PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social O JOVEM E SUA INSERÇÃO NO TRABALHO: PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS

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1 O JOVEM E SUA INSERÇÃO NO TRABALHO: PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS Priscila Rhanny Bulla* (Programa de Iniciação Científica, Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá PR, Brasil.); Maria Therezinha Loddi Liboni (Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá PR, Brasil). Palavras-chave: Jovem. Trabalho. Políticas Públicas. contato: prisbulla@gmail.com O Brasil é um país com grande parte da população jovem, assim, estudos que abordam a juventude e suas relações possuem grande relevância para o meio social e o meio científico. De acordo com o observado de estudos sobre desemprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011; 2012), os índices de desemprego entre adultos é menor do que o índice de desemprego entre os jovens. Dessa maneira, um tema que começa a ganhar importância é a inserção dos jovens no campo do trabalho, qual o sentido da atividade de trabalho, e como ocorre a transição da condição de estudante para o mercado de trabalho. A transição da condição de estudante para o mercado de trabalho é uma trajetória importante para o jovem no caminho de sua construção da vida adulta e é considerado crítico para o desenvolvimento da juventude. Essa transição, de acordo com Sarriera e Verdin (citado por Melo e Borges, 2007) é acompanhada da perda da condição de estudante, do apoio da escola, a perda da influência da família, pela necessidade de o indivíduo construir uma identidade própria. Esses fatores podem produzir sentimentos de impotência, de insegurança, de apatia, e, ainda, de adoecimento, de comportamentos antissociais ou de fuga da realidade, caso o jovem não esteja preparado e apoiado para a aquisição do status de cidadão ativo e produtivo. Sendo assim, necessária a presença da Psicologia no contexto apresentado. Nesse contexto, discutir juventude e trabalho torna-se uma tarefa importante. Assim, essa pesquisa buscou, analisar como as Políticas Públicas em relação do jovem com o trabalho vem sendo trabalhada pela Psicologia. Essa pesquisa também buscou identificar quais são as contribuições da Psicologia, quando essa temática é focada, pela análise das

2 publicações selecionadas e verificar como os pesquisadores problematizam as políticas públicas implementadas e sua contribuição para a melhoria da vida dos jovens. Para a realização desse trabalho o conceito de juventude abordado é a juventude plural e foram levadas em conta as publicações realizadas sobre o tema em periódicos disponíveis online pelo Scielo Brasil, PePSI e Index Psi Teses. Para a busca das publicações foram utilizados os seguintes termos: (a) Jovem e trabalho (b) Políticas públicas para o jovem (c) Psicologia e trabalho (d) Juventude (e) Juventude e políticas públicas voltadas para o trabalho. Foram analisados também os anais do Congresso V JUBRA (V Simpósio Internacional Sobre a Juventude Brasileira) que ocorreu em 2012 na cidade de Recife PE. Foram encontrados 6 trabalhos, sendo todos comunicações orais que abordavam o tema tratado nessa pesquisa, no entanto, somente três eram da área da Psicologia, dos quais, dois englobavam jovens e políticas públicas. Com o decorrer da pesquisa foi identificado que há indícios de que o tema não é frequentemente abordado pela Psicologia. E, das poucas vezes que a Psicologia aparece dentro dessa temática, há grande influência de outras áreas do conhecimento, como a sociologia e a educação. Foi identificado também que uma das possíveis justificativas para os poucos estudos científicos existentes nessa área é o fato de que o tema das políticas públicas com ênfase na juventude é recente na realidade brasileira. Foram identificadas 11 publicações em periódicos científicos online referentes ao jovem e sua inserção no mundo do trabalho e políticas públicas. Desses, somente cinco deles atenderam a todos os critérios elencados: serem publicados em periódicos da área de Psicologia ou em programas de pós graduação de Psicologia, portanto, são estes que compõe a análise. Dessas publicações três são na abordagem da psicologia social, e uma delas correlaciona a discussão que Michel Foucault faz acerca da construção do Estado Moderno, que é regulado pela noção de biopolítica e é por meio da relação entre Estado e Neoliberalismo que a figura do homo oeconomicus emerge. Esses aspectos são relacionados com a teoria da psicologia social. Há também uma publicação na vertente da Psicologia que aborda a teoria de Michel Foucault sobre a estratégia genealógica e uma na Psicologia Histórico Cultural da Mente. Esse material levantado revelou que houve um crescimento das políticas públicas relacionadas ao jovem nos últimos anos. Foi identificado também que as políticas públicas focam, principalmente, o jovem em situação de vulnerabilidade e não o jovem trabalhador.

