Supremo Tribunal Federal

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1 MANDADO DE SEGURANÇA DISTRITO FEDERAL RELATOR IMPTE.(S) ADV.(A/S) IMPDO.(A/S) PROC.(A/S)(ES) : MIN. EDSON FACHIN :WEVERTON ROCHA MARQUES DE SOUSA :WILLER TOMAZ DE SOUZA :PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS :SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS DECISÃO: Trata-se de mandado de segurança preventivo com pedido liminar impetrado pelo Deputado Federal WEVERTON ROCHA MARQUES DE SOUSA contra possível ato a ser praticado pelo Presidente da Câmara dos Deputados Deputado Eduardo Cosentino Cunha. Discorre o impetrante sobre o rito de apreciação do Parecer da Comissão Especial pelo Plenário da Câmara dos Deputados, visando a assegurar a isenção, imparcialidade e a transparência do procedimento. Alega possuir justo receio de violação do direito subjetivo a um processo que respeite a legalidade, asseverando que a autoridade impetrada tem se manifestado reiteradamente nos últimos dias sobre a aplicação de um procedimento de votação construído com a única finalidade de atingir o resultado que reflita seu interesse pessoal: a aprovação do recebimento da denúncia contra a Presidente da República (edoc 1, p.5). Nesse sentido, busca comprovar seu justo receio transcrevendo diversas matérias jornalísticas nas quais o Presidente da Câmara dos Deputados teria afirmado que as regras da votação do impeachment seriam conhecidas apenas no momento da votação. Sustenta que, uma vez fixada pelo art. 218, 8º do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, a votação nominal por chamada do Parecer em Plenário, a ordem a ser respeitada deve ser a estabelecida no 4º do art. 187 do RICD, ou seja, um parlamentar do Norte do país votaria primeiro, seguido de um deputado representante do Sul, e assim sucessiva e alternadamente. Afirma que no ano de 1992, no processo de impeachment do ex-

2 Presidente Fernando Collor de Melo, por força do acórdão do Mandado de Segurança n , adotou-se o método de votação por ordem alfabética, independentemente do Estado pelo qual os deputados foram eleitos. Sustenta a plausibilidade desta opção na medida em que se manteria a premissa de seguir o precedente do caso Collor, conforme estabelecido na ADPF 378. Defende a necessidade imperiosa de intervenção desta Suprema Corte, a fim de que seja afastada a intervenção do Presidente da Câmara na construção de um modelo de votação projetado para o caso particular com o fim de prejudicar o direito de defesa. Quer-se, pois, ordem mandamental dessa Corte para que seja o rito definido com antecedência mediante um procedimento de votação que não influencie no resultado, respeitando-se os direitos fundamentais à legalidade, à isonomia, à segurança jurídica e ao devido processo legal. (edoc 1, p.11) Quanto ao pedido de medida liminar, entende estar presente o fumus boni iuris ante a manifesta intenção de a autoridade impetrada violar expressa disposição de lei. Do mesmo modo, afirma que o periculum in mora está caracterizado em virtude da proximidade da votação do parecer da Comissão Especial em Plenário, que poderá ocorrer no próximo dia 13 de abril. Afirma ser necessária a concessão de medida liminar inaudita altera parte ante a proximidade da votação e por conta do ônus políticoinstitucional que representará eventual anulação da votação por violação à lei e ao devido processo. Requer a concessão de medida liminar para determinar ao Presidente da Câmara dos Deputados que observe o seguinte procedimento para a votação no Plenário da Denúncia por Crime de Responsabilidade nº 1/2015: a) respeite a literalidade das prescrições regimentais e estabeleça a 2

