Patrocínio Institucional Parceria Apoio

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1 Patrocínio Institucional Parceria Apoio

2 InfoReggae - Edição 80 Memória Oral 24 de abril de 2015 O Grupo AfroReggae é uma organização que luta pela transformação social e, através da cultura e da arte, desperta potencialidades artísticas que elevam a autoestima de jovens das camadas populares. Tem por missão promover a inclusão e a justiça social, utilizando a arte, a cultura afro-brasileira e a educação como ferramentas para a criação de pontes que unam as diferenças e sirvam como alicerces para a sustentabilidade e o exercício da cidadania. Coordenador Executivo José Junior Coordenador Executivo Adjunto Danilo G Costa Coordenação Editorial Marcelo Reis Garcia O InfoReggae é uma publicação semanal e faz parte dos conteúdos desenvolvidos pela Editora AfroReggae. Sede Rio de Janeiro Rua da Lapa, nº 180 Centro Rio de Janeiro (RJ) Diagramação Luiz Adrien Revisão Nataniel Souza Representação São Paulo Rua João Brícola, nº 24 18º andar Centro São Paulo (SP) Contatos facebook.com/afroreggaeoficial twitter.com/afroreggae inforeggae@afroreggae.org É permitida a reprodução dos conteúdos desta publicação desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas.

3 Apresentação Na última edição do InfoReggae apresentamos a preocupação que a instituição está tendo com sua memória, história. A criação do Centro de Documentação (CEDOC) do AfroReggae, em 2012, simboliza a importância de cuidar de todo papel, foto, convênio, contrato, relatórios e até mesmo bilhetes que retratam de forma viva 22 anos de um intenso trabalho. Entretanto, como a criação do CEDOC demorou muito tempo, muito se perdeu. Como podemos recuperar histórias quebradas? Como resgatar fragmentos de uma história se houve perda documental? Como reviver momentos de uma história se houve um descarte precipitado de documentação? Como lembrar de momentos históricos da Instituição se a partir de mudanças de escritórios muitos dos documentos foram sendo perdidos? Esta edição do InfoReggae vai colaborar apresentando e mostrando o processo de Memória Oral. Lembrar, contar, reviver os momentos mais importantes de uma instituição: tudo pode ser registrado com o relato de pessoas que trabalham, trabalharam e vivenciaram o dia a dia da Instituição. Marcelo Reis Garcia Autor e Coordenador Editorial do InfoReggae. 3

4 MEMÓRIA ORAL Esta é uma técnica de registro de histórias. Uma técnica muito usada para que não se perca a trajetória individual, ou mesmo coletiva, de vivências que construíram uma história. Deve ser desenvolvida por historiadores ou jornalistas. Esta é uma técnica muito usada, também, para que a história possa ser contada por quem a viveu, a partir de um olhar particular. Na História Oral, o peso do que se conta tem um valor importante e tem sido muito útil para registros, mas sempre tem uma particularidade do entrevistado, uma visão muito pessoal. Vamos ver dois exemplos: Em 2011, o AfroReggae ganhou sua sede nova na Lapa. O InfoReggae entrevistou Alessandra Lins e Johayne Hildelfonso sobre esta mudança. Em entrevista com Alessandra Lins: AfroReggae: O que significou a nova sede para o AfroReggae? Alessandra Lins: Foi um movimento importante para o AfroReggae ter um espaço próprio, uma excelente localização, acessível para todos. Foi um passo para nossa independência. AR: A Instituição naquele momento achava fundamental a conquista de uma sede própria? AL: O AfroReggae cresceu tanto que ficou impossível estar todos os setores no mesmo espaço. Tínhamos, pelo menos, dois espaços alugados em prédios diferentes, o que dificultava na comunicação. Foram muitos meses de procura até achar esse imóvel. AR: Quais foram os três pontos mais positivos da nova sede na sua opinião? AL: Acho que o mais importante é todos os setores estarem num único espaço. Entrosamento total da equipe. Todos juntos e misturados. 4

5 Em entrevista com Johayne Hidelfonso: AfroReggae: O que significou a nova sede para o AfroReggae? Johayne Hidelfonso: A concretização de um dos nossos sonhos! Chegamos a um ponto que não podíamos ficar sem uma sede onde pudéssemos conversar entre as áreas. Tínhamos que ter um espaço para atender aos nossos grupos e patrocinadores. A sede faz a ligação das áreas com todos os nossos núcleos (favelas) e projetos. AR: A Instituição naquele momento achava fundamental a conquista de uma sede própria? JH: Claro! A sede é uma referência fundamental. AR: Quais foram os três pontos mais positivos da nova sede em sua opinião? JH: 1- Um lugar de referência 2- Um lugar onde as áreas possam conversar entre si 3- Proporcionou o encontro com as diversas e distintas atividades de cada área. As respostas nunca são iguais, mas quando elas são muito destoantes, o melhor caminho é fazer um papo aberto com os entrevistados e costurar as informações. Vamos a outro exemplo. Em dezembro de 1995 o AfroReggae e Médicos sem Fronteiras iniciaram uma ação de prevenção ao HIV AIDS em Vigário Geral. Veja as respostas de duas pessoas que estiveram juntas nesta ação naquela época. Marcelo Garcia, em 1995, era Coordenador do Projeto de Saúde Comunitária de Médicos sem Fronteiras, em Vigário Geral. 5

