ACÓRDÃO RO Fl. 1. DESEMBARGADOR WILSON CARVALHO DIAS Órgão Julgador: 10ª Turma

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1 RO Fl. 1 DESEMBARGADOR WILSON CARVALHO DIAS Órgão Julgador: 10ª Turma Recorrente: Recorrente: Recorrido: Origem: Prolator da Sentença: SINDICATO DOS SERVIDORES E EMPREGADOS DOS CONSELHOS E ORDENS DE FISCALIZAÇÃO DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL - SINSERCON/RS - Adv. Jairo Naur Franck ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - Adv. Valdirene Escobar da Silva OS MESMOS 7ª Vara do Trabalho de Porto Alegre JUÍZA PATRICIA DORNELLES PERESSUTTI E M E N T A SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. HONORÁRIOS DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. São devidos os honorários assistenciais na ação em que o sindicato atua como substituto processual de integrantes da sua categoria profissional, pois os titulares do direito material vindicado são os trabalhadores, os quais preenchem os requisitos da Lei 5.584/70. Recurso ordinário do sindicato provido. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos. ACORDAM os Magistrados integrantes da 10ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região: Por unanimidade, NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO ORDINÁRIO DA RÉ. Por unanimidade, DAR PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO ORDINÁRIO DO SINDICATO

2 RO Fl. 2 AUTOR para acrescer à condenação os honorários assistenciais de 15% sobre o valor bruto da condenação. Intime-se. Porto Alegre, 08 de maio de 2014 (quinta-feira). R E L A T Ó R I O Inconformados com a sentença das fls , as partes interpõem recursos ordinários. O Sindicato autor, fls , busca o deferimento do benefício de assistência judiciária gratuita, com a condenação da ré ao pagamento dos honorários assistenciais respectivos. A ré, fls , insurge-se contra a condenação à manutenção do benefício de assistência médica e odontológica gratuita aos substituídos processualmente no feito e à devolução dos valores descontados destes a título de Consulta Médica e Consulta Odontológica, com juros de mora e correção monetária. Com contrarrazões do Sindicato autor, fls , e da ré, fls , os autos são remetidos a este Tribunal para apreciação. O Ministério Público do Trabalho, fls , opina pelo conhecimento e provimento do recurso ordinário do Sindicato autor e desprovimento do recurso ordinário da reclamada. É o relatório.

3 RO Fl. 3 V O T O DESEMBARGADOR WILSON CARVALHO DIAS (RELATOR): A) RECURSO ORDINÁRIO DA RÉ 1. Assistência médica e odontológica gratuita. Integração do benefício ao contrato de trabalho A ré insurge-se contra a sentença em que confirmada a antecipação de tutela que conferiu a manutenção do benefício de assistência médica e odontológica aos substituídos processualmente no feito ativos e aposentados, bem como aos seus dependentes, garantidas 3 (três) consultas por mês. Sustenta, inicialmente, que não houve concessão gratuita da assistência médica e odontológica aos seus empregados, mas sim, um inadimplemento destes ao não efetuarem o pagamento devido. Aduz que as previsões constantes dos instrumentos coletivos não são cláusulas contratuais, tendo, pois, a mesma eficácia de uma lei, podendo, assim, ter prazo determinado, produzindo efeitos apenas no período de sua vigência, não integrando em definitivo os contratos de trabalho. Aduz que no acordo coletivo firmado em restou convencionado o período de vigência entre e , inexistindo registro de continuidade de concessão do benefício de forma não onerosa. Sustenta que findo o prazo da norma coletiva, os contratos de trabalho regem-se pelas suas cláusulas preestabelecidas individualmente e que a supressão das vantagens obtidas por norma coletiva é decorrência natural do esgotamento do seu prazo de vigência. Apregoa a inexistência de reconhecimento da continuidade do benefício pleiteado e que a norma coletiva previa 02 (duas) consultas mensais e não 03 (três). O Juízo de origem, tornando definitiva a medida antecipatória, fls ,