3 alternância, intercalando-se a votação entre iniciada por deputado do Norte em seguida outro do Sul do País; b) assegure que a votação se inicie, nos termos do art. 187, 4º do RICD por deputado do Norte do país; c) alternativamente, que determine a votação por ordem alfabética dos deputados, independentemente do Estado a que pertençam; d) alternativamente, assegure que a votação se inicie, nos termos do art. 187, 4º do RICD por deputado do Norte do país, determinando a votação por ordem alfabética entre os estados da região e por ordem alfabética dos deputados. É o breve relatório. Decido. O presente writ foi impetrado por advogado regularmente constituído e é, em abstrato, patente a competência desta Corte. No entanto, o presente mandado de segurança não merece conhecimento. O impetrante alegou ter receio de que o Presidente da Câmara dos Deputados deixará de aplicar adequadamente o Regimento Interno dessa Casa Legislativa, notadamente os dispositivos regimentais que tratam do procedimento de votação do Parecer da Comissão Especial em processo de crime de responsabilidade pelo Plenário da Câmara dos Deputados. Segundo o Parlamentar impetrante, seu temor se baseia em matérias jornalísticas que noticiam uma possível interpretação abusiva do Presidente da Câmara sobre o regulamento de votação previsto no art. 187, 4º do RICD. A pretensão do impetrante tem como causa de pedir justamente a adequada interpretação sobre o disposto no art. 187, 4º do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Ou seja, quer o impetrante que o 3

4 Supremo Tribunal Federal determine qual é a interpretação que o Presidente da Câmara dos Deputados deve dar a dispositivo do Regimento Interno da Casa Legislativa que preside. Requerer que o Poder Judiciário determine a interpretação correta de dispositivo do Regimento da Câmara dos Deputados é pedir indevida ingerência do Poder Judiciário sobre o funcionamento interno do Poder Legislativo, o qual é dotado de independência e autonomia para definir a conformação de seu funcionamento. Se há lei que define a forma de votação do Parecer da Comissão Especial pelo Plenário da Câmara dos Deputados (Lei 1.079/50, art. 23) e se tal forma de votação é devidamente regulamentada pelo Regimento Interno da Câmara dos Deputados (art. 187, 4º), não é dado ao Poder Judiciário estabelecer qual é a interpretação adequada de dispositivo do Regimento Interno da Câmara sob pena de ofensa à independência e autonomia do Poder Legislativo. Sob qualquer ângulo que se observe os fatos e pleitos existentes na inicial, o ato a ser evitado encontra-se, ao menos neste momento, albergado pelas possibilidades de atuação do Presidente da Câmara dos Deputados no exercício de sua competência para interpretar e aplicar o Regimento Interno da Casa Legislativa que preside. Não há, portanto, no ato a ser evitado, ao menos por ora, qualquer caráter volitivo ou conotação de supressão de mandamentos de índole jurídicoconstitucional sendo, essencialmente, atos interna corporis. Mello: Sobre o tema, bastante elucidativa recente decisão do Min. Celso de Com efeito, o Supremo Tribunal Federal, em casos assemelhados ao que ora se analisa, não conheceu das ações mandamentais, por entender que os atos emanados dos órgãos de direção das Casas do Congresso Nacional, quando praticados nos estritos limites da competência da autoridade apontada como coatora e desde que 4

5 apoiados em fundamentos exclusivamente regimentais, sem qualquer conotação de índole jurídico-constitucional, revelam-se imunes ao judicial review, pois não custa enfatizar a interpretação incidente sobre normas de índole meramente regimental, por qualificar-se como típica matéria interna corporis, suscita questão que se deve resolver, exclusivamente, no âmbito do Poder Legislativo, sendo vedada sua apreciação pelo Judiciário. (MS 24104/DF, Rel. Min. Celso de Mello, DJe ) Pacífica a jurisprudência desta Corte no sentido de considerar incabível a intervenção do Poder Judiciário mediante julgamento de mandado de segurança quando se tratar de matéria interna corporis do Poder Legislativo. Nesse sentido, confiram-se os seguintes julgados: MS 34040, Rel. Min. Teori Zavascki, DJe , MS 33731, Rel. Min. Luiz Fux, DJe , MS 32930, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe , MS AgR, Pleno, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de Em suma, não cabe ao Poder Judiciário determinar, preventivamente, ao Presidente da Câmara dos Deputados qual é a melhor forma de se interpretar o disposto no art. 187, 4º do Regimento Interno dessa Casa Legislativa, especialmente se tal receio surge apenas de matérias jornalísticas que noticiam uma possível interpretação. Descabe, portanto, na hipótese, a intervenção do Poder Judiciário. Diante de todo o exposto, com fundamento nos arts. 10, da Lei nº /09 e 21, 1º, do RISTF, nego seguimento ao mandado de segurança, com prejuízo da medida liminar. Publique-se. Brasília, 11 de abril de

6 Ministro EDSON FACHIN Relator Documento assinado digitalmente 6