FC Nº (Nº CNJ: ) 2016/CÍVEL
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- Vinícius Silveira Ávila
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1 APELAÇÃO CÍVEL. SERVIDOR PÚBLICO. DMLU. DMAE. CONVERSÃO DA URV. AUSÊNCIA DE PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE DIREITO. 1. Nos termos da orientação traçada pela Súmula 85 do STJ, em se tratando de ação que discute diferenças salariais decorrentes da conversão do Cruzeiro Real para a URV, não há que se falar em prescrição da pretensão, mas tão só das parcelas vencidas nos cinco anos anteriores ao ajuizamento do feito. 2. Conforme determinado no art. 22, caput e 2º, da Lei nº 8.880/94, a aplicação da média aritmética dos últimos quatro meses, anteriormente à conversão em URVs, não poderia conduzir ao pagamento, em cruzeiros reais, de valor remuneratório inferior àquele pago, em cruzeiros reais, no mês de fevereiro de 1994, em observância ao princípio constitucional da irredutibilidade de vencimentos (art. 37, XV, da CF). 3. No caso concreto, verifica-se que Município de Porto Alegre observou os ditames da Lei 8.880/94, não havendo perdas salariais a serem adimplidas pela Municipalidade. APELAÇÃO PROVIDA, AFASTADA A PRESCRIÇÃO. JULGADOS IMPROCEDENTES OS PEDIDOS, NA FORMA DO ART , 4º, DO CPC. APELAÇÃO CÍVEL Nº (Nº CNJ: ) CLAUDIOMIRO GOMES DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE LIMPEZA URBANA - DMLU DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE AGUA E ESGOTOS DE PORTO ALEGRE-DMAE QUARTA CÂMARA CÍVEL COMARCA DE PORTO ALEGRE APELANTE APELADO APELADO A C Ó R D Ã O 1
2 Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar provimento ao apelo para afastar a prescrição; e, na forma do art , 4º do CPC, em julgar improcedentes os pedidos. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores DES. ALEXANDRE MUSSOI MOREIRA (PRESIDENTE) E DES. ANTONIO VINICIUS AMARO DA SILVEIRA. Porto Alegre, 30 de novembro de DES. FRANCESCO CONTI, Relator. DES. FRANCESCO CONTI (RELATOR) R E L A T Ó R I O Trata-se de recurso de apelação interposto por CLAUDIOMIRO GOMES em face da sentença que reconheceu a prescrição de fundo de direito e julgou extinta ação ordinária ajuizada contra o DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE LIMPEZA URBANA - DMLU e o DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE ÁGUA E ESGOTOS DE PORTO ALEGRE - DMAE, nos seguintes termos (fls. 192/193): Diante do exposto, RECONHEÇO A PRESCRIÇÃO DE FUNDO DE DIREITO e JULGO EXTINTO o feito, com resolução de mérito, nos termos do artigo 487, inciso II, do NCPC. Condeno a parte autora ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, que fixo em 10% sobre o valor da causa, suspensa a exigibilidade em face da gratuidade judiciária. 2
3 Em suas razões (fls. 195/208), sustentou, preliminarmente, que não ocorreu a prescrição do fundo de direito, senão apenas das parcelas vencidas no quinquênio anterior ao ajuizamento da ação, considerando-se que as prestações são de trato sucessivo, conforme estabelece a Súmula 85 do STJ. Ressaltou, ao contrário do sustentado na sentença, que no Município de Porto Alegre também não ocorreu reestruturação de carreira, a Lei nº 9.870/2005 referida na sentença alterou unicamente a periodicidade do reajuste, passando de bimestral para anual, sem qualquer fixação de novos valores básicos dos vencimentos. Salientou que nem mesmo os réus alegam em suas defesas a fixação de novos valores básicos de vencimentos, mencionam apenas que a Lei nº 9.870/2005 altera o reajuste de bimestral para anual. No mérito, argumentou que restou claro que o ente público municipal, ao legislar matéria privativa da União, adotou critérios distintos daqueles previstos na Lei nº /1994, acarretando redução nos vencimentos, configurando-se uma flagrante inconstitucionalidade. O STF, no julgamento do RE , firmou posicionamento de que os municípios e