LITERATURA INFANTIL: FERRAMENTA DE ARTICULAÇÃO ENTRE A LINGUAGEM E A FORMAÇÃO
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- Eugénio Klettenberg Andrade
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1 LITERATURA INFANTIL: FERRAMENTA DE ARTICULAÇÃO ENTRE A LINGUAGEM E A FORMAÇÃO Jade Juliane Dias Mota Universidade do Estado do Rio de Janeiro. jade.juliane@yahoo.com.br Layane Bento Felismino Universidade do Estado do Rio de Janeiro. layane.felismin@gmail.com RESUMO: A educação infantil se caracteriza pela necessidade de estímulo à criatividade, presença da ludicidade e também pelo primeiro contato com a língua escrita. Com o intuito de acelerar a alfabetização, percebemos práticas cada vez mais homogeneizadoras visando, na maioria das vezes, uma posterior avaliação, o que tem promovido discussões acerca de aspectos como: avalia-se o aluno de acordo com seu conteúdo acumulado ou diante do seu progresso neste processo? Integrar às atividades planejadas experiências que promovam interação entre os alunos, percebendo seu contexto social e respeitando as diferenças requer uma reflexão do professor acerca de sua prática. Os livros infantis surgem então, como uma ferramenta que se tornará primordial no processo de alfabetização desde os primeiros contatos com as letras. Neste trabalho, nos propomos a fazer uma análise documental e revisão bibliográfica refletindo acerca do uso destes livros dentro da sala de aula. Destacamos a ambivalência presente nestas questões e nos propomos a pensar que diante da abordagem que será feita por meio da utilização deste tipo de gênero literário, o que se tornaria um agente facilitador neste processo acaba assumindo um caráter normativo, o que pode suscitar em uma regulação do ensino. Não considerando o caráter duplo desta questão, este processo pode vir a validar determinados saberes e se restringir muitas das vezes na formação de um leitor que apenas obteve a aquisição da tecnologia da leitura e da escrita, não construindo desde a pré-escola, leitores e escritores com visões de mundo e capacidade crítica e reflexiva. Palavras-chave: Literatura infantil, alfabetização, educação infantil INTRODUÇÃO As práticas alfabetizadoras possuem atualmente uma falsa fragmentação no que tange a discussão sobre: conhecimento escolar versus conhecimento de vida; valorização da leitura; disciplina e critérios que avaliam se o aluno está de fato alfabetizado ou não, pois estes aspectos estão contidos em um todo que é o processo de alfabetização e não podem ser divididos. Entendendo que a construção do conhecimento da leitura e da escrita se dá nos diferentes contextos através do valor que isso possui para cada sujeito (SMOLKA, 2008), percebemos que o processo de alfabetização vai ser norteado pela significação que o professor dará a este processo. A formação de leitores e escritores é mais abrangente que o significante alfabetização, bem como a
2 escrita não se baseia apenas na representação da linguagem, esta pode ser entendida como artefato cultural produtor de sentidos. Desta forma, destacamos a literatura infantil como uma ferramenta híbrida (o que será retomado mais a frente) que pode facilitar este processo de alfabetização dependendo da forma como será trabalhada. Segundo Nicolau Gregorin (2009), é importante explicitar que o termo infantil indica o público ao qual esses tipos de texto são destinados, que são, na maioria das vezes elaborados na relação entre textos verbais com ilustrações. É essencial que haja uma reflexão do professor para a seleção de obras a serem trabalhadas e de que forma estas mesmas serão incluídas na prática escolar, bem como, no contexto de vida do aluno, sem a necessidade de uma aceleração da alfabetização, ao mesmo tempo, não restringindo o livro apenas como artefato cultural. A utilização da literatura infantil não precisa ser polarizada. Desta forma, temos como finalidade expor a importância deste tipo de gênero e de sua presença no contexto escolar para a formação de leitores e escritores como também de cidadãos reflexivos, não sendo um aspecto em detrimento do outro, pois consideramos que estes se constituem mutuamente. Reflexões acerca da prática pedagógica pautada nas políticas públicas para a educação infantil: DCNEI e suas possibilidades de apropriação As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Resolução CNE/CEB Nº05/2009) afirmam a necessidade de práticas pedagógicas que desenvolvam a leitura e a escrita para as crianças de zero a seis anos. O currículo da Educação Infantil elaborado pelo MEC foi desenvolvido com o objetivo de ser um conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio artístico, cultural, científico e tecnológico. O documento sugere que essas práticas