DIMENSÕES PEDAGÓGICAS PRESENTES NOS DIÁRIOS DE AULA EM CONTEXTOS DE EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS
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- Kevin Varejão Almada
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1 1 DIMENSÕES PEDAGÓGICAS PRESENTES NOS DIÁRIOS DE AULA EM CONTEXTOS DE EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS Resumo Dirce Hechler Herbertz Doutoranda em Educação - PUCRS dhtz@hotmail.com Maria Inês Corte Vitória Dra. em Educação, docente do PPGEdu - PUCRS mvitoria@pucrs.br O presente trabalho é resultado de uma pesquisa em andamento que se propõe a analisar, os diários de aula escritos por professoras de Educação Infantil e Anos Iniciais, sob o enfoque indicado por Zabalza (2004). Trata-se de uma pesquisa qualitativa, contando com os seguintes instrumentos de coleta de dados: diários de aula e entrevista semi-estruturada. A análise de dados será realizada com base na teoria da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2010). A problematização do objeto de estudo recai sobre quais dimensões pedagógicas são expressas (ou não), nos Diários de Aula das professoras de Educação Infantil e Anos Iniciais, sujeitos deste estudo. Os objetivos desta investigação se focam em identificar as dimensões pedagógicas presentes nos Diários de Aula elaborados pelas professoras; analisar tais dimensões presentes nos Diários de Aula; apontar alternativas pedagógicas para utilização dos diários de aula como instrumento de pesquisa e qualificação da prática docente. As teorias que fundamentam a investigação se alinham a teóricos reconhecidos na área de formação de professores, bem como em diários de Aula. Ainda que em fase de desenvolvimento, é possível apontar como resultados parciais: que há pouca reflexão docente sobre a ação pedagógica empreendida no cotidiano escolar; que os professores investigados não costumam avaliar o próprio trabalho; que utilizam os diários de aula como registro de atividades e apontamentos sobre aspectos discentes que serão utilizados na avaliação descritiva ao final do trimestre; que há uma preocupação constante por parte do professor com a flexibilização do planejamento; que há, além de aspectos objetivos (planejamento, atividades, calendário, cronogramas), aspectos subjetivos da prática docente, tais como: realização e/ou frustração profissional; sentimento de frustração em relação ao que foi planejado e ao que foi efetivamente executado; dúvidas e inquietações sobre as decisões tomadas ao longo da aula. Palavras-chave: Formação docente; Diários de aula; Práticas Pedagógicas. Os diários de aula como prática reflexiva e qualificação profissional Como docentes, em grande parte pela nossa formação inicial, não temos a prática de refletir, repensar ou até mesmo de registrar nossa vivência docente, nossos sentimentos frente às tantas situações do cotidiano, sobre nossas inquietações e 02489
2 2 incertezas. Possivelmente pelas inúmeras atribuições, sequer pensamos e analisamos todo o contexto educacional assim como a história vital e cultural que se faz presente na prática docente, considerando que a educação, assim como o fazer, não é neutro. Nesse sentido, destacamos Zabalza (2004, p. 10) quando diz que escrever sobre o que estamos fazendo como profissional (em aula ou em outros contextos) é um procedimento excelente para nos conscientizarmos de nossos padrões de trabalho. É uma forma de distanciamento reflexivo que nos permite ver em perspectiva nosso modo particular de atuar. É, além disso, uma forma de aprender. Indubitavelmente, os Diários de Aula, na perspectiva apontada por Zabalza remetem-nos a uma reflexão e auxiliam o docente no sentido de, através do registro, realizar sua catarse sobre o vivenciado, refletindo e depurando sua ação docente. Essa ainda é uma prática que necessita estar mais incorporada no contexto diário do professor. Entendemos que não há como ser docente em um curso de formação de professores sem ser um pesquisador. E neste sentido, as nossas inquietações nos levaram a realizar a presente pesquisa, objetivando proporcionar a reflexão das professoras sobre sua prática pedagógica a partir dos diários de aula. Nesse sentido, pode-se dizer que escrever diários de aula exige também uma organização daquilo que se quer registrar. Pelo fato de o registro exigir aspectos significativos sobre sua prática, os professores talvez também se deparam com algumas dificuldades pois, para alguns, pode ser uma ação remota escrever sobre sua atuação docente: tanto pela quase inexistência de produção intelectual, quanto pelos registros no formato de diários de aula ser algo recente no contexto educacional e, especialmente por este motivo, exige dos docentes tempo e dedicação, tanto pelo fato de registrar seus sentimentos e idéias como por permitir um distanciamento necessário para a reflexão sobre sua prática docente, com o objetivo de ressignificá-la e redimensioná-la permanentemente. Desta forma, os diários de aula ocupam lugar central na investigação, sendo utilizados como instrumento de reflexão sobre as práticas pedagógicas. Para Zabalza (2004, p.11) Os diários contribuem de uma maneira notável para o estabelecimento dessa espécie de círculo de melhoria capaz de nos introduzir em uma dinâmica de revisão e enriquecimento de nossa atividade como professores. Esse círculo começa pelo desenvolvimento da consciência, continua pela obtenção de uma informação analítica e vai se sucedendo por meio de outra série de fases, a previsão da necessidade de mudanças, a experimentação das mudanças e a consolidação de um novo estilo pessoal de atuação
