Trabalhando Matemática: percepções contemporâneas

Transcrição

1 A UTILIZAÇÃO DOS JOGOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS DO FUNDAMENTAL Educação matemática na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental GT 09 RESUMO Este trabalho partiu da necessidade de alunos da graduação em licenciatura plena em Matemática devido a algumas dúvidas em relação ao tema: a utilização dos jogos nas aulas de matemática. Dessa maneira, iniciamos nossos estudos com uma busca bibliográfica e teórica sobre o uso de jogos nas aulas de Matemática, primeiramente de uma forma geral e em seguida ao uso de jogos no ensino básico das séries inicias. Dessa forma, a fundamentação do estudo dar-se-á inicialmente por um percurso da concepção de jogo numa perspectiva antropológica, filosófica, para depois abordar novos conceitos dentro da sociologia e da psicogenética sobre jogar, brincar, próprios da educação, especificamente no espaço educativo. Realizamos esse estudo sobre os jogos nas aulas de matemática, pois sabemos que o educador é visto como sujeito de produção do saber, em que ensinar não é transferir conhecimentos apenas através de conteúdos, mas criar possibilidades para a sua produção e construção, tendo o ensino através de jogos uma dessas possibilidades. Palavras-chaves: Educação Matemática; Jogos; formação de conceitos. 1. Introdução e Objetivos Historicamente a escola nada mais é do que uma instituição criada pelos indivíduos de uma sociedade. A mesma é responsável por transmitir formalmente os conhecimentos adquiridos ao longo da história da humanidade. Para tanto são os professores os adultos escolhidos e socialmente avaliados pela sociedade para executar esta tarefa. Sendo assim, a transmissão formal dos conhecimentos tendo como fonte um adulto é uma das maneiras de ensinar a criança que aprende de forma significativa, autônoma e construtiva como, por exemplo, a experimentação direta, a observação dos fatos, a discussão das observações, as trocas de informações e as atividades lúdicas (jogos e brincadeiras). Acreditando que a verdadeira educação é aquela que possibilita a criança satisfazer suas múltiplas necessidades intelectuais, como a necessidade de saber, de explorar, de observar, de trabalhar, de jogar, em suma de viver, acredita-se então que a educação é a responsável por organizar seus conhecimentos, partindo das necessidades e dos interesses dos alunos. Por sua importância, o jogo pode ser uma dos caminhos que a criança poderá utilizar para construir seu conhecimento na infância, pois o jogo em sala de aula é uma estratégia 1

2 didática que possibilita a mesma a chegar à descoberta e a construção de conhecimentos. Podemos confirmar isto na citação de Rallo, quando a mesma diz que: O jogo em sala de aula é uma ótima proposta pedagógica, porque propicia a relação entre parceiros e grupos e nessas relações podemos observar a diversidade de comportamento das crianças para construir estratégias para a vitória, e que é um fator de avanço cognitivo, pois durante o jogo a criança estabelece decisões, entra em conflitos com seus adversários e reexamina seus conceitos. (RALLO, 1994, p. 25) Como o ensino hoje vai muito além do que apenas transmitir os conteúdos, os jogos surgem como uma metodologia capaz de dinamizar as aulas, neste caso, as aulas de matemática. Dessa forma, os jogos pedagógicos passam a ser uma ferramenta valiosa para serem trabalhados durante as aulas. Assim, o presente estudo foi desenvolvido tendo como base os objetivos a seguir Objetivos Analisar as possibilidades do uso de jogos nas aulas de Matemática frente ao desenvolvimento de conceitos e a autonomia do educando. Trazer para os alunos da licenciatura em Matemática uma reflexão teórica e prática acerca do uso de jogos em sala de aula tendo em vista o processo de formação de conceitos e a autonomia do educando. 2. A função dos jogos e brincadeiras no espaço educativo da criança 2.1 Brinquedos, brincadeiras e jogos Conceitos. Conceituar e definir cada um desses termos não é uma tarefa muito fácil. Segundo o Dicionário Sacconi da língua portuguesa (1996, p ), a palavra Brinquedo é: tudo aquilo que serve para as crianças como, objeto de diversão ou entretenimento; Brincadeira é: divertimento, gracejo, advinha; e Jogo é: divertimento, passatempo recreativo, competição partida esportiva. A variedade de fenômenos considerados como jogo, mostra a dificuldade de definição e isso aumenta mais quando é percebido que um mesmo comportamento pode ser visto como jogo e não jogo. Por exemplo, a criança indígena se diverte atirando com arco e flecha em animais, é uma brincadeira, mas para o grupo é um preparo de arte e caça necessária a subsistência da tribo. Sendo assim, podemos concluir que atirar com o arco e flecha, para uns é jogo e para outros é um preparo profissional. Uma mesma conduta pode ser jogo ou não 2

