TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de Campinas, em que são apelantes UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS UNICAMP e JUIZO EX OFFICIO sendo apelado ROVILSON PEREIRA (JUSTIÇA GRATUITA). ACORDAM, em 8ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores OSNI DE SOUZA (Presidente) e CARVALHO VIANA., 23 de maio de 2012 Cristina Cotrofe RELATORA Assinatura Eletrônica

2 Apelação: Recorrente: JUÍZO EX-OFFICIO Apelante: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS UNICAMP Apelado: ROVILSON PEREIRA Comarca: CAMPINAS Voto nº: 8591 Responsabilidade Civil Indenização por danos materiais Furto de motocicleta estacionada no interior da Universidade Estadual de Campinas Dever de vigilância Presença de guaritas e segurança patrimonial - Controle de entrada e saída Responsabilidade patrimonial Recurso desprovido. Trata-se de ação de indenização promovida por ROVILSON PEREIRA em face da UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS UNICAMP, objetivando a condenação da requerida ao pagamento de indenização por danos materiais na quantia de R$ 5.900,00 (cinco mil e novecentos reais), correspondente ao valor da motocicleta de sua propriedade, subtraída do estacionamento situado no interior do campus universitário da requerida, durante período em que lá trabalhava. A respeitável sentença de fls. 278/284, cujo relatório fica adotado, julgou procedente o pedido, condenando a requerida a pagar ao autor a importância de R$ 5.900,00 (cinco mil e novecentos reais) a título de indenização pelos prejuízos que lhe foram causados em razão do furto de sua motocicleta, com acréscimo de correção monetária computada a partir do ajuizamento da ação, bem como de juros de mora, segundo a taxa legal, a contar da data da citação. Pela sucumbência, condenou a requerida no pagamento das custas e despesas processuais, com acréscimo computado a partir da data do efetivo desembolso pelo autor, bem como no pagamento de honorários advocatícios, estes arbitrados em montante equivalente a 10% (dez por cento) do valor global da condenação, com os devidos acréscimos legais. Apelação nº Campinas - VOTO Nº /7

3 Irresignada, apela a vencida buscando a inversão do resultado. Sustenta, em breve síntese, que o acesso à área de seu campus é franqueada ao público em geral, inclusive as áreas reservadas ao estacionamento de veículos. Tratam-se de áreas de uso comum do povo, tais como são as vias públicas em geral, não havendo ou se exigindo qualquer tipo de controle sobre os veículos por parte dos vigilantes da ré. Assim, fica evidente que a apelante não agiu com culpa, inexistindo dever de guarda em relação aos veículos de funcionários estacionados no local. Por fim, salienta que o atual Código Civil não é aplicável ao caso, posto que o ocorrido deu-se na vigência do código anterior, equivocando-se o d. Magistrado a quo ao utilizar na fundamentação de seu decisório os artigos 186 e 927 do atual Codex. Requer a reforma da sentença, com a improcedência da ação. Recebido o recurso e devidamente processado, foram apresentadas as contrarrazões. O acórdão de fls 316/320 reconheceu incompetência desta Câmara para o julgamento do feito, e remeteu os autos à distribuição para uma das Egrégias 1ª a 10ª Câmaras de Direito Privado. Desta forma, a Egrégia 7ª Câmara de Direito Privado suscitou dúvida de competência fls 343/349 e a questão foi dirimida pelo Colendo Órgão Especial desta Corte, que julgou ser esta Câmara a competente para apreciação da matéria (fls 363/369) É o relatório. O recurso não comporta provimento. Com efeito, a lide em comento versa sobre Apelação nº Campinas - VOTO Nº /7

4 responsabilidade extracontratual da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) no furto de uma motocicleta, de propriedade de um de seus funcionários, que se encontrava estacionada no interior de seu campus. Conforme se depreende dos autos, o funcionário Rovilson Pereira, ora apelado, estacionou a motocicleta no local próprio do campus da Universidade Estadual de Campinas, acionou o alarme, colocou uma trava no guidão e ainda uma corrente com cadeado, com o intuito de protegê-la da ação de criminosos. Todavia, todas estas precauções foram insuficientes para proteger sua propriedade, já que o veículo foi subtraído, mesmo sob a fiscalização dos vigilantes contratados pela autarquia, burlando, ainda, o controle de entrada e saída de veículos existente no local. Assim, resta evidente a responsabilidade patrimonial da apelante na guarda dos veículos que são estacionados em suas dependências, pois, existe vigilância patrimonial em seu estacionamento, Foi o que se depreendeu do depoimento da testemunha Amauri Roberto Marsolla: A UNICAMP dispõe de um sistema de segurança próprio, que cuida de seu patrimônio, bem, bem como ainda contrata os serviços de uma empresa terceirizada, sendo que esta última mantém guardas nas guaritas localizadas nas entradas e saídas da universidade; é certo que a UNICAMP também dispõe de guardas que tomam conta dos estacionamentos; segundo a sistemática vigente na UNICAMP, quando da entrada de veículo de visitantes em suas dependências, o motorista recebe um ticket na guarita, onde são anotados os dados do veículo, o qual deve ser devolvido na saída, já em relação aos veículos de funcionários, eles são devidamente cadastrados, sendo que o Apelação nº Campinas - VOTO Nº /7