devem ser elaboradas por meio de relações sociais que as crianças desde bem pequenas estabelecem com os professores e as outras crianças, e defende que isso afeta a construção de suas identidades. Para isso, consideramos que a literatura infantil aparece como uma ferramenta que pode vir a facilitar estas práticas de maneira interativa, criativa e formadora respeitando o caráter ambivalente que permeia este gênero literário. Tendo por base as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil (DCNEI), entendemos que estas possuem um caráter representativo, e tem por finalidade orientar os projetos pedagógicos e as propostas curriculares desenvolvidas nas instituições de Educação Infantil de todo o país. Utilizando o DCN como uma base para a nossa análise documental, alguns referenciais pósestruturalistas como Bhabha (1998), Lopes e Macedo (2011) e as concepções de Soares (2004) e Smolka (2008) que nos fornecem subsídios para pensarmos a alfabetização e as tensões do âmbito educacional, nos propomos a fazer uma leitura sobre a relação alfabetização-literatura infantil, de maneira que possamos promover reflexões acerca da importância destes livros e as abordagens a serem desenvolvidas com eles em sala de aula na educação infantil.
3 Tensões não espacializadas: uma leitura sobre a relação entre alfabetização e literatura infantil Soares (2004) defende a dissociabilidade dos processos de alfabetização e letramento. Nos países considerados de Primeiro Mundo, um dos problemas mais pertinentes e de suma importância era a constatação de que embora a população fosse considerada alfabetizada, ela não dominava requisitos de leitura e escrita necessários para uma participação ativa na vida em sociedade, a qual exige fundamentos da língua que ultrapassam a ideia limitada do ler e escrever. Concordamos que no Brasil, os conceitos de alfabetização e letramento se mesclam com frequência. Esses conceitos se estendem no embate entre: saber ler e escrever com a capacidade de fazer uso da leitura e escrita. Desta forma, defendemos que o acesso à leitura e a escrita pode ser um fator que apazigue as diferenças socioculturais. Sendo assim, reafirmando a sua importância na formação do cidadão que está sendo construído dentro do processo educativo desde a educação infantil. O texto infantil precisa de um leitor que leia e que relacione as temáticas que se concretizam nos dois tipos de texto, verbal e visual. Esse mundo da criança é uma produção cultural que é alimentada por novos valores construídos na sociedade. (Gregorin, 2009, p.18). O enunciatário (leitor) deste texto é uma criança e a manifestação textual é resultado das semióticas verbal e visual. E, além disso, a sociedade se apropria de textos que ela entende como sendo parte do universo da criança, produzindo os textos como infantis. Tomando como referencial teórico os estudos pós-estruturalistas do campo do currículo e da alfabetização, entendemos a literatura infantil como uma ferramenta híbrida (BHABHA, 2008). De acordo com as discussões recorrentes no âmbito da educação acerca da importância da alfabetização e do uso dos livros em sala de aula, nos apropriamos de uma dentre as múltiplas leituras que podem ser feitas acerca deste cenário. Percebemos uma polarização no que tange a problemática da literatura infantil em sala de aula: ora se destaca a importância do livro como um agente propulsor da alfabetização desde a pré-escola, a fim de preparar estes alunos para avaliações externas pertencentes aos segmentos seguintes da educação; ora estes livros se caracterizam como artefato cultural promovedor do desenvolvimento do imaginário infantil. Entendemos que esta ambivalência produz sentidos outros para além destas duas questões, estas relações são articuladas em um espaço de tensão que também é produção cultural. Pensar a literatura infantil como ferramenta híbrida demonstra que a mesma faz parte de uma produção contínua, porém não como um ciclo superficial e relativizado. O livro tomado como ferramenta caracterizada pela ambivalência (ambivalência esta que percorre questões não restritas somente à literatura infantil), não pode ser definido nem por um aspecto, nem por outro. A importância do uso da literatura infantil no processo de alfabetização se constitui no entrelugar (BHABHA, 2008). Este entrelugar não pode ser visto como meio entre dois polos diferentes; ele é um lócus não territorializado, não espacializado. Sendo assim, pensar a literatura como ferramenta híbrida pode vir a acrescentar reflexões sobre a discussão desta polarização presente no ambiente escolar, visto que ela se desestabiliza a partir do momento em que conserva a semelhança e evidencia a diferença presente nas práticas desenvolvidas com ela.
