Estudos arqueológicos no entorno da Lagoa do Portinho, Piauí: assentamentos sobre dunas.
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- Eliana Carvalho Clementino
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1 Estudos arqueológicos no entorno da Lagoa do Portinho, Piauí: assentamentos sobre dunas. Francilene Xavier de Sousa (Bolsista do ICV), Jacionira Coêlho Silva (Orientadora CCN-UFPI). INTRODUÇÃO Os vestígios arqueológicos possuem informações fundamentais sobre a cultura de povos pré-coloniais, revelando os atos sociais dessas populações, dependendo da conservação dos fragmentos encontrados nos sítios. O contexto onde eles se encontram indica a forma de sua produção e os mais diversificados usos, além da relação dessas sociedades com o meio em que vivem. O material cerâmico pode indicar os conhecimentos adquiridos e repassados de geração a geração, como se dava a manipulação de materiais, a utilidade dessas produções e as possíveis novas formas de usos; até mesmo as formas de habitação, conhecimento territorial, alimentício, político, cerimonial e outros. Ao ser estudado, a forma como se processa a fabricação da cerâmica, a cadeia operatória, os materiais utilizados na confecção das várias cerâmicas e os estilos que diferenciam os grupos que detém essa prática como tradição em sua cultura pode revelar muito sobre as origens de algumas práticas cerâmicas que perduram até hoje em nossa sociedade. A quantificação dos fragmentos cerâmicos em unidades bem como a classificação dos mesmos foi executada durante o processo de tombamento das peças em laboratório, identificados algumas partes do bojo e das bordas e possíveis partes da parede, alguns alisados e a maior parte erodida, junto aos achados arqueológicos também se encontram alguns metais. A maior parte das peças do artefato não se complementa, impossibilitando a completa reconstituição do vaso. METODOLOGIA Dentre os diversos procedimentos metodológicos que podem ser aplicados nos estudos arqueológicos com relação aos vestígios cerâmicos se encontram a caracterização e a quantificação, o tratamento de superfície e a forma de fabricação que ajudam a realizar inferências e análises, para se chegar ao conhecimento do contexto em que viveram os grupos ceramistas e até mesmo o comportamento social. Todavia, parte inicial do estudo cerâmico é a revisão bibliográfica que consta nesse relatório. A revisão bibliográfica incluiu o estudo de sítios com material cerâmico, em pequenos amontoamentos chamados cerritos (SAUL, 2008). Ainda no Rio Grande sul foi estudado um
2 material produzido por horticultores habitantes dessa região. A metodologia de estudo seguiu a ordem das tabelas tecno-tipológicas, procurando identificar cada peça, modo de produção, tratamento de superfície, pintura e desenhos geométricos. Segundo esses estudos a produção dessas cerâmicas atesta a existência de uma ocupação nessa região muito antes da chegada dos europeus (MACHADO, SCHNEIDER e SCHNEIDER, 2009) Ainda no sul, estudos da Missão Franco Brasileira discorrem sobre as tradições Umbu, Vieira, Humaitá, relacionadas aos povos Jê do Sul e aos Guarani, além da presença européia e suas influências colonizadoras no Brasil (FERREIRA, 2005). A construção de uma política colonial que até hoje permanece na prática acadêmica dos arqueólogos é levantada por Noelli ( ). Sobre uma possível influência amazônica na cerâmica pré-histórica do litoral piauiense, abordou-se o texto de Neves ( ) que trata dos desafios nos estudos que já alcançam meio século de tradição de pesquisas etnográficas e arqueológicas, envolvendo questões teóricas e metodológicas sobre o passado pré-colonial daquela região e das terras baixas da América do Sul. Envolve a busca da relação do ambiente com os processos sociais e culturais dos grupos que habitavam e habitam essas regiões. Ainda com relação à Amazônia buscaram-se extratos informativos sobre as origens da terra preta, em que discutem vários estudiosos tanto da Arqueologia como de outras áreas da ciência, tal como a Agronomia, procurando as causas da formação dessa terra e sua manutenção, que alguns acreditam seja herança de grupos indígenas devido à deposição de vários materiais no solo. Outra hipótese atribui