PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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1 Certificado digitalmente por: FABIAN SCHWEITZER PODER JUDICIÁRIO APELAÇÃO CÍVEL Nº , DA COMARCA DE GUARAPUAVA 3ª VARA CÍVEL E DA FAZENDA PÚBLICA. APELANTE: RUBENS LESSAK MADEIRAS E OUTRO. APELADO: ADILSON FIORENTIN E OUTROS. RELATOR: DES. LAURI CAETANO DA SILVA. REL. CONV. : JUIZ FABIAN SCHWEITZER. APELAÇÃO CÍVEL AÇÃO ANULATÓRIA CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO CONTRATO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE IMÓVEL CONTRATO INADIMPLIDO PRETENSÃO DE ANULAÇÃO DOS ATOS EXPROPRIATÓRIOS SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA NOTIFICAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR FIDUCIANTE ATO PRATICADO PELO OFICIAL DO REGISTRO DE IMÓVEIS OBSERVÂNCIA DO PROCEDIMENTO PREVISTO NA LEI Nº 9.514/1997 TRANSCORRIDO O PRAZO PARA PURGAÇÃO DA MORA SEM O CORRESPONDENTE PAGAMENTO CREDOR FIDUCIÁRIO CONSOLIDADO NA PROPRIEDADE DO BEM REGULARIDADE DO LEILÃO EXTRAJUDICIAL RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº , da Comarca de Guarapuava, 3ª Vara Cível, em que são Apelantes Rubens Lessak Página 1 de 9

2 2 Madeiras, Rubens Lessak e Sandra Regina Giardin Lessak e Apelados Cooperativa de Crédito de Livre Admissão Terceiro Planalto do Paraná Sicredi Terceiro Planalto, Adilson Fiorentin e Márcia Angelita Klesener Fiorentin. 1. Trata-se de Apelação Cível interposta contra a sentença de fls. 417/425 (mov. 95.1), proferida nos autos de Ação Anulatória, sob nº , proposta por Rubens Lessak Madeiras, Rubens Lessak e Sandra Regina Giardin Lessak em face de Cooperativa de Crédito de Livre Admissão Terceiro Planalto do Paraná Sicredi Terceiro Planalto, Adilson Fiorentin e Márcia Angelita Klesener Fiorentin, que julgou improcedente o pedido inicial. Consequentemente, condenou os autores ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, estes fixados em R$1.500, Inconformados, Rubens Lessak Madeiras, Rubens Lessak e Sandra Regina Giardin Lessak interpuseram recurso de apelação (fls. 439/452 mov ), postulando a reforma da sentença. Para tanto, alegaram que o procedimento extrajudicial de expropriação e consolidação do réu Banco Sicredi na propriedade do imóvel alienado fiduciariamente é nulo porque não foram intimados pessoalmente pelo Oficial do Cartório de Registro de Imóveis para o leilão que resultou na arrematação do bem pelos réus Adilson Fiorentin e Márcia Angelita Klesener Fiorentin. Aduziram, ainda, que o entendimento do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que deve ser oportunizado ao devedor fiduciante a purgação da mora até a data da assinatura da ata de arrematação. Nesses termos, pediram a procedência do pedido inicial. A ré Cooperativa de Crédito de Livre Admissão Terceiro Planalto do Paraná Sicredi Terceiro Planalto apresentou contrarrazões às fls. 479/490 (mov ). Por sua vez, os réus Adilson Fiorentin e Márcia Angelita Klesener Fiorentin apresentaram contrarrazões às fls. 492/502 (mov ). Página 2 de 9

3 3 Vieram os autos conclusos. É o relatório. VOTO. 3. Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos, conheço o recurso. 4. Insurgem-se os apelantes contra a sentença para que a pretensão de anulação do procedimento extrajudicial de expropriação e consolidação do credor fiduciário na propriedade do imóvel alienado fiduciariamente seja julgada procedente. Primeiramente, convém contextualizar os fatos: a) A sociedade empresária Rubens Lessak Madeiras firmou com Cooperativa de Crédito de Livre Admissão Terceiro Planalto do Paraná Sicredi Terceiro Planalto cédula de crédito bancário com garantia fiduciária no valor de R$ ,50 (fls. 31/35 mov. 1.4), sendo que no contrato constou como garantidores Rubens Lessak e Sandra Regina Giardin Lessak. b) Para liquidação do financiamento, o devedor assumiu a obrigação de pagar 06 prestações, com vencimentos nos dias , , , , e Ainda, como garantia ao cumprimento da obrigação, alienou fiduciariamente o imóvel objeto da matrícula nº do 2º Registro de Imóveis de Guarapuava (fls. 20/25 mov. 1.3). Página 3 de 9

