O Comportamento da Taxa de Juros. Introdução. Economia Monetária I (Turma A) - UFRGS/FCE 6/10/2005. Prof. Giácomo Balbinotto Neto 1
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- Lorenzo Figueiroa Bicalho
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1 O Comportamento da Taxa de Juros Prof. Giácomo Balbinotto Neto Introdução A taxa de juros é o preço que é pago por um tomador de empréstimos a um emprestador pelo uso dos recursos durante um determinado intervalo de tempo. O montante é o principal e o preço pago é expresso como sendo o percentual do principal por unidade de tempo (geralmente um ano, por exemplo, 12% a.a). 2 Evolução da Taxa de Juros - Brasil 3 Prof. Giácomo Balbinotto Neto 1
2 Introdução Neste tópico nós iremos apresentar as duas principais teorias referentes a determinação da taxa de juros: (i) A Teoria de Fisher qual qual é subjacente a teoria dos fundos emprestáveis [loanable funds theory]; (ii) e a teoria keynesiana da preferência pela liquidez [Keynes s liquidity preference theory] 4 Introdução O objetivo aqui é examinarmos de que forma é determinada o nível geral da taxa de juros nominal e os fatores que influenciam o seu comportamento. Vimos anteriormente que as taxas de juros são inversamente relacionadas ao preço dos bônus [Pb= Re/i]. Deste modo, se pudermos explicar porque o preço dos bônus mudam, podemos explicar também porque a taxa de de juros muda ou flutua! 5 Introdução A análise da oferta e demanda por bônus conhecida como abordagem dos fundos emprestáveis - fornece uma teoria da determinação da taxa de juros. Ela prevê que as taxas de juros irão mudar quando houver modificações na demanda, devido a mudanças na renda (ou riqueza), retornos esperados, risco ou liquidez, ou quando houver uma mudança na oferta devido a uma variação no retorno das oportunidades de investimento, no custo de pedir empréstimos ou políticas governamentais. 6 Prof. Giácomo Balbinotto Neto 2
3 Introdução Uma outra teoria da forma como as taxa de juros são determinadas é conhecida como abordagem pela preferência pela liquidez, que analisa a oferta e demanda por moeda. Ela mostra que as taxa de juros irão oscilar quando houver mudanças na demanda por moeda devido a variações nos níveis de preço ou quando houver mudanças na oferta de moeda. 7 Introdução A TFE (Teoria dos Fundos Emprestáveis) está associada aos economistas clássicos do final do século XIX e inicio do século XX, enquanto a TPL (Teoria da Preferência pela Liquidez) é um produto da Teoria Geral de Keynes (1936, caps ). [cf. Howells & Bain (2001,p.34) e Tsiang (1988) - Loanable Funds in New Palgrave] 8 A Teoria dos Fundos Emprestáveis [TFE] A TFE têm origem no trabalho de Irving Fisher (1930) que analisou a determinação da taxa de juros numa economia verificando a razão pela qual os indivíduos poupam [isto é, não consomem toda a sua renda ou recursos correntes] e porque outros tomam emprestado. 9 Prof. Giácomo Balbinotto Neto 3
4 A TFE e as decisões de poupança, empréstimo e investimento A poupança no modelo de Fisher (1930) é uma escolha que os indivíduos fazem entre o consumo corrente e futuro de bens e serviços. Os indivíduos poupam alguns de seus recursos correntes a fim de serem capazes de consumir mais no futuro. O principal determinante da decisão de poupança dos indivíduos é sua taxa de preferência intertemporal isto é - a sua disposição em trocar algum consumo agora por mais consumo no futuro. 10 A TFE e as decisões de poupança, empréstimo e investimento Outro determinante da decisão de poupança é a renda. De um modo geral, como veremos abaixo, altas rendas implicam que os indivíduos irão poupar mais, embora as pessoas com a mesma renda possam ter preferência intertemporais diferentes. A terceira variável importante no modelo de Fisher (1930) é a taxa de juros - ou a recompensa por poupar (isto é, não consumir toda a sua renda no presente). 11 A TFE e as decisões de poupança, empréstimo e investimento Os investimentos implicam em direcionar recursos para ativos que irão aumentar a capacidade de produção futura da firma. Um dos fatores que influencia esta decisão das empresas são os ganhos de investimento, os quais são as diferenças positivas entre os recursos usados por um processo e o total de recursos que ele irá produzir no futuro. 12 Prof. Giácomo Balbinotto Neto 4