causas naturais da própria química do solo. As condições nutricionais que embasariam ambas as ideias são levantadas, deixando um questionamento sobre o uso pretérito e atual dessa terra e qual a importância da mesma em nossa sociedade, em como pode ser importante na economia agrária (NOGUEIRA, 2012). Na região central brasileira, os estudos arqueológicos tiveram início na região do Mato Grosso, através de um programa de pesquisas denominado Programa de Pesquisas Pré- História e seus paleoambientes na Bacia do Paraná e no Mato Grosso, criado sob convênios de instituições brasileiras como a USP, MAE e instituições estrangeiras da França, Marrocos, Estados Unidos e Portugal (VIALOU, 2009). Sobre Minas Gerais, Alves (2013), publicou estudos sobre sítios mineiros tratando de questões teóricas, de métodos e aspectos técnicos na área arqueológica, trazendo uma visão geral sobre as bases dos estudos na Arqueologia como uma ciência de fundo histórico e de interesse para a sociedade e como se dão as abordagens no método indutivo na pesquisa de campo por Boas e Leroi-Gourhan, na sistêmica de Mauss e Leroi-Gourhan. Trata ainda dos métodos de escavação através dos estudos das camadas naturais da superfície feitas por Wheeler e Leroi-Gourhan, e as pesquisas do último nas questões pré-históricas assim como a forte influência da escola francesa na Arqueologia brasileira. Faz a inserção geológica, geomorfológica, hidrográfica e paisagística dos ambientes de estudos nos sítios do Vale do
3 Paranaíba em Minas Gerais e Turvo em São Paulo assim como o desenrolar das escavações, condições estruturais e cronologias encontradas nos referidos sítios em estudo. Sobre as origens da horticultura e cerâmica encontrou-se em Luna (2010) a informação de que nem sempre ambas estão relacionadas, ao tratar do estudo cerâmico no nordeste. Sobre o litoral do Piauí Silva e Quaresma (2012), analisaram o material cerâmico dos sítios Dunas I e II, Lagoa do Portinho I e Seu Bode buscando respostas sobre a diferenciação dos grupos que fabricavam cerâmica, como se dava a captura dos ingredientes desses artefatos e a relação dos grupos com o meio em que habitavam. Adotou a posição de uma possível cerâmica Tremembé, devido à ocupação da costa do Piauí e Ceará por esses nativos nos tempos da colonização. RESULTADO E DISCUSSÃO Inferiu-se da revisão bibliográfica realizada, que os resultados são diferenciados por que cada vestígio requer um questionamento e pode indicar variadas respostas ou mesmo ampliar os questionamentos. Na comparação de materiais consegue-se atribuir semelhanças ou diferenças que proporcionam a caracterização de diversos grupos ceramistas, classificandoos de acordo com as técnicas de fabricação da cerâmica e também a finalidade para a qual foram fabricadas. A discussão se dá através do enfoque deste plano de trabalho, pois os vestígios possuem uma história que em muitos casos dificulta o conhecimento nos dias atuais, pois existe o contexto arqueológico e o contexto dos próprios objetos. Essas situações implicam desfechos desconhecidos e por vezes fracionados na pesquisa. Os estudos já realizados pela Arqueologia têm demonstrado resultados satisfatórios acerca dos vestígios cerâmicos, e muito se tem obtido do conhecimento gerado por essas pesquisas. Alguns estilos cerâmicos já estão bem definidos, como a cerâmica Tupiguarani. Todavia, quase todo o material cerâmico encontrado, sobretudo no nordeste brasileiro, tem sido atribuído a essa filiação cultural. No Piauí, ao contrário, a cerâmica apresenta-se diferente, sendo atribuída ao grupo Macro-Jê. Os estudos cerâmicos possuem fundamental importância no entendimento dos grupos ceramistas, e tudo que esteja relacionado à vivência desses grupos, questões sociais, alimentícias, econômicas, tradições religiosas e outros. Ao longo dos estudos arqueológicos novas revisões se dão, e muitas incertezas são afastadas e interpretações são mais bem elaboradas ou reelaboradas. O resumo da revisão ora realizada serviu, sobretudo, para se perceber as diferentes abordagens da cerâmica, indagações e procedimentos mais adequados para seu estudo, percebendo-se a importância do contexto deposicional nas diferentes regiões do país para a obtenção das respostas.