6 Em entrevista com Marcelo Garcia: AfroReggae: O que vocês fizeram em relação à prevenção a Aids em dezembro de 1995, em Vigário Geral? Marcelo Garcia: Eu me lembro bem deste momento. A Aids era um assunto tabu em favela. Ainda se pensava que era uma doença de ricos e dos grupos de riscos, mas nós tínhamos certeza de que a epidemia estava chegando às favelas. Eu trabalhava no Posto de Saúde de Médicos sem Fronteiras e procurei o Junior do AfroReggae para construirmos uma ação no dia primeiro de dezembro. AR: Qual ação? MG: Seria um arrastão em toda favela falando da epidemia, distribuindo camisinhas e material informativo. Enquanto fazíamos este trabalho, a Banda do AfroReggae tocava. AR: E a reação da população? MG: Ficaram curiosos e acharam estranho, mas passamos a fazer, todo ano, o Arrastão da Prevenção. Tenho quase certeza de que este era o nome e a comunidade passou a entender o problema de uma forma lúdica. AR: Você tem algum registro deste projeto? MG: Só tenho fotos. Não fiquei nem com um folder e nem com os relatórios. 6

7 Em entrevista com José Junior: AfroReggae: O que vocês fizeram em relação a prevenção a Aids em dezembro de 1995 em Vigário Geral? José Junior: Naquela época ninguém fazia nada para prevenir a Aids em favelas. A Aids ainda era doença de rico e de gays, na opinião de todos. A gente puxou o bonde de levar prevenção e informação para a população. Usávamos a banda do AfroReggae para tocar em toda a favela e saíamos distribuindo camisinhas e informações. AR: Qual Ação? JJ: Acho que a gente chamava de Arrastão da Prevenção. Deu tão certo que virou a Trupe da Saúde. O AfroReggae trabalhava com Médicos sem Fronteiras. Acho que fizemos uns 3 anos seguidos. Depois desta ação, Marcelo Garcia e eu fomos chamados em Brasília para ajudar o Ministério da Saúde a debater a pobreza e a Aids. A Trupe da Saúde distribuía camisinha e panfletos informativos para prevenção da AIDS. Foto: Acervo/CEDOC AR: E a reação da população? JJ: Todo mundo ficava assustado com a distribuição de camisinhas. Todo mundo recebia camisinha e tinha gente que ficava sem graça, com vergonha, mas a gente sabia que estava ali para mostrar a camisinha e criar o hábito. 7

8 No inicio, de fato, a população tinha muita vergonha de receber camisinhas, tinha muita zoação dos jovens, tinha até mesmo gente que falava que era bobagem, mas plantamos ali uma história bem legal. A Trupe da Saúde em mutirão pelas ruas de Vigário Geral. Foto: Acervo/CEDOC AR: Você tem algum registro deste projeto? JJ: Pode ser que no CEDOC do AfroReggae tenham fotos. O Marcelo, que na época estava em Médicos sem Fronteiras, deve ter alguma coisa, mas, que eu me lembre, não tenho nada daquela época. Pô, já faz 20 anos. Após as duas pequenas entrevistas procuramos informações no CEDOC AfroReggae. Nenhuma informação foi encontrada. As duas entrevistas mostram que foi uma ação pioneira e importante, que se perderam os registros, mas provocou na equipe do CEDOC a abertura de uma pesquisa interna de material e de fotos sobre o projeto. Esta pesquisa nasceu das entrevistas. Desta forma o mais importante é reconhecer que a partir da Memória Oral a instituição pode encontrar partes esquecidas de sua trajetória e história. 8

9 O QUE NUNCA DEVE SER FEITO Editar uma entrevista ou censurar o que foi dito. O olhar sobre o passado nem sempre pode ser um olhar positivo. As críticas podem vir com mais força após o distanciamento dos fatos, mas o caminho de só preservar fatos positivos deve ser evitado de qualquer forma. Editar uma entrevista é comprometer de forma definitiva um projeto que deve sempre buscar o caminho da verdade. Uma história nunca será feita só de acertos e de sucessos. Uma história é recheada de erros, crises, fracassos e problemas. Contar uma história só a partir do que deu certo é esconder da sociedade a verdade. Sem a verdade pulsando no projeto de Memória, não existe memória e sim propaganda. QUANDO COMEÇAR Caso a Instituição não tenha condições de contratar um historiador, sua equipe de comunicação pode fazer um curso de extensão sobre Memória Oral. Deve-se pedir apoio a Centros de Pesquisa que trabalham com esta técnica. O Centro de Pesquisa Documental da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro, tem larga e qualificada história na técnica de Memória Oral. 9

10 UM DEBATE A SER FEITO A nossa intenção na publicação de duas edições do InfoReggae sobre história e memória institucional parte do pressuposto que manter viva uma instituição é respeitar seu passado. Uma instituição, independente de seu porte, pode e deve zelar pela sua documentação e pela sua história. Não se pode criar um CEDOC sem a presença de um profissional da área, mas pode, com pequenos critérios e com uma base mínima de formação, estruturar e cuidar de documentos, fotos e vídeos. O mais importante destas duas edições do InfoReggae é que estamos chamando atenção de que devemos nos preocupar com o que foi feito para que os novos fazeres possam ser realizados de forma mais qualificada. Tudo que foi feito teve um sentido. Buscar o passado e garantir seu registro é zelar de forma responsável com o futuro institucional. Esquecer o passado e suas marcas é abrir mão, é descartar, é quebrar a Instituição em muitas. No caso do AfroReggae, não existe um de 1993, outro de 2000, outro de 2007 e o atual de Existe um AfroReggae que é o resultado de todos estes anos e de todos os movimentos vividos pela instituição. CDS e fitas com entrevistas devem ser devidamente arquivadas. Foto: Acervo CEDOC Juntar histórias é mais do que tudo fazer a história. 10

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