PROCESSO Nº: AGRAVO DE INSTRUMENTO

Transcrição

1 Poder Judiciário RELATÓRIO Trata-se de embargos de declaração opostos em face do acórdão prolatado nestes autos, em que a eg. Quarta negou provimento ao agravo de instrumento interposto em face da decisão de recebimento da petição inicial da ação civil pública por ato de improbidade em desfavor de HÉLIO FERREIRA DE LIMA SANTOS, ora embargante. Requer, com fundamento 535 do CPC, seja sanada a omissão, para fins de prequestionamento, quanto ao art. 5º, incisos LIV e LV, ao art. 93, inciso IX, ambos da Constituição Federal; aos arts. 165 e 535, caput, incisos I e II, do Código de Processo Civil; e aos arts. 10, 11 e 17, 6º, 8º e 10 da Lei nº 8.429/92. É o que havia de relevante para relatar. Poder Judiciário VOTO Os embargos de declaração destinam-se, precipuamente, a desfazer obscuridade, a afastar contradições e a suprir omissões que eventualmente se registrem na decisão judicial. Essa modalidade recursal só permite o reexame do decisum embargado para o específico efeito de viabilizar um pronunciamento jurisdicional de caráter integrativo retificador que esclareça o conteúdo do julgado. O acórdão requestado assim se houve: "AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDÍCIOS DA CONDUTA ÍMPROBA CONFIGURADOS. RECEBIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL. AGRAVO IMPROVIDO.

2 1. Agravo de instrumento interposto contra decisão que, nos autos do processo originário, recebeu a petição inicial da Ação Civil Pública de Improbidade Administrativa. A ação foi proposta pela CEF face ao ora agravante, ex-gerente Geral da Instituição, relativos a pratica de supostos atos de improbidade administrativa, consubstanciados na criação de saldos fictícios em contas de sua titularidade para a geração de recursos destinados à aplicação em bolsa de valores por meio de Home Broker. 2. Afastada a alegação de nulidade da decisão agravada pela carência de fundamentação. A decisão recorrida mostrase suficientemente embasada ao sustentar a tese, com arrimo em jurisprudência do STJ, de que, na fase inicial da Ação de Improbidade Administrativa, o juízo baseia-se em cognição sumária, devendo preponderar o interesse público na elucidação da questão, sendo salutar o prosseguimento do feito, oportunizando-se ao réu o exercício da ampla defesa e do contraditório (art. 5.º, LV, da CF/88), já que os elementos contidos nos autos indica a plausibilidade do direito invocado pelo demandante, que se traduz na existência do ato de improbidade, bem como em indícios suficientes da autoria, não havendo contestação a ponto de repelir, de plano, as afirmativas da parte autora. Oportunamente ressaltado, ainda, que o exame de eventual ocorrência ou não de má-fé por parte dos réus escapa aos estreitos limites do juízo de prelibação, devendo ser detidamente analisado, em juízo de mérito, a partir de cognição exauriente, estabelecida quando já encerrada a dilação probatória. 3. O julgador, ao proferir a decisão, não está obrigado a examinar todos os fundamentos de fato e de direito trazidos para discussão, podendo conferir aos fatos qualificação jurídica diversa da atribuída, seja pelo autor, seja pelo réu, não se encontrando, portanto, obrigado a responder a todas as alegações das partes, nem a mencionar o dispositivo legal em que fundamentou sua decisão, cumprindo-lhe entregar a prestação jurisdicional, levando em consideração as teses discutidas no processo, enquanto necessárias ao julgamento da causa, indicando tão-só o fundamento de sua convicção no decidir. 4. Para haver o recebimento da inicial da Ação de Improbidade Administrativa, não é necessário que haja provas inequívocas dos atos ímprobos, mas indícios de condutas que podem se enquadrar como referidos atos e que, portanto, necessitam de uma maior investigação. 5. Hipótese em que os indícios suficientes para o recebimento da inicial estão presentes na medida em que: a) as condutas imputadas ao agravante teriam sido praticadas mediante o uso da sua senha privativa do cargo de Gerente Geral; b) ele teria realizado débitos na sua conta de poupança e transferido os valores para a sua conta corrente, gerando um saldo fictício, com o suposto objetivo de ter limite suficiente para aplicar na bolsa de valores, utilizando-se do sistema Home Broker; c) o agravante, segundo apurado em processo administrativo disciplinar instaurado pela CEF, sabia que as contas de poupança, quando ficavam com saldo negativo, não eram tarifadas pelo sistema; d) o fato de não haver contestação, pelos clientes, da movimentação financeira realizada por ele, por si só, não significa que houve a anuência deles. Nesse sentido, não há como se falar, com segurança, que as transferências foram autorizadas. 6. O ajuizamento da ACP foi precedida de PAD, em que foram devidamente assegurados os direitos de defesa do empregado, ora agravante, o que também se presta para demonstrar a validade dos indícios suficientes para o recebimento da inicial. 7. Agravo de instrumento improvido. Embargos de declaração prejudicados". No tocante ao prequestionamento de dispositivos legais, tem-se que o mesmo, objetivando evitar a inovação quando da análise da matéria pelos Tribunais Superiores, é admitido pela doutrina desde que a matéria seja ventilada por ocasião da elaboração da peça recursal, por ser imprescindível que o órgão "ad quem" adote explicitamente alguma tese a respeito do tema discutido, tornando-se assim "res" controversa. Requer, ainda, tal prequestionamento, como condição de admissibilidade, que o recorrente demonstre a razão pela qual os dispositivos legais restaram vulnerados. Frise-se, entretanto, que os embargos de declaração, ainda que interpostos para fins de prequestionamento, não se prestam para a revisão do julgamento. Outro não é, aliás, o entendimento já pacificado no âmbito deste Tribunal, valendo, por oportuno, conferir os seguintes

