DESPACHO SEJUR N.º 527/2015

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1 DESPACHO SEJUR N.º 527/2015 (Aprovado em Reunião de Diretoria em 17/11/2015) Interessado: Dr. Bruno Lagoeiro (PEBMED) Expediente n.º 9823/2015 Assunto: Análise jurídica. Registro de pessoa jurídica perante os Conselhos de Medicina. Lei n.º 6.839, de 30 de outubro de Resolução CFM n.º 1.980/2011. Empresas de assessoria na área da saúde. I DOS FATOS Trata-se de comunicação encaminhada pelo médico B. L. CRM/RJ n.º , na qual informa ser sócio fundador da sociedade empresária PEBMED, que atua no ramo de desenvolvimento de softwares e aplicativos para smartphones direcionados ao público médico. Afirma que os produtos desenvolvidos pela sociedade empresária são pautados nas principais literaturas médicas nacionais e estrangeiras e fornece suporte técnico a mais de (sessenta mil) médicos e estudantes de medicina. Informa, também, que se trata de instituição criada por médicos para atender as demandas dos médicos, de modo a apoiar os profissionais em uma melhor compreensão dos principais conteúdos da prática clínica. Aduz, ainda, que os sócios da sociedade empresária também são médicos (Eduardo Moura, CRM n.º e Pedro Gemal, CRM n.º ). Por fim, afirma que tem por objetivo ser reconhecido como instituição médica por parte do CFM e das principais instituições médicas brasileiras, razão pela qual pretende promover o registro de sua empresa perante os Conselhos de Medicina. É o relatório. II DA ANÁLISE JURÍDICA Como se sabe, compete aos Conselhos de Medicina a fiscalização do exercício técnico e moral da medicina, bem como a efetivação do registro das pessoas físicas e jurídicas, conforme se depreende da leitura dos artigos 2º, 15 da Lei n.º 3268/57. Por sua vez, a Lei n.º 6.839, de 30 de outubro de 1980, que dispõe sobre o registro de empresas nas entidades fiscalizadoras do exercício das profissões, assinala que o registro das empresas se dará em razão da atividade básica ou em relação àquela pela qual prestem serviços, verbis:

2 Art. 1. O registro de empresas e a anotação dos profissionais legalmente habilitados, delas encarregados, serão obrigatórios nas entidades competentes para a fiscalização do exercício das diversas profissões, em razão da atividade básica ou em relação àquela pela qual prestem serviços a terceiros. Nesse contexto, o Conselho Federal de Medicina editou a Resolução CFM n.º 1.980/2011, para fixar regras para cadastro, registro, responsabilidade técnica e cancelamento para as pessoas jurídicas. Para uma melhor compreensão, convém transcrever trechos relevantes do citado ato normativo, a saber: Art. 1º A inscrição nos conselhos regionais de medicina da empresa, instituição, entidade ou estabelecimento prestador e/ou intermediador de assistência médica será efetuada por cadastro ou registro, obedecendo-se as normas emanadas dos conselhos federal e regionais de medicina. Art. 2º Os estabelecimentos hospitalares e de saúde, mantidos pela União, estados-membros e municípios, bem como suas autarquias e fundações públicas, deverão se cadastrar nos conselhos regionais de medicina de sua respectiva jurisdição territorial, consoante a Resolução CFM nº 997/80. Parágrafo único. As empresas e/ou instituições prestadoras de serviços exclusivos médicohospitalares mantidas por associações de pais e amigos de excepcionais e deficientes, devidamente reconhecidas como de utilidade pública, nos termos da lei, devem cadastrar-se nos conselhos regionais de medicina da respectiva jurisdição territorial. Art. 3º As empresas, instituições, entidades ou estabelecimentos prestadores e/ou intermediadores de assistência à saúde com personalidade jurídica de direito privado devem registrar-se nos conselhos regionais de medicina da jurisdição em que atuarem, nos termos das Leis nº 6.839/80 e nº 9.656/98. Parágrafo único. Estão enquadrados no caput do art. 3º deste anexo: a) As empresas prestadoras de serviços médico-hospitalares de diagnóstico e/ou tratamento; b) As empresas, entidades e órgãos mantenedores de ambulatórios para assistência médica a seus funcionários, afiliados e familiares; c) As cooperativas de trabalho e serviço médico; d) As operadoras de planos de saúde, de medicina de grupo e de planos de autogestão e as seguradoras especializadas em seguro-saúde; e) As organizações sociais que atuam na prestação e/ou intermediação de serviços de assistência à saúde; f) Serviços de remoção, atendimento pré-hospitalar e domiciliar; g) Empresas de assessoria na área da saúde;

