TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Ribeirão Preto, em que é apelante EDIFICIO JOAQUIM FIRMINO, é apelado DAVIDSON GUSTAVO DA SILVA E SANTOS (JUSTIÇA GRATUITA). ACORDAM, em 4ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores NATAN ZELINSCHI DE ARRUDA (Presidente) e HAMID BDINE., 15 de setembro de 2016 FÁBIO QUADROS RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Voto nº Apelação Cível nº (processo digital) Comarca: Ribeirão Preto Apelante: Davidson Gustavo da Silva Santos Apelado: Edifício Joaquim Firmino Juiz prolator: Dr. Héber Mendes Batista RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. Autor que alega ter sido vítima de homofobia praticada pela síndica do condomínio em que reside Sentença de procedência Inconformismo do réu, com preliminar Cerceamento de defesa não caracterizado Preclusão da prova oral Réu que não manejou oportuno recurso contra decisão que deu por encerrada a fase de instrução Dano moral caracterizado Depoimento da testemunha do autor determinante para comprovação dos alegados danos Legitimidade da prova Valor da indenização inalterado, ausente impugnação do réu Sentença mantida Aplicação do art. 252 do Regimento Interno deste Egrégio Tribunal de Justiça Recurso não provido. A r. sentença, cujo relatório se adota, julgou procedente o pedido inicial deduzido na ação de INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL ajuizada por DAVIDSON GUSTAVO DA SILVA SANTOS contra EDIFÍCIO JOAQUIM FIRMINO, para condenar o réu ao pagamento de indenização, no importe de R$5.000,00, corrigidos da data da sentença, acrescido de juros de mora de 12% ao ano desde a data do fato. Por força da sucumbência, condenou o réu ao pagamento das custas e despesas processuais, bem como honorários advocatícios fixados em 20% sobre o valor da condenação (fls. 73/77). Inconformado, recorre o réu pleiteando a reforma da r. sentença. Argui cerceamento de defesa, pela não oitiva do subsíndico como testemunha do condomínio. No mais, impugna o Apelação nº Ribeirão Preto - VOTO 29611/ACBN Nº 2/7

3 depoimento da testemunha ouvida pelo Juízo, alegando se tratar de amiga íntima do autor e inimiga da síndica do condomínio. Por fim, alega que a conduta da síndica consistiu apenas alertar o autor sobre seu comportamento, considerando que o circuito com as imagem era disponibilizado para todos os moradores do prédio, não desbordando para ofensas quanto à opção sexual do autor (fls. 30/31). O recurso foi recebido em seus regulares efeitos (fl. 103). O recorrido apresentou contrarrazões (fls. 90/102). É o relatório. O recurso não merece provimento. Pretende o autor,com a presente ação, a condenação do réu ao pagamento de indenização por danos morais, alegando ter sido vítima de homofobia praticada pela síndica do condomínio réu, em decorrência de filmagem de um beijo que deu em seu namorado, no interior do elevador do prédio. Contestada a ação (fls. 30/31), sobreveio sentença de procedência, reconhecendo a responsabilidade do réu pelo prática de ato ilícito, fixando indenização por danos morais em R$5.000,00. contudo. Contra a sentença recorre o réu. Sem razão, Inicialmente, afasta-se a preliminar de Apelação nº Ribeirão Preto - VOTO 29611/ACBN Nº 3/7

4 cerceamento de defesa arguida no recurso. Com efeito, encerrada a instrução processual pelo MM. Juízo a quo (fl. 63), deixou o réu de manejar oportuno recurso no sentido de que fosse ouvida sua testemunha. Logo, preclusa a prova, não há falar-se em cerceamento de defesa. No mérito, o r. decisum merece ser confirmado por seus próprios e bem deduzidos fundamentos, os quais ficam inteiramente adotados como razão de decidir pelo improvimento do recurso, nos termos do art. 252 do Regimento Interno deste Egrégio Tribunal de Justiça, que assim dispõe: nos recursos em geral, o relator poderá limitarse a ratificar os fundamentos da decisão recorrida, quando suficientemente motivada, houver de mantê-la. Com acerto, a r. sentença, após análise da prova oral produzida, acolheu a pretensão inicial, para reconhecer a responsabilidade do réu pelas ofensas dirigidas pela síndica ao autor, condenando-o por danos morais, in verbis : Pois bem. A síndica, ouvida na condição de representante do condomínio, asseverou que, após a cena do beijo entre o autor e seu namorado ser divulgada no circuito fechado de TV, houve reclamação de outros moradores. Por isso, após as queixas, o procurou apenas para recomendá-lo a não repetir o ato, para o fim de se evitar futuros problemas com os outros condôminos. A sua versão, porém, foi contrariada pela Apelação nº Ribeirão Preto - VOTO 29611/ACBN Nº 4/7

5 prova testemunhal. De fato, a testemunha Camila Sian de Freitas, arrolada pelo autor, asseverou que ficou sabendo, pelo próprio autor e por outras três pessoas que moravam com ele no apartamento e até pelo próprio sub-síndico do condomínio, que a síndica, após o ocorrido, procurou o requerente aos berros, usando palavras ofensivas e discriminatórias. Nessa ocasião, a síndica teria dito que, se o autor não se mudasse do prédio, iria fazer um abaixo-assinado. Relatou ainda, que a síndica gravou as imagens em um pen drive e o divulgou para os moradores do condomínio. Por fim, afirmou que ela mesma já fora vitima de ofensas por parte da síndica do condomínio-réu. Vê-se, pois, que a prova oral produzida pelo réu, porque isolada do conjunto probatório, não tem o condão de afastar sua responsabilidade, especialmente porque, ao contestar, admitiu ter procurado o autor para aconselhá-lo a evitar beijos lascivos no namorado em áreas comuns do edifício (muito embora tenha negado as ofensas discriminatórias). Em suma, a prova inserta nos autos, Apelação nº Ribeirão Preto - VOTO 29611/ACBN Nº 5/7

6 comprova o ato discriminatório decorrente da opção sexual do autor, e esse tipo de conduta (...)vai de encontro aos preceitos constitucionais de promoção do bem estar de todos, 'sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação' (art. 3º, IV) e deve ser coibida. (TJSP, 2ª Câmara de Direito Privado, na Apelação nº , da Comarca de Ribeirão Preto, relator o Desembargador JOSÉ CARLOS FERREIRA ALVES, j , v.u.) (fls. 74/76 - grifei). Com efeito, a prova testemunhal produzida nos autos foi contundente quanto aos danos experimentados pelo autor, em razão de atos discriminatórios praticados pela síndica, representante do condomínio réu. Tal prova mostra-se legítima e merece credibilidade, devendo ser considerada como hábil a comprovar os fatos relatados pelo autor. Logo, caracterizado o dano, de rigor era a fixação de indenização, cujo valor prevalece assim como lançado pela r. sentença, ausente impugnação do réu nesse sentido. E outros fundamentos são dispensáveis diante da adoção integral dos que foram deduzidos na r. sentença e aqui Apelação nº Ribeirão Preto - VOTO 29611/ACBN Nº 6/7

7 expressamente adotados para evitar inútil e desnecessária repetição, nos termos artigo 252 do Regimento Interno deste Egrégio Tribunal de Justiça. recurso. Ante o exposto, nega-se provimento ao FÁBIO QUADROS Relator Apelação nº Ribeirão Preto - VOTO 29611/ACBN Nº 7/7