4 4 c) Conforme informações prestadas na petição inicial, os devedores foram notificados extrajudicialmente do inadimplemento das prestações do contrato, inclusive contranotificando o credor. d) A propriedade do imóvel foi consolidada em favor do credor fiduciário no dia , conforme consta na matrícula do imóvel (fls. 23/24 mov. 1.3). O bem foi arrematado no dia por Adilson Primo Fiorentin e sua mulher Marcia Angelita Klesener Fiorentin, pelo valor de R$ ,00, conforme ata e recibo de arrematação de fls. 18 (mov. 1.3). e) No dia , Rubens Lessak Madeiras, Rubens Lessak e Sandra Regina Giardin Lessak propuseram ação anulatória dos atos expropriatórios. Pleitearam em sede de tutela antecipada a suspensão dos efeitos do leilão do imóvel. A tutela de urgência foi indeferida (fls. 77 mov. 9.1) consignando-se que os requeridos que figuraram na condição de arrematantes já obtiveram a posse do imóvel por força de decisão proferida na relação processual de imissão de posse autuada sob o nº f) Consultando os autos da ação reivindicatória nº , ajuizada por Adilson Fiorentin e Marcia Angelita Klesener Fiorentin em face de Rubens Lessak e Sandra Regina Giardin Lessak, verificamos que o MM. Dr. Juiz a quo deferiu a liminar de imissão de posse, sendo essa decisão objeto do agravo de instrumento nº , ao qual negou-se seguimento. Na sequência, Sandra Regina Giarfin Lessak protocolou petição (mov. 16.1) informando que havia ajuizado, em , a medida cautelar nº postulando a suspensão dos atos expropriatórios do imóvel. Nesta ação, a Cooperativa de Crédito, em sede de contestação, promoveu a juntada das cópias das notificações extrajudiciais encaminhadas para Rubens Lessak e Sandra Regina Giardin Lessak no dia , as quais foram recebidas pessoalmente pelos devedores no dia , conforme Página 4 de 9

5 5 certidão do Oficial de Justiça (mov e 34.14). Ainda, a medida cautelar nº foi julgada extinta, com fundamento no artigo 267, VI do Código de Processo Civil, conforme sentença (mov. 63.1) já transitada em julgado. A sentença proferida nos autos da ação reivindicatória nº confirmou os efeitos da decisão liminar (mov ). Finalmente, tais autos foram remetidos para este Tribunal de Justiça para julgamento do recurso de apelação (mov e mov ). 5. Sustentam os apelantes a necessidade de reforma da sentença, basicamente por dois motivos: 1º) ausência de notificação pessoal para o leilão extrajudicial; 2º) possibilidade de purgação da mora até a data da arrematação do bem Quanto ao primeiro, observa-se dos autos que o devedor fiduciante foi regularmente notificado dos atos praticados pelo Oficial do Registro de Imóveis, com amparo na Lei nº 9.514/1997. A legislação que rege a alienação fiduciária de bem imóvel prevê um procedimento específico para a prática dos atos de consolidação do credor fiduciário na propriedade do bem objeto da garantia. Vejamos o disposto nos artigos 26, parágrafos 1º, 3º e 7º e artigo 27 da citada lei: Art. 26. Vencida e não paga, no todo ou em parte, a dívida e constituído em mora o fiduciante, consolidar-se-á, nos termos deste artigo, a propriedade do imóvel em nome do fiduciário. 1º Para os fins do disposto neste artigo, o fiduciante, ou seu representante legal ou procurador regularmente constituído, será intimado, a requerimento do fiduciário, pelo oficial do competente Registro de Imóveis, a satisfazer, no prazo de quinze dias, a prestação vencida e as que se vencerem até a data do pagamento, os juros convencionais, as penalidades e os demais encargos contratuais, os encargos legais, inclusive tributos, as contribuições condominiais imputáveis ao imóvel, além das despesas de cobrança e de intimação. Página 5 de 9

6 6 (...) 3º A intimação far-se-á pessoalmente ao fiduciante, ou ao seu representante legal ou ao procurador regularmente constituído, podendo ser promovida, por solicitação do oficial do Registro de Imóveis, por oficial de Registro de Títulos e Documentos da comarca da situação do imóvel ou do domicílio de quem deva recebê-la, ou pelo correio, com aviso de recebimento. (...) 7º Decorrido o prazo de que trata o 1º sem a purgação da mora, o oficial do competente Registro de Imóveis, certificando esse fato, promoverá a averbação, na matrícula do imóvel, da consolidação da propriedade em nome do fiduciário, à vista da prova do pagamento por este, do imposto de transmissão inter vivos e, se for o caso, do laudêmio.... Art. 27. Uma vez consolidada a propriedade em seu nome, o fiduciário, no prazo de trinta dias, contados da data do registro de que trata o 7º do artigo anterior, promoverá público leilão para a alienação do imóvel. O teor da lei é expresso: a intimação do devedor fiduciante deve ser pessoal. Há a alternativa de a intimação pessoal ser realizada ao representante legal do devedor ou a seu procurador regularmente constituído. O dispositivo continua estabelecendo que a intimação pessoal pode ocorrer de três maneiras: a) por solicitação do Oficial do Registro de Imóveis; b) por Oficial de Registro de Títulos e Documentos da comarca da situação do imóvel ou do domicílio de quem deve recebê-la; ou c) pelo correio, com aviso de recebimento. Nesse sentido, é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA DE BEM IMÓVEL. LEI Nº 9.514/1997. INTIMAÇÃO PESSOAL. NECESSIDADE. EXEGESE DO ART. 26 3º. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Na alienação fiduciária em garantia de bem imóvel, vencida e não paga, no todo ou em parte, a dívida e constituído em mora o fiduciante, consolidar-se-á Página 6 de 9