5 proprietário ou usuários recebe uma carteirinha, também contendo os dados do veículo, a qual deve se exibida quando da saída das dependências da universidade. (fls 251/253) Nesta mesma esteira, seguiram os depoimentos das outras testemunhas, os funcionários Jorgias Alves Ferreira (fls 254/256) e Aparecido Casturio de Oliveira, vigilante da autarquia (fls 257/259). Restou evidenciado nos autos a existência de um efetivo controle de entrada e saída de veículos (fls.31). Desta forma, não pode classificar-se o local como de domínio público, com o intuito de livrar o apelante do dever de guardar do patrimônio dos funcionários e da respectiva responsabilidade patrimonial. Já decidiu este Tribunal, em casos análogos, também de furto de veículos nas dependências do campus da Universidade Federal de Campinas: Verifica-se que a autora deixou seu veículo no estacionamento de propriedade da apelante e recebeu canhoto de identificação do bem, na qualidade de visitante, datado e com anotação da placa do automóvel (fls. 08). Incontroverso, ademais, ter ocorrido o furto do veículo da autora no estacionamento da Unicamp, este disponibilizado aos usuários de maneira gratuita; todavia, com controle de entrada e saída de veículos e entrega de documento de identificação, a caracterizar a efetiva vigilância por parte da apelante. Por seu turno, a testemunha Antonio Aparecido Sant'ana, supervisor de serviço da Unicamp, ouvida em Apelação nº Campinas - VOTO Nº /7

6 Juízo, corroborou a existência de vigilância no estacionamento e asseverou: Que todas as entradas e saídas da Universidade tem guaritas e todos os veículos que entram recebem um documento idêntico ao de fls. 08, que é devolvido na saída (fls. 82). Com efeito, embora seja disponibilizado o estacionamento gratuitamente e não possuir a ré fins lucrativos, certo é que, o espaço possui sistema de vigilância, com controle de acesso de entrada e saída de veículos. Desta forma, uma vez entregue o cartão de identificação do veículo, a apelante assume a responsabilidade pelo bem deixado sob sua guarda. 1 E no Acórdão: A autora é funcionária da apelada, sendo que no dia 05/12/2007 seu veículo foi furtado no estacionamento que sempre costumava utilizar.o furto foi imediatamente comunicado à Vigilância do Campus (fl. 29), e em seguida, lavrado o Boletim de Ocorrência (fls. 30/31). Ao contrário do que alega a apelada, ela tem responsabilidade pela guarda dos veículos em seu estacionamento, apesar de ser gratuito, visto que existe um sistema de vigilância. A apelante possuía um cartão de identificação (fl. 28) para poder entrar e sair do estacionamento, onde 1 TJSP, Apel , 1ª Câmara de Direito Público, Rel. Vicente de Abreu Amadei. J. 09 de agosto de Apelação nº Campinas - VOTO Nº /7

7 existe guarita para esse controle (fl. 38). E pelo visto, foi por negligência do campus que o veículo da apelante foi furtado, visto que os documentos de fls. 42/45, demonstram que há reclamação quanto à falta de controle dos automóveis que entram e saem do estacionamento por outros freqüentadores, e a Universidade tomou providências, punindo os vigilantes da Universidade. Portanto, a partir do momento em que há um sistema de segurança, com entrega de cartão de identificação do veículo, criou-se uma obrigação de vigilância. 2 Desta forma, conforme exposto, o local destinado ao estacionamento de veículos no campus da UNICAMP não é um local público. Portanto, tem a autarquia a responsabilidade pela guarda dos veículos lá estacionados, e deve ser responsalizada pelos danos sofridos pelo apelado. Por tais motivos prevalece a respeitável sentença hostilizada. Ante o exposto, pelo meu voto nega-se provimento ao recurso. CRISTINA COTROFE Relatora 2 TJSP. Apel , 5ª Câmara de Direito Público, Rel. Franco Cocuzza, J. 09 de agosto de Apelação nº Campinas - VOTO Nº /7