Suspensão e Interrupção do Contrato de Trabalho*
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- Rosa de Mendonça de Paiva
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1 55 Capítulo 3 Suspensão e Interrupção do Contrato de Trabalho* 3.1 APRESENTAÇÃO Suponhamos o caso de uma pessoa que se afasta do emprego por motivo de doença. Seu contrato de trabalho continua em vigor, embora cesse a prestação de serviço. Durante os 15 primeiros dias ela percebe salário integral, pago pelo empregador. Nesse caso, estamos diante de uma interrupção do contrato de trabalho 1. Se, porém, a pessoa continua doente após o 15.º dia, então não mais perceberá salário por parte do empregador. Estamos diante de um caso de suspensão do contrato de trabalho. Observamos que, tanto na interrupção como na suspensão, ocorre a cessação temporária da obrigação de trabalhar. O contrato de trabalho continua a vigorar; o que ocorre é, apenas, uma impossibilidade legal da prestação de serviço. Portanto, a interrupção ou a suspensão do contrato de trabalho ocorre quando cessa temporariamente para o empregado a obrigação de trabalho. 3.2 DISTINÇÃO ENTRE SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO Há duas espécies de suspensão lato sensu: a suspensão propriamente dita e a interrupção. Pela motivação apresentada, a conclusão que prontamente se extrai é que, na interrupção, o empregado tem direito à percepção do salário por parte do empregador durante o tempo da interrupção; na suspensão, ao contrá- * DOWER, Nelson Godoy Bassil. Instituiçoes de Direito Público e Privado. 13. ed. São Paulo: Saraiva, Escreve Sérgio Pinto Martins: Poder-se-ia dizer que, na verdade, o que se suspende é o trabalho e não o contrato de trabalho. CAP_03_Legislacao_trabalhista.p65 55
2 56 rio, o empregado não tem direito à percepção dos salários por parte do empregador. Esse é o principal traço distintivo entre essas duas figuras. Outro traço distintivo desses dois casos está no tempo de serviço. Na interrupção, esses 15 dias são computados para todos os efeitos: para a contagem do tempo de serviço, para fins de indenização e para os depósitos do Fundo de Garantia devidos, ao passo que na suspensão não ocorrem tais efeitos. 3.3 EFEITOS JURÍDICOS DA SUSPENSÃO E DA INTERRUPÇÃO É necessário, todavia, pôr em relevo que, com a suspensão do contrato de trabalho, todos os seus efeitos são paralisados, e o período de afastamento do empregado será abatido do tempo de serviço. O empregado deixa de trabalhar e, em contrapartida, o empregador fica isento de pagar o salário. Mas é uma paralisação temporária e, ao retornar, o empregado volta a ocupar a mesma função que tinha na empresa quando do seu afastamento, percebendo todas as vantagens atribuídas à sua categoria. Ao empregado afastado do emprego, são asseguradas, por ocasião de sua volta, todas as vantagens que, em sua ausência, tenham sido atribuídas à categoria a que pertencia na empresa. (CLT, art. 471) A interrupção do contrato não atinge a relação de emprego, mas a execução do contrato. Durante a interrupção, enquanto o empregado não executa a sua parte do contrato, cabe ao empregador o pagamento da remuneração e a obrigação de preservar a antigüidade do empregado, ou seja, o tempo de serviço continua a ser contado e, quando retorna à prestação do serviço, volta com as mesmas vantagens de sua categoria, como diz o art. 471, acima transcrito. 3.4 HIPÓTESES DE SUSPENSÃO DO CONTRATO DE TRABALHO Entre outros, constituem casos de suspensão do contrato de trabalho: Afastamento para serviço militar ou outro encargo público Considerando que no período de afastamento para serviço militar o empregado não recebe seu salário, tem-se aí um caso típico de suspensão. O afastamento do empregado em virtude das exigências do serviço militar, ou de outro encargo público, não constituirá motivo para alteração ou rescisão do contrato de trabalho por parte do empregador. (CLT, art. 472) CAP_03_Legislacao_trabalhista.p65 56
3 57 Não é demais anotar que, no que tange ao serviço militar, são mantidos os recolhimentos dos depósitos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, mas não há recolhimento previdenciário, por não existir salário Período de suspensão disciplinar É permitido aplicar suspensão ao empregado quando este viola o regulamento da empresa. A lei trabalhista, no entanto, não define a infração disciplinar nem estabelece as sanções. O art. 474 da CLT estabelece, apenas, um prazo máximo de 30 dias para a suspensão do empregado. Entende-se, portanto, poder o empregador impor ao empregado uma pena disciplinar de suspensão por período que não ultrapasse 30 dias, sob pena de ficar caracterizada a rescisão injusta do contrato. Na hipótese de que o empregado se conforme com a pena, seu contrato ficará suspenso e não receberá os salários Auxílio-doença O contrato fica suspenso a partir do 16.