7ª CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL N.º DA COMARCA DE CERRO AZUL VARA ÚNICA

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1 7ª CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL N.º DA COMARCA DE CERRO AZUL VARA ÚNICA Apelante: MUNICÍPIO DE CERRO AZUL Apelado: ESTADO DO PARANÁ Relator: Des. GUILHERME LUIZ GOMES APELAÇÃO CÍVEL AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO JURÍDICO SERVIDOR MUNICIPAL APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO NEGATIVA DE REGISTRO DO ATO ADMINISTRATIVO PELO TRIBUNAL DE CONTAS APÓS 10 ANOS DA CONCESSÃO DO BENEFÍCIO PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA INTELIGÊNCIA DO DISPOSTO NO ARTIGO 54, DA LEI 9.784/ Dispõe o artigo 54, da Lei 9.784/99 que o direito da administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em 5 (cinco) anos, contados da datam em que foram praticados, salvo comprovada má-fé. 2. Apelação provida. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível sob n.º , em que é apelante MUNICÍPIO DE CERRO AZUL e apelado ESTADO DO PARANÁ. I RELATÓRIO: Página 1 de 7

2 Trata-se de apelação cível, interposta em face da sentença de fls. 278 a 285, proferida nos autos de ação anulatória de ato jurídico, autos sob nº 0166/2008, da Vara Única da Comarca de Cerro Azul, por meio da qual se julgou improcedente o pedido inicial sob o fundamento de que... a decisão proferida pela Colenda Corte de Contas, em nenhum momento ultrapassa os limites da legalidade., fl Condenou ainda o autor no pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, fixados em R$ 1.000,00. Alega o apelante, fls. 289 a 295, em síntese, que: Extrai-se do procedimento administrativo (fls. 12/99) que o servidor público municipal João da Aparecida Desplanches foi inativado em 25 de novembro de 1996, por força do Decreto nº 095/96 (fls. 16), cujo ato oficia foi publicado no jornal Tribunal dos Minérios (fls. 17). Observe-se que a comprovação do exercício de atividade na lavoura decorreu de declaração expedida pelo Promotor de Justiça da Comarca de Cerro Azul (fls. 30), restando comprovado o labor na atividade rural em regime de economia familiar. Logo, por ocasião do julgamento do pedido de registro de aposentadoria, o servidor público municipal já estava aposentado há mais de dez anos, daí porque a negativa do registro não seria a melhor solução ao caso, em razão do princípio da segurança jurídica, ainda mais considerando o artigo 103-A, da Lei nº 8.213, de 24 de julho de , fl Requer seja... provido, para o efeito de reformar a r. sentença, declarando a anulação do ato administrativo consubstanciado Página 2 de 7 2

3 no v. acórdão nº 2475/06 da Segunda Câmara do Tribunal de Contas do Paraná, posto que proferida em violação direta e literal a texto de lei federal, invertendo-se os ônus da sucumbência..., fl O réu apresentou contrarrazões, fls. 299 a 308, pugnando pela manutenção da sentença. A douta Procuradoria-Geral de Justiça, parecer de fls. 309 a 313, manifestou-se pelo provimento do recurso de apelação para o fim de reformar a sentença prolatada... e anular-se a decisão administrativa proferida pelo Tribunal de Contas, por força do princípio da segurança jurídica..., fl É o relatório. II VOTO E SEUS FUNDAMENTOS Presentes os pressupostos recursais, voto pelo conhecimento do presente recurso de apelação. Da análise dos autos denota-se que o servidor público municipal, Sr. João da Aparecida Desplanches, ocupante do cargo de motorista junto ao Município de Cerro Azul, foi aposentado por tempo de serviço em 25 de novembro de 1996, consoante publicação de fl. 17. A negativa de registro da aposentadoria do servidor pelo Tribunal de Contas do Estado do Paraná ocorreu em 20 de dezembro de 2006 sob o seguinte fundamento: Considerando a inércia do interessado no sentido de cumprir solicitação desta Casa, bem como regularizar o presente processo, nos termos dos Pareceres nºs /06 e /06, Página 3 de 7 3

