PROCESSO CONSULTA Nº 02/2012 PARECER CONSULTA Nº 05/2014
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1 PROCESSO CONSULTA Nº 02/2012 PARECER CONSULTA Nº 05/2014 Solicitante: DR. H. A. R. S. CRM/GO XXXX Conselheiro Parecerista: DR. HAROLDO DE OLIVEIRA TORRES Assunto: COBRANÇA PELO HOSPITAL DE PERCENTAGEM SOBRE HONORÁRIO MÉDICO EM CASO DE CIRURGIA, INDEPENDENTE DO PROCEDIMENTO. Ementa: A cobrança de honorários médicos e custos hospitalares, envolvem atos e fatos com premissas, direitos e deveres diferentes. Cada um, equipe médica e hospital, devem pactuar seus valores como paciente ou seu responsável com autonomia e independência. Sr. Presidente, Srs(as). Conselheiros(as), Designado que fui para emitir relatório do presente Processo Consulta, o faço da forma que se segue: PARTE EXPOSITIVA DA SOLICITAÇÃO: Trata-se de solicitação encaminhada a este Conselho pelo Dr. H. A. R. S., nos seguintes termos: Solicito parecer consulta acerca do seguinte assunto: É permitido ao Hospital cobrar a parte que lhe cabe em cima do valor que o médico cobra? Por exemplo: Cirurgia X o hospital cobra 30% do que o 1
2 médico cobrou independentemente do procedimento? Obs.: Pacote cirúrgico contendo parte hospitalar, honorário de equipe médica. ESCLARECIMENTOS: No intuito de oferecer uma resposta adequada ao Consulente entramos em contato direto com o mesmo para melhor entendimento. O mesmo. nos esclareceu que a motivação do questionamento foi porque, no hospital que começou a internar, defrontou-se com a situação de que a administração do mesmo, queria sempre saber quanto estava cobrando para depois definir os valores hospitalares de forma a querer um percentual fixo do pacote definido pela equipe médica. FUNDAMENTAÇÃO: Senhores conselheiros, em que pese à primeira vista parecer questão puramente administrativa como bem colocou o 1º parecerista, na verdade trata-se de duas cobranças com motivação e razões completamente distintas: 1ª - Ética: O médico tem o direito e autonomia para propor, realizar e cobrar pela sua prática de forma direta e independente com seu paciente. Recebe honorário médico por atividade individual. Este tem responsabilidade subjetiva. 2ª - Comercial - A instituição hospitalar tem o direito de cobrar aluguel de hotelaria, de equipamentos médicos, custos de materiais descartáveis, de assistência de enfermagem e outros. Recebe por serviço prestado por atividade empresarial. Esta tem responsabilidade objetiva. No caso, o médico cirurgião atua em atividade de profissional liberal e o hospital como empresarial. A distinção é claramente colocada no código civil no seu Art. 96: Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único - Não se considera empresário quem exerce profissão 2
3 intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. Profissional liberal, segundo a Confederação Nacional das Profissões Liberais - CNPL, diz respeito àqueles profissionais, trabalhadores, que podem exercer com liberdade e autonomia a sua profissão, decorrente de formação técnica ou superior específica, legalmente reconhecida, formação essa advinda de estudos e de conhecimentos técnicos e científicos. O exercício de sua profissão pode ser dado com ou sem vínculo empregatício específico, mas sempre regulamentado por organismos fiscalizadores do exercício profissional. O senso comum indica que tais profissionais seriam aqueles que trabalham por conta própria, sendo patrões de si mesmo. Seriam médicos, advogados, engenheiros, etc. que teriam seus consultórios e escritórios próprios. No caso do médico o órgão fiscalizador principal é o Conselho Regional de Medicina onde atua e para o hospital a fiscalização está atribuída a vários órgãos tais como: ANS, ANVISA e PROCON. O médico atua seguindo os conceitos atualizados da sua área e o Código de Ética Médica. O hospital se pauta por uma seria de normas emanadas pelas agencias reguladoras e o Código de Defesa do Consumidor. Segundo MIRELLA D' ANGELO CALDEIRA, Doutora em Direito do Consumidor pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP, a figura do profissional liberal é citada apenas uma vez pelo Código de Defesa de Consumidor, no seu artigo 14, 4, quando trata da responsabilização de tais profissionais pelos danos causados em decorrência dos serviços prestados, estabelecendo que, nesse caso, a responsabilidade será subjetiva. Esta espécie de responsabilidade é a prevista no nosso sistema privatista (art. 159 CC) a qual sempre esteve ligada à conduta culposa (lato sensu), o que significa dizer que, no plano processual, a vítima deverá comprovar se o agente agiu com dolo ou culpa - 3
4 essa nas três modalidades possíveis: negligência, imprudência e imperícia - além, é claro, do fato dano e o nexo causal entre o fato e o dano. Por outro lado, a regra geral adotada pela lei consumerista é a da responsabilidade objetiva, aquela que incide independentemente de verificação da conduta culposa ou dolosa do agente. Trata-se, pois, da incidência do princípio do risco da atividade, insuscetível de excluir do fornecedor o dever de indenizar o consumidor pelos danos causados pelos produtos e serviços colocados no mercado, mesmo nas hipóteses de caso fortuito ou força maior. Assim, quando se tratar de fato ou vício do produto e/ou serviço, o fornecedor deverá responder pelos prejuízos, independente de ter ele agido com culpa ou não. A única exceção ficou por conta dos profissionais liberais, os quais respondem pelos seus serviços prestados de forma subjetiva, vale dizer, mediante a verificação de culpa, conforme preceitua o art. 14, 4 do CDC. Desta forma, havendo danos em razão de um serviço prestado por um profissional liberal, a responsabilidade somente incidirá se ficar demonstrada a conduta culposa ou dolosa. Em relação à prestação de serviços, o CDC é claro no Art. 6 - São direitos básicos do consumidor:... III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem. PARTE CONCLUSIVA Senhor Consulente e Senhores Conselheiros, por tudo exposto entendemos que a pergunta refere-se à cobrança de honorários profissionais e custos de serviços hospitalares de forma vinculada. São ações que envolvem atos e 4
5 fatos com premissas e consequências diferentes e, portanto, não devem em primeira e melhor forma, serem contratadas em um só tempo por uma só parte. Cada parte, cirurgião e hospital, deveriam pactuar seus valores com autonomia, independência cada uma considerando suas capacidades e responsabilidades. A combinação ou contratação em um só tempo, na administração hospitalar só poderá ser entendida com ética e possível desde que não haja interferência na autonomia médica e que seja consensual entre profissionais e hospital e nunca por imposição empresarial. Não existe respaldo ético e/ou legal para vinculação percentual entre tais acertos pecuniários. Este é o nosso parecer. Atenciosamente, Goiânia, 24 de janeiro de DR. HAROLDO DE OLIVEIRA TORRES Conselheiro Parecerista 5
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