PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE MATO GROSSO

Transcrição

1 Autor : MINISTERIO PUBLICO FEDERAL, UNIAO FEDERAL Réu : JESSICA CRISTINA DE SOUZA, JOSE FARIA DE OLIVEIRA, LUIS APARECIDO FERREIRA TORRES, MANEY MINERACAO CASA DE PEDRA LTDA ME, MAURO MENDES FERREIRA, VALDINEI MAURO DE SOUZA Decisão I - Trata-se de análise da proposta de honorários da perícia avaliatória, com a qual as partes discordaram. No presente caso a perícia a ser realizada tem como finalidade a avaliação da área da Mina Casa de Pedra, esclarecendo como a mesma foi vendida e se o valor arbitrado para venda estava correto ou se os réus de fato obtiveram proveito econômico com a venda. Portanto, por se tratar de avaliação da área de Mineradora na época da sua alienação (quantidade de ouro, grau de pureza) a perícia exige um profissional técnico especializado nessa área, como o engenheiro de minas ou geólogo. Este fato elevou muito a proposta de honorários apresentada pelo perito engenheiro civil, posto necessitar contratar outros profissionais da área para a realização dos trabalhos. Dessa forma, apesar da qualidade profissional do engenheiro civil nomeado, que conta a confiança do juízo, neste caso, considerando a necessidade do conhecimento técnico específico e que há outro profissional que já fez perícia análoga (avaliação de mina para verificar a quantidade de ouro extraído visando indenização em favor da União), nomeio em substituição ao perito anteriormente designado, o geólogo Elzio da Silva Barboza, telefone: , com endereço na Av. Minuano, nº 165, Res. São Conrado, casa 22, Jardim Bom Clima, Cuiabá/MT, como perito do Juízo. Intime-se o perito nomeado para oferecer a proposta de honorários Pág. 1/5

2 e estimativa de tempo para conclusão dos trabalhos, no prazo de cinco dias. O perito deverá responder aos quesitos das partes, com exceção dos quesitos indeferidos indicados às fls Havendo concordância com a proposta apresentada, fica desde já homologada, devendo ser intimada as partes para depositarem os honorários da perícia técnica no prazo de vinte dias. Caso contrário, à conclusão. Depositado o valor, intime-se o Auxiliar do Juízo para designar data para início dos trabalhos, que deverá se dar no prazo máximo de vinte dias, dando-se ciência às partes. II - O Ministério Público Federal e a União insurgem quanto o adiantamento parcial de 50% do valor dos honorários periciais pelo MPF, determinado na decisão de fls. 1997, sob o argumento de que as despesas dos atos processuais praticados a requerimento da Fazenda Pública e do Ministério Público deverão ser pagas ao final pelo vencido (art. 91, do CPC/2015). Entretanto, a referida isenção conferida ao Ministério Público em relação ao adiantamento dos honorários periciais não pode obrigar que o perito exerça seu ofício gratuitamente. Aplicável aqui a Súmula n. 232 do STJ - (A Fazenda Pública, quando parte no processo, fica sujeita à exigência do depósito prévio dos honorários do perito.), de modo que a Fazenda Pública ao qual se acha vinculado o Parquet arque com tais despesas. Região: Neste sentido a jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 1ª AGRAVO DE INSTRUMENTO. AGRAVO INTERNO. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS. Pág. 2/5