3 jogo, em diferentes culturas, dependendo do significado a ele atribuído. Diante disso, verificase que é difícil separar ou classificar os termos: jogos, brincadeiras e brinquedos, mas todos eles são descritos por Kishimoto (2003, p. 3) como: Elementos da cultura dentro da variedade de significados são essas semelhanças que permitem classificar jogos de faz de conta, de construção de regras, de palavras e outros, em atividade de dinâmica, porém semelhantes. Pelas definições até vistas, percebemos que brinquedos, brincadeiras e jogos, são termos que empregados com significados diferentes, terminam se tornando impreciso, pois existe uma variedade de jogos conhecidos que pode ser considerado como brincadeira e, muitas vezes um brinquedo também é utilizado como objeto de um jogo ou de uma brincadeira. Para Kishimoto (2003, p. 16), o jogo pode ser visto como o resultado de um sistema linguístico que funciona dentro de um contexto social. Dessa forma, pode-se entender que no início da vida da criança, sua ação pelo mundo é determinada pelo contexto social em que vive, e pelos objetos nele contido, as crianças aprendem a jogar e/ou brincar dentro de um processo histórico construído, onde aprendem com outros membros de sua cultura, concluímos então que suas brincadeiras são determinadas pelos hábitos, valores, costumes e conhecimento de seu grupo social. Neste contexto o número de autores que adotam o jogo na escola cresce, incorporando assim a função lúdica e a educativa. Kishimoto (2003, p. 23) sugere critérios para a escolha adequada de jogos de uso escolar para a garantia de essência do jogo. São eles: 1º- o valor experimental permite a exploração e a manipulação; 2º- o valor da estruturação dá suporte a construção da personalidade infantil; 3º- o valor da relação coloca a criança em contato com o outro, trabalhando em grupo para propiciar o estabelecimento de relações sociais. 4º- o valor lúdico avaliar se os objetos possuem as qualidades que estimulem o aparecimento da ação lúdica. O jogo ao ser empregado na escola, sempre como um recurso educativo, pode se tornar assim um elemento indispensável ao desenvolvimento da criança. 2.2 Os jogos como ferramenta para a construção do Conhecimento. 3

4 Uma das práticas da atividade infantil que tem claras relações com o desenvolvimento do conhecimento da criança é o jogo. Dessa maneira, a escola é apontada como o local onde os saberes entre indivíduos devem ser trocados, comprovados, questionados e renovados e tem um importante papel a exercer: o de fazer com que o aprendizado aconteça. Para a criança jogar e brincar são compromissos sérios. Cabe à escola facilitar o aprender brincando. O ato de jogar e brincar recebe influência da cultura, do meio físico e social como já mencionado, e vão refletir na conduta lúdica da criança, bem como na sua atividade e personalidade na vida adulta já que esta é resultante da aprendizagem que se iniciou no nascimento. Assim, alguns dos conhecimentos matemáticos devem ser trabalhados de forma interdisciplinar e lúdica, e é através dos jogos, que se aprende brincando. Para que as atividades sejam aproveitadas na sua totalidade, tornando-se lógica, atrativa e prazerosa, é preciso que a criança possa ter uma boa assimilação sobre o que está fazendo, ou seja, sobre o que está jogando e para que esteja jogando. No entanto, podemos observar que brincar por meios de jogos, não significa apenas recrear, é muito mais, é uma ação que a criança desempenha, estabelecendo uma relação entre indivíduo com a realidade. É construtivo porque é carregado do simbolismo, reforça a motivação e possibilita a criação de novas ações, trabalhando o sistema de regras que definem a perda ou ganho. O jogo por sua importância e frequência se destaca dentre as estratégias que a criança utiliza para construir seu conhecimento na infância, tornando-se nos últimos tempos uma das metodologias mais utilizadas nas aulas de matemática. Para Piaget (1978), a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança, sendo, por isso, indispensável à prática educativa. Nessa perspectiva, o jogo pode ser utilizado para fins educativos. A experiência lúdica bem direcionada produz conhecimento, onde ao brincar, o aluno evolui interagindo com o conteúdo em questão. O professor deve provocar na criança a necessidade daquilo que ele quer transmitir. Ao longo do período infantil, Piaget (1978), observou três sistemas de jogos que é fundamental para a construção do conhecimento. a) De exercício aparece nos primeiros dezoitos de vida e envolve as repetições sequenciais, não como instrumentais, mas, por mero prazer, através de atividades motoras. 4