4 RO Fl. 4 determinou que a ré mantenha de forma gratuita a todos os seus empregados, extensivo a seus dependentes e aos aposentados, o benefício de assistência médica e odontológica, garantidas 3 consultas por mês, ao fundamento de que a continuidade da prestação do benefício sem previsão normativa por mais de 10 anos implicou na incorporação da vantagem aos contratos individuais de trabalho. Quanto ao número de consultas por mês, diante da falta de impugnação na defesa, admitiu como verídica a alegação de que foi aumentada de 02 (duas) consultas para 03 (três) mensais, garantindo, assim, a incorporação aos contratos deste número de consultas gratuitas por mês. Examino. A versão da petição inicial é de que os empregados da ré tinham direito à assistência médica e odontológica gratuita, até o limite de 2 consultas mensais, extensível aos aposentados e aos dependentes. O direito estava assegurado em norma coletiva e a última que continha a previsão teve vigência somente até Não obstante a não renovação da citada norma coletiva, a ré manteve o benefício, tendo inclusive ampliado, a partir de 2003, para 3 consultas mensais. No final de 2005 ou início de 2006, segundo ainda a petição inicial, a ré teria reduzido o benefício para 1 consulta por mês e, a contar de dezembro de 2009 suprimiu totalmente o atendimento médico e odontológico gratuito, o que se deu em ofensa às previsões dos arts. 9º e 468 da CLT. Registro, inicialmente, que a reclamada não contestou especificamente a alegação de que o benefício de assistência médica e odontológica foi mantido de forma gratuita após o término da vigência da norma coletiva que o instituiu, contestando, por outro lado, que o período de concessão do

5 RO Fl. 5 benefício está condicionado à vigência da norma coletiva. Logo, no presente caso, considerando a incontrovérsia da concessão do benefício, mesmo após o término da vigência da norma instituidora, não há falar em análise da questão à luz do entendimento constante da Súmula 277 do TST, cuja redação inclusive foi alterada em A matéria resolve-se pela aplicação do art. 468 da CLT, já que o empregador não pode suprimir vantagens já incorporadas ao contrato de trabalho dos seus empregados. É impertinente, data vênia, a tese da recorrente de que o não pagamento da assistência médica e odontológica decorreu de inadimplemento dos beneficiários. Ora, a vantagem já vinha sendo concedida de forma gratuita e assim persistiu por uma década após o término da vigência da norma coletiva, sem registro de qualquer tentativa de cobrança por parte da ré. Além disso, quando resolveu cobrar a assistência, a ré o fez por desconto salarial, conforme foi demonstrado pelo Sindicato autor por meio dos documentos das fls Não há controvérsia, também, quanto ao fato de que a ré ampliou a vantagem de 2 para 3 consultas por mês, pois inexiste contestação específica na defesa. Como bem fundamentou o Juízo de origem, é inovatória a alegação - constante das razões finais da ré - de que não teria havido a ampliação do benefício. Este, assim, foi corretamente restabelecido na sua versão mais benéfica aos empregados. Concluo, pois, que a assistência médica e odontológica gratuita, até o limite de 3 consultas/mês, é direito que foi incorporado ao contrato de trabalho dos substituídos processualmente no feito, de modo que qualquer ato tendente a reduzir ou suprimir a vantagem é nulo de pleno direito, por força dos arts. 9º e 468 da CLT.

6 RO Fl. 6 Nego provimento ao recurso. 2. Devolução dos valores descontados A ré insurge-se contra a condenação à devolução dos valores descontados dos empregados a título de consultas. Sustenta que não foram trazidos aos autos a comprovação dos alegados descontos nos salários de seus empregados, limitando-se o Sindicato autor a apenas juntar demonstrativo de salário de três empregados, o que, numa remota hipótese, apenas estes três empregados poderiam pleitear a devolução dos descontos supostamente devidos. Por outro lado, aduz que a sentença não poderia deferir devolução de descontos sob condição de comprovação futura. O Juízo de origem assim apreciou a questão: Não há necessidade de comprovação, ao menos na fase de conhecimento, de que todos os substituídos tenham sofrido descontos a título de consultas, já que o juízo, no caso de procedência do pedido, deferirá a restituição dos valores efetiva e comprovadamente descontados, em valor a ser apurado em liquidação. Para o convencimento do juízo basta a demonstração de que alguém sofreu desconto a tal título, o que resta atendido pelos documentos das fls , que demonstram descontos a título de Consulta Médica e Consulta Odontológica de três empregadas da ré. Os empregados que sofreram descontos a tal título fazem jus à sua devolução, em valor a ser apurado em liquidação, mediante comprovação nos autos pelos substituídos dos valores efetivamente descontados.

