XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
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- Célia Castelo Amaro
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1 1 DESAFIOS DO PROFESSOR ORIENTADOR EDUCACIONAL FRENTE AO PROCESSO DE JUVENILIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: ANÁLISE NO MUNICÍPIO DE DUQUE DE CAXIAS Roberta Avoglio Alves Oliveira Professora Orientadora Educacional da Rede Municipal de Ensino de Duque de Caxias RJ e Orientadora Educacional da Rede Faetec Secti/ RJ Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação, Cultura e Comunicação em Periferias Urbanas da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF UERJ) RESUMO: Este trabalho é estruturado a partir da pesquisa acerca do papel do professor Orientador Educacional frente ao processo de Juvenilização da Educação de Jovens e Adultos EJA. Ao longo dos anos percebemos que a identidade dos alunos da Educação de Jovens e Adultos vem modificando- se; o número de adolescentes estudando nesta modalidade vem aumentando significativamente, o que tem sido denominado por alguns pesquisadores de Juvenilização da EJA. Como Professora Orientadora Educacional, na Prefeitura de Duque de Caxias, município da região Metropolitana do Rio de Janeiro, vivenciei o surgimento deste tema nos grupos de estudos. Esses alunos, em geral, são frutos de um modelo de escola que não favorece a aprendizagem. Nesse panorama pouco facilitador da aprendizagem, não há espaço para a diversidade de formas de aprender, não há espaço para pesquisa-ação docente. Com isso, alguns alunos vão apresentando lacunas em seu processo de aprendizagem, que culminarão em sucessivas reprovações, desestímulo e descrença no papel significativo que a escola pode desempenhar em sua trajetória. Sendo assim, a EJA acaba sendo o caminho que se aponta para que esse aluno consiga concluir sua escolaridade. Entretanto, este carrega marcas da negação do direito de aprender, o que refletirá de forma importante em sua identificação com o espaço escolar. Nesse contexto, a Orientação Educacional tem o importante papel em propor o diálogo entre cultura juvenil e cultura escolar sistematizada, com foco em construir estratégias pedagógicas que oportunizem novos saberes e fazeres pedagógicos diante do processo de Juvenilização da EJA, valorizando o protagonismo de todos envolvidos nesse processo, ou seja, alunos, professores, gestão e comunidade escolar. Palavras chave: Educação de Jovens e Adultos, Juvenilização, Orientação Educacional I INTRODUÇÃO A Educação de Jovens e Adultos, comumente chamada EJA, é uma modalidade de ensino que destina- se aos jovens e adultos que não tiveram acesso ou oportunidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria, conforme previsto no artigo 37 da Lei 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional)
2 2 Ao longo dos anos percebemos que a identidade dos alunos da Educação de Jovens e Adultos vem modificando- se. Se antes era o espaço onde encontrávamos majoritariamente adultos se comparado ao número de adolescentes, atualmente, este grupo vem aumentando significativamente. Esse novo panorama vem sendo denominado por alguns pesquisadores de Juvenilização da EJA. A focalização das políticas públicas no ensino fundamental, universal e obrigatório conveniente à relação idade própria/ano escolar ampliou o espectro de crianças nele presentes. Hoje, é notável a expansão desta etapa do ensino e há um quantitativo de vagas cada vez mais crescente a fim de fazer jus ao princípio da obrigatoriedade face às crianças em idade escolar. Entretanto, as presentes condições sociais adversas e as sequelas de um passado ainda mais perverso se associam a inadequados fatores administrativos de planejamento e dimensões qualitativas internas à escolarização e, nesta medida, condicionam o sucesso de muitos alunos (...) Expressão desta realidade são a repetência, a reprovação e a evasão, mantendo-se e aprofundando-se a distorção idade/ano e retardando um acerto definitivo no fluxo escolar. (Cury, 2000, p.04) Meu interesse acerca desse processo surge a partir da minha prática como Professora Orientadora Educacional, desde 2006 atuando na Prefeitura de Duque de Caxias, município da região Metropolitana do Rio de Janeiro. Na rede de Duque de Caxias, a partir de 15 anos completos os alunos podem ser transferidos para a Educação de Jovens e Adultos, que é oferecida no horário noturno. Aqueles alunos que encontram- se em distorção série/idade são convidados a migrar para a modalidade em questão. Uma gama de justificativas podem ser elencadas para que a família aceite esta transferência. Entretanto, na correria do cotidiano, pouco se reflete sobre os motivos de um aluno tão jovem carregar o estigma do fracasso escolar e qual será seu protagonismo na EJA. Em geral, os adolescentes chegam pouco envolvidos com a escola e com certa descrença sobre espaço escolar como opção de transformação em suas vidas. II OBJETIVOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Com o crescente número de adolescentes nas salas de aula, emergiram nos grupos de estudos as discussões acerca da necessidade de repensar a escola oferecida na EJA. Enquanto o adulto se matricula determinado a conseguir a conclusão dos seus estudos, o adolescente em geral está na escola por uma determinação externa a sua vontade
