Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro Vigésima Quinta Câmara Cível A C Ó R D Ã O

Transcrição

1 Agravo de Instrumento nº Agravante: Massa Falida de Banco Morada S/A Agravado: Maria Idelzenth Magalhães Relator: Desembargadora Maria Isabel Paes Gonçalves A C Ó R D Ã O AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO MONITÓRIA. MASSA FALIDA. DECRETAÇÃO DE FALÊNCIA. GRATUIDADE DE JUSTIÇA INDEFERIDA. MASSA FALIDA QUE ESTÁ SUJEITA À LEI DE FALÊNCIA. NECESSIDADE DE RESPEITAR A PAR CONDITIO CREDITORUM. DIFICULDADE FINANCEIRA MOMENTÂNEA. POSSIBILIDADE, A CRITÉRIO DO JUIZO, DE DEFERIMENTO DO PAGAMENTO DAS CUSTAS AO FINAL. ENUNCIADO 27 DO FETJ. GARANTIA CONSTITUCIONAL DO ACESSO À JUSTIÇA. RECURSO A QUE SE DÁ PROVIMENTO. Vistos, relatados e discutidos este recurso de Agravo de Instrumento nº , em que é agravante MASSA FALIDA DE BANCO MORADA S/A e Agravado MARIA IDELZENTH MAGALHÃES. A C O R D A M os Desembargadores que compõem a Vigésima Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso, nos termos do voto da Relatora. Trata-se de Agravo de Instrumento interposto por MASSA FALIDA DE BANCO MORADA S/A contra a decisão de e-fls. 02/03 (Anexo 1) que indeferiu o pedido de gratuidade de justiça. Recorre a parte autora argumentando que todo o ativo da Massa estaria comprometido com o pagamento de inúmeros credores, apontando, inclusive, que haveria uma diferença de R$ ,00 (quinhentos milhões de reais) entre o ativo e passivo da empresa. Alega que teve o benefício concedido em outras demandas nas quais os julgadores prestigiaram seu direito de acesso à justiça colacionando, inclusive, julgado dessa Câmara.

2 Sustenta que o pleito de gratuidade não tem por objetivo apenas afastar os ônus processuais, mas também garantir patrimônio apto a resguardar o direito dos credores. Requer seja deferida a gratuidade de justiça ou, subsidiariamente, seja deferido o recolhimento de custas ao final da ação. Pleiteia a concessão de efeito suspensivo ao presente recurso. Decisão de e-fls. 19/20, deferindo o pedido de efeito suspensivo. Parecer ministerial às e-fls. 26/28 pelo parcial provimento do recurso para que seja deferido o pedido alternativo de recolhimento das custas processuais ao final do processo. É o relatório. Decido. Inicialmente, pontue-se que o presente recurso foi interposto na vigência do Código de Processo Civil de 2015, contra decisum publicado sob a égide do Código de Processo Civil de Nesse contexto, deve ser ressaltada a disposição do art. 14 do referido diploma legal, in verbis:... Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada. Defiro a gratuidade de justiça ao agravante, para fins de apreciação do presente recurso. Sem prejuízo, cinge-se a controvérsia à possibilidade de concessão do benefício. Trata-se a hipótese de pessoa jurídica que teve sua falência decretada pelo Juízo da 1ª Vara Empresarial da Comarca da Capital (processo nº ), em decorrência do vultoso passivo a descoberto, estimado em R$ 748 milhões de reais, o que, a priori, presume a hipossuficiência da agravante. Com efeito, o Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento, através da Súmula 481, no sentido de que em se tratando de pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos, é necessária a comprovação que justifique a concessão do benefício pretendido:

