R E L A T Ó R I O. O Desembargador Federal JOSÉ MARIA LUCENA (Relator):

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1 PROCESSO Nº: APELAÇÃO R E L A T Ó R I O O Desembargador Federal JOSÉ MARIA LUCENA (Relator): Cuida-se de ação ordinária ajuizada por ESTAF EQUIPAMENTOS S/A, objetivando afastar a limitação imposta pela Portaria Interministerial MTB/MF/MS 326/1977, pela Instrução Normativa 267/02 e pelo Decreto 05/91, ao fixarem custo máximo por refeição para fins de dedução do IRPJ prevista pela Lei 6321/76, em decorrência de adesão da empresa ao PAT - Programa de Alimentação do Trabalhador. Proferida a sentença, o ilustre magistrado a quo julgou procedente o pedido para afastar a limitação da Portaria Interministerial MTB/MF/MS nº 326/1977, da Instrução Normativa nº 267/02 e do Decreto nº 05/91, de modo a possibilitar a integral dedução das despesas com a alimentação dos trabalhadores nos termos da Lei 6.321/76, assegurando o direito à restituição ou compensação do indébito decorrente das despesas com alimentação não deduzidas do IRPJ nos últimos 05 anos. Em sede de embargos de declaração, a sentença foi integrada para determinar que a dedução assegurada nos termos do art. 1º da Lei 6.321/76 obedeça ao limite previsto no art. 6º da Lei 9.532/97, ficando limitada a 4% do imposto de renda devido. Nas razões da apelação, a Fazenda Nacional sustenta a inexistência de ilegalidade em relação ao Decreto 05/91, porquanto não ter fixado limitação ao benefício instituído pela Lei 6321/76. Ao final, invoca a impossibilidade de restituição ou compensação dos valores despendidos com o PAT, porque tais valores não representam recolhimento de tributo e não ingressaram nos cofres da União. Contrarrazões apresentadas. RELATEI.

2 PROCESSO Nº: APELAÇÃO V O T O O Desembargador Federal JOSÉ MARIA LUCENA (Relator): A matéria a ser enfrentada versa sobre a análise das normas regulamentadoras do benefício fiscal previsto pela Lei 6321/76, no concernente à dedução do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica diante da adesão da empresa ao PAT - Programa de Alimentação do Trabalhador, bem como o direito à restituição/compensação dos valores porventura não abatidos na apuração do dito tributo. A Lei n.º 6.321/76 instituiu o incentivo fiscal em questão, estabelecendo, em seu o art. 1º, que as pessoas jurídicas poderão deduzir do lucro tributável, para fins do imposto sobre a renda, o dobro das despesas realizadas em programas de alimentação do trabalhador, comprovadamente efetuadas no período base. Ao regulamentar a matéria em questão, o Decreto n.º 05, de 14 de janeiro de 1991, estabeleceu que a dedução deve ser feita sobre o imposto de renda devido, e corresponderá ao valor obtido com a aplicação da alíquota do imposto de renda sobre a soma das despesas realizadas com os programas de alimentação do trabalhador. Posteriormente, a Portaria Interministerial n.º 326/77 e a Instrução Normativa n.º 267/2002 fixaram o preço máximo por refeição do trabalhador a ser considerado no cálculo do benefício fiscal. As normas infralegais acima citadas (o Decreto n.º 5/91, a Portaria n.º 326/77 e a Instrução Normativa n.º 267/2002), ao estipularem condições e limitações não previstas na Lei n.º 6.321/76, extrapolaram os contornos traçados na Lei que pretendiam regulamentar, em flagrante desrespeito ao princípio da legalidade e da hierarquia das normas. Nesse sentido, é pacífica a jurisprudência desta Corte e do STJ, a exemplo:

3 TRIBUTÁRIO. PRESCRIÇÃO. PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR - PAT. DEDUÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA. LIMITAÇÕES IMPOSTAS PELA PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 326/77, INSTRUÇÕES NORMATIVAS DA SRF NºS 143/86 E 267/2002 E DECRETO 5/91. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E DA HIERARQUIA DAS LEIS. COMPENSAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. 1. Remessa oficial e apelação em face de sentença que, com fulcro no inciso I do art. 269 do Código de Processo Civil, concedeu, em parte, a segurança pleiteada pela parte autora para reconhecer-lhe o direito a deduzir do lucro tributário o dobros as despesas realizadas com o Programa de Alimentação do Trabalhador - PAT, limitando-se, a 5 % (cinco por cento) do referido lucro, observada a prescrição quinquenal. 2. O Pleno do Supremo Tribunal Federal, por meio da sistemática da repercussão geral, prevista no art. 543-B do Código de Processo Civil, quando do julgamento do RE , sedimentou o entendimento segundo o qual, vencida a vacatio legis de 120 dias, é permitida a aplicação do p2razo de cinco anos da Lei Complementar Nº. 118/2005 às ações ajuizadas a partir de então sendo inconstitucional, apenas, sua aplicação às ações ajuizadas anteriormente a esta data, casos em que deve ser aplicado o prazo de dez anos anteriormente vigente. (STF, RE , Rel.: Min. ELLEN GRACIE, Órgão Julgador: TRIBUNAL PLENO, Julgado em 04/08/2011, DJe: ) 3. Como o processo originário foi ajuizado em 22/01/2013, após, portanto, a vigência da LC Nº. 118/05, restam fulminadas pela prescrição todas as parcelas anteriores a 22/01/ É pacífico na jurisprudência pátria o entendimento no sentido de que as despesas com Programas de Alimentação do Trabalhador - PAT poderão ser deduzidas do lucro tributável das pessoas jurídicas, para fins de imposto de renda, observados os limites fixados pelas Lei Nº /76 e pela Nº /97. (Precedentes) 5. O art. 1º do Decreto n. 5/91, ao regulamentar a Lei n /76, promoveu modificações no critério de dedução das despesas com o PAT e estabeleceu como base de cálculo o imposto de renda devido e não do lucro tributável, extrapolando, dessa forma, os limites do poder regulamentar e, consequentemente, afrontando a hierarquia das leis e o próprio Princípio da Legalidade. (Precedentes) 6. Revestem-se de ilegalidade a Portaria Interministerial n. 326/77 e as Instruções Normativas SRF ns. 143/86 e 267/02, vez que, ao fixarem custos máximos para as refeições individuais, estabelecem restrições não previstas em lei para o gozo do incentivo fiscal relativo ao PAT, violando, assim, as diretrizes do Estado Democrático de Direito acima citadas. (Precedentes) 7. A partir da inteligência da Súmula nº. 213 do Superior Tribunal de Justiça - STJ, sabe-se que "o mandado de segurança constitui ação adequada para a declaração do direito à compensação tributária". (STJ Súmula nº /09/ DJ ) 8. No que tange à compensação pretendida, aquela Corte Superior, quando do julgamento do RESP , sedimentou, por meio da sistemática dos recursos repetitivos prevista no art. 543-C do CPC, o entendimento segundo o qual, em mandado de segurança, somente são compensáveis os recolhimentos indevidos comprovados nos autos. (STJ, RESP , Rel.: Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, Órgão Julgador: PRIMEIRA SEÇÃO, Julgado em: 13/05/2009, DJe: 25/05/2009) 9. Na espécie, o pedido aduzido na peça inaugural vai além da simples pretensão de reconhecimento do direito à realização de compensação, vez que a matéria em análise exige

4 juízo específico sobre elementos da própria compensação, a exemplo do reconhecimento do indébito tributário que lhe serve de base, acréscimos de juros, correção monetária e inexistência de prescrição Dessa forma, conclui-se que fica o impetrante limitado a compensar os recolhimentos efetivamente comprovados nos autos. (Precedentes) 10. No entanto, não foram trazidos ao presente processo quaisquer elementos de prova relativos aos pagamentos indevidamente realizados pelo impetrante como comprovante dos recolhimentos a compensar, razão pela qual deve ser rejeitado o pedido de compensação. 11. Apelo da FAZENDA NACIONAL improvido. 12. Remessa Oficial parcialmente provida apenas para afastar o direito à compensação pretendida, restringindo-se a decisão ao conhecimento do direito à dedução das despesas sem as restrições acima aduzidas. (PROCESSO: , APELREEX27997/PE, RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA, Segunda Turma, JULGAMENTO: 23/07/2013, PUBLICAÇÃO: DJE 01/08/ Página 377) PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. OMISSÃO. INOCORRÊNCIA. PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR (PAT). DEDUÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA DA PESSOA JURÍDICA. LIMITAÇÃO PREVISTA EXCLUSIVAMENTE EM NORMA INFRALEGAL. EXORBITÂNCIA EM RELAÇÃO À LEI 6.321/76. ILEGALIDADE. 1. Não ocorre ofensa ao art. 535, II, do Código de Processo Civil se o tribunal de origem decide, fundamentadamente, as questões essenciais ao julgamento da lide, apenas não adotando a tese invocada pela recorrente. 2. Há ilegalidade na norma infralegal que fixou custos máximos para as refeições individuais oferecidas pelo programa de alimentação do trabalhador, para fins de dedução do imposto de renda da pessoa jurídica, dada a exorbitância em relação à Lei 6.321/ Recurso especial não provido. (REsp /PE, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 12/11/2013, DJe 20/11/2013) RECURSO ESPECIAL. AGRAVO REGIMENTAL. TRIBUTÁRIO. PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR-PAT. IMPOSTO DE RENDA. INCENTIVO FISCAL. LEI Nº 6.321/76. LIMITAÇÃO. PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 326/77 E INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 267/02. ILEGALIDADE. PRECEDENTES. 1. A Portaria Interministerial n.º 326/77 e a Instrução Normativa n.º 267/02, ao fixarem custos máximos para as refeições individuais como condição ao gozo do incentivo fiscal previsto na Lei n.º 6.321/76, violaram o princípio da legalidade, porque extrapolaram os limites do poder regulamentar. Precedentes. 2. Agravo regimental não provido. (AGRESP , CASTRO MEIRA, STJ - SEGUNDA TURMA, DJE DATA:24/05/2012..DTPB:.)