3 julgados: "PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DECLARATÓRIOS. REABERTURA DE DISCUSSÃO. MATÉRIA JÁ ANALISADA. IMPOSSIBLIDADE. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO, CONTRADIÇÃO E OBSCURIDADE. I. O Código de Processo Civil, em seu artigo 535, condiciona o cabimento dos embargos de declaração à existência de omissão, contradição ou obscuridade no acórdão embargado, não se prestando este recurso à repetição de argumentação contra o julgamento de mérito da causa. II. A menção a direito adquirido, e não a ato jurídico perfeito, ocorreu por apreciação jurídica dos fatos distinta daquela empreendida pelo autor, havendo divergência de interpretação e não omissão. Fundamento comum no art. 5º, XXXVI da CF/88. III. Ausência de manifesto interesse protelatório. Embargos utilizados para fins de prequestionamento explícito. IV. Embargos improvidos. (TRF 5ª. EEIAC /03/CE. Pleno. Rel. Des. Federal MARGARIDA CANTARELLI. DJ P. 705)." "EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PROCESSUAL CIVIL. CONTRATO DE MÚTUO HABITACIONAL. IMÓVEL ADJUDICADO PELO CREDOR. INDENIZAÇÃO POR BENFEITORIAS. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. REVISÃO DO JULGADO. IMPOSSIBILIDADE. - Os embargos declaratórios não se prestam a um reexame da matéria vista e devidamente discutida no decisum e, ainda que tenha nítido fim de prequestionamento, não está a Corte obrigada a responder questionário da parte, principalmente quando fundamentado próprio e suficientemente o acórdão embargado. (EDROMS 10296/SC, Rel. Min. JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, DJ: 09/10/2000, P.163). - Embargos de declaração rejeitados.(trf 5ª Região, EDAC390688/01/PE, Primeira Turma, DJ , p. 1314)" Ademais, constata-se que a decisão embargada analisou toda a matéria trazida à discussão, expondo de forma clara e minuciosa as razões pelas quais se negou provimento ao agravo interposto, para, lastreado nos elementos indiciários colacionados aos autos, manter o juízo delibatório positivo da ação de improbidade em comento. Dessa forma, o manejo dos presentes embargos de declaração possui clara finalidade de provocar o reexame da matéria, o que não se revela pertinente pela via eleita. No que diz respeito ao prequestionamento do art. 93, inciso IX, da Constituição Federal, cumpre registrar que o Supremo Tribunal Federal, ao julgar a Questão de Ordem no Agravo de Instrumento n /PE, sob o rito do art. 543-B do CPC, reafirmou a sua jurisprudência no sentido de que o supracitado dispositivo constitucional "exige que o acórdão ou decisão sejam fundamentados, ainda que sucintamente, sem determinar, contudo, o exame pormenorizado de cada uma das alegações ou provas, nem que sejam corretos os fundamentos da decisão" (Rel. Min. GILMAR MENDES, DJe 13/08/2010). Há de observar-se, por fim, que o juiz, ao proferir a decisão, não está obrigado a examinar todos os fundamentos de fato e de direito trazidos para discussão, podendo conferir aos fatos qualificação jurídica diversa da atribuída, seja pelo autor, seja pelo réu, não se encontrando, portanto, obrigado a responder a todas as alegações das partes, nem a mencionar o dispositivo legal em que fundamentou sua decisão, cumprindo ao mesmo entregar a prestação jurisdicional, levando em consideração as teses discutidas no processo, enquanto necessárias ao julgamento da causa, indicando tão-só o fundamento de sua convicção no decidir. Desta feita, conheço dos embargos de declaração para, entretanto, negar-lhes provimento.

