6

4 Também equivocada a suspensão das parcelas do saldo devedor, já que o atraso na entrega do edifício é uma grandeza, e aquela figura outra. De aí que a tardança se sanciona sob a ótica das perdas e danos, nunca pela forma localizada pela sentença, denotadora de enorme prejuízo para o contratante. Fica, pois, mantida a exigibilidade de todas as parcelas do saldo devedor, e arcando o autor com as consequências de sua mora. No que se refere à cláusula de tolerância, deveras, detém ela integral validade; está-se diante do Princípio da Contratualidade Plena, e tal disposição foi livremente firmada, e apenasmente agora, anos empós, o Apelado se lembrou de a verberar. O Autor é PROFESSOR, pessoa detentora de Curso Superior, culto, esclarecido, e que não pode alegar ignorância do que firmou, e a cansativa argumentação da inicial, e do recurso, em contrário, não convence; O Contrato que tal, por suas peculiaridades, o vulto da obra, e normas de coerência e bom senso mandam à admissibilidade dessa cláusula, notando-se que as peculiaridades do mercado, as dificuldades ínsitas à construção e a notória dificuldade de obter atendimento hábil em Repartições Públicas justificam esse prazo, que não é excessivo. De aí fica reconhecida a validade dessa cláusula, que em nenhum momento ofende o Código de Defesa do Consumidor. Porém, nesse passo claudica o recorrente: seu atraso é confessado, e uma vez superado o período de 180 dias está o Réu em mora válida a imposição do locativo, nesse particular, e independentemente da finalidade para a qual fôra a unidade de ser utilizada pela parte autora: nítido o prejuízo com a não disponibilização da moradia, a parte Ré responde pelo prejuízo apenas que mais uma vez falhou a sentença com deferir outro valor exorbitante já que os repertórios de economia, e até os cadernos de jornais especializados em índices, revelam que as taxas atualmente oscilam em 0,5% do valor do bem - pelo que os locativos ficam fixados nesse patamar, a contar do dia final do prazo de tolerância e até a data de entrega das chaves, com os acréscimos legais, com apuração em execução. No pertinente à correção monetária também não se justifica a suspensão alvitrada em Primeiro Grau; a correção como mera recomposição da moeda, em verdade, nada acrescenta a dívida, e deferir sua retirada conforme procedido, afronta a unânime jurisprudência desta Corte Centenária; ficando mantida sua exigência. APELAÇÃO Nº XXXXXX-XX SANTOS 4/6

5 Com pertinência aos chamados juros no pé, nesse ponto falha o apelo; pois que não passam eles de juros compensatórios. Deveras, empós de longa meditação sobre o tema, e inda que mudando posicionamento anterior, em verdade não existe mesmo amparo legal bastante para tal exigência e se for permitida a cobrança de juros compensatórios como pretendido, haverá o detestável BIS IN IDEM pois que a construtora estará ganhando com a construção e venda do imóvel, e com o ganho financeiro permitido por essa malsinada exigência e, o que é pior, ganhando duplamente - pois que está recebendo o preço, mais o rendimento do numerário aplicado. Manifesto enriquecimento sem causa. Ver que o valor investido pela construtora, ou promitente vendedora, há que ser remunerado pelo lucro com a construção do prédio de apartamentos, com a realização da obra e se está aquela ganhando com esta, repita-se, não há como ganhar novamente, com a aplicação financeira. Ou uma coisa, ou outra. O ganho duplo incide na proibição do Art.884 suso apontado. Nessa dupla remuneração está o núcleo da vantagem exagerada, do ganho iníquo, indevido. Por mais que se perquira, não se consegue entender a finalidade dessa cobrança; se é para ressarcir a vendedora de despesas anteriores à construção, isso já foi composição do custo do imóvel, e está embutido no preço; a comutatividade não detém caráter absoluto e não subsiste ante a proibição do enriquecimento sem causa e o equilíbrio da avença não se pode cingir a tal cobrança, que não é a mór parte dos lucros da incorporadora; de resto, notar que esta, ou a construtora, não é Ente Financeiro a ganhar com juros. Ao derradeiro, a apelação das rés colhe acatamento, exceto no que se refere à questão dos locativos e dos juros durante a construção. Alfim, o recurso adesivo não encontra ressonância; não há falar-se na tal devolução dobrada, já que nem sequer se comprovou de malícia que ser carreada a ambas as partes, pois que sucumbentes. e a honorária a APELAÇÃO Nº XXXXXX-XX SANTOS 5/6

6 Com tais circunspecções pois, CONCEDE-SE parcial provimento ao recurso da parte ré, NEGANDO-SE ACATAMENTO ao recurso adesivo. L.B. Giffoni Ferreira RELATOR Assinatura Eletrônica APELAÇÃO Nº XXXXXX-XX SANTOS 6/6