O PERFIL SÓCIO-DEMOGRÁFICO DOS USUÁRIOS DOS SERVIÇOS SUBSTITUTIVOS EM SAÚDE MENTAL DO RIO GRANDE DO SUL 1
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- Juan Bentes Alcaide
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1 O PERFIL SÓCIO-DEMOGRÁFICO DOS USUÁRIOS DOS SERVIÇOS SUBSTITUTIVOS EM SAÚDE MENTAL DO RIO GRANDE DO SUL 1 Fabieli Gopinger Chiavagatti 2 Adriane Domingues Eslabão 3 Daiane de Aquino Demarco 3 Cristiane Nunes Kennes 3 Ariane da Cruz Guedes 4 Roberta Antunes Machado 5 Valéria Cristina Christello Coimbra 6 Luciane Prado Kantorski 7 Vanda Maria da Rosa Jardim 6 INTRODUÇÃO Em meados da década de 1950 nos Estados Unidos e na Europa, no período posterior a Segunda Guerra Mundial surgem denuncias de atos violentos, abandono, isolamento e cronificação dos doentes mentais que se encontravam em situação asilares, explicitando as limitações das instituições hospitalares em responder de forma adequada ao tratamento a que se propunham (VIDAL, BANDEIRA e GONTIJO, 2008). Ao mesmo tempo ocorreram em outros países os movimentos de desinstitucionalização impulsionados pelas reformas sociais e sanitárias que começaram a exigir novas formas de tratamento para os portadores de transtornos mentais. Os movimentos de desinstitucionalização tinham como objetivo, a transferência dos cuidados psiquiátricos do nível hospitalar para os serviços inseridos na comunidade, possibilitando a reinserção social e familiar dos pacientes hospitalizados (BANDEIRA, GELINAS e LESAGES, 1998, LIMA, BANDEIRA, GONÇALVES, 2003). Nos anos 1960 e 1970, o foco do tratamento baseava-se no controle dos sintomas, com a finalidade de manter os usuários assintomáticos e fora do hospital. Já nas décadas de 80 e 90, o foco de cuidado se volta para a 1 Este trabalho faz parte do Projeto de pesquisa Redes que reabilitam avaliando experiências inovadoras de composição de redes de atenção psicossocial (REDESUL), aprovado no Edital MCT-CNPq/CT-Saúde/ MS-SCTIE-DECIT / 33/ Enfermeira. Mestranda do PPG em Enfermagem da UFPel. 3 Acadêmicas do 5 semestre de Enfermagem da UFPel. Bolsistas de Iniciação Científica do CNPq. 4 Enfermeira. Mestranda do PPG em Enfermagem da UFPel. Bolsista CAPES. 5 Enfermeira. Mestranda do PPG em Enfermagem da UFPel. Apoio Técnico do REDESUL. 6 Enfermeiras, Professoras Doutoras adjuntas da Faculdade de Enfermagem da UFPel. 7 Enfermeira, Professora Doutora adjunta da Faculdade de Enfermagem da UFPel. Orientadora.
2 reabilitação, buscando a inserção dos usuários na sociedade, através da inclusão desses em espaços de trabalho, educação, família e comunidade com o propósito de promover a autonomia e assim melhorar a qualidade de vida (VIDAL, BANDEIRA, GONTIJO; 2008). No Brasil, o processo da Reforma Psiquiátrica se caracteriza por ações que efetivam a construção de um modelo de assistência centrado na atenção comunitária superando o modelo hospitalocêntrico de práticas excludentes e estigmatizantes que levam a cronificação e a negação dos direitos dos usuários. Neste contexto, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) surgem como serviços substitutivos que possibilitam a assistência em uma proposta mais ampla de uma rede de atenção psicossocial, que inclua a criação de um sistema de saúde que contemple a abordagem integral dos indivíduos e de suas famílias. Estes têm como princípio impulsionar o protagonismo e a autonomia dos sujeitos promovendo a reintegração do usuário na sociedade. Segundo a Portaria 106/MS (2002), os Serviços Residenciais Terapêuticos são moradias ou casas preferencialmente implantadas na comunidade, com a finalidade de cuidar dos portadores de transtornos mentais, egressos de longas internações em hospitais psiquiátricos, que