5 b) Simbólicas é quando aparece o jogo faz - de- conta, com o uso de símbolos. No jogo simbólico a criança ultrapassa a simples satisfação de manipulação. Ela assimila a realidade externa ao seu eu, encontra satisfação fantasiosa, supera conflitos, preenche desejos. c) Jogos de regras marca a transição da atividade individual para socializada, predomina no período dos sete aos quatorzes anos. Para Piaget, a regra pressupõe a interação de dois indivíduos e sua função é regular e integrar o grupo social. Piaget ressalta que: O jogo de regras deve ser estabelecido e cumprido pelo grupo através de acordo mútuo, onde toda moral consiste num sistema de regras e a essência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por essas regras. (PIAGET, 1978 p. 23) Diante disso, ao se estabelecer as regras são percorridos dois grupos de fenômenos: a prática das regras e a consciência das regras. Com a competição cada jogador aprende a competir com honestidade, levando para a vida fora da escola, pois não se pode isolar a consciência das regras do jogo do conjunto da vida moral. De forma geral, no brincar e jogar a criança constrói o seu conhecimento. E para isso, uma das qualidades mais importantes do jogo é a confiança que a criança tem quanto a sua capacidade de encontrar soluções. Confiante pode chegar as suas próprias conclusões de forma autônoma. O jogo poderá cumprir, portanto, uma dupla função na construção do conhecimentolúdico e educativo, aliado às finalidades do divertimento e prazer juntamente com o desenvolvimento afetivo, cognitivo, físico, social, moral, escolha de estratégias, ações motoras, interação, observação e respeito às regras. Todas essas competências podem se manifestar e consequentemente ser realizadas na aprendizagem de alguns conteúdos matemáticos através de brincadeiras, pois permite que o aluno, construa o seu conhecimento na interação com os colegas, e com o próprio objeto do conhecimento. 2.3 Os jogos educativos como estratégias de Ensino Fazer das aulas momentos de ensino eficiente, criativo e prazeroso é uma arte que exige do professor competência e conhecimento. Principalmente quando se trata do ensino da matemática, pois a mesma é erroneamente reconhecida através de gerações com uma disciplina difícil de aprender. Sendo assim, a realização dos jogos educativos pode 5

6 transformar-se em momentos de eficiência e criatividade. Além disso, os jogos propiciam para os professores a oportunidade de diversificarem suas aulas, tornando elas mais interessantes e desafiadoras. E também porque os jogos são importantes para o desenvolvimento cognitivo das crianças, pois ajuda a ressaltar a sua imaginação e aumenta os seus conhecimentos. Devemos destacar aqui que os jogos não são apenas uma forma de entretenimento para gastar a energia da criança, mas um meio que contribui e enriquece o desenvolvimento intelectual da mesma. Diante disso, propomos alguns tópicos a serem observados pelo professor, destacando assim a importância do trabalho com jogos educativos como uma estratégia de ensino para trabalhar no espaço educativo, contribuindo para o desenvolvimento da criança. 2.4 Uso dos jogos Um jogo é pode ser realizado através de uma atividade física ou mental organizada por um sistema de regras. Nos jogos há atitudes prescritas, sujeitas a regras, geralmente penalidades para a desobediência das mesmas, e a ação se procede de forma evolutiva, até alcançar um clímax que naturalmente, consiste em uma vitória da habilidade, do tempo ou da força. É uma atividade lúdica, pois se joga pelo simples prazer de realizar esse tipo de atividade que é natural do ser humano. Ao recorrer ao uso dos jogos nas aulas de matemática o professor está criando na sala de aula um ambiente de motivação que permite aos alunos, participar ativamente do processo ensino aprendizagem, assimilando experiências, e informações, sobretudo, incorporando atitudes e valores. 2.5 Função do jogo O jogo tem a função de ser formativo porque supõe relação social e interação. Por isso, a participação no jogo por parte dos alunos contribui para a formação de suas atitudes sociais como: respeito mútuo, solidariedade, cooperação, obediência de regras, senso de responsabilidade, iniciativa pessoal e grupal. É jogando que se aprende o valor do grupo como força integradora, o valor da colaboração consciente espontânea e o sentido da competência. Considerando tudo o que foi abordado, faz parte do jogo tornar tudo, então, muito estimulante e prazeroso e com isso 6

7 oportunizar ótimos resultados no desenvolvimento emocional, cognitivo e social do indivíduo. A partir disso as relações professor-aluno e aluno-aluno se desenvolvem de forma positiva, pois ambos aprenderam a conviver de maneira harmoniosa. Conclusão Podemos concluir então que, o jogo é importante para o indivíduo construir seu próprio pensamento, então, propiciar situações com jogos é garantir prazer, desafio e melhor desempenho dos alunos nas aulas de matemática. Com a realização desse pudemos perceber então, que a utilização dos jogos na sala de aula, vai muito além do que distrair os alunos, pois os mesmos podem ser usados na construção do conhecimento, possuem funções de desenvolver nos alunos capacidades de uma melhor aprendizagem, explicitando sobre que forma o uso de jogos pode auxiliar na formação dos conceitos matemáticos. Sendo assim esse estudo traz para alunos da licenciatura em Matemática uma reflexão teórica e prática acerca do uso de jogos em sala de aula tendo em vista o processo de formação de conceitos científicos e a autonomia do educando. Referências FREIRE, P.. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 22ª. Ed. São Paulo: Paz e terra, Págs.: 165. KISHIMOTO, T. M. O jogo e a educação Infantil. São Paulo. Pioneira Tompson Learning, PIAGET, J. A formação do símbolo na criança. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Zahar, RALLO, R. M. P. de. A magia dos Jogos na Alfabetização. Porto Alegre: Kuars, SACCONI, L. A. Minidicionário Sacconi da Língua Portuguesa. São Paulo: Atual,