3 Isso ocorre devido ao contexto histórico das políticas públicas para jovens no país que são oriundas das práticas de institucionalização do jovem, sendo o trabalho muitas vezes visto como modo de disciplina e prevenção da delinquência (Hadler e Guareschi, 2010). A partir dos estudos feitos acerca do material coletado, verificou-se que há discussões amplas sobre vários temas desde a constituição do sujeito até a validade das políticas públicas. Duas publicações que dão enfoque nos resultados, principalmente benéficos, das políticas públicas que buscam inserir o jovem ao mundo do trabalho. Frezza, Maraschin e Santos (2009) discutem a política pública CSJ (Consórcio Social da Juventude) que tinha como finalidade principal gerar novos sentidos para o trabalho, entretanto, os relatos de experiência demonstravam que os jovens desenvolveram novas formas de trabalho com satisfação pessoal, criatividade, autogestão e autonomia. A segunda publicação de Rocha e Góis (2010), relata a transformação na identidade de um sujeito que o trabalho pode ter, somente sendo possível por intermédio de uma política pública municipal. Um ponto relevante é que todos os artigos relataram a dificuldade de inserção do jovem no mercado de trabalho, no entanto, os autores pouco se aprofundam em possíveis sugestões acerca da possibilidade de reverter esse aspecto da economia brasileira. Um aspecto em que a Psicologia contribui sobre o tema é a análise que ela faz sobre o impacto que as políticas públicas têm na vida dos jovens, uma análise não objetiva, mas, sobretudo subjetivamente. Outras áreas do conhecimento analisam o impacto objetivo das políticas públicas na população, a Psicologia possibilita ampliar os resultados objetivos por meio da análise subjetiva, como ocorre, por exemplo, na publicação de Rocha e Góis (2010), um projeto regional que pode ter pouco impacto na sociedade, no entanto, o impacto na vida do sujeito exemplificado no artigo é significativo, uma vez que, proporcionou grande mudança em sua vida e em sua forma de perceber a realidade. Outro aspecto é que, ao analisar os impactos das políticas públicas, regionais ou não, pode sobretudo fornecer subsídios para a elaboração de novas políticas públicas, pois como descreve Brigadão, Nascimento e Spink (2011) a análise tanto de experiências bem sucedidas como das dificuldades apresentadas pelas colocação em prática das políticas podem orientar a criação e recriação de políticas nacionais, uma vez que esse processo é contínuo e ocorre contribuição de diversos agentes, estruturas e instâncias. Somente dois artigos avaliam o resultado das políticas públicas implantadas e somente um ofereceu contribuições na busca de superação de seus limites. Os autores sugeriram que para superar os limites das políticas públicas neste campo é necessário que jovens estejam

4 presentes no momento de sua discussão, visto que, muitas vezes estas são elaboradas por adultos que não veem as reais necessidades dos jovens. Esse aspecto também pode apontar para outra possível contribuição que a Psicologia tem para esse campo de estudo, ou seja, trazer o jovem como sujeito que sofre a intervenção das políticas públicas mas também é um sujeito capaz de agir e participar da formulação das próprias políticas públicas. Essa forma de atuação pode gerar o maior interesse e adesão do jovem pela política pública, visto que sua participação na elaboração é considerada relevante. Essa preocupação é também encontrada em Zanella et. al (2013) que ao produzir análises sobre a produção científica sobre juventude e políticas públicas nos últimos dez anos descreve o risco de não se considerar o jovem como participante desse processo. Por fim, está é uma área que tem pouco material escrito ainda, contudo há muito a ser estudado e aprofundado, pois como ressaltamos no início, a juventude é parcela importante da população brasileira e a relação que constrói com o campo do trabalho compõe aspecto importante a ser considerado pela Psicologia. Referências Brigadão, J.; Nascimento, V. L. V.; Spink, P.K. (2011). As interfaces entre Psicologia e Políticas Públicas e a configuração de novos espaços de atuação. REU, Sorocaba, SP, v. 37, n. 1, p , jun.. Disponível em 599&path%5B%5D=685. Acesso em Frezza, M.; Maraschin, C.; Santos, N. (2009). Juventude como problema de políticas públicas. Revista Psicologia e Sociedade, 21(3), Guareschi, N. M. F.; Lara, L.; Adegas, M, (2010). Políticas públicas entre o sujeito de direitos e ohomo oeconomicus. Psico, 41(3), Hadler, O. H; Guareschi, N.M.F. (2010). Nas trilhas do sujeito jovem: entre práticas de institucionalização e políticas públicas. Mnemosine, 6(1,) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -IBGE. (2011). Pesquisa mensal de emprego dezembro Disponível em: < org.br>. Acesso em 27 jan

5 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -IBGE. (2012). Pesquisa mensal de emprego dezembro Disponível em: < org.br>. Acesso em 18 fev Melo, S.; Borges, L. (2007). A transição da universidade ao mercado de trabalho na ótica do jovem. Revista Psicologia Ciência e profissão, 27(3), Rocha, N. M. F. D.; Góis, C.W. L. Trajetórias de jovens no mundo do trabalho a partir da primeira inserção: o caso de Sísifo em Maracanaú - Ceará, Brasil. Psicologia e Sociedade, 22(3), Tavares, S,C. (2011) Os vínculos e a construção de projetos profissionais de jovens inseridos em um programa social. Tese (Doutorado em Psicologia Social) Instituto de Psicologia Universidade de São Paulo, São Paulo. Disponível em: Acesso em: 14 de abril de Zanella, A. V.; Groff, A.R.; Silva, D.O. B.; Mattos, L. K.,; Furtado, J. R. ; Assis, N. (2013). Jovens, juventude e políticas públicas: produção acadêmica em periódicos científicos brasileiros (2002 a 2011). Estudos de Psicologia, 18(2),