TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 fls. 354 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de São Bernardo do Campo, em que é apelante ACS BETA EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA., são apelados JESUS CORREA LIMA, ELENA GONÇALVES LIMA e CLAUDINEI CORREA LIMA. ACORDAM, em 4ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MAIA DA CUNHA (Presidente) e ENIO ZULIANI., 27 de abril de 2017 HAMID BDINE RELATOR Assinatura Eletrônica

2 fls Voto n ª Câmara de Direito Privado. Ap. com revisão n Comarca: São Bernardo do Campo Apelante: ANC BETA EMPREENDIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA Apelados: JESUS CORREA LIMA E OUTROS Juíza: Fabiana Feher Recasens Resolução contratual. Compra e venda. Alegação de atraso na entrega do imóvel. Validade da cláusula de prorrogação. Atraso configurado. Inadimplemento absoluto. Compradores que não têm mais interesse. Resolução contratual por culpa da construtora. Devolução dos valores pagos devida. Impossibilidade de retenção. Culpa exclusiva da ré. Devolução integral. Sentença mantida. Recurso improvido. A r. sentença de fs. 176/180, cujo relatório se adota, julgou procedente o pedido inicial para declarar rescindido o contrato havido entre as partes, condenando a requerida a devolução de todos os valores pagos pelo consumidor, inclusive Sati e Corretagem, com correção do desembolso e juros da citação. Custas, despesas e honorários de sucumbência, fixados em 10% da condenação, pela ré. Inconformada, a ré apelou. Sustentou, preliminarmente, que é parte ilegítima para a devolução da corretagem. No mérito, afirmou que é válida a cláusula que prevê a retenção de parte do pagamento. Asseverou que o aditivo que previu prorrogação do prazo é válido e que o imóvel só não foi entregue por culpa dos autores. Sustentou que não tem o dever de restitui a SATI e corretagem, porque recebidas por terceiros e os serviços foram de fato prestados. APELAÇÃO nº /6

3 fls. 356 Recurso regularmente processado, com preparo (fs. 467/468) e com contrarrazões (fs. 472/488). É o relatório. O recurso deve ser improvido. É incontroverso nos autos que as partes celebraram contrato de compromisso de compra e venda do bem descrito na inicial, cujo prazo final para entrega era setembro de 2014, mas foi realizado aditivo contratual prorrogando a entrega para março de 2015, com possibilidade de prorrogação até maio do mesmo ano. Nesse ponto, importante ressaltar que não é abusiva a chamada cláusula de tolerância que, no caso, previu a possibilidade de atraso na entrega da obra em período de até 180 dias, conforme já decidido por esta Câmara em casos semelhantes: Ap. n , rel. Des. Ênio Zuliani, j , Ap. n , rel. Des. Natan Zelinschi de Arruda, j e Ap. n , rel. Des. Milton Carvalho, j Embora a apelante sustente que o habite-se foi expedido ainda no ano de 2014 (fs. 148), não há qualquer comprovação de que a unidade do apelado tenha sido disponibilidade, sendo este o momento a ser considerado para efeitos de cumprimento da obrigação. APELAÇÃO nº /6

4 fls. 357 Não havendo comprovação da efetiva entrega, ônus que incumbia aos apelantes, nos termos do art. 373, II, do CPC/15, não há que se falar em cumprimento da obrigação. Dessa forma, vencido o prazo para entrega 5, está evidenciado o inadimplemento da ré, cabendo ao credor optar pela continuidade do contrato com os efeitos da mora, nos termos do art. 394 do CC/02 e seguintes, ou pleitear a resolução por culpa da apelante, como dispõe o art. 389 do CC/02. Como a prestação já não era mais útil aos apelados, requereram a resolução do contrato, nos termos do art. 389 do CC/02 que determina, caso não cumprida a obrigação, que o devedor responderá pelas perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. Com relação aos pagamentos do preço, bem como os encargos desembolsados a título de SATI e Corretagem, de rigor a restituição total de tais valores, a fim de retornar as partes ao estado anterior à celebração do negócio. No caso, não há que se falar em retenção de parte das parcelas pagas, porque, embora esta C. Câmara venha limitando a retenção ao patamar 20% dos valores pagos, tal situação só se permite no caso de mora dos compradores, o que não ocorre no presente caso: APELAÇÃO nº /6

5 fls. 358 Rescisão contratual, cumulada com restituição de valores pagos. Compromisso de compra e venda de imóvel em construção. Adquirente reconheceu a inadimplência. Desfazimento do avençado apto a sobressair. Restituição de 80% dos valores pagos se apresenta adequada e caracteriza equilíbrio. Retenção de 20% é suficiente para cobrir os custos administrativos da apelante em relação ao negócio desfeito. Equilíbrio deve estar presente, inclusive por ocasião do desfazimento do pactuado, quando as partes retornam ao 'statu quo primitivo'. Apelo provido em parte (Ap. n , rel. Des. Natan Zelinschi de Arruda, j ). COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA. Resolução de contrato de compromisso de compra e venda. Desistência dos consumidores adquirentes. Corretagem. Negócio concretizado. Forma válida de remunerar diretamente os prestadores de serviços contratados pela vendedora. Hipótese em que, entretanto, resolvida a avença, referida verba deve ser reputada parte integrante do preço. Precedentes da jurisprudência. Devolução das parcelas de rigor, autorizada a retenção de 20%. Súmula nº1 deste E. Tribunal. Recurso parcialmente provido (Ap. n , rel. Des. Milton Carvalho, j ). Sendo a hipótese de resolução contratual por culpa da construtora, ora apelante, não há que se autorizar qualquer retenção, sendo nula a cláusula que dispõe em contrário. Até por isso não há que se falar em ilegitimidade ou que não foi a destinatária dos valores pagos a título de SATI e Corretagem, porque a restituição ora determinada não decorre da abusividade do repasse ao consumidor, mas sim de indenização APELAÇÃO nº /6

6 fls. 359 devida pela apelante decorrente da sua mora e cuja a finalidade é retornar o consumidor ao estado anterior à celebração do negócio. Por fim, os honorários de sucumbência foram fixados em 10% sobre a condenação. Havendo recurso da parte vencida, o art. 85, parágrafo 11º, do CPC/15, determina a majoração, diante do maior tempo e trabalho despendido pelo patrono da apelada. condenação. recurso. Assim, a verba fica majorada para 20% sobre a Diante do exposto, NEGA-SE provimento ao Hamid Bdine Relator APELAÇÃO nº /6