3 h) Centros de pesquisa na área médica; i) Empresas que comercializam serviços na modalidade de administradoras de atividades médicas. Art. 4º A obrigatoriedade de cadastro ou registro abrange, ainda, a filial, a sucursal, a subsidiária e todas as unidades das empresas, instituições, entidades ou estabelecimentos prestadores e/ou intermediadores de assistência à saúde citadas nos artigos 2º e 3º deste anexo. Art. 5º O cadastro ou registro da empresa, instituição, entidade ou estabelecimento deverá ser requerido pelo profissional médico responsável técnico, em requerimento próprio, dirigido ao conselho regional de medicina de sua jurisdição territorial. (...) Como se vê, o art. 3º da Resolução dispõe que as empresas, instituições, entidades ou estabelecimentos prestadores e/ou intermediadores de assistência à saúde com personalidade jurídica de direito privado devem registrar-se nos conselhos regionais de medicina da jurisdição em que atuarem, ou seja, no CRM que possui competência para a fiscalização da atividade no Estado em que registrada a pessoa jurídica. Note-se que o art. 4º assevera a necessidade de registro e/ou cadastro de todas as unidades das empresas, instituições, entidades ou estabelecimentos prestadores e/ou intermediadores de assistência à saúde citadas nos artigos 2º e 3º. Por sua vez, da atenta leitura das referidas normas percebe-se que o registro de empresas e a anotação dos profissionais responsáveis se dará em razão da atividade básica ou em relação àquela pela qual prestem serviços a terceiros. A jurisprudência é farta neste sentido, vejamos: ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. HOSPITAL. REGISTRO. CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM. DESNECESSIDADE. Nega-se provimento ao agravo regimental, em face das razões que sustentam a decisão recorrida, sendo certo que, a atividade finalística de um hospital é a medicina, embora haja prestação de serviços de enfermagem neste estabelecimento, o que acertadamente conduz à dispensa de seu registro no Conselho de Enfermagem. 1 RECURSO ESPECIAL - ALÍNEAS "A" E "C" - AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 458 E 460 DO CPC - ADMINISTRATIVO - CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM - ENTIDADE HOSPITALAR - DESNECESSIDADE DE REGISTRO - SÚMULA N. 83/STJ. Embora prestem os estabelecimentos hospitalares serviços de enfermagem, estão dispensados da obrigatoriedade do registro junto ao Conselho de Enfermagem da Região, tendo em vista que a atividade médica é preponderante. Precedentes: REsp n , Rel. 1 AGRG NO AG / AC - MINISTRO FRANCISCO FALCÃO - DJ P. 242