não possuam suporte social e laços familiares que viabilizem sua reabilitação psicossocial. O número máximo de usuários por dispositivo é de oito, com no máximo três por dormitório. Além disso, a moradia deve dispor de sala de estar, móveis adequados e no mínimo de três refeições diárias. Esses serviços constituem um dispositivo essencial à desinstitucionalização, uma vez que não são apenas serviços de saúde, mas sim espaços de morar, de viver, articulados à rede de atenção de saúde mental, permitindo assim um bom suporte para sua reinserção social (BRASIL, 2004). Na expansão da rede de serviços até 2006 foram criados 475 serviços residenciais, sendo que até 2001 não havia nenhum registro preciso no Ministério da Saúde. Tais dados evidenciam a necessidade de significativa expansão do número de residências, de modo a reduzir a exclusão social dos portadores de sofrimento psíquico (BRASIL, 2007). Desta forma, conhecer o perfil dos usuários dos serviços substitutivos em saúde mental torna-se
3 importante uma vez que nos permite repensar as práticas de atenção psicossocial visando uma atenção singular. O presente estudo tem como objetivo descrever o perfil Sócio-Demográfico dos usuários dos serviços substitutivos de saúde mental do Rio Grande do Sul. METODOLOGIA O projeto Redes que reabilitam avaliando experiências inovadoras na composição de redes de atenção psicossocial (REDESUL), desenvolveu sua etapa quantitativa nos meses de setembro e dezembro de 2009, em cinco municípios do Rio Grande do Sul (Alegrete, Bagé, Caxias do Sul, Viamão e Porto Alegre), sendo estes selecionados por possuírem SRT em sua rede de atenção em saúde mental. Para tanto foram realizadas entrevistas com usuários (392), trabalhadores (209), coordenadores (14), além de coleta de informações nos prontuários e aplicação de escalas aos trabalhadores para avaliação da autonomia (ILSS) e comportamento social do usuário (SBS). O projeto passou por aprovação pelo Comitê de Ética da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas sob parecer nº 073/2009. Neste estudo trabalharemos com um universo de 392 usuários de SRT e CAPS que aceitaram participar do estudo e posteriormente assinaram o termo de Consentimento Livre e Informado. Os dados sofreram dupla digitação por digitadores independentes, devidamente capacitados, e foram analisados no software Epi-Info A limpeza dos dados ocorreu por comparação dos dois arquivos e avaliação de erros de amplitude e consistência. A base de dados foi utilizada para as correções necessárias.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO A seguir serão apresentados e discutidos os dados referentes aos 392 usuários de CAPS e SRT entrevistados nos municípios de Alegrete, Bagé, Caxias do Sul, Viamão e Porto Alegre do estado do Rio Grande do Sul/2009. Em relação a distribuição dos usuários por cidade, podemos notar que a maior concentração destes está na capital gaúcha, Porto Alegre, visto que o número de serviços é maior e, logicamente, a quantidade de usuários se faz da mesma forma. Tabela 1: Distribuição de usuários entrevistados por cidade serviço do Rio Grande do Sul, Brasil, 2009 Cidade Nº de Usuários % Alegrete 63 16,1% Bagé 64 16,3% Caxias do Sul 67 17,1% Viamão 65 16,6% Porto alegre ,9% TOTAL % Fonte: REDESUL, 2009 Quanto à distribuição de usuário por cidade e tipo de serviço, pode-se notar que o número de entrevistados nos CAPS é em média de 49,8 usuários, variando de 48 a 51 usuários. Enquanto que em SRT a média por município é de 28,6, variando de 13 a 82 usuários. Se comprova que Porto Alegre possui a maior amostra, sendo que o município apresenta um número elevado de Residenciais Terapêuticos, sendo 29 serviços.
