Classe: EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL Embargante: UNIMED-RIO VERDE COOPERATIVA DE TRABALHO MEDICO Embargado: AGENCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR - ANS

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1 Classe: EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL Embargante: UNIMED-RIO VERDE COOPERATIVA DE TRABALHO MEDICO Embargado: AGENCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR - ANS S E N T E N Ç A 1 I. RELATÓRIO Cuida-se de embargos à execução opostos pela UNIMED Rio Verde - Cooperativa de Trabalho Médico em desfavor da Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS, objetivando a extinção da ação de execução fiscal nº , em razão da ilegalidade da cobrança da Taxa de Saúde Suplementar pela inconstitucionalidade da regra que instituiu a sua base de cálculo. Narra a inicial em síntese que: a) a Taxa de Saúde Suplementar foi instituída pelo artigo 20, inciso I, da Lei 9.961/00; b) a estrutura da base de cálculo da referida taxa foi fixada através da RDC (Resolução da Diretoria Colegiada) nº 10/2000, atualizada pela RN nº 07/2000 e depois pela RN nº 89, de 15 de fevereiro de 2005; c) a Taxa de Saúde Suplementar é inexigível por contrariar a regra contida no artigo 97, incisos I e IV, do CTN, que prevê que a base de cálculo dos tributos deve ser estabelecida por lei submetida ao crivo do processo legislativo; d) a taxa em questão, calculada sobre o número de usuários, incide sobre a arrecadação da cooperativa de saúde e não guarda relação com seu fato gerador consistente no custo do exercício do poder de polícia exercido pela ANS, enquanto agência reguladora; e) a Constituição Federal, em seu artigo 145, 2º, proíbe que as taxas tenham base de cálculo própria de impostos; f) a Taxa de Saúde Suplementar é inconstitucional por ter característica de imposto, desvinculando da atividade estatal, pois ao exigir o recolhimento de R$ 2,00 (dois reais) sobre cada usuário dos planos de saúde, é o mesmo que cobrar um percentual sobre o montante mensal da arrecadação da operadora; e g) requer o reconhecimento da ilegalidade da cobrança da taxa de saúde suplementar pela inconstitucionalidade da regra que instituiu a sua base de cálculo. Procurações e documentos colacionados às fls. 14/165. Por meio do despacho de fl. 168, os embargos foram recebidos com efeito suspensivo. Ouvida, a Agência Nacional de Saúde Suplementar refuta a pretensão por meio da impugnação de fls. 172/207. No mérito, sustenta: a) a validade da Taxa de Saúde Suplementar e a legalidade da sua 1 Sentença Tipo A Pág. 1/5

2 base de cálculo, argumentando que referida taxa não tem identidade com os impostos, mas visa o custeio da atividade estatal exercida pela ANS, na qualidade de Agência Reguladora; b) a validade da inscrição em Dívida Ativa constante do feito executivo, em apenso, por ser o título líquido, certo e exigível. Instadas as partes a especificarem provas, a autora nada requereu e a ANS informou que a documentação colacionada aos autos é suficiente para demonstrar a improcedência do pedido, requerendo o julgamento antecipado da lide (fl. 213). Vieram os autos conclusos. Relatados. Decido. Sem preliminares, passo à análise do mérito. II. FUNDAMENTAÇÃO A Agência Nacional de Saúde Suplementar ANS foi criada pela Lei 9.961/2000, na forma de autarquia sob regime especial, com o objetivo de regular, normatizar, controlar e fiscalizar as atividades que garantam a assistência suplementar à saúde. A Taxa de Saúde Suplementar foi também instituída pela Lei 9.961/2000, a qual dispõe em seus artigos 18, 19 e 20, inciso I: Art. 18. É instituída a Taxa de Saúde Suplementar, cujo fato gerador é o exercício pela ANS do poder de polícia que lhe é legalmente atribuído. Art. 19. São sujeitos passivos da Taxa de Saúde Suplementar as pessoas jurídicas, condomínios ou consórcios constituídos sob a modalidade de sociedade civil ou comercial, cooperativa ou entidade de autogestão, que operem produto, serviço ou contrato com a finalidade de garantir a assistência à saúde visando a assistência médica, hospitalar ou odontológica. Art. 20. A Taxa de Saúde Suplementar será devida: I - por plano de assistência à saúde, e seu valor será o produto da multiplicação de R$ 2,00 (dois reais) pelo número médio de usuários de cada plano privado de Pág. 2/5