3 3 Ao registrar o professor já realiza uma espécie de catarse sobre si mesmo. Ao reler essa escrita, reorganiza seu pensamento e analisa os aspectos relevantes e aquilo que precisa ser eliminado e reconstruído em sua prática na sala de aula. O registro, no nosso entendimento, tem uma dupla função: ser um espaço de desabafo com o diário e também abre caminhos para posteriores reflexões a partir das retomadas realizadas. Para além do caráter reflexivo do professor na formação docente, consideram-se importantes neste estudo as dimensões pedagógicas (planejamento, ensino, aprendizagem e avaliação), que são imprescindíveis no planejamento e na avaliação com vistas a qualificar e redimensionar novos planejamentos. Entende-se que o planejamento deve, em primeiro lugar, partir de um diagnóstico realizado pelo professor, o qual precisa conhecer a realidade dos alunos e o contexto social e cultural na qual a escola está inserida, assim como das necessidades e tendências desta realidade. De acordo com Menegolla e Sant Anna (1993) planejar, portanto, é pensar sobre aquilo que existe, sobre o que se quer alcançar, com que meio se pretende agir e como avaliar o que se pretende atingir (p.21). Dessa forma, não se concebe uma prática docente e um planejamento pautados apenas nos conteúdos curriculares a serem trabalhados ao longo de um período letivo, sem que tenham um valor ou um significado na aprendizagem dos alunos. Um planejamento que não contempla a realidade sócio-cultural dos alunos e da escola poderá produzir nos alunos desinteresse e descontentamento para com a aprendizagem, além de frustração por parte do professor, uma possível baixa no aproveitamento e aprendizagem dos alunos e por sua vez uma insatisfação por parte dos familiares dos alunos. A prática docente deve ser permeada com planejamento adequado. Nesta ótica, Loch (2009) registra que O ato de planejar e avaliar faz parte de nossa vida cotidiana desde as situações mais simples às mais complexas, nos caracterizam como seres que pensam sobre o que pretendem fazer e para isso utilizam-se de informações sobre fatos vividos no passado, no presente e projeções para o futuro. Na nossa ação docente este ato se reveste de uma forma de concentração necessária (p.18). Da mesma forma, a avaliação não pode ser vista como um mero procedimento pedagógico. A avaliação, enquanto reflexão crítica sobre a realidade, deveria ajudar a descobrir as necessidades do trabalho educativo, perceber os verdadeiros problemas para resolvê-los (VASCONCELLOS, 2008, p.19). Por isso, acredita-se que os diários de aula possam contribuir tanto como instrumento de qualificação profissional, 02491
4 4 desvelando não somente os aspectos objetivos e subjetivos da prática docente, como também as dimensões pedagógicas presentes em seu interior. Conforme Hoffmann (2008, p. 91), a observação do cotidiano é o primeiro passo para o acompanhamento, mas ela não pode vir desacompanhada de anotações, registros, descrições qualitativas e continua afirmando que após certo período desses registros, deve-se voltar a eles e atribuir-lhes um significado (p.91) porque os dados de registro permitem a análise didática, epistemológica e relacional (p.92). A avaliação deve servir de auxílio ao professor para perceber lacunas ou dificuldades no processo de aprendizagem dos seus alunos e, assim, propor novas atividades que representem contribuições efetivas para a qualificação do ensino. Apresentamos os resultados parciais da pesquisa: Há pouca reflexão docente sobre a ação pedagógica empreendida no cotidiano escolar. Os professores investigados não costumam avaliar o próprio trabalho. Utilizam o registro para apontamentos sobre aspectos discentes que serão utilizados na avaliação descritiva ao final do trimestre. Há uma preocupação docente com a flexibilização do planejamento e com a aprendizagem dos alunos. Aspectos subjetivos da prática docente, tais como realização e/ou frustração profissional se fazem presentes nos diários. A proposta docente de atividades não vem seguida de um diagnóstico na turma contemplando seus interesses e sim de algo pensado a partir dos conteúdos a serem trabalhados naquele ano. Nesse sentido, pode-se pensar que a formação de professores, ainda que amplamente discutida e pesquisada nos fóruns acadêmicos e demais órgãos/instituições formais geradores de conhecimento - os quais fornecem importantes contribuições para a área necessita de permanente discussão, já que, embora se reconheça os avanços que tivemos nas questões educacionais, sabe-se também que há inúmeros desafios ainda não superados quando se trata de discutir sobre a formação de professores. Referências BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Cidade: Editora, ed.atual. rev. HOFFMANN, J. M. L.. Avaliar: respeitar primeiro, educar depois. Porto Alegre: Mediação,
5 5 LOCH, Jussara M. de P. et al. EJA: planejamento, metodologias e avaliação. Porto Alegre: Mediação, MENEGOLLA, M. SANT'ANNA, I. M. Por que planejar? Como planejar?: currículo - área - aula. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, VASCONCELLOS, C. S. Avaliação da aprendizagem: práticas de mudança por uma práxis transformadora., São Paulo: Libertad, ed. ZABALZA, M. A. Diários de Aula: um instrumento de pesquisa e desenvolvimento profissional. Trad. Ernani Rosa. Porto Alegre: Artmed,
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