5 A TFE e as decisões de poupança, empréstimo e investimento A medida em que o montante de projetos cresce, os ganhos adicionais necessariamente caem, a medida em que os projetos menos lucrativos são aceitos. O máximo que uma firma irá investir depende da taxa de juros, a qual é o custo do empréstimo. 13 O equilíbrio de mercado na teoria de Fisher (1930) A taxa de juros de equilíbrio é determinada pela interação das curvas de oferta e demanda. A teoria de Fisher (1930) enfatiza que a taxa de juros de longo prazo e o montante de investimento dependem da propensão da sociedade a poupar e do desenvolvimento tecnológico (que afeta a produtividade marginal do capital). 14 O equilíbrio de mercado na teoria de Fisher (1930) A teoria de Fisher (1930) da determinação da taxa de juros de equilíbrio, implica que o nível de equilíbrio de longo prazo é o resultado das decisões de investir e poupar tomadas pelos indivíduos e firmas. A taxa de juros é determinada livremente por meio daqueles dois conjuntos de decisões. 15 Prof. Giácomo Balbinotto Neto 5
6 A taxa de juros como um fenômeno real na teoria de Fisher (1930) Na teoria de Fisher (1930), a taxa de juros é determinada pelas forças reais da produtividade [do equipamento de capital, determinando o montante de empréstimo que os tomadores iriam investir] e da parcimônia [o quanto os indivíduos estariam dispostos a abrir mão de seu consumo presente em relação ao consumo futuro]. 16 O Equilíbrio de Mercado na Teoria de Fisher (1930) i (taxa de juros) Of i* Df 0 S* =I* S, I 17 A Teoria de Fisher (1930) e suas Limitações 1) A teoria de Fisher (1930) sobre a teoria dos juros é uma teria geral, mas que negligencia certos aspectos práticos, tais com o poder do governo de criar moeda e de tomar empréstimos (a qual é freqüentemente imune ao nível de taxa de juros). 2) A teoria de Fisher (1930) também não considera a possibilidade de que os indivíduos e firmas possam investir em saldos de caixa (moeda). 18 Prof. Giácomo Balbinotto Neto 6
7 A formação da taxa de juros e a teoria dos fundos emprestáveis Escola Clássica (Irving Fisher (1930): a taxa de juros é determinada pela demanda e oferta de bens [poupança e investimento ou demanda e oferta de bônus]. Fundos Emprestáveis (Bertil Olin, Knut Wicksell, e Dennis Robertson): a oferta adicional de novos bônus dependem dos investimentos das firmas I e dos planos das famílias de aumentar seus saldos de caixa [money holdings]: M D 19 Teoria dos Fundos Emprestáveis (Bertil Olin, Knut Wicksell e Dennis Robertson) Dennis Robertson Knut Wicksell Bertil Olin 20 Da Teoria de Fisher (1930) a TFE A expansão da teoria de Fisher (1930), que leve em conta aquelas situações produz a teoria dos fundos emprestáveis [loanable funds theory of interest rates]. [cf. Fabozzi, Modigliani & Ferri (1994, p.211)] 21 Prof. Giácomo Balbinotto Neto 7
8 Irving Fisher (1930) 22 A Teoria dos Fundos Emprestáveis - aqui analisamos a determinação da taxa de juros através do estudo da oferta e demanda de bônus; - nós presumimos, também, que só há um tipo de título e uma única taxa de juros em toda a economia; 23 A Teoria dos Fundos Emprestáveis - considere a demanda por um bônus de um ano, com desconto, que não paga juros de cupom, pagando ao seu proprietário apenas o valor nominal de resgate após um ano; 24 Prof. Giácomo Balbinotto Neto 8
9 A Teoria dos Fundos Emprestáveis - se o investidor em questão mantém esse bônus em sua carteira por um ano, então, conforme vimos anteriormente, o retorno do bônus é totalmente conhecido e é igual a taxa de juros conforme medida pela curva de retorno até a maturidade (YTM). Isto significa que o retorno esperado desse bônus é igual à taxa de juros, i. 25 Derivação da Curva de Demanda por Bônus i = RET e = (N Pd) P Ponto A: Ps = $950 ($1000 $950) i = = = 5.3% $950 B d = $100 bilhões. 26 Derivação da Curva de Demanda por Bônus Ponto B: P = $900 ($1000 $900) i = = = 11.1% $900 B d = $200 bilhões. Ponto C: P = $850 i = 17.6% B d = $300 bilhões Ponto D: P = $800 i = 25.0% B d = $400 bilhões Ponto E: P = $750 i = 33.0% B d = $500 bilhões 27 Prof. Giácomo Balbinotto Neto 9
