TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação / Reexame Necessário nº , da Comarca de Itaquaquecetuba, em que é apelante PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAQUAQUECETUBA, são apelados IVANIA DA SILVA ASSUNÇÃO (MENOR(ES) REPRESENTADO(S)) e IVANIA DA SILVA ASSUNÇÃO (REPRESENTADO(A) POR SUA MÃE). ACORDAM, em 8ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOÃO CARLOS GARCIA (Presidente) e PAULO DIMAS MASCARETTI., 30 de outubro de 2013 Cristina Cotrofe RELATORA Assinatura Eletrônica

2 Apelação nº Apelante: Prefeitura Municipal de Itaquaquecetuba Apelada: Ivania da Silva Assunção Comarca de Itaquaquecetuba Voto nº APELAÇÃO CÍVEL RESPONSABILIDADE CIVIL DANOS MORAIS. 1. Menor demitida Apresentação de atestado médico falso Diretor Clínico de hospital municipal que erroneamente informou ao empregador que a autora não passou por consulta no dia informado Ressarcimento devido Responsabilidade objetiva Excludente de responsabilidade não demonstrada Artigo 37, 6º, da Constituição Federal. 2. Quantum da indenização Fixação adequada, observados os critérios de razoabilidade e proporcionalidade, bem como o aspecto reparador, punitivo e pedagógico da medida Recurso desprovido. Trata-se de apelação interposta contra a respeitável sentença de fls. 149/154, que julgou parcialmente procedente a ação, a fim de condenar a Prefeitura Municipal de Itaquaquecetuba a pagar a Ivania da Silva Assunção, a título de danos morais, a quantia de R$ 6.000,00, acrescida de juros de mora, a partir da citação e correção monetária, a contar da data do arbitramento. Sustenta a Municipalidade, em síntese, que não há nexo causal entre os fatos ocorridos e os danos experimentados a ensejar condenação por danos morais, pois não teve qualquer interferência na demissão da autora (fls. 159/166). Regularmente processado o recursos, foram apresentadas contrarrazões (fls. 170/174). A Douta Procuradoria Geral de Justiça optou por não se manifestar, por entender inexistir interesse e legitimidade do Ministério Público na intervenção do feito, haja vista a maioridade da Apelação / Reexame Necessário nº Itaquaquecetuba - VOTO Nº /5

3 autora alcançada no curso da lide (fls. 178). É o relatório. O recurso não comporta provimento. É certo que o princípio da responsabilidade objetiva do Estado, consagrado na Constituição Federal, não se reveste de caráter absoluto. Tanto assim é que as excludentes de responsabilidade caso fortuito, força maior e culpa exclusiva da vítima ou de terceiro quando verificadas, afastam o dever de indenizar. É inegável, ainda, que se tratando de responsabilidade objetiva, inverte-se o ônus da prova, competindo à Administração a prova da justificativa que lhe seja favorável. E a apelante, em que pese os relevantes os argumentos por ela alinhavados, não conseguiu infirmar o quanto declarado na inicial. Extrai-se dos autos que a apelada, então menor à época dos fatos, passou por consulta no dia 28 de julho de 2000, no Hospital Municipal de Itaquaquecetuba, oportunidade em que lhe foi dada declaração de comparecimento, com recomendação de um dia de repouso (fls. 24). Referida declaração foi apresentada na empresa em que trabalhava, a fim de justificar sua ausência; porém o empregador desconfiou de sua veracidade e perquiriu junto ao hospital sobre a ida da apelante ao nosocômio, tendo obtido como resposta não consta registro e nem ficha de atendimento da paciente Ivania da Silva Assunção, na data de 28/07/2000 (fls. 28), o Apelação / Reexame Necessário nº Itaquaquecetuba - VOTO Nº /5

4 que ocasionou sua demissão por justa causa (fls. 27). Ressalte-se que, apesar do aviso de demissão não estar assinado e não constar a data da dispensa em sua Carteira de Trabalho, a veracidade de suas afirmações restou confirmada pelas declarações colhidas na Justiça do Trabalho, em que o médico que atendeu a apelante reconheceu como sua a assinatura na declaração de comparecimento, bem como o seu antigo empregador confirmou que a demissão se deu em virtude do atestado ter sido considerado falso ante as informações prestadas pelo hospital (fls. 112/115). Ademais, a apelante trouxe aos autos sua ficha de atendimento, o que também corrobora a consulta naquela data (fls. 26). Neste aspecto, patente o nexo de causalidade entre a demissão da autora e a errônea declaração de seu não comparecimento ao hospital lavrado pelo Diretor Clínico. Assim, considerando-se que, nos termos do artigo 37, 6º, da Constituição Federal 1 a responsabilidade patrimonial do Estado é objetiva, ou seja, independe da comprovação de dolo ou culpa, decorrendo do risco administrativo, e não havendo qualquer excludente, de rigor a condenação da Municipalidade ao pagamento das verbas indenizatórias. Relativamente ao valor da indenização, como preconiza o eminente Rui Stoco, a indenização da dor moral há de buscar duplo objetivo condenar o agente causador do dano ao pagamento de certa importância em dinheiro, de modo a puni-lo, 1 As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. Apelação / Reexame Necessário nº Itaquaquecetuba - VOTO Nº /5

5 desestimulando-o da prática futura de atos semelhantes e, com relação à vítima, compensá-la com uma importância mais ou menos aleatória, pela perda que se mostra irreparável, pela dor e humilhação impostas Evidentemente, não haverá de ser fonte de enriquecimento injustificado da vitima, nem poderá ser inexpressiva a ponto de não atingir o objetivo colimado, de retribuição do mal causado pela ofensa. com o mal da pena. 2 Destarte, considerando-se o fato, suas consequências, as condições pessoais das partes, os aspectos compensatório e pedagógico da medida e, notadamente, observados os critérios de proporcionalidade e razoabilidade, mostra-se adequada a indenização arbitrada no valor de R$ 6.000,00. O termo inicial dos juros de mora será mantido, pois, apesar do disposto na Súmula nº 54, do Colendo Superior Tribunal de Justiça 3, a apelada não se insurgiu contra ele. Nada há, portanto, a reparar na respeitável sentença de primeiro grau. ao recurso. Ante ao exposto, pelo meu voto, nega-se provimento CRISTINA COTROFE Relatora 2 Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial, 4ª ed., pág Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual. Apelação / Reexame Necessário nº Itaquaquecetuba - VOTO Nº /5