3 Faz jus ao benefício da Justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais. Acresça-se, ainda, a Súmula 121 desta Corte, segundo a qual A gratuidade de justiça a pessoa jurídica não filantrópica somente será deferida em casos excepcionais, diante da comprovada impossibilidade do pagamento das despesas processuais." In casu, o Agravante acosta aos autos o Balancete Patrimonial de 31/12/2014, apresentando um passivo de R$ ,09 e um ativo circulante a longo prazo de R$ ,29 (e-fls. 61 do Anexo 1), ratificando a situação de hipossuficiência. Todavia, a questão deve ser enfrentada e decidida à luz da Legislação Falimentar (Lei /05), vez que o agravante, na condição de falido, a ela se sujeita. Nesse sentido, traz-se a colação os seguintes julgados: AGRAVO DE INSTRUMENTO JDS LUIZ ROBERTO AYOUB VIGÉSIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL Julgamento: 15/10/15 AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE CONSUMO. MASSA FALIDA QUE REQUEREU GRATUIDADE DE JUSTIÇA, SENDO ESTA INDEFERIDA. DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA. MASSA FALIDA QUE TEM SEU ATIVO E CRÉDITOS REGIDOS PELA LEI /05. NECESSIDADE DE RESPEITAR A PAR CONDITIO CREDITORUM. FACULDADE DO JUÍZO DE DEFERIMENTO DE PAGAMENTO DE CUSTAS AO FINAL, NA FORMA DO ENUNCIADO 27 DO FETJ, A FIM DE MANTER A GARANTIA CONSTITUCIONAL DE ACESSO À JUSTIÇA. RECURSO A QUE SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO AGRAVO DE INSTRUMENTO DES. LEILA ALBUQUERQUE VIGÉSIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL Julgamento: 21/08/2015 AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO MONITÓRIA. CONTRATO DE EMPRÉSTIMO DE DINHEIRO. O pedido de

4 concessão do benefício da gratuidade de Justiça foi indeferido ao fundamento de prova de que não existe a alegada miserabilidade. Apesar de a parte Agravante possuir investimentos financeiros e participações em sociedades empresárias, entende-se que tem direito ao benefício da gratuidade de Justiça para que não seja negado seu direito de acesso à Justiça e, desse modo, seja viabilizada sua persecução de crédito para satisfazer obrigações perante seus credores como Massa Falida. PROVIMENTO DO RECURSO AGRAVO DE INSTRUMENTO DES. DENISE NICOLL SIMOES VIGÉSIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL Julgamento: 03/12/2015 AGRAVO DE INSTRUMENTO. GRATUIDADE DE JUSTIÇA. INDEFERIMENTO. MASSA FALIDA QUE REQUEREU GRATUIDADE DE JUSTIÇA, SENDO ESTA INDEFERIDA. DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA. Massa falida que tem seu ativo e créditos regidos pela lei /05. Necessidade de respeitar a par conditio creditorum, o que também ocorre na situação de liquidação extrajudicial. Faculdade do juízo de deferimento de pagamento de custas ao final, na forma do enunciado 27 do FETJ, a fim de manter a garantia constitucional de acesso à justiça. RECURSO A QUE SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO, A TEOR DO ART. 557, 1º-A, DO CPC. Esclareça-se, portanto, que nos termos do art. 84 da Lei /05, são considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, os relativos a : (...) III despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do seu produto, bem como custas do processo de falência; IV custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha sido vencida. (...)...

5 Desse modo, as custas e despesas do processo devem se sujeitar ao concurso de credores, devendo seu pagamento ser realizado seguindo a ordem estabelecida pelos arts. 83 e 84 da Lei de Falência, se o ativo da massa assim suportar, sob pena de conferir ao credor (Estado) um privilégio que não tem, o que violaria a par conditio creditorum. Ressalta-se que a ação principal (Monitória) tem por objetivo exatamente reaver créditos para fazer frente ao ativo ou, ao menos, minimizar os prejuízos que, no caso dos autos, necessariamente recairá sobre os credores da Massa. Assim, considerando que o interesse na demanda extrapola o interesse individual, vez que a Falência impõem o concurso universal de credores, o Agravante faz jus ao recolhimento das custas ao final do processo, na forma prevista no enunciado nº 27 do FETJ. À conta de tais fundamentos, voto no sentido de dar provimento ao agravo, para deferir ao agravante o pagamento das custas ao final, observada a legislação especial que regula a matéria. Rio de Janeiro, na data da assinatura digital. Desembargador MARIA ISABEL PAES GONÇALVES Relatora