7 RO Fl. 7 Defiro a devolução dos descontos efetuados na remuneração dos empregados da ré a título de Consulta Médica e/ou Consulta Odontológica, em valor a ser apurado em liquidação, mediante comprovação nos autos pelos substituídos dos valores efetivamente descontados. Nada há a ser modificado na decisão recorrida. Os demonstrativos salariais das fls comprovam que a ré passou a descontar indevidamente o benefício que antes era gratuito. Não havia a necessidade de o Sindicato autor juntar comprovantes de descontos de todos os substituídos. Mantido o direito à assistência médica e odontológica gratuita, até 3 consultas/mês, todos os valores que foram descontados a esse título deverão ser devolvidos, conforme forem apurados em liquidação de sentença. Não há sequer necessidade de limitação da condenação ao período contado a partir de dezembro de 2009, pois é fato incontroverso nos autos que só a contar deste mês é que passaram a ser feitos os descontos. Nego provimento. B) RECURSO ORDINÁRIO DO SINDICATO RECLAMANTE Benefício da assistência judiciária gratuita O Sindicato reclamante insurge-se contra o indeferimento do benefício da assistência judiciária gratuita. Sustenta que os empregados substituídos processualmente na ação, conforme rol de fls , encontram-se assistidos por procuradores credenciados por ele, Sindicato autor, além de ter sido juntada declaração firmada pelo seu Presidente atestando o estado de miserabilidade jurídica dos substituídos, fl. 16, tendo sido

8 RO Fl. 8 inclusive declarada tal situação na própria petição inicial, o que lhes confere o direito ao benefício da assistência judiciária gratuita, bem como os honorários decorrentes (item "c" do pedido, fl. 14). O Juízo de origem indeferiu a pretensão ao fundamento de que não preenchidos os requisitos exigidos nas Súmulas 219 e 329 do TST, uma vez que o sindicato é o próprio autor da ação, e não o assistente do destinatário do benefício. Examino. Em primeiro lugar, o sindicato autor não está postulando direito próprio, mas direito alheio, como substituto processual, uma vez que o pedido de restabelecimento/manutenção do direito à gratuidade na concessão da assistência médica/odontológica refere-se a todos os empregados substituídos, com extensão aos dependentes e aos aposentados. Adoto, no presente caso, portanto, o entendimento firmado nas Súmula 219, item III e 329 do TST : Súmula nº 219 do TST HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. HIPÓTESE DE CABIMENTO (nova redação do item II e inserido o item III à redação) - Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e I - Na Justiça do Trabalho, a condenação ao pagamento de honorários advocatícios, nunca superiores a 15% (quinze por cento), não decorre pura e simplesmente da sucumbência, devendo a parte estar assistida por sindicato da categoria profissional e comprovar a percepção de salário inferior ao dobro

9 RO Fl. 9 do salário mínimo ou encontrar-se em situação econômica que não lhe permita demandar sem prejuízo do próprio sustento ou da respectiva família. (ex-súmula nº Res. 14/1985, DJ ) II - É cabível a condenação ao pagamento de honorários advocatícios em ação rescisória no processo trabalhista. III - São devidos os honorários advocatícios nas causas em que o ente sindical figure como substituto processual e nas lides que não derivem da relação de emprego. Súmula nº 329 do TST HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. ART. 133 DA CF/1988 (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e Mesmo após a promulgação da CF/1988, permanece válido o entendimento consubstanciado na Súmula nº 219 do Tribunal Superior do Trabalho. [grifei] Assim, em conformidade com o entendimento jurisprudencial dominante e estando preenchidos os requisitos legais, pois há declaração de pobreza e credencial sindical, fls , é devido o benefício postulado, o qual aproveita, na verdade, aos substituídos processualmente no feito, sendo estes os titulares do direito material vindicado. Desta forma, dou provimento ao recurso para acrescer à condenação os honorários de assistência judiciária gratuita de 15% (quinze por cento) sobre o valor bruto da condenação. C) Caixa de Assistência dos Advogados do Rio Grande do Sul

10 RO Fl. 10 Considerando o que foi sustentado da tribuna pela assistente da ré, de que estaria sendo indevidamente responsabilizada pelo cumprimento da sentença, já que teve contra si a expedição de mandado de manutenção para que a ré mantivesse a assistência médico-odontológica gratuita aos seus empregados por intermédio, dela, assistente, registro que a questão não integra o objeto dos recursos das partes. De qualquer forma, registro que o mandado citado pela assistente foi expedido após a sentença e a interposição dos recursos, versando sobre o cumprimento da decisão que antecipou os efeitos da tutela pretendida. Assim, penso que a questão deve ser debatida na fase de cumprimento da sentença, ou seja, a de execução, quando, então, será aberta à assistente a oportunidade de se insurgir contra a ordem judicial que assevera lhe é prejudicial e ilegítima. Registro, ainda, que a sentença recorrida não contém qualquer comando específico dirigido contra a ora assistente da ré. PARTICIPARAM DO JULGAMENTO: DESEMBARGADOR WILSON CARVALHO DIAS (RELATOR) DESEMBARGADORA MARIA HELENA MALLMANN DESEMBARGADORA REJANE SOUZA PEDRA