4 respectivamente da Diretoria Jurídica e Ministério Público junto a este Tribunal..., fl. 50. Do parecer de lavra do Ministério Público de Contas do Estado do Paraná nº /06, fls. 45/46, verifica-se que a negativa de registro da aposentadoria deu-se sob o seguinte fundamento: Em exame preliminar, este Ministério Público de Contas verificou que o Município considerou tempo de serviço não constante na certidão do INSS. Esclarecendo que este Tribunal não aceita justificação judicial, solicitou que o Município apresentasse certidão emitida pelo INSS, referente ao período de serviço rural. Ainda, solicitou cálculo de proventos com data-base na remuneração recebida pelo servidor no ultimo mês na atividade. O feito foi convertido em diligência externa à origem pelo Conselheiro Relator Artagão de Mattos Leão. O Município, às fls. 36, devolveu o feito informando que não houve resposta do interessado acerca do solicitado por este Tribunal de Contas. A DIJUR, em parecer nº 13122/06, diante da ausência da certidão do INSS comprovando o tempo de serviço rural utilizado para inativação e o cálculo de proventos, manifesta-se pela negativa de registro de aposentadoria., fl. 45. À fl. 26 dos autos consta a declaração do Ministério Público Estadual ratificando a declaração firmada pelo Sr. João Aparecido Desplanches no sentido de que:... exerceu atividade rural como lavrador Página 4 de 7 4

5 em regime de economia familiar, desde o período de 09 de setembro de 1967 a 20 de fevereiro de 1976, em propriedade de seu pai, Sr. Manoel Desplanches., fl. 27. A Procuradoria Jurídica da Prefeitura Municipal de Cerro Azul concluiu pelo... tempo suficiente à inativação, com proventos proporcionais ao tempo de serviço., fl. 20. O Município de Cerro Azul por meio do Decreto nº 095/96 decretou a aposentadoria do Sr. João Aparecido Desplanches tomando como fundamento a declaração ministerial e o documento de fl. 25, onde restou certificado que:... Constatei através da Carteira de Trabalho nº 5865, série 407, de à admissão do referido funcionário para o cargo de professor. Portanto de à , somou um tempo de 03 (três) anos, 0 (zero) mês e 03 (três) dias. A partir de voltou a prestar serviço a esta Prefeitura de motorista, então de até a presente data, , somou mais 17 (dezessete) anos, 03 (três) meses, e 09 (nove) dias, o mesmo conta também com mais 02 (dois) anos de licença especial não gozadas. Perfazendo então um total geral de tempo de serviço prestados a esta Prefeitura de 22 (vinte e dois) anos, 03 (três) meses e 12 (doze) dias. Assim, verifica-se que quando da negativa de registro da aposentadoria do servidor municipal pelo Tribunal de Contas estadual o mesmo já estava na inatividade há mais de 10 anos. Tratando-se de ato administrativo, a sua anulação ou revogação deve atender o disposto no artigo 54 da Lei 9.784/1999, sob Página 5 de 7 5

6 pena de incorrer em ofensa ao ato jurídico perfeito e atentar contra o princípio da segurança jurídica, in verbis: Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em 5 (cinco) anos, contados da datam em que foram praticados, salvo comprovada má-fé. 1º No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento. Neste sentido, o parecer de lavra do ilustre membro do Ministério Público em segundo grau: É preciso reconhecer que, em que pese a decisão do Tribunal de Contas esteja formalmente correta, a exigência de devolução de valor pago a título de aposentadoria de trabalhador rural, por mera ausência de certidão do INSS, não se revela a medida mais justa para a solução do caso em apreço. Na verdade, se a declaração emitida pelo Ministério Público Estadual tivesse sido encaminhada ao INSS, certamente teria sido emitida a certidão de trabalho rural, como era corrente na época. O próprio Tribunal de Contas, como se infere dos julgados referidos na apelação, posteriormente em situações idênticas reconheceu que a ausência da certidão do INSS não é fator suficiente a descaracterizar a concessão de aposentadoria, se verificado que as partes envolvidas não agiram com má-fé. (...) Página 6 de 7 6

7 Como se observa dos autos, quando proferida a decisão pelo Tribunal de Contas, o trabalhador já estava há mais de 10 anos percebendo proventos de aposentadoria. De maneira que a declaração de ilegalidade da concessão de aposentadoria, neste momento, atentaria contra o princípio da segurança jurídica, em manifesto prejuízo ao aposentado e também ao autor, que, apesar de descurar-se do dever de exigir a certidão do INSS, concedeu a aposentadoria com base na declaração do Ministério Público., fls. 310/311. Em face do exposto, voto no sentido de dar provimento à apelação, reconhecendo a legalidade da aposentadoria concedida em favor de João da Aparecida Desplanches e determinando seja a mesma levada a registro junto ao Tribunal de Contas do Estado do Paraná. Considerando a procedência do pedido inicial, invertam-se os ônus sucumbenciais fixados na r. sentença. III DISPOSITIVO ACORDAM os Desembargadores integrantes da Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento à apelação, nos termos do voto do Relator. Participaram da sessão de julgamento os Excelentíssimos Senhores Desembargadores LUIZ ANTÔNIO BARRY e LENICE BODSTEIN. Curitiba, 08 de novembro de Des. GUILHERME LUIZ GOMES Presidente e Relator Página 7 de 7 7