3 3 Esse comportamento não é anormal. Até então, o que a Instituição escolar ofereceu foi negação do direito de aprender, estigmas dos mais diversos. É natural que se mantenham pouco envolvimento com esse espaço. Pensando nesta perspectiva, procuro investigar quais colaborações a Orientação Educacional tem a oportunizar para esse aluno adolescente na conclusão de seus estudos dentro da EJA sem que seja por obrigação, mas sim por entender a escola como local de construção e troca de conhecimento e possibilidade de transformação social de modo a instrumentalizá-lo na luta contra as desigualdades sociais. A Orientação Educacional na perspectiva de entender o aluno como sujeito histórico, tem colaboração importante nesse contexto não apenas juntoao adolescente, mas também traçando parcerias com suas famílias, corpo docente e demais segmentos da Equipe Diretiva, de modo a viabilizar o diálogo para uma escola comprometida com a construção do conhecimento e práticas de cidadania. III DISCUSSÃO E RESULTADOS A partir de 2000 é aprovado o parecer CNE 11/2000, cuja proposta é repensar a modalidade, não bastando mais ensinar a ler e a escrever e algumas competências matemáticas. É preciso inserir o aluno da Educação de Jovens e Adultos no exercício da cidadania; ajudando-o a ter uma visão crítica de mundo, o que possibilitará a ampliar suas oportunidades e, por consequência, colaborará para sua melhoria de vida. (...) a função reparadora da EJA, no limite, significa não só a entrada no circuito dos direitos civis pela restauração de um direito negado: o direito a uma escola de qualidade, mas também o reconhecimento daquela igualdade ontológica de todo e qualquer ser humano. Desta negação, evidente na história brasileira, resulta uma perda: o acesso a um bem real, social e simbolicamente importante. Logo, não se deve confundir a noção de reparação com a de suprimento. (CURY, 2000, p. 07) Quando pensamos em oferta de Educação de Jovens e Adultos, não há como pensarmos em um público homogêneo. Obviamente, não existe homogeneidade nem mesmo no Ensino Regular, uma vez que cada sujeito possui uma história de vida e dará sua contribuição singular ao grupo. Entretanto, essa diversidade de histórias está mais exposta quando falamos em EJA. Cada aluno da modalidade em questão busca a escola por necessidades bastante particulares. Analisando os alunos da Escola Municipal na qual atuo em Duque de 12480
4 4 Caxias, identifiquei dentre os alunos adultos e idosos diferentes motivações para a matrícula. As mais pontuadas: satisfação pessoal, sentir- se menos excluído e conseguir uma melhor colocação no mercado de trabalho. Ao questionar a esses mesmos alunos acerca dos motivos de não concluírem a escolaridade na idade certa, as respostas giram em torno das poucas oportunidades de frequentarem ou manterem-se na escola na ocasião, seja por uma exigência da família para iniciar em uma atividade laborativa de modo a colaborar com a renda familiar, gravidez e/ou casamento precoce, falta de oferta de matrícula nas proximidades da residência, tornando a frequência à escola uma prática pouco facilitada. Todavia, ao tentar conversar com alunos adolescentes sobre os motivos de terem migrado para a Educação de Jovens e Adultos, as respostas foram pouco claras. Eles não descreveram os motivos pelos quais não encontram-se no Ensino Regular. Ao fazer uma análise um pouco mais cuidadosa, foi possível verificar que a maioria dos adolescentes não possuíam necessidade de trabalhar e não tinham pouca oferta de vagas para matrícula, como no caso de adultos e idosos. Na verdade, esses alunos são frutos de um modelo de escola que não favorece a aprendizagem: salas de aula superlotadas, poucos recursos pedagógicos estimulantes, professores esgotados pela rotina pesada de trabalho, outros engessados em um modelo de escola tradicional, dificuldades da família e escola traçarem parcerias Nesse panorama pouco facilitador da aprendizagem, não há espaço para a diversidade de formas de aprender, não há espaço para pesquisa-ação docente. Com isso, alguns alunos vão apresentando lacunas em seu processo de aprendizagem, que culminarão em sucessivas reprovações, desestímulo e descrença no papel significativo que a escola pode desempenhar em sua trajetória. IV CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesse contexto, a Orientação Educacional tem o importante papel ao dialogar com o professor no sentido de entender o aluno como um indivíduo singular, apontando a importância em redimensionar as estratégias pedagógicas oportunizadas. Segundo GRINSPUN (2006) O orientador educacional dialetiza as relações e vê o aluno como um ser real, concreto e histórico. Dessa forma, ele assume uma postura política, percebendo que a educação faz parte de um contexto sócio-econômicopolítico-cultural e que o aluno é o principal sujeito desse contexto onde, o mesmo está inserido em uma determinada sociedade. Por isso, o Orientador 12481
5 5 Educacional é um profissional de grande importância na escola, pois, ele vai articular/orientar e clarificar as contradições e confrontos, e nesse meio, buscar ajudar o aluno a compreender as redes de relações que na sociedade se estabelecem. (p.55) O adolescente que chega para estudar na EJA é fruto de um sistema que lhe negou o direito fundamental, que foi a escolaridade na idade certa, através de aprendizagens significativas; fato que tem resultadona de Juvenilização da Educação de Jovens e Adultos. Nesse panorama, o diálogo entre cultura juvenil e cultura escolar sistematizada precisa ser repensado, de modo a minimizar conflitos, tais como questões de indisciplina, estigmas, baixa autoestima, evasão, infrequência, pouco envolvimento com as propostas pedagógicas disponibilizadas. Embora membro da Equipe Pedagógica, percebo, em virtude da especificidade do trabalho do Professor Orientador Educacional, seu papel de elemento elo entre as culturas circundantes na escola, propondo debates junto ao corpo docente acerca das novas necessidades da EJA, repensando as práticas escolares para essa modalidade de ensino e mantendo- se em diálogo constante com os alunos. V REFERÊNCIAS BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.394/96. Brasília, DF:MEC, jovens CURY, Carlos Roberto Jamil. Diretrizes curriculares nacionais para a educação de e adultos. Parecer nº11 e Resolução da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, Brasília, GRINSPUN, Mirian. A Orientação educacional - Conflito de paradigmas e alternativas para a escola. 3ª ed. São Paulo: Cortez,
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