CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE MATO GROSSO

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Carla Álvares da Silva
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1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 PARECER CRM-MT Nº 15/2013 INTERESSADA: Dra. A. M.de S. N. L. CONSELHEIRO PARECERISTA: Dr.

1 PARECER CRM-MT Nº 15/2013 INTERESSADA: Dra. A. M.de S. N. L. CONSELHEIRO PARECERISTA: Dr. Gabriel Felsky dos Anjos ASSUNTO: Médico plantonista tem obrigação de realizar exames de corpo e delito, necropsia e preencher laudo. DATA DA APROVAÇÃO:5 de novembro de 2013 RELATÓRIO DO CONSELHEIRO PARECERISTA I. DA CONSULTA: 11.. Sou D. T. e clínica do Hospital Municipal de Aripuanã e venho solicitar orientações sobre como proceder em relação a atestados de óbito e laudos periciais como exame de corpo de delito e necropsias. Em nosso município não dispomos de Serviço de Verificação de Óbito, nem de um espaço físico destinado ao Instituto Médico Legal. Não dispomos de um local para acondicionar corpos e muito menos câmara fria. Dispomos apenas de um médico legista concursado pelo Estado. Não tenho acesso a informações a respeito da carga horária deste médico, mas algumas vezes tentamos encaminhar pacientes e corpos para o mesmo sem sucesso. Sofremos pressões do departamento policial (polícia civil) para a realização de exames de corpo de delito, laudos de lesões corporais e necropsias, já que alegam que não teriam onde acondicionar o corpo, que poderia se deteriorar, e a família estaria esperando para realizar o enterro, por isso precisariam liberar o corpo rapidamente. No caso de lesões corporais alegam que quando a pessoa é presa em flagrante tem que ser examinada imediatamente antes de entrar na cadeia

2 2 para evitar falsas acusações de maus tratos e lesões ao ser efetuada a prisão do suspeito. Gostaria de saber Se o médico plantonista do Hospital tem obrigação de realizar exames corpo delito e necropsia e preencher os devidos laudos, visto que para a realização dos mesmos seria necessária capacitação para tal. Nós não nos sentimos capacitados para a realização de tais exames e, tendo em vista que esses laudos serão utilizados em processos judiciais, sabemos que um laudo mal feito poderia prejudicar tais investigações. Gostaria da orientação do CRM sobre como agir em tais situações, quando encaminhar ao perito do Instituto Médico Legal e como agir se o mesmo se ausentar da cidade ou não for encontrado no momento das ocorrências citadas acima II. DA RESPOSTA: Perícia em sentido amplo, é todo e qualquer ato propedêutico ou exame, feito por médico, com a finalidade de contribuir com as autoridades administrativas, policiais ou judiciárias na formação de juízos a que estão obrigados. (Hermes Rodrigues de Alcântara). É o conjunto de procedimentos médicos e técnicos que tem como finalidade o esclarecimento de um fato de interesse da Justiça, ou como um ato pelo qual a autoridade procura conhecer, por meios técnicos e científicos, a existência ou não de certos acontecimentos, capazes de interferir na decisão de uma questão judiciária ligada à vida ou à saúde do homem ou que com ele tenha relação. (Genival Veloso de França).

3 Art. 158 do CPP: Quando a infração deixar vestígios será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Os peritos quem são? São profissionais tecnicamente capacitados, indicados pela autoridade competente, para esclarecer pontos de dúvida em relação a casos de interesse da Justiça. Dois tipos: I) Peritos oficiais II) Peritos nomeados ou ad hoc 37 III. LEGISLAÇÃO: ) No Código de Processo Civil (Lei n o 5.869/1973), temos: a) O Artigo 145 que diz: Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico, o juiz será assistido por um perito e, no parágrafo primeiro do mesmo artigo, determina que os peritos serão escolhidos entre os profissionais de nível universitário, devidamente inscritos no órgão de classe competente; b) O Artigo 146 que diz: O perito tem o dever de cumprir o ofício, no prazo que lhe assina a lei, empregando toda a sua diligência, podendo, todavia, escusar-se do encargo alegando motivo legítimo. E para isso, em seu parágrafo único, esclarece que a escusa será apresentada em 5 (cinco) dias, contados da intimação ou do impedimento superveniente, sob pena de se reputar renunciado o direito a alegá-la. c) O Artigo 421, determinando que o juiz nomeará o perito, fixando de imediato o prazo para a entrega do laudo. E ainda especifica, no seu item II e parágrafo único, que o perito pode ser substituído quando sem motivo legítimo, deixar de cumprir o encargo no prazo que lhe foi assinado, tendo o juiz a incumbência de comunicar a ocorrência ao órgão de classe