3 OMISSÃO DO DEVER DE PRESTAR DE CONTAS. DANO AO ERÁRIO. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO. DESPROVIMENTO. I. Segundo o entendimento consolidado pelo colendo STJ, em julgamento de recurso especial repetitivo, "em sede de ação civil pública promovida pelo Ministério Público, o adiantamento dos honorários periciais ficará a cargo da Fazenda Pública a que está vinculado o Parquet, pois não é cabível obrigar o perito a exercer seu ofício gratuitamente, tampouco transferir ao réu o encargo de financiar ações contra ele movidas (REsp /SC, de minha relatoria, DJe de 17/10/2013). Aplicação analógica da orientação da Súmula 232/STJ: 'A Fazenda Pública, quando parte no processo, fica sujeita à exigência do depósito prévio dos honorários do perito'" (STJ, AgInt no RMS /SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 12/06/2018, DJe 20/06/2018). II. Agravo Interno a que se nega provimento. (TRF/1ª Região - Acórdão Agravo Interno no Agravo de Instrumento - Relator: Desembargador Federal Cândido Ribeiro - órgão julgador quarta turma - data 28/08/ data da publicação 17/09/ Fonte e-djf1 17/09/2018). União. Portanto, INDEFIRO o pedido do Ministério Público Federal e da Na mesma toada não basta apenas que uma entidade, como a UFMT, indique uma pessoa, pois ela estaria no mesmo patamar de qualquer outro perito, ou seja, não seria obrigada a custear do próprio bolso despesas da União e do MPF. Sua posição de servidor de uma fundação pública não aparta a pessoa dos direitos que qualquer outra tem, nem lhe atribui o ônus de custear despesas do serviço público. Pág. 3/5

4 Pontuo, porém, que se aplica à espécie (adiantamento de despesas pela Fazenda Pública), os 1º e 2º do art. 91 do CPC: Art. 91. As despesas dos atos processuais praticados a requerimento da Fazenda Pública, do Ministério Público ou da Defensoria Pública serão pagas ao final pelo vencido. 1 o As perícias requeridas pela Fazenda Pública, pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública poderão ser realizadas por entidade pública ou, havendo previsão orçamentária, ter os valores adiantados por aquele que requerer a prova. 2 o Não havendo previsão orçamentária no exercício financeiro para adiantamento dos honorários periciais, eles serão pagos no exercício seguinte ou ao final, pelo vencido, caso o processo se encerre antes do adiantamento a ser feito pelo ente público. Assim, se for o caso, podem o MPF e a União : indicar uma entidade pública local que tenha condições efetivas de arcar com as despesas dentro do seu orçamento e realizar a contento a perícia; pedir a suspensão do feito, enquanto aguarda dotação orçamentária, ficando condicionado a que prove documentalmente nos autos a inclusão na previsão orçamentária do próximo ano, tão logo possível, considerando a época própria deste ano em que são feitas e consolidadas as propostas orçamentárias de cada órgão; desistir da perícia, já que nos termos da jurisprudência consolidada acima citada, simplesmente não há hipótese de se determinar que o perito, particular ou servidor, arque de seu próprio bolso com as altas despesas de uma perícia deste tipo, o que constituiria verdadeiro abuso. Com efeito, não combina com o direito constitucional de propriedade e nem com o princípio da liberdade de exercício das profissões ou o da liberdade econômica exigir que um particular trabalhe de graça e ainda custeie as despesas para o MPF e a União, com possível pagamento só em momento futuro e incerto, dependente de um moroso mecanismo orçamentário. Pág. 4/5

5 Dito isto, siga-se a sequência nestes termos: intime-se o novo perito para apresentar sua proposta; oficie-se à UFMT e ao DNPM para que informem no prazo de cinco dias se possuem condições de realizar a perícia sob seu encargo, inclusive no que diz respeito às despesas; APÓS SEREM COLHIDAS as respostas acima, dê-se ciência da proposta e da resposta da UFMT e DNPM para que ambas as partes se manifestem, pelo prazo de cinco dias, sucessivo, primeiro os Autores, momento em que MPF e União poderão pedir uma das opções sinalizadas acima. Na manifestação dos Réus deve constar expressamente se aceitam arcar sozinhos com o adiantamento das despesas; ao fim, voltem conclusos para decisão, ficando alertado que a insistência de não adiantar as despesas e a impossibilidade de usar uma das opções legais do art.91 do CPC, redundará em indeferimento da produção da prova pela impossibilidade de seu custeio, tendo como consequência o prosseguimento do feito no estado em que se encontra. Intimem-se. Cuiabá, 13 de fevereiro de Cesar Augusto Bearsi Juiz Federal Pág. 5/5