4 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS De acordo com nossos referenciais teóricos no âmbito pós-estruturalista, levamos em consideração que não existem fechamentos únicos diante de reflexões e destacamos a impossibilidade de fixação de determinados aspectos. Desta forma podemos fazer algumas considerações parciais acerca das nossas análises documentais e no nosso aprofundamento teórico. É interessante para o trabalho em sala, como Gregorin Filho (2009) aponta, que a prática com a literatura infantil deve considerar alguns pontos, tais como: que a criança é um indivíduo pertencente a um grupo social e produtor da cultura; perceber e entender a literatura como um fenômeno de linguagem resultante das experiências vivenciadas pelos autores dos livros; observar que há uma relação direta entre literatura, história e cultura, pois em cada momento histórico e de cada cultura se criam uma estética própria, na tentativa de fixação de uma identidade; compreender o entendimento de que a leitura é um diálogo entre o leitor e o texto, o que faz remeter a capacidade de estimular o imaginário e as emoções do leitor (a criança). Tendo em vista muitas vertentes da literatura infantil, formas de narrativa e de apresentação de conteúdo, este tipo de gênero, assim como os outros, tende a colaborar no desenvolvimento cognitivo e contribuir significativamente na construção de leituras de mundo, no estímulo do imaginário infantil e na construção de conhecimento da leitura e da escrita, podendo propiciar um contato maior com a ludicidade e assim interferindo de forma positiva na constituição da aprendizagem do sujeito. Consideramos a importância do uso da literatura infantil na educação infantil não somente como um artefato com conteúdo alfabetizador a ser ensinado às crianças, e sim como uma ferramenta híbrida que tanto pode auxiliar tanto no processo de alfabetização e letramento da formação de leitores e escritores, como também auxiliar no desenvolvimento de uma leitura de mundo crítica e reflexiva. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4» Ed. São Paulo: Ed. Martins fontes, BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil / Secretaria de Educação Básica. Brasília : MEC, SEB, BRASIL, Ministério da Educação. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa - Avaliação no ciclo de alfabetização: reflexões e sugestões. Brasília, BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora da UFMG, GREGORIN FILHO, J. N. Literatura Infantil: Múltiplas linguagens e formação de leitores. São Paulo: Melhoramentos, KRAMER, Sônia. Alfabetização, leitura e escrita: formação de professores em curso. São Paulo: Ática, LOPES, Alice & MACEDO, Elizabeth. Teorias de Currículo. São Paulo: Cortez Editora, SMOLKA, A.L.B. A criança na fase inicial da escrita: A alfabetização como processo discursivo, 12. Ed. São Paulo, Cortez, 2008.
5 SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Ver. Bras. Edc. [online]. 2004, n. 25, pp ZILBERMAN, R. A literatura na escola. São Paulo: Global, 1981.
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