10 Derivação da Curva de Demanda por Bônus A curva de demanda é dada por B d na figura abaixo a qual conecta os pontos A, B, C, D, E. A curva de demanda por bônus é negativamente inclinada. 28 Derivação da Curva de Oferta por Bônus Ponto F: Ponto G: Ponto C: Ponto H: Ponto I: P = $750 i = 33.0% B s = $100 bilhões P = $800 i = 25.0% B s = $200 bilhões P = $850 i = 17.6% B s = $300 bilhões P = $900 i = 11.1% B s = $400 bilhões P = $950 i = 5.3% B s = $500 bilhões A curva de oferta de bônus é dada por B s a qual conecta os pontos F, G, C, H, I, e é positivamente inclinada. 29 Equilíbrio no mercado de bônus 30 Prof. Giácomo Balbinotto Neto 10
11 Equilíbrio no mercado de bônus O equilibrio de mercado ocorre quando B d = B s, em P* = $850, i* = 17.6% Quando P = $950, i = 5.3%, B s > B d (excesso de oferta): P to P*, i para i*. Quando P = $750, i = 33.0, B d > B s (excesso de demanda): P to P*, i para i*. 31 Equilíbrio no mercado de bônus: o significado do equilíbrio Numa situação de equilíbrio, como vista acima, a interseção das curvas de oferta e demanda fixam o nível da taxa de juros de equilíbrio e o nível de empréstimos. No equilíbrio, temos que a demanda por fundos é igual a oferta de fundos. Isto significa que todos os agentes que estão tomando emprestado o que desejam, investindo na extensão desejada, e os poupadores estão sendo remunerados pela sua poupança tendo em vista suas preferências intertemporais. 32 Terminologia dos Fundos Emprestáveis Demanda por bônus = Oferta de fundos emprestáveis Oferta de bônus = Demanda por fundos emprestáveis 33 Prof. Giácomo Balbinotto Neto 11
12 A Teoria dos Fundos Emprestáveis Oferta e Demanda de Fundos Emprestáveis A demanda por fundos emprestáveis representa o comportamento dos tomadores de empréstimos e portanto refere-se a oferta de todos os instrumentos de dívida. A oferta de fundos emprestáveis representa o comportamento dos emprestadores e portanto refere-se a demanda por instrumentos de débito. 34 Terminologia dos Fundos Emprestáveis 35 Deslocamentos na Demanda por Bônus 36 Prof. Giácomo Balbinotto Neto 12
13 Fatores que deslocam a Demanda por Bônus 1. Riqueza Economia, Riqueza, B d, B d deslocaparaa direita. Numa expansão econômica com aumento da riqueza, a procura por bônus cresce e a curva de demanda por bônus se desloca para a direita. Contudo, o aumento na demanda dependerá até que ponto os bônus são considerados pelos indivíduos como sendo um bem de luxo e não bens necessários. 37 Fatores que deslocam a Demanda por Bônus 2. Retornos Esperados i no futuro, RET e para bônus de longo prazo, B d Deslocaparaa direita; π e, relativamente a RET e, B d deslocaparaa direira Expectativas de taxas de juros maiores no futuro reduzem o retorno esperado de bônus de longo prazo, diminuem a demanda e deslocam a curva de demanda para a esquerda. 38 Fatores que deslocam a Demanda por Bônus 3. Risco Risco dos bônus, B d, B d deslocaparaa esquerda Se os preços no mercado de bônus se tornam mais voláteis, o risco associado com os bônus aumenta, e os bônus se tornam ativos menos atraentes para os poupadores. Assim, um aumento no risco dos bônus diminui a procura por bônus, e a curva de demanda se desloca para a esquerda. 39 Prof. Giácomo Balbinotto Neto 13