5 Tabela 2: Relação dos usuários entrevistados por cidade e tipo de serviço, Rio Grande do Sul, Brasil, 2009 Cidade CAPS SRT TOTAL Alegrete Bagé Caxias do Sul Viamão Porto alegre Total 249 (63,5 %) 143 (36,5 %) 392 (100%) Fonte: REDESUL, 2009 Ao analisarmos a variável referente ao sexo dos usuários de CAPS e SRT percebemos uma amostra de 52,3% (n=205) do sexo masculino, contrastando com indivíduos do sexo feminino, que representaram 47,7% (n=187) da amostra total de usuários. Esses resultados diferem de outros estudos já realizados como em um estudo que avaliou os CAPS da região sul do Brasil (KANTORSKI, 2008), onde 742 dos entrevistados eram do sexo feminino, o que perfez uma representação percentual de 63,9%, contrastando com indivíduos do sexo masculino, que representaram 36,1% da amostra total de usuários. No que diz respeito aos resultados obtidos sobre a faixa etária dos usuários 30,3% (n=119) encontram-se na idade dos anos, conforme observamos na tabela 4 abaixo: Tabela 3: Distribuição por idade dos usuários de SRT e CAPS do Rio Grande do Sul, Brasil, 2009 Características Frequencia % Idade ,3 % ,1 % ,4 % ,3 % % 60 ou mais 27 6,9 %
6 Não sabem/ Não quis responder 29 7,4 % Fonte: REDESUL, 2009 Ao analisarmos a tabela 3 percebemos a concentração de uma população adulta com uma percentagem de 50,8%, ou seja, 231 usuário, contando com uma pequena proporção de idosos (6,9%). No que diz respeito a escolaridade a maior parte dos usuários possuem o ensino fundamental incompleto 43,9% (n= 172), seguido por 15,8% (n= 62) de usuários que não sabem ler, 9,7% (n= 38) referem ter ensino médio completo e 2,6% (n= 10) referem possuir ensino superior completo. Estes dados diferem de um estudo de avaliação dos CAPS do Sul do Brasil quando 91,3% (n=1061) dos usuários afirmaram saber ler e 54,6% referiram possuir ensino fundamental completo. Isto pode ser justificado por ser o REDESUL um estudo também realizado com moradores de SRTs com histórico de longa data de internação nos moldes hospitalocentricos. Em relação à cor da pele, conforme autodeclaração dos entrevistados predominou a cor de pele branca representando 55,1%. Dos 392 usuários 64,3% referem ser solteiros. Já, aqueles que relataram serem casados ou que vivem com companheiro totalizam 21,2%. Podemos evidenciar que nossos achados vão ao encontro de um estudo realizado por Cardoso e Galera (2009) com doentes mentais demonstrando como características demográficas que 55,8% dos pacientes eram solteiros, 50,9% eram do sexo masculino e a média de idade de 43 anos. Porém, discorda quanto à escolaridade quando sua maioria, ou seja, 57,1% tinham primeiro grau completo e em nosso estudo esta análise mostrou-se com um percentual de 7,7%.
7 CONCLUSÃO Conforme os resultados, salientamos a grande percentagem de usuários que vivem sem companheiro (a) o que pode apontar vulnerabilidade afetiva, além de indicar uma possível sobrecarga familiar. A presença de uma pessoa com transtorno mental na família em geral produz impacto nos outros membros, devido a sobrecarga de cuidados que esse usuário necessita, sendo esta sobrecarga sentida não somente nos aspectos relacionados ao envolvimento emocional e físico, mas também nos encargos econômicos da família. Uma vez que, o processo da reforma psiquiátrica implica na construção de novas formas de pensar e agir, faz-se necessário re-inventar modos de se lidar com a realidade. Destacamos a importância dos serviços substitutivos construírem maneiras de reinserir socialmente o usuário, assim como, reestabelecer seus laços afetivos e de cidadania. Ou seja, a adoção de recursos de suporte social e também da área assistencial são dispositivos importante de serem acionados para que a convivência em sociedade do usuário com sofrimento psíquico seja efetiva. Além disso, a estruturação e o fortalecimento da rede de atenção comunitária possibilitam a menor utilização do dispositivo hospitalar, diminuindo o número de internações hospitalares, assim como, o tempo médio de internação. Percebe-se que nos últimos anos, o Ministério da Saúde vem estimulando o aumento da abrangência do campo das políticas públicas em saúde mental, valorizando o modelo de base comunitária. Palavras-chave: Características da População; Serviços Comunitários de Saúde Mental
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFRICA BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação Geral de Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental : 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília, BRASIL, Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Residências terapêuticas: o que são, para que servem? Brasília (DF), BRASIL, Ministério da Saúde. Relatório de Gestão Brasília BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria nº 106/MS, de 11 de fevereiro de Brasília, BANDEIRA, M, LESAGE, A; MORISSETE, R. Desinstitucionalização: importância da infra-estrutura comunitária de saúde mental. J Bras Psiquiatr. 1994;4(12): CARDOSO,L.;GALERA,S.A.F.; Doentes mentais e seu perfil de adesão ao tratamento farmacológico Rev. Esc. Enfermagem USP 2009; KANTORSKI, LP. Relatório de pesquisa/conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq CAPSUL Avaliação dos CAPS da Região Sul do Brasil, Pelotas, 437p, LIMA, LA; BANDEIRA, M; GONÇALVES, S. Validação transcultural do inventário de habilidades de vida independente para pacientes psiquiátricos. J Bras Psiquiatr. 2003;52(2): VIDAL, CEL; BANDEIRA, M;GONTIJO, ED. Reforma psiquiátrica e serviços residenciais terapêuticos. J Bras Psiquiatr. 2008;57(1):70-79.
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