4 Min. Eliana Calmon, DJU e REsp n /SP, Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, DJU Recurso especial não conhecido. 2 Todavia, no caso dos autos há peculiaridade a ser enfrentada, eis que a sociedade empresária que busca registro perante os Conselhos de Medicina não possui como atividade fim o exercício do ato médico com a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das doenças diretamente entre o profissional médico e o paciente, como ocorre nos hospitais e clínicas médicas. Como se observa, a sociedade empresária possuiria como objeto principal de sua atividade o desenvolvimento de softwares voltados ao público médico, o que, em uma análise superficial, poderia levar a crer que não haveria obrigatoriedade de registro perante os Conselhos de Medicina. Ocorre, porém, que o art. 3º, itens g e h, da Res. CFM n.º 1980/11, estabelecem a obrigatoriedade de registro perante os CRM s das empresas que desenvolvem as seguintes atividades: g) Empresas de assessoria na área da saúde; h) Centros de pesquisa na área médica; Em verdade, ao desenvolver soluções tecnológicas voltadas quase que de forma exclusiva ao público médico, utilizando-se de literatura médica e direcionando a conduta dos profissionais médicos que utilizam o aplicativo, a sociedade empresária desenvolve verdadeiro serviço de assessoria na área de saúde, bem como atua na pesquisa da área médica. Em breve consulta na homepage é possível verificar que existem aplicativos que funcionam como Guia de Prescrições Médicas, Manejo do doente crítico, calculadoras e condutas práticas em CTI, diagnósticos e terapêuticas no âmbito do serviço de emergência e Guia de condutas em pediatria. Ou seja, guias de orientação de atividades privativas dos profissionais médicos. Ademais, os profissionais médicos que atuam na formação e disponibilização do conhecimento médico por meios dos citados aplicativos exercem verdadeira função de diretor técnico, de modo a responder, assim, eticamente por todas as informações prestadas perante os conselhos federal e regionais de medicina. Desse modo, a atividade empresarial exercida, em que pese não estar primariamente relacionada ao exercício do ato médico, possui como foco principal a produção de conhecimento médico em verdadeira atividade de assessoria e pesquisa na área médica, o que determina, portanto, a necessidade de registro da pessoa jurídica no CRM, nos termos da Lei n.º 6.839/1980 e da Resolução CFM n.º 1.980/ RESP / RS - MINISTRO FRANCIULLI NETTO - DJ P. 293

5 Por derradeiro, conforme questionado pelo consulente, o procedimento de inscrição da pessoa jurídica deverá ser formulado perante o CRM da sua base territorial, devendo atender aos requisitos do art. 6º da Resolução CFM n.º 1.980/2011, a saber: Art. 6º No requerimento devem constar as seguintes informações: a) Relação de médicos componentes do corpo clínico, indicando a natureza do vínculo com a empresa, se associado ou quotista, se contratado sob a forma da legislação trabalhista ou sem vínculo; b) Número de leitos; c) Nome fantasia, caso haja; d) Nome e/ou razão social; e) Endereço completo; f) Natureza jurídica; g) Tipo de estabelecimento (hospital, clínica, laboratório, dentre outros); h) Capital social; i) Especialidades desenvolvidas; j) Nome e número de CRM do médico responsável técnico; k) Nome e número de CRM do médico diretor clínico eleito, caso haja; l) Qualificação do corpo societário; m) Qualificação do responsável pela escrita fiscal; n) Número de inscrição no CNPJ do Ministério da Fazenda; o) Licença de funcionamento da prefeitura municipal, de acordo com a legislação local; p) Alvará da vigilância sanitária. Parágrafo primeiro. O requerimento a que se refere o caput do art. 6º deste anexo deverá ser instruído, no mínimo, com as seguintes documentações: a) Instrumento de constituição (contrato social, estatuto, ata de fundação, dentre outros); b) Cópia do cartão de inscrição no CNPJ do Ministério da Fazenda; c) Alteração do instrumento de constituição, caso haja; d) Comprovante de pagamento das taxas de inscrição, anuidade e certificado; e) Ata da eleição do diretor clínico e comissão de ética, quando for o caso;

6 III DA CONCLUSÃO f) Alvará da vigilância sanitária; g) Licença da prefeitura municipal para funcionamento. Portanto, este Sejur entende que: a) A atividade empresarial exercida pela sociedade empresária PEBMED (Desenvolvimento de soluções tecnológicas voltadas ao público médico, utilizando-se de literatura médica e direcionando a conduta dos profissionais médicos), em que pese não estar primariamente relacionada ao exercício do ato médico, possui como foco principal a produção de conhecimento no ramo da medicina em verdadeira atividade de assessoria e pesquisa da área médica, o que determina, portanto, a necessidade de registro da pessoa jurídica no CRM/CFM, nos termos da Lei n.º 6.839/1980 e da Resolução CFM n.º 1.980/2011. b) O procedimento de inscrição da pessoa jurídica deverá ser formulado perante o CRM da sua base territorial, devendo atender aos requisitos do art. 6º da Resolução CFM n.º 1.980/2011. É o que nos parece, s.m.j. Brasília/DF, 15 de outubro de De Acordo: José Alejandro Bullón Chefe do SEJUR Rafael Leandro Arantes Ribeiro Advogado do Conselho Federal de Medicina OAB/DF n.º