5 Em sendo assim, correta a sentença ao assegurar ao autor o direito ao gozo do benefício fiscal previsto na Lei n.º 6.321/76, referente ao PAT - Programa de Alimentação do Trabalhador, sem as condições e limitações trazidas pelo Decreto nº 5/91, pela Portaria Interministerial nº 326/77 e pelas Instrução Normativa n.º 267/2002. Quanto à determinação constante da sentença, garantindo o direito de restituição ou compensação dos valores decorrentes das despesas com alimentação não deduzidas do IRPJ nos cinco anos anteriores à propositura da ação, não vejo qualquer desacerto. As limitações impostas pelas normas acima mencionadas implicaram dedução em despesas com alimentação fornecida ao trabalhador na apuração do IRPJ em valores inferiores aos assegurados pela Lei n.º 6.321/76, havendo, portanto, indébito a ser ressarcido ao contribuinte. Pelo exposto, nego provimento à apelação e à remessa obrigatória. ASSIM VOTO. PROCESSO Nº: APELAÇÃO E M E N T A TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA DA PESSOA JURÍDICA - IRPJ. DEDUÇÃO COM DESPESAS DE ALIMENTAÇÃO. LEI N.º 6.321/76. PAT - PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR. LIMITAÇÕES FIXADAS PELO DECRETO N.º 5/91, PELA PORTARIA INTERMINISTERIAL N.º 326/77 E PELA INSTRUÇÃO NORMATIVA N.º 267/2002. ILEGALIDADE. 1. Cuida-se de ação ordinária ajuizada com o objetivo de afastar a limitação imposta pela Portaria Interministerial MTB/MF/MS 326/1977, pela Instrução Normativa 267/02 e pelo Decreto 05/91, ao fixarem custo máximo por refeição para fins de dedução do IRPJ prevista pela Lei 6321/76, em decorrência de adesão da empresa ao PAT - Programa de Alimentação do Trabalhador. 2. A Lei n.º 6.321/76 estabeleceu, em seu o art. 1º, que as pessoas jurídicas poderão deduzir do lucro tributável, para fins do imposto sobre a renda, o dobro das despesas realizadas em programas de alimentação do trabalhador, comprovadamente efetuadas no período base. 3. Ao regulamentar a matéria em questão, o Decreto n.º 05, de 14 de janeiro de 1991, estabeleceu que a dedução deve ser feita sobre o imposto de renda devido, e corresponderá ao valor obtido com a aplicação da alíquota do imposto de renda sobre a soma das despesas realizadas com os programas de alimentação do trabalhador.

6 4. Posteriormente, a Portaria Interministerial n.º 326/77 e a Instrução Normativa n.º 267/2002 fixaram o preço máximo por refeição do trabalhador a ser considerado no cálculo do benefício fiscal. 5. As normas infralegais acima citadas (o Decreto n.º 5/91, a Portaria n.º 326/77 e a Instrução Normativa n.º 267/2002), ao estipularem condições e limitações não previstas na Lei n.º 6.321/76, extrapolaram os contornos traçados na Lei que pretendiam regulamentar, em flagrante desrespeito ao princípio da legalidade e da hierarquia das normas. 7. Quanto à determinação constante da sentença, garantindo o direito de restituição ou compensação dos valores decorrentes das despesas com alimentação não deduzidas do IRPJ nos cinco anos anteriores à propositura da ação, também não merece reparos. As limitações impostas pelas normas acima mencionadas implicaram dedução em despesas com alimentação fornecida ao trabalhador na apuração do IRPJ em valores inferiores aos assegurados pela Lei n.º 6.321/76, havendo, portanto, indébito a ser ressarcido ao contribuinte. Apelação e remessa obrigatória não providas. PROCESSO Nº: APELAÇÃO A C Ó R D Ã O Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Primeira Turma do egrégio Tribunal Regional Federal da 5.ª Região, por unanimidade, negar provimento à apelação e à remessa obrigatória, nos termos do relatório e voto constantes dos autos, que integram o presente julgado. JOSÉ MARIA LUCENA, Relator.