Análise dos instrumentos de avaliação autoperceptiva da voz, fonoaudiológica da qualidade vocal e otorrinolaringológica de laringe em professores.

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1 Análise dos instrumentos de avaliação autoperceptiva da voz, fonoaudiológica da e otorrinolaringológica de laringe em professores. Palavras chave: voz, distúrbios da voz e docentes. INTRODUÇÃO: As pesquisas com professores citam o adoecimento vocal constante dessa categoria, que muitas vezes é apontada como uma das que apresenta maior risco de desenvolvimento de distúrbios de voz de base funcional devido à exposição a diversos fatores de risco ambiental e organizacional. Em várias regiões brasileiras, há diversos estudos sobre a identificação de perfis e fatores de risco para os professores, que utilizaram um questionário como instrumento, e poucos incluem protocolo fonoaudiológico e otorrinolaringológico para relacionar esses dados. OBJETIVO: Identificar a concordância entre os dados referentes a avaliação autoperceptiva, de e de laringe, em professores. MÉTODOS: Participaram 60 professores de duas escolas da rede pública do ensino fundamental e médio do município de Sorocaba - SP que responderam um questionário de autopercepção adaptado 1. Dele foram consideradas as questões relacionadas à identificação, situação funcional e aspectos vocais. Em seguida, os participantes passaram por uma coleta de amostra de fala (vogal /a/ sustentada e em escala e trechos de fala semi-espontânea), e por um exame de nasofibrolaringoscopia realizado por um médico otorrinolaringologista. Para a avaliação da, três juízes fonoaudiólogos, com experiência na área de voz, utilizaram a escala GIRBAS 2, para classificar as vozes em alteradas ou não, e especificar o grau da alteração. Para o exame de laringe, o otorrinolaringologista analisou cada uma das imagens e realizou registro em protocolo específico para a avaliação de imagens laringoscópicas 3. Na análise estatística dos dados, foram empregados o teste de associação qui-quadrado, Fisher e o de concordância Kappa. RESULTADOS: Houve predomínio do sexo feminino (66,7%), com média de idade de 41,7 anos, carga horária que variou de 20 a 30 horas (37,3%) e mais de 40 horas semanais (28,8%) e com média de tempo de magistério de 14,9 anos. A tabela 1 corresponde a dados dos instrumentos de autopercepção, avaliação fonoaudiológica e otorrinolaringológica. Nas tabelas 2 e 3 estão apresentados a correlação entre os achados da avaliação de e de laringe, e a 4 a correlação entre a autopercepção e as avaliações de e de laringe. Finalmente na tabela 5 são demonstrados os cálculos de sensibilidade e especificidade da avaliação autoperceptiva do distúrbio de voz e da em relação ao exame de laringe. DISCUSSÃO: A prevalência de distúrbio de voz

2 auto-referido pelos docentes (63,3%) foi semelhante à encontrada em pesquisas nacionais 4,5 e internacionais 6,7. A porcentagem de professores com distúrbio vocal confirmado por avaliação de (43,3%) também foi similar a estudo nacional 8 e internacional 9. Os aspectos mais presentes na dos docentes participantes foram rugosidade (40%) e soprosidade (28,3%), compatíveis com outras pesquisas 5,10. A prevalência de participantes com alteração laríngea diagnosticada por exame de videolaringoscopia (46,7%) coincidiu com estudo realizado no sul do Brasil 11 e foi superior a um estudo internacional 9. Houve associação estatisticamente significativa entre a avaliação de laringe e a de qualidade vocal, tanto no que diz respeito ao grau global de alteração vocal, como nos aspectos de rugosidade e de soprosidade. A presença dessa associação pode ser explicada pela metodologia empregada neste trabalho, ou seja, as duas avaliações da e de laringe consideraram a fonte de fonação. Não houve associação entre a avaliação autoperceptiva e a avaliação fonoaudiológica, nem entre a avaliação autoperceptiva e a avaliação otorrinolaringológica. Em pesquisa realizada com educadoras de creche foi encontrada correlação entre a queixa auto-referida e a avaliação fonoaudiológica 12. A concordância foi baixa entre as três avaliações analisadas, fato também confirmado em outras pesquisas 11,13. Porém, houve associação estatística, com concordância intermediária, entre a avaliação de e a de laringe, dado que vai na mesma direção de estudos realizados em indivíduos com queixa vocal 14 e com profesores 3. Em relação aos cálculos de sensibilidade e especificidade da avaliação de autopercepção e a avaliação da, considerando como padrão ouro a avaliação de laringe, verificou-se que o questionário é um método mais sensível (75%), enquanto a avaliação da é mais específica (78,1%). CONCLUSÃO: O questionário de autopercepção mostrou maior sensibilidade para indicar a prevalência desses distúrbios vocais e a avaliação fonoaudiológica, maior especificidade. Para um real diagnóstico das necessidades da população a ser tratada, sugere-se a combinação dos dois instrumentos na implantação de programas de prevenção desse agravo à saúde.