4 É como voto. Poder Judiciário EMENTA PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDÍCIOS DA CONDUTA ÍMPROBA CONFIGURADOS. RECEBIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL. PREQUESTIONAMENTO. REDISCUSSÃO DA MATÉRIA. EMBARGOS CONHECIDOS E NÃO PROVIDOS. 1. Embargos de declaração opostos em face do acórdão prolatado nestes autos, em que a eg. Quarta negou provimento ao agravo de instrumento interposto em face da decisão de recebimento da petição inicial da ação civil pública por ato de improbidade em desfavor de HÉLIO FERREIRA DE LIMA SANTOS, ora embargante. 2. Requer, com fundamento 535 do CPC, seja sanada a omissão, para fins de prequestionamento, quanto ao art. 5º, incisos LIV e LV, ao art. 93, inciso IX, ambos da Constituição Federal; aos arts. 165 e 535, caput, incisos I e II, do Código de Processo Civil; e aos arts. 10, 11 e 17, 6º, 8º e 10 da Lei nº 8.429/ Os embargos de declaração destinam-se, precipuamente, a desfazer obscuridade, a afastar contradições e a suprir omissões que eventualmente se registrem na decisão judicial. Essa modalidade recursal só permite o reexame do decisum embargado para o específico efeito de viabilizar um pronunciamento jurisdicional de caráter integrativo retificador que esclareça o conteúdo do julgado. 4. No tocante ao prequestionamento de dispositivos legais, tem-se que o mesmo, objetivando evitar a inovação quando da análise da matéria pelos Tribunais Superiores, é admitido pela doutrina desde que a matéria seja ventilada por ocasião da elaboração da peça recursal, por ser imprescindível que o órgão "ad quem" adote explicitamente alguma tese a respeito do tema discutido, tornando-se assim "res" controversa. Requer, ainda, tal prequestionamento, como condição de admissibilidade, que o recorrente demonstre a razão pela qual os dispositivos legais restaram vulnerados. 5. A decisão embargada analisou toda a matéria trazida à discussão, expondo de forma clara e minuciosa as razões pelas quais se negou provimento ao agravo interposto, para, lastreado nos elementos indiciários colacionados aos autos, manter o juízo delibatório positivo da ação de improbidade em comento. 6. O manejo dos presentes embargos de declaração possui clara finalidade de provocar o reexame da matéria, o que não se revela pertinente pela via eleita. 7. No que diz respeito ao prequestionamento do art. 93, inciso IX, da Constituição Federal, registre-se que o Supremo Tribunal Federal, ao julgar a Questão de Ordem no Agravo de Instrumento n /PE, sob o rito do art. 543-B do CPC, reafirmou a sua jurisprudência no sentido de que o supracitado dispositivo constitucional "exige que o acórdão ou decisão sejam fundamentados, ainda que sucintamente, sem determinar, contudo, o exame pormenorizado de cada uma das alegações ou provas, nem que sejam corretos os fundamentos da decisão" (Rel. Min. GILMAR MENDES, DJe 13/08/2010). 8. O juiz, ao proferir a decisão, não está obrigado a examinar todos os fundamentos de fato e de direito trazidos para

5 discussão, podendo conferir aos fatos qualificação jurídica diversa da atribuída, seja pelo autor, seja pelo réu, não se encontrando, portanto, obrigado a responder a todas as alegações das partes, nem a mencionar o dispositivo legal em que fundamentou sua decisão, cumprindo ao mesmo entregar a prestação jurisdicional, levando em consideração as teses discutidas no processo, enquanto necessárias ao julgamento da causa, indicando tão-só o fundamento de sua convicção no decidir. 9. Embargos de declaração conhecidos e não providos. ACÓRDÃO Vistos, etc. Decide a Quarta Turma do, à unanimidade, CONHECER E NEGAR PROVIMENTO aos embargos de declaração, nos termos do voto do relator, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Recife, 28 de abril de 2015.