ANALISE DAS ANOMALIAS DAS TEMPERATURAS NO ANO DE 2015
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- Lívia Cesário Lopes
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1 ANALISE DAS ANOMALIAS DAS TEMPERATURAS NO ANO DE 2015 O ano de 2015 foi marcado pela sensação de calor maior que em anos recentes, também muito quentes. Segundo a Agência Espacial Americana (NASA), o ano de 2015 foi o mais quente já registrado no planeta desde 1880, com 0,90 C acima da média do século XX e 0,16 C acima do recorde anterior, registrado em O objetivo desta nota técnica é verificar se realmente o ano de 2015 foi o mais quente já registrado no Brasil e quais as regiões mais notáveis. Toda a análise é baseada nas medições das temperaturas médias registradas em 237 estações meteorológicas do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), espacialmente distribuídas no território brasileiro. Importante frisar que o período histórico analisado é menor que o apresentado pela NASA, pois os dados meteorológicos observados e disponíveis digitalmente no INMET, para a maior parte das estações, tem pouco mais de 50 anos (desde 1961). Análise da Temperatura do ar no Brasil durante 2015 Os mapas da Figura 1 mostram a evolução, de janeiro a dezembro de 2015, das anomalias das temperaturas médias registradas. Percebe-se que em todos os meses predominaram áreas com anomalias positivas, ou seja, com temperaturas médias mensais que ultrapassaram a média histórica do período de referência No entanto, tais anomalias foram mais fortes em magnitude, assim como em abrangência espacial, a partir do mês de junho de Essa característica esteve associada ao desenvolvimento do fenômeno El Niño nas águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical, que se estabilizou a partir de abril, quando as anomalias da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) ultrapassaram 0,5 C em relação a sua média histórica, em uma área de referencia para monitoramento no Oceano Pacífico denominada Área Niño 3.4. Estudos demonstram que, em anos de El Niño, a temperatura média em grande parte do Brasil tende a ficar mais elevada, principalmente durante o inverno na Região Sudeste.
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3 Figura 1 - Anomalias das temperaturas médias, em C, observadas entre janeiro e dezembro de 2015, em relação à média do período
4 A temperatura média no Brasil, tomando-se como base as temperaturas médias observadas em todas as 237 estações meteorológicas do INMET, relativa ao período de referencia , é de 23,78 C. Em 2015 a temperatura média foi de 24,74 C, um desvio de 0,96 C acima da média, colocando 2015 como o ano mais quente já registrado no Brasil desde 1961, deixando em segunda posição o ano de 1998, até então o ano mais quente, com temperatura média de 24,42 C, ou 0,64 C acima da média. A Figura 2 mostra o gráfico das temperaturas médias registradas anualmente, a partir de 1961 até A linha vermelha indica a média climatológica, possibilitando observar que a partir do ano de 2001 todos os anos apresentaram temperaturas médias anuais superiores à média climatológica. A Figura 3 mostra um gráfico com desvios de temperatura, com predomínio de desvios positivos a partir de Temperatura ( C) 25,0 24,5 24,0 23,5 23,0 22,5 22,0 Temperatura Média Anual no Brasil de 1961 a 2015 Médias Anuais Média Climatológica Anos Figura 2 - Temperaturas Médias do Brasil entre 1961 e 2015, em C, versus a climatologia, tomando-se como base as temperaturas médias observadas em 237 estações meteorológicas do INMET. Desvio ( C) 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0-0,2-0,4-0,6-0,8-1,0 Desvios da Temperatura Média Anual no Brasil entre 1961 e 2015 em Relação à Média Anos Figura 3 - Desvios das Temperaturas Médias do Brasil entre 1961 e 2015, em C.