estados deveriam realizar a média do valor dos vencimentos dos servidores relativos aos meses de novembro e dezembro de 1993 e janeiro e fevereiro de 1994 para obter o salário de março de 1994 em URV, sendo inconstitucionais as regras sobre conversão fixadas em lei estadual ou municipal e, por decorrência, o resultado de tais conversões não compensa nem substitui o direito a correta conversão, nos termos da Lei Federal. De outro lado, a data em que deveria ter ocorrido a conversão do salário coincidiu com o pagamento da bimestralidade aos servidores públicos municipais, a qual estava prevista por meio da Lei 6.855/91, que estabelecia a política salarial dos servidores do Município de Porto Alegre, com as alterações introduzidas pelas Leis 7.016/92, 7.052/92 e 7.269/93 e do Decreto nº datado de 26/05/1994. Ressaltou que o reajuste somente poderia ser aplicado após a correta conversão em URV dos vencimentos dos Servidores Municipais nos 3
4 termos da Lei Federal, eis que o Decreto /94 determina a aplicação do reajuste a contar de 1º de março de 1994, e nesta data o vencimento do autor, nos termos da Lei Federal, já deveria estar fixado em URV. Ademais, na época da conversão da moeda, todos os trabalhadores tinham direito a reajuste mensal, inclusive o salário mínimo era corrigido mensalmente, como forma de atenuar os efeitos da inflação. No momento em que houve a conversão da moeda, foi utilizado para tal conversão pelo governo o salário mínimo reajustado. Porém, os Munícipes de Porto Alegre, com a adoção da bimestralidade, não perceberam reajustes em janeiro e fevereiro, o qual foi aplicado somente em 01/03/94, assim, a média em URV estaria tomando por base valores totalmente defasados. Afirmou que a perícia contábil comprovou a existência da redução nos vencimentos. Citou precedentes. Assim, requereu o provimento do apelo. Foram apresentadas contrarrazões (fls. 210/214). Nesta instância, o Ministério Público opinou pelo conhecimento e provimento do recurso (fls. 223/224 verso). Esta Câmara adotou o procedimento informatizado e foi observado o disposto no artigo 931 e seguintes do CPC. É o relatório. V O T O S DES. FRANCESCO CONTI (RELATOR) Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso de apelação. Prescrição: Como postulado, deve ser afastada a prescrição reconhecida pela sentença, pois, nos termos da orientação traçada pela Súmula 85 do STJ, em se tratando de ação que discute diferenças salariais decorrentes da conversão do Cruzeiro Real para a URV, não há falar em prescrição da 4
5 pretensão, mas tão só das parcelas vencidas nos cinco anos anteriores ao ajuizamento do feito. A corroborar o entendimento: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO. NÃO OCORRÊNCIA DE VIOLAÇÃO AOS ARTS. 165, 458 E 535 DO CPC. ACÓRDÃO RECORRIDO DEVIDAMENTE FUNDAMENTADO. CONVERSÃO DE VENCIMENTOS EM URV. PRESCRIÇÃO. RELAÇÃO DE TRATO SUCESSIVO. SÚMULA 85 DO STJ. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO DESPROVIDO. [...] Nas ações que visam a diferenças salariais advindas da errônea conversão da moeda, a relação é de trato sucessivo, incidindo a prescrição nos moldes da Súmula 85/STJ. 3. Agravo Regimental do ESTADO DE PERNAMBUCO e OUTRO desprovido. (AgRg no AREsp /PE, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 24/04/2014, DJe 07/05/2014). Desta forma, passo desde já ao exame do mérito, de acordo com o art , 4º, do CPC 1, que determina o julgamento imediato da lide quando reformar sentença que reconhece a prescrição. Mérito: O STJ, ao julgar o Recurso Especial Repetitivo n SP, concluiu que alcançam todos os servidores públicos, sejam eles federais, distritais, estaduais ou municipais, as regras de conversão constantes da Lei nº 8.880/94, norma de ordem pública com aplicação geral e imediata que trouxe várias regras de transição com vistas à conversão do Cruzeiro Real para o Real, instituiu a Unidade Real de Valor - URV e determinou a conversão dos vencimentos dos servidores públicos em URV. Assim, por se tratar de norma de aplicação compulsória, é 1 Art A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. (...) 4 o Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau. 5