4 onde o profissional é registrado, podendo, ainda, impor multa ao perito, fixada com base no valor da causa e o possível prejuízo decorrente do atraso no processo. 2 ) No Código de Processo Penal (Decreto-Lei nº 3.689/1941), temos: a) O Artigo n 275 que diz: O perito, ainda quando não oficial, estará sujeito à disciplina judiciária; b) O Artigo 277,que diz: O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar o encargo, sob pena de multa de cem a quinhentos mil-réis, salvo escusa atendível. E, ainda em seu parágrafo único, determina que: Incorrerá na mesma multa o perito que sem justa causa provada imediatamente: I- Deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade; II-Não comparecer no dia e local designados para o exame; III- Não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja feita, nos prazos estabelecidos; Nas localidades em que há médicos legistas devidamente designados e habilitados pelo Estado para exercer este mister, os demais médicos não estão obrigados eticamente a realizar exames de corpo de delito quando nomeados pelas autoridades policial ou judiciária. Na localidade onde não há peritos oficiais, existindo as condições mínimas e cumpridas as premissas de isenção, o médico nomeado por portaria deve atender à requisição da autoridade. Caso contrário, deverá justificar-se por escrito à autoridade. O médico designado perito pode, todavia, nos temos do Artigo 424 do Código de Processo Civil, escusar-se do encargo alegando motivo legítimo. Motivos legítimos para a recusa: 1. Interesse na causa

5 Parente até 3º grau 3. Amigo/inimigo 4. Médico de empresa-funcionário 5. Paciente/ex-paciente 6. Sem conhecimento específico do assunto 7. Acúmulo de trabalho 8. Foro íntimo. Recusar-se a atuar como médico perito é legal e ético, dentro da vigência do CPC e CEM. Não responder ao juiz é ilegal e anti ético, sujeitando o médico a ação civil e processo ético-profissional. Aos médicos plantonistas, quando estiverem no desempenho dessa atividade, devem priorizar os atendimentos de urgência e emergência. Na hipótese de o médico ter constatado lesões corporais em pessoa conduzida pela autoridade policial, deve priorizar o atendimento ao paciente, caso esse já não tenha ocorrido, declarando-se impedido de realizar o exame pericial a partir de então. Deverá, porém, registrar a constatação no prontuário respectivo e fornecer atestado, se o paciente o pedir. O médico está impedido eticamente de realizar exame pericial em paciente seu, devendo justificar este óbice por escrito e de imediato às autoridades policial ou judiciária. O médico nomeado perito pelas autoridades policial ou judiciária, à exceção das hipóteses disciplinadas nos dispositivos anteriores ou justa causa devidamente formalizada e provada imediatamente, está obrigado a realizar o exame médico-pericial. É vedada ao médico realizar exames médicos-periciais de corpo de delito em seres humanos no interior dos prédios e ou

6 dependências de delegacias, seccionais ou sucursais de Polícia, unidades militares, casas de detenção e presídios. É vedado ao médico realizar exames médico-periciais de corpo de delito em seres humanos contidos através de algemas ou qualquer outro meio, exceto quando o periciando oferecer risco à integridade física do médico perito. É vedado ao médico, exercendo cargo ou função de chefia, nomear ou designar médicos a ele subordinados para realizarem tais exames sob as condições descritas acima. Por ser um trabalho complexo, de alta responsabilidade, que demanda tempo e geralmente brevidade no seu desempenho, o médico, no caso das perícias não serem eventuais deve estipular honorários a serem cobrados da autoridade pública. O médico tem direito à justa remuneração pela realização do exame pericial, devendo requerê-la por escrito às autoridades policial ou judiciária Este é o meu parecer, salvo melhor juízo desta Plenária Dr. Gabriel Felsky dos Anjos Conselheiro Parecerista

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