5 A Tabela 1 mostra o ranking dos dez anos mais quentes no Brasil, com respectivo valor absoluto e desvio em relação a média climatológica. Tabela 1: Os dez anos mais quentes no Brasil. Temperatura Média Ano Observada ( C) Desvio ( C) ,74 0, ,42 0, ,30 0, ,28 0, ,26 0, ,20 0, ,18 0, ,16 0, ,12 0, ,11 0,33 A Tabela 2 mostra a distribuição das temperaturas médias observadas nas cinco regiões brasileiras no ano de A que apresentou as maiores temperaturas foi a região Centro-Oeste, com 1,21 C acima da média. Tabela 2: Temperaturas médias observadas por regiões brasileiras no ano de Região Temperatura Média ( C) Observado em 2015 ( C) Desvio ( C) Norte 26,29 27,30 1,01 Nordeste 24,98 25,84 0,86 Centro Oeste 23,92 25,13 1,21 Sudeste 22,62 23,58 0,96 Sul 19,36 20,29 0,93 A Tabela 3 mostra a distribuição das temperaturas médias observadas mensais do ano de 2015 no Brasil, desvios em relação a média e ano do maior recorde para cada um destes meses. Nota-se que sete meses do ano de 2015 apresentaram recordes históricos das temperaturas médias. Este fator é fundamental para colocar o ano de 2015 como o mais quente do Brasil, em mais de 50 anos, desde 1961.
6 Tabela 3: Distribuição das temperaturas médias observadas mensais em 2015 no Brasil, desvios e ano do recorde. Meses de 2015 Temperatura Observada ( C) Desvio em relação a Média ( C) Ano do Recorde Janeiro 26,06 0, Fevereiro 25,39 1, Março 25,11 0, Abril 24,59 1, Maio 23,26 0, Junho 22,56 1, Julho 22,49 1, Agosto 23,67 1, Setembro 25,23 1, Outubro 25,97 1, Novembro 26,18 1, Dezembro 26,41 1, A Figura 4a mostra o mapa da temperatura média observada em 2015 e a Figura 4b suas respectivas anomalias distribuídas espacialmente para o Brasil, em C. (a) (b) Figura 4- (a) Temperaturas médias observadas em 2015 e (b) respectivas anomalias em relação à média histórica, em C. Evolução do Fenômeno El Niño A circulação geral da atmosfera é modificada por uma série de fatores ao longo do ano, com grande variação temporal e espacial. O fenômeno conhecido como El Niño tem sua origem na mudança da circulação dos ventos no sentido zonal (leste-oeste) na área do Oceano
7 Pacífico tropical. Esta mudança no padrão dos ventos, que favorece a formação do El Níño, auxilia o acúmulo de águas mais aquecidas sobre a faixa equatorial do Oceano Pacífico, causando mudanças dos padrões climáticos médios observados. O El Niño é a parte oceânica de um fenômeno acoplado entre atmosfera e oceano (conhecido como El Niño-Oscilação do Sul), afetando o clima a níveis regionais e globais. As áreas oceânicas mais importantes para monitoramento da ocorrência deste fenômeno estão indicadas na Figura 5, denominadas Niño 1+2, Niño 3, Niño 4 e Niño 3.4. Figura 5- Áreas do Oceano Pacífico tropical utilizadas para o monitoramento do fenômeno El Niño. O monitoramento da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) em toda a bacia do Oceano Pacífico é de fundamental importância para acompanhamento da evolução do fenômeno, e possibilitar previsões sobre sua intensidade e duração. Os mapas da Figura 6 mostram o progresso, entre janeiro e dezembro de 2015, do fenômeno El Niño. O atual episódio atingiu seus maiores valores de anomalias positivas da TSM a partir de agosto, com o trimestre outubro-novembro-dezembro apresentando os desvios mais pronunciados até o momento. Este episódio é classificado como de forte intensidade, situando-se entre os mais fortes já ocorridos e monitorados.
8 Figura 6 Anomalias da TSM, em C, observadas entre janeiro e dezembro de 2015.
9 Nota: Participaram da elaboração desta Nota Técnica: Fabrício Daniel dos Santos Silva e Mozar de Araújo Salvador Coordenação-Geral de Desenvolvimento e Pesquisa (CGDP/INMET)
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