6 obrigatória a observância, pelos Estados e Municípios, dos critérios previstos na Lei nº 8.880/94 para a conversão dos vencimentos e proventos de seus servidores em URV (...). Desse modo, na conversão dos vencimentos do ora recorrente deve ser aplicada a sistemática estabelecida pela Lei nº 8.880/94, adotando-se, porém, a URV da data do efetivo pagamento nos meses de novembro de 1993 a fevereiro de 1994, ante o entendimento consolidado desta Corte segundo o qual, para os servidores cujos vencimentos eram pagos antes do último dia do mês, a data efetiva do pagamento é que deve ter sido adotada para fins de conversão, e não o último dia do mês. verbis: Estabelece o art. 22, 2º, da Lei Federal nº 8.880/94, in Art Os valores das tabelas de vencimentos, soldos e salários e das tabelas de funções de confiança e gratificadas dos servidores públicos civis e militares, são convertidos em URV em 1º de março de 1994, considerando o que determinam os arts. 37, XII, e 39, 1º, da Constituição, observado o seguinte: I - dividindo-se o valor nominal, vigente nos meses de novembro e dezembro de 1993 e janeiro e fevereiro de 1994, pelo valor em cruzeiros reais do equivalente em URV do último dia desses meses, respectivamente, de acordo com o Anexo I desta Lei, independentemente da data do pagamento; II - extraindo-se a média aritmética dos valores resultantes do inciso anterior. (...) 2º - Da aplicação do disposto neste artigo não poderá resultar pagamento de vencimentos, soldos ou salários inferiores aos efetivamente pagos ou devidos, relativamente ao mês de fevereiro de 1994, em cruzeiros reais, em obediência ao disposto nos arts. 37, inciso XV, e 95, inciso III, da Constituição. (grifei). Assim, só há que se falar em redução salarial nas situações em que os valores percebidos em março de 1994 sejam inferiores 6
7 àqueles percebidos no mês imediatamente anterior, calculados em Cruzeiros Reais. No caso em análise, o laudo pericial permite concluir que não houve perdas salariais em Cruzeiros Reais (fls. 160/174), ao passo que houve o pagamento de CR$ ,20, em fevereiro/94 e de CR$ ,00 em março/94 (fl. 165). Dessa feita, quanto ao Município de Porto Alegre, observa-se ter havido estrita observância aos ditames da Lei 8.880/94, porquanto o vencimento de março de 1994 é superior àquele auferido no mês anterior. Pelo exposto, voto por dar provimento ao apelo para afastar a prescrição e, na forma do art , 4º, do CPC, julgar improcedentes os pedidos formulados, mantendo os ônus de sucumbência, observada a AJG (fl. 43). Em atenção ao disposto no art. 85, 11, do CPC 2, majoro os honorários sucumbenciais, fixados na origem em 10% sobre o valor da causa para 12%, considerando o trabalho desenvolvido pelos procuradores em grau recursal. DES. ANTONIO VINICIUS AMARO DA SILVEIRA - De acordo com o(a) Relator(a). DES. ALEXANDRE MUSSOI MOREIRA (PRESIDENTE) - De acordo com o(a) Relator(a). 2 Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. [...] 11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em grau recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos 2 o a 6 o, sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao advogado do vencedor, ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos 2 o e 3 o para a fase de conhecimento. 7
8 DES. ALEXANDRE MUSSOI MOREIRA - Presidente - Apelação Cível nº , Comarca de Porto Alegre: "À UNANIMIDADE, DERAM PROVIMENTO AO APELO, AFASTANDO A PRESCRIÇÃO E, NA FORMA DO ART , 4º DO CPC, JULGARAM IMPROCEDENTES OS PEDIDOS." Julgador(a) de 1º Grau: MURILO MAGALHAES CASTRO FILHO 8
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