14 Fatores que deslocam a Demanda por Bônus 4. Risco dos outros ativos Risco k dos outros ativos, B d, B d desloca-se para a direita. Um aumento na volatilidade dos preços em um outro mercado de ativos, como o mercado de ações, tornaria os bônus mais atraentes. Um aumento no risco de ativos alternativos aumenta a demanda por bônus, e acurva de demanda se desloca para a direita. 40 Fatores que deslocam a Demanda por Bônus 5. Liquidez Liquidez dos Bônus, B d, B d desloca-se para a direita; Liquidez dos outros ativos, B d, B d desloca-se para a esquerda. Um aumento na liquidez de um bônus aumenta a sua procura, e a curva de demanda se desloca para a direita. Do mesmo modo, um aumento na liquidez de ativos alternativos reduz a procura de bônus e desloca a curva de demanda para esquerda. 41 Fatores que deslocam a demanda por Bônus 42 Prof. Giácomo Balbinotto Neto 14
15 Fatores que Deslocam a Curva de Oferta de Bônus 1. Lucratividade das oportunidades de investimento Expansão do ciclo econômico, oportunidades de investimento, B s, B s desloca-se para a direita. Quanto mais lucrativos forem os investimentos que uma firma espera realizar, mais disposta ela estará a pedir empréstimos e aumentar seu endividamento para financiar tais investimentos. Portanto, numa expansão econômica, a oferta de bônus [a demanda por empréstimos por parte das firmas] aumenta, e a curva de oferta se desloca para a direita. 43 Fatores que Deslocam a Curva de Oferta de Bônus 2. Inflação esperada π e, B s, B s desloca-se para a direita. O custo real de um empréstimo é medido de forma mais precisa pela taxa real de juros, que corresponde à taxa de juros nominal menos a taxa de inflação esperada. Assim, para uma dada taxa de juros, quando a inflação esperada aumenta,, o custo de pedir empréstimos diminui, e a oferta de bônus, portanto aumenta para todos os preços de bônus e taxa de juros determinados. 44 Fatores que Deslocam a Curva de Oferta de Bônus 3. Políticas governamentais Deficit públicos, B s, B s desloca-se para a direita. Quando o governo financia seu déficit através da venda de títulos públicos, temos um aumento na oferta de bônus para todos os preços de bônus e a taxa de juros. Assim, déficit governamentais mais altos aumentam a oferta de bônus e deslocam a curva de oferta para a direita. 45 Prof. Giácomo Balbinotto Neto 15
16 Fatores que Deslocam a Curva de Oferta de Bônus 46 Fatores que deslocam a Curva de Oferta de Bônus 47 O Aumento na π e : o Efeito Fisher (1930) Se π e, Retorno relativo RET e, B d para a esquerda B s, B s deslocaparaa direitap, i ; 48 Prof. Giácomo Balbinotto Neto 16
17 Evidência sobre o Efeito Fisher no Canadá 49 Fatores que deslocam a Curva de Oferta e Demanda por Bônus 50 Expansão Econômica 51 Prof. Giácomo Balbinotto Neto 17
18 Expansão Econômica Riqueza, B d, B d desloca para a direita Investimento, B s, B s deslocaparaa direita; Se B s desloca-se mais do que B d então P, i 52 Taxa de Juros e o Ciclo Econômico O nível da taxa de juros e o crescimento econômico variam coincidentemente ao longo do tempo. Expansão: aumento nos gastos do consumidor; Acumulação de estoques e aumento na demanda por empréstimos. Pico: restrição monetária. Elevada demanda por emprestimos, pouca liquidez. Contração: Queda nos gastos do consumidor; Contração dos estoques; Queda na demanda por empréstimos. Depressão: demanda limitada por empréstimos; excesso de liquidez. 53 Evidência da relação entre taxa de juros e atividade econômica - Canadá 54 Prof. Giácomo Balbinotto Neto 18
19 Resposta a uma Baixa Taxa de Poupança 55 Resumo da TFE - a taxa de juros real, sem riscos, de curto prazo, é a soma paga pelos tomadores de empréstimos pelo período mais curto possível, em um mundo de preços constantes e risco zero; - a oferta de recursos é determinada pela disposição das pessoas em poupar, o que por sua vez, depende de sua taxa de preferência temporal; 56 Resumo da TFE - a demanda pelos fundos depende das perspectivas para o seu uso lucrativo, e custo depende, por sua vez da produtividade dos ativos que serão adquiridos pelos fundos; - a taxa de juros nominal, de curto prazo e sem risco é composta da taxa real determinada pela preferência intertemporal e produtividade, mais um prêmio que reflete a taxa esperada de inflação. 57 Prof. Giácomo Balbinotto Neto 19
20 FIM Prof. Giácomo Balbinotto Neto FCE/UFRGS Prof. Giácomo Balbinotto Neto 20
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