7 7 [...] a propriedade do imóvel em nome do fiduciário (art. 26, caput, da Lei nº 9.514/1997). 2. Ao fiduciante é dada oportunidade de purgar a mora. Para tanto, deverá ser intimado pessoalmente, ou na pessoa de seu representante legal ou procurador regularmente constituído. 3. A intimação, sempre pessoal, pode ser realizada de três maneiras: (a) por solicitação do oficial do Registro de Imóveis; (b) por oficial de Registro de Títulos e Documentos da comarca da situação do imóvel ou do domicílio de quem deva recebê-la; ou (c) pelo correio, com aviso de recebimento, sendo essa a melhor interpretação da norma contida no art. 26, 3º, da Lei nº 9.514/ É nula a intimação do devedor que não se dirigiu à sua pessoa, sendo processada por carta com aviso de recebimento no qual consta como receptor pessoa alheia aos autos e desconhecida. 5. Recurso especial provido para restabelecer a liminar concedida pelo juízo de piso até o final julgamento do processo. (REsp /PB, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/03/2016, DJe 28/03/2016) No particular, em face do inadimplemento contratual, além das notificações extrajudiciais encaminhadas pelo Oficial do Cartório de Registro de Títulos de Documentos (fls. 255/260 mov. 70.3/70.5), que constituiu o devedor fiduciante em mora, houve sua intimação pessoal, no dia , para a purgação da mora, consoante certidão do Oficial do Registro de Imóveis (fls. 261 mov. 70.6). O prazo de 15 transcorreu sem pagamento, acarretando a consolidação da propriedade do bem imóvel em nome do credor fiduciário. Por isso, cumpria ao credor a realização de leilão extrajudicial nos termos do artigo 27 da Lei nº 9.514/97, não exigindo a legislação regente nova notificação pessoal do devedor para tal. Senão vejamos: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CAUTELAR INOMINADA. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE LEILÃO EXTRAJUDICIAL. BEM IMÓVEL. FINANCIAMENTO IMOBILIÁRIO Página 7 de 9

8 8 COM ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. LEI 9.514/97. LEILÕES EXTRAJUDICIAIS. INTIMAÇÃO PESSOAL. DESNECESSIDADE. NULIDADE INOCORRENTE. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. PROVIDA A APELAÇÃO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº , Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Nara Leonor Castro Garcia, Julgado em 03/03/2011) AGRAVO DE INSTRUMENTO ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BEM IMÓVEL MEDIDA CAUTELAR LIMINAR CONCEDIDA PARA SUSPENÇÃO DE LEILÃO EXTRAJUDICIAL DESCABIMENTO DEPOIS DE CONSOLIDADA A PROPRIEDADE NAS MÃOS DO CREDOR, NÃO HÁ MAIS NECESSIDADE DE INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR PARA A REALIZAÇÃO DOS LEILÕES DECISÃO REFORMADA. Agravo de instrumento provido. (TJ-SP - AI: SP , Relator: Jayme Queiroz Lopes, Data de Julgamento: 18/02/2016, 36ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 22/02/2016) Portanto, não houve nenhuma nulidade nos atos expropriatórios praticados pelo Oficial do Registro de Imóveis Com relação à purgação da mora, como visto, o devedor fiduciante deixou transcorrer o prazo legal de 15 dias, contados após sua notificação pessoal, para efetuar o pagamento das prestações vencidas do contrato, acrescida dos correspondentes encargos legais. Aqui vale dizer, que embora o Superior Tribunal de Justiça, em alguns julgados, autorize a purgação da mora até a data da assinatura da ata de arrematação do bem, no caso em concreto, não visualizamos a real intenção do devedor fiduciante de efetuar o pagamento das prestações vencidas do contrato. A boa-fé do devedor nesse sentido não é evidente, pois em momento algum do trâmite processual solicitou o depósito judicial do débito. Inclusive, de Página 8 de 9

9 9 acordo com as alegações do credor, durante o período de normalidade do contrato, não efetuou o pagamento de nenhuma prestação do financiamento. Sendo assim, não há motivo para a reforma da sentença. 6. Diante do exposto, mediante os fundamentos acima expostos, voto no sentido de conhecer e negar provimento ao recurso de apelação. O julgamento foi presidido pelo Excelentíssimo Desembargador, LAURI CAETANO DA SILVA, sem voto, e dele participaram o Excelentíssimo Desembargador TITO CAMPOS DE PAULA, o Excelentíssimo Desembargador RUI BACELLAR FILHO, e o Excelentíssimo Juiz FABIAN SCHWEITZER, relator convocado. Curitiba, 15 de fevereiro de FABIAN SCHWEITZER Relator Página 9 de 9