3 Tabela 01. Distribuição numérica e percentual dos professores, segundo a freqüência de distúrbio de voz detectada pela avaliação de e pela avaliação de laringe (n=60). VARIÁVEL CATEGORIA Presente Ausente N % N % Questionário Autopercepção de distúrbio de voz 38 63, ,7 (GIRBAS) Avaliação laringe alteração 26 43, ,7 instabilidade 2 3, ,7 rugosidade 24 40, ,0 soprosidade 17 28, ,7 tensão 13 21, ,3 de alteração 28 46, ,3 Tabela 02. Distribuição numérica e percentual dos professores, segundo as variáveis relativas à alteração de laringe e a avaliação (n=60). VARIÁVEL ALTERAÇÃO DE LARINGE p* Avaliação de qualidade vocal categoria s Ausente Presente n % n % grau global Ausente 25 78,1 9 32,1 <0,0001 de alteração Presente 7 21, ,9 instabilidade Ausente , 26 92,9 0,214 0 Presente 0 0,0 2 7,1 rugosidade Ausente 25 78, ,3 0,002 Presente 7 21, ,7 soprosidade Ausente 28 87, ,6 0,004 Presente 4 12, ,4 tensão Ausente 26 81, ,0 0,503 Presente 6 18,8 7 25,0 TOTAL p: teste de associação pelo qui-quadrado

4 Tabela 03. Distribuição numérica e percentual dos professores, segundo as variáveis relativas à avaliação de e à avaliação de laringe (n=60). Alteração na avaliação de qualidade de voz Alteração na avaliação de laringe presente ausente Total n % n % n % presente 19 67,9 7 21, ,3 ausente 9 32, , ,7 TOTAL , , ,0 Kappa= 0,462 (p<0,0001) Tabela 04. Distribuição numérica e percentual dos professores, segundo as variáveis relativas à referência de queixa vocal, à avaliação de e à avaliação de laringe (n=60). VARIÁVEL QUEIXA VOCAL Ausente Presente Total Kappa n % n % n % (p) laringe Ausente 13 59, , ,7 0,034 Presente 9 40, , ,3 (0,773) Ausente 15 68, , ,3 0,214 (0,079) Presente 7 31, , ,7 Kappa: teste de concordância pelo Kappa (p): teste de associação pelo qui-quadrado Tabela 05. Distribuição percentual da sensibilidade e da especificidade relativas às variáveis de queixa vocal e à avaliação de em relação à avaliação de laringe, considerado o padrão ouro (n=60). VARIÁVEL AVALIAÇÃO DE LARINGE (padrão ouro) sensibilidade especificidade Queixa vocal 75,0% 46,9% 67,9% 78,1%

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Ferreira LP, Giannini SPP, Latorre MRDO, Zenari MS. Distúrbio de voz relacionado ao trabalho: proposta de um instrumento para avaliação de professores. Distúrb Comun. 2007; 19(1): Dejonckere P, Remacle M, Freznel-Elbaz E. Reliability and relevance of differentiated perceptual evaluation of pathological voice quality. In: Clemente MP. Voice Update. Amsterdam: Elsevier; p Oliveira IB. Desempenho Vocal do Professor: Avaliação Multidimensional [tese]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de Campinas; Ferreira LP, Giannini SPP, Figueira S, Silva EE, Karmann DF, Souza TMT. Condições de produção vocal de professores da rede do município de São Paulo. Distúrb Comun. 2003; 14 (2): Thomé CR. A voz do professor: relação entre distúrbio vocal e fatores psicossociais do trabalho [dissertação]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Roy N, Merrill RM, Thibeault S, Parsa RA, Gray SD, Smith EM. Prevalence of voice disorders in teachers and the general population. J Speech Lang Hear Res. 2004; 47(2): Kooijman PGC, Thomas G, Graamans K, Jong FICRS. Psychosocial impact of the teacher s voice throughout the career. J Voice. 2006; 21(3): Scalco MAG, Pimentel RM, Pilz W. A saúde vocal do professor: levantamento junto as escolas particulares de Porto Alegre. Pró-Fono. 1996; 8(2): Sliwinska-Kowalska M, Niebudek-Bogusz E, Fiszer M, Los-Spychalska T, Kotylo P, Sznurowska-Przygocka B, Modrzewska M. The prevalence and risk factors for occupational voice disorders in teachers. Folia Phoniatr Logop. 2006; 58(2): Tavares, ELM, Martins RHG. Vocal evaluation in teachers with or without symptoms. J Voice. 2007; 21(4): Schwarz K, Cielo CA. A voz e as condições de trabalho de professores de cidades pequenas do Rio Grande do Sul. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2005; 10(2): Simões M, Latorre MRDO. Prevalência de alteração vocal em educadoras e sua relação com a auto-percepção. Rev Saúde Pública. 2006; 40(6): Lemos S, Rumel D. Ocorrência de disfonia em professores de escolas públicas da rede municipal de ensino de Criciúma SC. Rev Bras Saúde Ocup. 2005; 30(112): Nemr K, Abrahão M, Leite G, Köhle J, Santos A, Correa L. Análise comparativa entre avaliação fonoaudiológica perceptivo-auditiva, análise acústica e laringoscopicas indiretas para avaliação vocal em população com queixa vocal. Rev Bras Otorrinolaringol. 2005; 71(1): 13-7.