4 Quanto aos materiais arqueológicos do Sítio Lagoa do Portinho II (Fig. 01) passaram pelo processo de curadoria, em que foram identificados, quantificados e classificados numa abordagem preliminar. Os principais termos usados no protocolo de identificação do material foram: município (LC= Luís Correia), sítio (LP= Lagoa do Portinho) + nº do sítio (LP2) + nº da etiqueta (001, apenas os dígitos positivos.) + nº da peça (1, 2, 3. apenas os dígitos positivos.), por exemplo, LC-LP2-1-45, isto para reduzir ao máximo possível à intervenção na peça arqueológica. Evidentemente, nos registros impresso ou digital utilizam-se todos os dígitos, inclusive os negativos (os Zeros). Recente datação obtida na área litorânea diz respeito ao Sambaqui da Baía, na Ponta do Socó, Cajueiro da Praia-PI, com 300 anos A. P (antes do presente), ou seja, do período colonial, por volta de A última datação pertence ao sítio Lagoa do Portinho II obtida através da cerâmica, chegou a 620±65 anos A.P., portanto do período entre 1300 e 1400 D.C, antes da chegada do colonizador. Com tratamento externo por alisamento apenas uma borda forneceu a reconstituição do vasilhame, a técnica de modelação utilizada foi a roletagem, fragmentos de base em menor quantidade, também foram identificados, os materiais analisados apresentaram resultados que podem ser mais bem entendidos com o auxilio de um gráfico da proporcionalidade e da distribuição dos fragmentos de acordo com a morfologia. CONCLUSÃO A curadoria foi iniciada, seguindo o cronograma estimado com os devidos registros necessários aos estudos estabelecidos, com a finalização do projeto no mês de julho do ano em curso, conforme o tempo corrente para um projeto de ICV. Nesse entretempo a reconstituição da cerâmica a partir das bordas coletadas está sendo realizadas para uma melhor caracterização desses artefatos e, conseqüentemente, da cultura material de seus autores. Palavras-chaves: Assentamentos litorâneos, Contexto dunar e de manguezal, Cultura material. APOIO INSTITUCIONAL: PROPESQ NAP UFPI REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ALVES, M. Angelina. Assentamentos e cultura material indígena anteriores ao contato no Sertão da Farinha Podre, MG, e Monte Alto, SP. Erechim, RS: Habilis, FERREIRA, M. L. Arqueologia do Sul do Brasil e política colonial em Hermann von Ihering. Bolsista FAPESP. Núcleo de Estudos Estratégicos/Unicamp. Anos 90. Porto Alegre, v. 12, n , p , jan./dez LUNA, S. Sobre as origens da agricultura e da cerâmica pré-histórica no Brasil. Departamento de Letras e Ciências Humanas Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2010, p
5 MACHADO, N. T. G; SCHNEIDER, P; SCHNEIDER, F. Análise parcial sobre a cerâmica arqueológica do Vale do Taquari, Rio Grande do Sul. 2009, p NEVES, E. G. O velho e o novo na Arqueologia amazônica. Revista USP, São Paulo, n.44, p , dezembro/fevereiro NOELLI, S. F. A ocupação humana na região sul do Brasil: Arqueologia, debates e perspectivas Revista USP, São Paulo, n. 44, p , dezembro/ NOGUEIRA, P. O segredo da terra preta. Unespciênica. Julho de 2012, p PES, F. Jaqueline; SAUL, S. M. Eduardo. Vestígios cerâmicos pré-históricos na região sudoeste do Rio Grande do Sul. IX Salão de Iniciação Cientifica PUCRS, p SANTOS, G. Aline; COÊLHO, S. Jacionira; QUARESMA, Julimar. Cerâmica pré-histórica no litoral piauiense: uma cerâmica Tremembé? Revista FSA, n 09/2012. Ciências Sociais/Arqueologia, p VIALOU, ÁGUEDA, V. Pesquisas Pré-Históricas no Mato Grosso. I Encontro de Arqueologia de Mato Grosso do Sul. Arqueologia História de Mato Grosso do Sul. MuArq UFMS. Campo Grande, 18 a 22 de maio de 2009, p
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