º dia do afastamento do empregado, cessando o pagamento do salário por parte do empregador. O empregado passa, então, a perceber o auxílio-doença pelo INSS. Durante o período de suspensão, que vai até a alta médica, não se conta o tempo de serviço e, quando este período ultrapassa seis meses, o empregado perde o direito a férias. Não terá direito a férias o empregado que, no curso do período aquisitivo: IV tiver percebido da Previdência Social prestações de acidente de trabalho ou de auxílio-doença por mais de 6 (seis) meses, embora descontínuos. (CLT, art. 133, IV) Aposentadoria por invalidez, nos cinco primeiros anos de afastamento O art. 475 da CLT trata do assunto: O empregado que for aposentado por invalidez terá suspenso o seu contrato de trabalho durante o prazo fixado pelas leis de previdência social para a efetivação do benefício. Enquanto suspenso o contrato, o empregado recebe do INSS; caso o empregado recupere a capacidade de trabalho, e sendo a aposentadoria cancelada, ser-lhe-á assegurado o direito à função que ocupava ao tempo da aposentadoria. Fica facultado ao empregador o direito de indenizá-lo por rescisão do contrato de trabalho. CAP_03_Legislacao_trabalhista.p65 57
4 58 Interessante o conteúdo do 2.º do art. 475: Se o empregador houver admitido substituto para o aposentado, poderá rescindir, com este, o respectivo contrato de trabalho sem indenização, desde que tenha havido ciência inequívoca da interinidade ao ser celebrado o contrato. 3.5 ALGUNS CASOS DE INTERRUPÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO A lei estabelece quais os casos em que o contrato se interrompe: Férias anuais remuneradas É sabido que o empregado, após um ano de trabalho, adquire direito a férias. Estas constituem interrupção do contrato de trabalho, porque haverá o pagamento do salário por parte do empregador, bem como será mantida a contagem de tempo para todos os fins, inclusive os recolhimentos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Se o empregado recebe salário durante as férias, há contribuição previdenciária Dias de repouso semanal e feriados Outro caso de interrupção é quando o empregado folga um dia por semana, de preferência aos domingos, ou quando há feriado civil ou religioso. Os dias não trabalhados devem ser remunerados pelo empregador, e conta-se o tempo para todos os fins Licença à empregada gestante A lei proíbe o trabalho da mulher grávida no período final da gestação e no início do período pós-parto, tendo ela uma licença de 120 dias (CF, art. 7.º, XVIII). Normalmente, a convenção coletiva ou a sentença normativa prorroga o prazo por mais 60 dias, garantindo-lhe o pagamento do salário. O art. 392 da CLT dispõe a respeito, dizendo o seguinte: É proibido o trabalho da mulher grávida no período de 4 (quatro) semanas antes e 8 (oito) semanas depois do parto. Consoante ensinamento de Amauri M. Nascimento, a licença da gestante é período de interrupção do contrato de trabalho, pagos os salários e o FGTS pelo empregador, que compensará o valor com os recolhimentos previdenciários que lhe couberem. CAP_03_Legislacao_trabalhista.p65 58
5 Período referente aos primeiros 15 dias do auxílio-doença Já é do nosso conhecimento que, quando o empregado fica doente, os primeiros 15 dias correm por conta do empregador, que lhe paga o salário integral e faz o respectivo recolhimento do FGTS Ausências autorizadas por lei Determina o art. 473 da CLT: O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário: I até 2 (dois) dias consecutivos, em caso de falecimento do cônjuge, ascendente, descendente, irmão ou pessoa que, declarada em sua Carteira de Trabalho e Previdência Social, viva sob sua dependência econômica; II até 3 (três) dias consecutivos, em virtude de casamento; III por 5 (cinco) dias, em caso de nascimento de filho, no decorrer da primeira semana; (art. 7.º, XIX, CF) IV por 1 (um) dia, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de doação voluntária de sangue devidamente comprovada; V até 2 (dois) dias, consecutivos ou não, para o fim de se alistar eleitor, nos termos da lei respectiva; VI no período de tempo em que tiver de cumprir as exigências do Serviço Militar referidas na letra c do art. 65 da Lei n.º 4.375, de 17 de agosto de (Lei do Serviço Militar); VII em dias que estiver comprovadamente realizando provas de exame vestibular para ingresso em estabelecimento de ensino superior. CAP_03_Legislacao_trabalhista.p65 59
6 60 CAP_03_Legislacao_trabalhista.p65 60
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