3 assistência à saúde, deduzido o percentual total de descontos apurado em cada plano, de acordo com as Tabelas I e II do Anexo II desta Lei; Conquanto seja certo o exercício do poder de polícia exercido pela ANS, a Lei 9.961/2000 não estabeleceu objetivamente a base de cálculo da Taxa de Saúde Suplementar apenas pelo que constou em seu artigo 20, inciso I: seu valor será o produto da multiplicação de R$ 2,00 (dois reais) pelo número médio de usuários de cada plano privado de assistência à saúde, deduzido o percentual total de descontos apurado em cada plano. Na verdade, somente a partir da Resolução RDC nº 10/2000, é que foi possível atribuir uma fixação mensurável à base de cálculo da Taxa de Saúde Suplementar, a qual, segundo o artigo 3º da referida resolução, será calculada sobre a média aritmética do número de usuários no último dia do mês dos 3 (três) meses que antecederam ao mês de recolhimento, de cada plano de assistência à saúde oferecido pelas operadoras. Estabelecendo isso, no intuito de apenas regulamentar o inciso I, do art. 20 da Lei 9.961/2000, tal ato normativo acabou por fixar a própria base de cálculo da referida taxa, o que afronta a disposição do art. 97, inciso IV, do Código Tributário Nacional, na medida em que a lei tributária determina que é inaceitável a fixação da base de cálculo por outro instrumento normativo que não a lei em seu sentido formal. Esse é o entendimento já firmado pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça, do qual cito precedentes:..emen: TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. TAXA DE SAÚDE SUPLEMENTAR, INSTITUÍDA PELA LEI 9.961/2000. BASE DE CÁLCULO DETERMINADA PELO ART. 3º DA RESOLUÇÃO RDC 10/2000. OFENSA AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ESTRITA, PREVISTO NO ART. 97, IV, DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL. PRECEDENTES DAS 1ª e 2ª TURMAS DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. I. O entendimento firmado pelo Tribunal a quo, quanto à inexigibilidade da Taxa de Saúde Suplementar - instituída pela Lei 9.961/2000 -, tendo em vista que sua base de cálculo foi determinada pelo art. 3º da Resolução RDC 10/2000, em contrariedade ao princípio da legalidade estrita, previsto no art. 97, IV, do CTN, está de acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça sobre o tema, havendo, nesse sentido, precedentes de ambas as Turmas que compõem a 1ª Seção desta Corte. II. Com efeito, tem o STJ se pronunciado no sentido de que "o art. 3º da Resolução RDC 10/00 acabou por estabelecer a própria base de cálculo da Taxa de Saúde Suplementar, que Pág. 3/5

4 foi criada pela Lei 9.961/00, de forma que não se pode aceitar a fixação de base de cálculo por outro instrumento normativo que não lei em seu sentido formal, razão por que inválida a previsão contida no referido art. 3º, por afronta ao disposto no art. 97, IV, do CTN" (STJ, AgRg no AREsp /RS, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, DJe de 19/05/2014), devendo-se destacar que "somente por meio da previsão do art. 3º da Resolução RDC nº 10 é que foi possível atribuir uma perspectiva objetivamente mensurável à base de cálculo da respectiva Taxa. Assim, no intuito de apenas regulamentar a dicção legal, tal ato normativo acabou por ter o condão de estabelecer a própria base de cálculo da referida taxa" (STJ, AgRg no REsp /RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de 09/11/2012). III. Agravo Regimental improvido...emen: (AGARESP , ASSUSETE MAGALHÃES - SEGUNDA TURMA, DJE DATA:11/12/2014..DTPB:.) (grifei)..emen: TRIBUTÁRIO. TAXA DE SAÚDE SUPLEMENTAR - TSS. BASE DE CÁLCULO EFETIVAMENTE DEFINIDA NA RESOLUÇÃO RDC N. 10. VIOLAÇÃO DO ART. 97, I E IV, DO CTN. INEXIGIBILIDADE DO TRIBUTO. PRECEDENTES. SÚMULA 83/STJ. Consoante precedentes de ambas as Turmas da Primeira Seção, a Taxa de Saúde Suplementar - TSS, prevista no art. 20, inciso I, da Lei n /2000, é inexigível, em decorrência da ofensa ao princípio da legalidade estrita, visto que sua base de cálculo somente fora definida pelo art. 3º da Resolução nº 10 da Diretoria Colegiada da ANS. Aplicação da Súmula 83/STJ. Agravo regimental improvido...emen: (AGRESP , HUMBERTO MARTINS - SEGUNDA TURMA, DJE DATA:11/03/2015..DTPB:.) Com tais considerações, valho-me do entendimento consagrado no Superior Tribunal de Justiça de que a definição da base de cálculo da Taxa de Saúde Suplementar pelo artigo 3º da Resolução RDC nº 10/2000 ofende o princípio da legalidade disposto no art. 97, IV, do Código Tributário Nacional, razão pela qual reconheço a inconstitucionalidade da Taxa de Saúde Suplementar e a sua consequente inexigibilidade. III. DISPOSITIVO Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE OS EMBARGOS, nos termos do art. 487, I, do Novo Código de Processo Civil, para reconhecer a inexigibilidade da Taxa de Saúde Suplementar prevista Pág. 4/5

5 no art. 20, inciso I, da Lei 9.961/2000, ante a inconstitucionalidade da definição da sua base de cálculo, ao tempo em que também JULGO EXTINTA A EXECUÇÃO FISCAL nº , com fundamento n art. 803, I, e 485, IV, ambos do Novo Código de Processo Civil. Sem custas, nos termos do art. 7º da Lei 9.289/96. Condeno a Agência Nacional de Saúde Suplementar ao pagamento de honorários advocatícios em favor da Embargante, que ora fixo no percentual de 10% (dez por cento) sobre o proveito econômico obtido, nos termos do art. 85, 3º, inciso I, do Novo CPC. Traslade-se cópia desta sentença para os autos da execução fiscal nº , em apenso. Transitado em julgado, autorizo a liberação do depósito realizado pela Embargante à fl. 141 do feito executivo para fins de garantia do juízo. Reexame necessário, nos termos do art. 496, II, do Novo CPC. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Rio Verde/GO, 17 de março de PAULO AUGUSTO MOREIRA LIMA Juiz Federal Pág. 5/5